No Distrito Urbano 4, cidade de Maputo, pela capoeira as crianças simulam a luta e tatuam o futuro com o lúdico e com o riso aberto. Veja aqui este vídeo no youtube.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
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30 novembro 2007
58" de Maputo
Veja 58 segundos da cidade de Maputo num trabalho em vídeo de Mickey Fonseca editado por pipaforjaz no youtube há 4 meses.
Quase 5.000 ONGs em Moçambique
Existem 3.540 organizações não governamentais registadas no Ministério da Justiça e 1.350 ainda por legalizar mas operando com autorização precária do Governo. Confira aqui no "correio da manhã" de hoje.
Saque no Tribunal Administrativo
Três indivíduos estão detidos indiciados de desvio de dois milhões de meticais no Tribunal Administrativo na cidade de Maputo: esta uma das manchetes do ""O País" de hoje, em reportagem de Lázaro Mabunda (p. 4).
Maputo: generaliza-se geofagia?
Comer areia parece generalizar-se na cidade de Maputo: "Não raras vezes encontramos, sobretudo mulheres, a recolherem areia para posteriormente “cozinharem” e fazerem os acertos necessários para que se atinja o ponto de satisfação do consumidor. (...) Nos últimos tempos, jovens, adolescentes e até crianças têm consumido com frequência areia que, provavelmente, deve fazer mal à saúde, particularmente da mulher. Fala-se de perturbações com o estômago, útero, bexiga, enfim são dados não confirmados que julgo serem de utilidade pública, ou seja, alguém ligada à saúde devia vir a público comentar esta situação. Outros ainda vão mais longe ao afirmarem que pode estar na origem desta situação a insuficiência de ferro no organismo que, logo à priori, indica que é um problema de saúde."
Comer bolos de areia é uma prática na cidade de Maputo e já me referi a isso neste diário. No Xipamanine, por exemplo, eles estão à venda. Falta, agora, encontrar as causas.
Adenda, 17:30: um dos meus pesquisadores vai estudar o fenómeno nos próximos dias e, logo que for possível, os resultados serão divulgados aqui. Entretanto, existe uma visão médica do chamado pica, a qual pode não ter relação com a geofagia local. Confira aqui (obrigado ao Ricardo de Paris pelo envio da referência).
29 novembro 2007
BCI: 130º lugar entre 200 bancos africanos
A revista "Jeune Afrique" (Paris) publicou recentemente um número especial com o tema "Les 200 premières banques africaines (classement 2007)" = Os 200 primeiros bancos africanos (classificação 2007). Escreveu o meu leitor Ricardo de Paris por email: "O TOP 10 é dominado pelos bancos sul-africanos. Entre os 200 só há um banco de Moçambique, o Banco Comercial e de Investimentos (BCI), em 130° lugar. O director é Abdul Magid Osman. Angola tem quatro bancos no TOP 200 e Cabo Verde dois."
Adenda: se quer ler o trabalho e conhecer os critérios usados na classificação, abra uma conta e importe o trabalho aqui. Depois, use um tradutor online de francês/português.
89 novos médicos em Moçambique
Na graduação hoje efectuada no pavilhão gimnodesportivo da Universidade Eduardo Mondlane, com a presença do presidente da República, Armando Guebuza, 89 novos médicos procederam ao juramento de Hipócrates, em cerimónia presenciada por milhares de pessoas. Amanhã aqui postarei uma intervenção que fiz na minha qualidade de padrinho dos estudantes graduados.
Custódio Duma critica
Jurista da Liga dos Direitos Humanos, Custódio Duma escreve sobre "a independência e a liberdade do povo moçambicano". E afirma, em email que me enviou: "Vivemos em um país em que nossos governantes são saqueadores da coisa pública, num país onde o Estado já não tem um património público. Tudo é dos governantes, é dos partidos ou dos empresários que também são homens provenientes do poder. Quantas pessoas conseguem perceber o discurso falacioso dos nossos dirigentes? Quantas pessoas conseguem criticar as estatísticas apresentadas pelo Banco Mundial e pelo FMI, quantas pessoas realmente se importam? Quem se importa? Quantas pessoas realmente se preocupam em que o povo saiba a verdade? Os jornais, a televisão, as rádios, os activistas ou os políticos? Que jornal se importa? A puxa saco do poder? O jornal que é vendido para um povo que ganha cerca de 60 USD mês e tem que alimentar 5 pessoas? Que rádio se importa? A que tem emissões em português para um universo de entre 10 a 15 milhões de pessoas que não entendem o português ou não conseguem captar porque não tem um receptor ou vivem em áreas com ruído? Que televisão? A que só é captada nas cidades e também só em português? Que activistas? Que de dia são das ONGs e a noite são do Partido? Que políticos? Que dirigentes? A verdade é que, o povo não conhece a verdade e sem a verdade é falacioso afirmar que o povo está livre ou é independente, porque só a verdade pode libertar. A verdade seja dita, até que o povo tenha a capacidade de perceber qual é a política interna e externa do seu país ele não será livre. A liberdade é uma conquista, mas uma conquista que só pode ser conseguida se o povo tiver acesso a educação e a informação. E parece que ninguém está interessado em garantir isso ao povo."
