Outros elos pessoais

30 março 2008

Eleições no Zimbábuè também são nossas (6) (fim)


Vou terminar esta série, quando muitas agências noticiosas internacionais dão conta de que Morgan Tsvangirai e o MDC clamam por vitória esmagadora nas eleições realizadas ontem, quadro que Robert Mugabe e a ZANU-PF acham sem sentido, pois estão convictos de que venceram folgadamente. A Comissão Nacional de Eleições do Zimbábué pode começar a divulgar os resultados ainda hoje. Entretanto, é possível considerar, entre outros, três cenários pós-eleitorais, com possibilidades, a saber:
1. A Comissão Nacional de Eleições declara Mugabe e a ZANU-PF como vencedores (hipótese mais do que provável). Pode, inclusivamente, colocar Mugabe com uma margem de votos confortavelmente acima dos 51%. Quatro possibilidades: 1.1. Começam manifestações populares, com múltiplos efeitos imprevisíveis; 1.2. Face ao forte aparato militar e policial, as manifestações são proteladas ou evitadas, mas a situação social deteriora-se; 1.3. A deterioração da situação social gera, a médio prazo, um golpe de Estado palaciano, Mugabe é suavemente afastado (motivo oficial: doença, por exemplo) e substituído por um reformador, a situação melhora; 1.4. O agravamento da situação gera uma partilha de poder à Quénia, um negociador do tipo Kofi Annan (que jogou um papel crucial a esse nível no Quénia) entra em cena.
2. A Comissão Nacional de Eleições proclama Morgan Tsvangirai e o MDC como vencedores (hipótese remota). As lideranças do exército e da polícia fazem um golpe de Estado e o país entra em estado de sítio com um regime militar declarado. Três possibilidades: 2.1. Mugabe é mantido, o regime endurece, a situação social agrava-se; 2.2. A médio prazo, Mugabe é substituído por um reformador projectado pelos comandantes militares e policiais com o apoio da ala moderada e tecnocrática da ZANU-PF; 2.3. Partilha de poder à Quénia, com um negociador tipo Kofi Annan também presente, tal como no primeiro cenário.
3. A vitória de Morgan Tsvangirai e do MDC é considerada finalmente razoável e as forças-chave estrategicamente caladas da ZANU-PF aceitam a realidade (hipótese quase apórica). Os vencedores fazem acertos de partilha governamental com a ZANU-PF.
Mas seja qual for o cenário, seja qual for a possibilidade - sem dúvida que mais alguns cenários e possibilidades podem ser considerados -, tendo especialmente em conta a situação gerada no Quénia, creio que as eleições no Zimbábuè colocam definitivamente para discussão em África (como veículo de ou entrave à democracia) quer os nossos modelos eleitorais quer a sua monitoria.
Não podemos, de forma alguma, desdenhar dos efeitos das eleições no Quénia e no Zimbabuè nas nossas próximas eleições, especialmente nas presidenciais e legislativas.
Nota: foto reproduzida daqui.
Adenda: em qualquer altura posso modificar o que aqui escrevi, face ao que vou estudando, colocando a vermelho as emendas e/ou os acréscimos. Gostaria que os leitores pudessem comentar os cenários e as possibilidades apresentadas.
1.ª adenda às 18:03: os primeiros resultados eleitorais em meios urbanos dão vantagem a Morgan Tsvangirai e ao MDC (Rádio Moçambique, noticiário das 18 horas).
2.ª adenda às 19:35: o docente Ali Jamal, do Instituto Superior de Relações Internacionais, está na Rádio Moçambique neste momento, registei dele o seguinte: são eleições acompanhadas de muita intimidação, de muita ameaça por parte das forças de segurança. O Estado não está a garantir a isenção, não é um Estado de direito, há sistemática intervenção dos ramos militar e paramilitar. O governo é causador dos problemas que o povo do país está a enfrentar. Não acredito que o povo do Zimbábuè vá votar em Robert Mugabe. Há uma grande força de mudança ligada à oposição. Mesmo nas zonas rurais existe muita contestação a Mugabe. Temos de esperar um cenário de desobediência civil, que pode caminhar para uma confrontação com as forças da ordem. Não sei se teremos uma situação parecida com o Quénia, mas teremos desobediência. As forças da ordem estão preparadas para reprimir a favor do regime no poder. Corajoso docente, este (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).
3.ª adenda às 21:45: dois observadores da SADC recusaram-se a assinar um relatório preliminar da organização que afirma terem sido "pacíficas e credíveis" as eleições realizadas sábado no Zimbábuè. Confira aqui.
4.ª adenda às 23:00: agências noticiosas começam a divulgar que foi declarado o estado de emergência no Zimbábuè. Confira por exemplo aqui.
5.ª adenda à meia-noite e cinco de 31/2/08: aludindo à tensão que se vive especialmente em Harare na expectativa dos resultados eleitorais, o jornalista do "Notícias", Lázaro Manhiça, apresenta hoje um relato do que entende passar-se no Zimbábuè. Confira aqui.
6.ª adenda às 9:29 de 31/2/08: cerca de 490 mil quadros qualificados abandonaram o Zimbábuè desde 1980. Confira aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, por me ter enviado a referência do portal.
7.ª adenda às 10:06 de 31/2/08: siga os resultados não oficiais das eleições no Zimbábuè através deste portal aqui.

3 comentários:

  1. The challenger Simba Makoni.
    He may lack the votes to win by himself. However, in a possible coalition with Morgan Tsvangirai, Simba Makoni could draw away important personalities in the ZANU-PF, easing a transition to multi-party democracy.
    Robert Mugabe, well aware of the danger, has branded Simba Makoni a 'traitor' for daring to challenge him.

    ResponderEliminar
  2. It is probable that Zimbabwe's Simba Makoni was encouraged by its neighbours, particularly South Africa and Botswana, to challenge Robert Mugabe.

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.