Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
26 março 2008
Acusada de feitiçaria mulher de 76 anos escapa ao linchamento
12 comentários:
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Normalmente essas senhoras acusadas de feitiçaria são as que têm mais palhotas e cabritos. Porque será?
ResponderEliminarMadame min do pouco que sei destes casos, costuma se relacionar sempre as posses. Acredita-se que em certa idade a pessoa deve viver vulnerável, sem meios próprios e quando o contrário se verifica se atribui a feitiçaria como fonte dos bens. Em Inhassunge, Mixixine, Marongane na Zambézia são consideradas feiticeiras aquelas que embora velhas possuem grandes extensões de terra para o cultivo de arroz. Quando suas colheitas são boas por exemplo já levantam muita suspeita. Me lembor de casos de velhas que foram acusadas de "amarar a chuva"
ResponderEliminarJustamente! Estudei com profundidade o fenómeno em Cumbana, província de Inhambane, assistindo a "julgamentos" no regulado Phata e no tribunal comunitário local. Aqui, acusadas de feitiçaria são muitas vezes (ou quase sempre)mulheres que possuem coqueiros e/ou outro tipo de bens. Tb conheço bem a situação na Zambézia, província que estudei durante anos seguidos..
ResponderEliminarRecentemente deu-se um caso em Cheringoma que culminou em suicídio e prisão do régulo. A acusada procurou provar sua inocência mas o regúlo havia sido subornado e o seu veredicto foi viciado. Recusou-se por exemplo que se usasse uma prática tradicional chamada "txoa" que serve para provar se se está perante uma feiticeira ou não. Apesar de a acusada não ter sido linchada provavelmente pelo facto de no fundo se saber que era inocente. Ela se sentiu tão desmoralizada a ponto de dar fim a sua própria vida.
ResponderEliminarObrigado pela informação, tê-la-emos em conta, especialmente no que concerne à crença "txoa"!
ResponderEliminarEm casa, pelo que sei, em caso de acusação de feitiçãria, a acusada pode solicitar que seja submetida a uma prova que consiste em beber uma mistela que recebe o nome de "MHONDZO". Após a ingestão desta mistela, caso a acusação seja verdadeira, o acusado confessa "sem falta".
ResponderEliminarConhecedores informaram-me que a mistela chamada MHONDZO é um produto alucinégeno que tem a faculdade de colocar pessoas a falarem coisas de nunca pensaram.
Não tenho conhecimento de linchamentos, em Gaza, por causa destas acusações. Regra geral, o régulo, aconselhado pelos madodas, sentenciava pelo exílio do feiticeiro "confesso". Surgia assim a figura de "kupepetseka", o que significa viajar sem rumo definido.
Eventualmente, o expulso poderá pedir asilo num regulado longinquo onde não seja conhecido. A hospitalidade proverbial dos moçambicanos manda que se arranje terra para cultivo a estes exilados. No geral, nada se lhes pergunta sobre a sua origem.
Gostaria que outros conhecedores destas práticas, oriundos de círculos de cultura Tsonga corrigissem eventuais falhas nesta exposição e ajudassem a fixar para a postweridade uma prática cultural, pese embora não seja de todo defensável.
Referir que eu próprio tomei conhecimento destas práticas com base em perguntas que fui fazendo aos mais velhos. Nunca assisti nenhum destes factos. O facto de ser originário de uma família religiosa me colocava, de certo modo, longe destas práticas "pagãs". Adicionalmente, saí das zonas rurais para poder estudar muito cedo, em 1970, quando tinha 7 anos.
Jonas Langa
One está EM CASA, deve se ler EM GAZA
ResponderEliminarAnalisando o comentário anterior penso que o "txoa" que referi no meu comentário deve ser um paralelo do "MHONDZO" que o caro Jonas refere no seu comentário. Achei interessante a questão do exílio do feiticeiro que tem um paralelo com a prática judaica descrita na bíblia.
ResponderEliminarEstá cientificamente comprovada a natureza alucinogénia da beberagem que assume nomes diferentes consoante a língua e a região. A documentação portuguesa colonial assinala-a desde pelo menos o século XVII especialmente para o vale do Zambeze.
ResponderEliminarMais um dado: "nos tempos", o acusado (quantas vezes a acusada!) de feitiçaria tinha de sujeitar-se à prova do "muávi", um poderoso alcalóide extraído da casca de uma árvore de grande porte. Se o acusado resistisse aos efeitos (o produto ataca o coração), era considerado inocente; se não, era considerado culpado, ficando provado que tinha o "okwiri" (o mal) como se diz a Zambézia. O muávi está comprovado documentalmente desde, pelo menos, o seculo XVII.
ResponderEliminarInteressante debate, muita pena que ando longe de vivencias feiticantes, mas confesso que adoraria assistir um julgamento cuja acusacao fosse feiticaria so para ver a intensidade desta crenca por parte dos lesados.
ResponderEliminarDesculpem-me pela acentuacao ou simplesmente imaginem-se num teclado igual ao meu.
Maxango
Eu já assisti em tribunais comunitários...
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