Integração regional: corrida apressada
Segundo o "Canal de Moçambique", empresários criticam a integração regional do país por este não estar preparado e um deles, António da Silva, disse que estamos a ser iludidos por relatórios do Banco Mundial quanto à nossa capacidade: "(...) os relatórios do Banco Mundial, a que o Governo, sobretudo o presidente da República se tem agarrado para certificar o ambiente do negócios no país, são meramente políticos. (...) Na verdade não corresponde, senão mesmo não espelham a realidade que vivemos aqui. (..) Se é verdade que o Banco Mundial escreve de que Moçambique melhorou 6 lugares no ambiente de negócios e é o 5º africano mais reformador, o Governo devia considerar também que este mesmo o Banco Mundial tem o nosso país, como a 5ª Economia menos competitiva do Mundo”.
O pneu das crianças
As crianças do Bairro da Polana-Caniço A têm dois brinquedos: o xingufo (pequena bola feita de trapos e plástico) e o pneu. O pneu é o carro dos meninos pobres. Mas não só: um pouco por todo o lado naquele bairro há pneus, seja para proteger as entradas das casas dos embates dos carros que passam, seja para as pessoas se sentarem (um quadro generalizável a outros bairros numa cidade que já teve uma fábrica de pneus). E assim, após ter percorrido 32 becos e entrevistado 22 jovens, o meu estudante Hélder Gudo deu-nos a possibilidade de compreendermos melhor várias coisas, entre as quais a razão por que regra geral os linchamentos em Maputo são feitos com pneus.
Roubo de ouro
Com alguma frequência, a nossa imprensa reporta o garimpo ilegal de metais e de pedras preciosas no país. Anteontem foi aqui referido o garimpo ilegal de turmalinas no Báruè, província de Sofala. A título comparativo: na África do Sul, sindicatos do crime roubam anualmente cerca de 40 toneladas de ouro, o equivalente a dois biliões de rands (cerca de 300 milhões de dólares, obrigado ao Ricardo em Paris pelo envio da referência).
UEM gradua hoje 957 estudantes
A Universidade Eduardo Mondlane gradua hoje em Maputo 957 estudantes, dos quais 80 bachareis, 866 licenciados e 11 mestres.
28 novembro 2007
Moçambique: baixo índice de desenvolvimento humano
"Moçambique situa-se ainda na lista dos países do mundo que registam baixos índices de desenvolvimento humano, revela um relatório ontem divulgado pelas Nações Unidas."
Um gesto bonito numa Renamo diferente
O jornalista Lourenço Jossias conta no "Magazine Independente" de hoje que o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, foi ao enterro de Nyimpini Chissano, há dias falecido e filho do ex-presidente da República, Joaquim Chissano. Lá, após uma curta intervenção não politizada, Dhlakama foi dar os pêsames a Marcelina Chissano, mãe do falecido, ela que, várias vezes, afirmara publicamente que jamais apertaria a mão dele por "estar carregada de sangue". E ambos fizeram as pazes (p. 3).
Uma atitude digna, bela, dos dois lados.
Temos aqui o exercício de uma nova postura do presidente da Renamo, vincamente interventiva, cidadã. Exercício que parece ser acompanhado de uma Renamo bem mais sabedora, bem mais formada, bem mais profunda, bem mais adulta quando intervém na Assembleia da República, de uma Renamo que dispõe nos seus quadros de gente qualificada como Carlos Colaço, Maria Moreno, Ismail Mussá, Ivone Soares e outros. De uma Renamo, que, ao nível da coligação com a União Eleitoral, dá provas de boa gestão municipal ao nível da cidade da Beira, na pessoa do Eng.º Deviz Simango.
Adenda: o jornal "Notícias" de hoje não menciona presença de Dhlakama na cerimónia ontem realizada na vila do Songo, província de Tete, para assinalar a transferência da Hidroeléctrica de Cahora-Bassa para o Estado moçambicano.
Nosso cobiçado carvão
Um gabinete em Sidney, Austrália, um conhecimento sistemático sobre as nossas áreas carvoeiras, em particular sobre as da Benga, distrito de Moatize, província de Tete. Confira aqui (obrigado ao Ricardo por, de Paris, me ter enviado a presente referência).
Negócios em Moçambique
Procure e leia aqui, no Africa Confidential (n.º 3, vol. 48, de 2 de Fevereiro deste ano), o artigo em inglês com o título "Mozambique/World Bank, Guebuza and governance". Depois, no nº 13, vol. 48, de Junho, o artigo com o título "The clock turns back" ( o meu obrigado ao Egídio Vaz pelo envio do material).
15 carros roubados numa semana
Quinze carros foram roubados semana passada na cidade de Maputo com recurso a armas de fogo.
Joaquim Fumo - entrevista (5) (retrato do país) (fim)
Carlos Serra: podes fazer um pequeno retrato do país hoje?
Joaquim Fumo: em meu entender o país está a registar uma evolução positiva. Nos últimos 10, 15 anos, foi preocupação do poder político adoptar mecanismos institucionais, desde o regime democrático ao modelo económico neo-liberal, para acomodar a conjuntura política nacional e mundial. Tratou-se de uma fase de busca de uma legitimidade externa da governação perante os olhos do FMI e Banco Mundial.
Actualmente - em particular na governação de Guebuza -, embora se esteja a aprofundar este legado a grande preocupação é a legitimidade interna da governação. Para um observador atento o combate ao deixa-andar e ao carácter neo-patrimonial do Estado é, sem dúvida, uma tentativa de contratualização das relações sociais entre o poder político e os cidadãos. Todavia temos ainda uma longa estrada. Vejo o futuro do país com algum optimismo, o que não significa que esteja tudo a correr bem.
Joaquim Fumo: em meu entender o país está a registar uma evolução positiva. Nos últimos 10, 15 anos, foi preocupação do poder político adoptar mecanismos institucionais, desde o regime democrático ao modelo económico neo-liberal, para acomodar a conjuntura política nacional e mundial. Tratou-se de uma fase de busca de uma legitimidade externa da governação perante os olhos do FMI e Banco Mundial.
Actualmente - em particular na governação de Guebuza -, embora se esteja a aprofundar este legado a grande preocupação é a legitimidade interna da governação. Para um observador atento o combate ao deixa-andar e ao carácter neo-patrimonial do Estado é, sem dúvida, uma tentativa de contratualização das relações sociais entre o poder político e os cidadãos. Todavia temos ainda uma longa estrada. Vejo o futuro do país com algum optimismo, o que não significa que esteja tudo a correr bem.
27 novembro 2007
Nhantumbo e o desmatamento no país
Em crónica, Noé Nhantumbo escreveu o seguinte : "Aqueles que não conseguiram encaixar-se nos negócios limpos e lucrativos como a banca, seguros, import-export, imobiliária, turismo, segurança privada, forçaram a sua entrada na actividade florestal onde reinam a seu bel-prazer. Este não é o problema em si. O problema é a maneira como toda esta actividade é realizada."
A última entrada neste diário sobre o saque da madeira no país data do dia 19, relatando a apreensão a um operador tanzaniano na província do Niassa de 53 metros cúbicos de madeira.
Obrigado, Joahnnes Beck!
O último comentário, o 70.º, feito sobre este diário no concurso para o BOBs2007 (recordo que o diário ficou classificado entre os dez melhores em língua portuguesa e foi terceiro classificado na votação final pelo público) foi o de Joahnnes Beck, chefe da redacção portuguesa da Deutsche Welle Rádio, que escreveu o seguinte: "Um optimo blogue que enriquece a internet com conteudos raros de Africa, um continente ate agora pouco presente na net. O blogue eh uma boa fonte para pesquisas jornalisticas sobre o desmatamento, linchamentos e outros assuntos moçambicanos. Uso muitas vezes aqui na DW-RADIO em portugues. Obrigado pelo esforço!"
A guerra das turmalinas em Báruè
De acordo com a "Tribunafax" de hoje, reinam a confusão e a tensão em dois postos administrativos do distrito de Báruè, província de Manica, devido ao garimpo ilegal de turmalinas. Autoridades distritais são acusadas de estarem envolvidas no negócio. Os garimpeiros ameaçam mesmo mobilizar os habitantes para não votarem nas próximas eleições caso os impeçam de exercer a sua actividade. O governador de Manica mandou instaurar um inquérito.
Onde está o cofre da Gorongosa?
"Um cofre contendo dois milhões de meticais foi roubado sábado último no distrito de Gorongosa, província de Sofala, comprometendo os salários de cerca de 500 profissionais da Educação."
26 novembro 2007
Carta para o Sr. Presidente do Conselho Municipal da cidade da Beira, Eng.º Deviz Simango
Presidente do Conselho Municipal da Beira
Presidente, permita-me escrever-lhe pela segunda vez uma carta. É meu costume escrever cartas, nem que seja ao Presidente da República.
De acordo com o semanário "domingo" na sua edição de ontem, camponesas na cidade da Beira estão furiosas depois que o Conselho Municipal decidiu expropriar as suas terras, onde cultivam arroz e batata-doce, nos bairros do Vaz, do aeroporto, da Manga e do Estoril. Fizeram já uma manifestação em frente ao edifício do Conselho.
Ainda segundo o mesmo semanário, o Eng.º Simango surge a declarar o seguinte : "Então, o desenvolvimento da cidade vai ficar "enterrado" porque queremos que as pessoas façam machambas, é assim? Eu penso que não, por isso achamos melhor priorizar os negócios que os empresários querem fazer e isso contribui bastante para o crescimento da nossa cidade (...) pena que as pessoas estejam a ver apenas machambas, mas nós estamos a ver o volume de negócios para o desenvolvimento da nossa cidade. Portanto, há muitas empresas que estão a aparecer. Esta a questão de fundo".
Ora, Eng.º Simango, partindo do princípio de que a informação do "domingo" não é falsa, a questão de fundo não é essa: a questão de fundo é que as camponesas são herdeiras de um longo passado de cultivo, nas suas terras habitam séculos de cultura, de história, nas suas terras estão enterrados os seus entes queridos, nas suas terras estão os sonhos de uma vida melhor. Este país é filho das machambas, Eng.º, é filho de cada palmo de terra adubada.
Por isso, Eng.º, tratar as camponesas como ervas daninhas que se podem remover desde que a árvore do mundo de negócios seja considerada vital, é matar a nossa cultura, é trocá-la pelo dinheiro, pelos interesses comerciais, pela ganância do lucro.
Presidente: tanto quanto julgo saber, o Senhor tem feito um excelente trabalho no município e isso já está internacionalmente reconhecido. Não estrague o que já fez com o que quer fazer, não deixe mandar embora as compatriotas, não deixe magoá-las. Plante os negócios, mas nunca destrua quem fecunda a terra.
Com os meus mais respeitosos cumprimentos.
Carlos Serra
Nem perfume escapa no cemitério
Depois de terem roubado nos últimos dias 865 chapas de identificação de campas, os ladrões fizeram-se agora a 15 frascos de perfume (destinado a perfumar os cadáveres) no Cemitério de Lhanguene, periferia da cidade de Maputo.
Sem dúvida que, perante tanta voracidade múltipla, brevemente até o oxigénio que respiramos será alvo de roubo.
Edite preocupada com a moral
Como tantos outras e outros, a Sra. Edite Mário está preocupada com o descalabro dos valores morais no país.
Cólera chega a Maputo
Após ter atingido outras províncias, a cólera chegou à cidade de Maputo. Ontem, já havia 45 pessoas internadas no Hospital de Mavalane.
Autocarros de luxo
A partir de hoje estarão disponíveis na cidade de Maputo cinco autocarros de luxo da empresa Transportes Públicos de Maputo, com "serviço especial de aluguer". Com a cidade literalmente controlada pelos chapas, com as elites fazendo uso de viaturas ligeiras de luxo e com os fretes de serviços especiais de transporte a cargo de empresas já estabelecidas, resta saber quem serão os utenses dos autocarros. Creio que dá um excelente trabalho de pesquisa, a começar pelo estudo de viabilidade comercial eventualmente feito pela empresa.
Frelimo controla recenseamento dos seus membros
O partido Frelimo controla o recenseamento dos seus membros na província de Gaza: "Para efeitos de verificação do grau de envolvimento dos militantes no registo eleitoral, para além de encontros específicos com os secretariados dos comités distritais daquela formação política no poder, a cúpula da Frelimo na visita pelos distritos procedeu à verificação de fichas, concebidas para controlar o processo de recenseamento dos seus filiados."
25 novembro 2007
Costa do Sol: duplo campeão
A equipa de futebol sénior do Costa do Sol venceu hoje também a Taça de Moçambique ao derrotar o Ferroviário de Nampula por 3/0, somando o 11.º título do género na sua história, depois de ter vencido pela nona vez desde 1976 o Moçambola deste ano.
Muitos parabéns aos jogadores, aos adeptos, ao presidente JNeves e a esse grande treinador que é João Chissano, aquele que há dois anos levou o Têxtil do Púnguè às competições africanas e que é treinador apenas há três anos.
Parabéns também à briosa equipa do Ferroviário e aos seus adeptos.
Primeiro negócios, depois arroz e batata-doce
Camponesas na cidade da Beira estão furiosas depois que o Conselho Municipal decidiu expropriar as suas terras, onde cultivam arroz e batata-doce, nos bairros do Vaz, do aeroporto, da Manga e do Estoril. Fizeram já uma manifestação em frente ao edifício do Conselho. Eis a posição do presidente desse Conselho, Deviz Simango: "Então, o desenvolvimento da cidade vai ficar "enterrado" porque queremos que as pessoas façam machambas, é assim? Eu penso que não, por isso achamos melhor priorizar os negócios que os empresários querem fazer e isso contribui bastante para o crescimento da nossa cidade (...) pena que as pessoas estejam a ver apenas machambas, mas nós estamos a ver o volume de negócios para o desenvolvimento da nossa cidade. Portanto, há muitas empresas que estão a aparecer. Esta a questão de fundo" - afirmações reproduzidas pelo semanário "domingo" de hoje (p. 22).
Em 1999 dirigi uma equipa de jovens investigadores, que procurou estudar o racismo e a etnicidade no nosso país. Leia ou recorde aqui certas posições, em particular das camponesas da periferia da Beira.
Cidades moçambicanas shoppinganizam-se
Diz o semanário "domingo" de hoje que os Chineses vão construir na Beira um Shopping Centre com oito pavilhões e 300 lojas (p. 14). É obra, depois do Maputo Shopping Centre do MBS. Assim nos shoppinganizamos e, coisa bela, como disse o presidente da Assembleia da República de Portugal, Jaime Gama - enlevado com o shopping de Bachir Sulemane -, é dado adquirido que em Moçambique já não há fome.
Joaquim Fumo - entrevista (4) (sociólogos e riscos) (continua)
Carlos Serra: ser sociólogo envolve riscos?
Joaquim Fumo: depende daquilo que consideramos de risco. Se estamos a falar de risco de vida, a localização no simbolismo binário — a que aludi já – certamente tem a sua influência. Os sociólogos de esquerda encontram-se geralmente mais expostos até porque intervêm nas lutas sociais ao lado daqueles que dispõem de menos recursos materiais e simbólicos. Dependendo da maturidade do regime democrático nem sempre o sociólogo que assume esta identidade é bem vindo.
Relativamente ao sociólogo de direita o cenário parece-me oposto.
Existem também outros riscos. Sabemos que a sociologia não propicia somente uma área de saber especializado. Lega-nos, também, uma consciência social. Nesta medida penso que os sociólogos de esquerda são mais felizes.
Há ainda um terceiro risco. Vivemos todos numa sociedade capitalista guiada pelo padrão de acumulação. Certamente que o sociólogo de esquerda terá que fazer um esforço tremendo para poder sobreviver. Provavelmente por isso proliferam os sociólogos mercenários desvinculados moralmente da luta política.
Enfim, na qualidade de sociólogo de esquerda acho que todos os riscos são comportáveis, por isso mesmo ser sociólogo é uma missão e exige vocação.
Joaquim Fumo: depende daquilo que consideramos de risco. Se estamos a falar de risco de vida, a localização no simbolismo binário — a que aludi já – certamente tem a sua influência. Os sociólogos de esquerda encontram-se geralmente mais expostos até porque intervêm nas lutas sociais ao lado daqueles que dispõem de menos recursos materiais e simbólicos. Dependendo da maturidade do regime democrático nem sempre o sociólogo que assume esta identidade é bem vindo.
Relativamente ao sociólogo de direita o cenário parece-me oposto.
Existem também outros riscos. Sabemos que a sociologia não propicia somente uma área de saber especializado. Lega-nos, também, uma consciência social. Nesta medida penso que os sociólogos de esquerda são mais felizes.
Há ainda um terceiro risco. Vivemos todos numa sociedade capitalista guiada pelo padrão de acumulação. Certamente que o sociólogo de esquerda terá que fazer um esforço tremendo para poder sobreviver. Provavelmente por isso proliferam os sociólogos mercenários desvinculados moralmente da luta política.
Enfim, na qualidade de sociólogo de esquerda acho que todos os riscos são comportáveis, por isso mesmo ser sociólogo é uma missão e exige vocação.
24 novembro 2007
Movimento Gay Moçambicano
"(...) o Movimento Gay Moçambicano. Somos um movimento de toda a comunidade Gay: homens e mulheres, homossexuais e bissexuais. Mas estamos igualmente abertos a todos os que, não sendo gays, apoiam os nossos direitos e liberdades."
E pronto, Danilo da Silva - obrigado pelo email -, aqui fica a referência do vosso blogue.
E pronto, Danilo da Silva - obrigado pelo email -, aqui fica a referência do vosso blogue.
Kadhafi, o exigente
Para a Cimeira União Europeia/África, agendada para os dias 8 e 9 de Dezembro em Lisboa, o presidente da Líbia, coronel Muammar al-Kadhafi, não quer ficar num hotel e sim numa tenda especial.
Exige ainda a entrada em Lisboa de uma delegação de cerca de 200 pessoas (na sua maioria da segurança pessoal com as respectivas armas) e a a utilização de um carro blindado (Rádio Moçambique, noticiário das 16 horas).
Quando esteve em Maputo em 2003, Kadhafi protegia as mãos com um lenço quando era cumprimentado pelos habitantes da periferia da cidade.
A saúde do país
Cerca de 300 empresas industriais estão paralisadas no país (ainda que duas possam voltar a laborar no próximo ano, uma com financiamento da Rede Aga Khan e outra com financiamento sul-africano), o Fundo Monetário Internacional diz que o nosso crescimento é "forte e robusto" com boa prestação na colecta de receitas fiscais e o empresário e presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, Salimo Abdula, está preocupado com a integração regional face à "fraca capacidade de acumulação de capital para o investimento industrial".
Cabo Delgado: Estado contra curandeiros?
Lendo o Pedro Nacuo, parece que na província de Cabo Delgado o Estado persegue os curandeiros por os considerar agitadores sociais, curandeiros chamados pelas comunidades para limpar os males sociais que reinam localmente.
E tudo leva a crer que a perseguição tem um cunho político. Escreveu o Pedro: "O que está a ser mesmo difícil de compreender é que tais rusgas contra curandeiros ou feiticeiros apareçam normalmente em momentos pré-eleitorais ou politicamente quentes e sempre um pouco por todo o lado. Resta saber quem manda a quem, precisamente para fazer o quê? E parece que a perseguição tem uma conotação imediatamente política."
Infelizmente este é um tema que não está a ser abordado em profundidade na nossa imprensa. E, tanto quanto julgo saber, apenas foi referido pelo editorial do "Savana" da semana passada (p. 6) e, agora, pelo Pedro Nacuo. Será que o partido no poder, a Frelimo, entende que os curandeiros de Cabo Delgado (ou vindos do exterior) estão ao serviço da oposição? Os indicadores de Pedro respondem sim nas entrelinhas.
Já agora, recorde um texto meu aqui.
23 novembro 2007
Benção ou maldição?
Explorar recursos naturais em Moçambique será uma benção ou uma maldição? Leia a resposta dada por Aurélio Bucuane e Peter Mulder aqui.
Estudo revela ampliação das desigualdades sociais em Moçambique
O crescimento não é pró-pobres e as desigualdades sociais aumentam em Moçambique - revela um estudo divulgado em Setembro e suportado pelo Brazilian Institute for Applied Economic Research (IPEA) e pelo Bureau for Development Policy (United Nations Development Programme, New York). Leia-o aqui.
Indústria em Moçambique: apenas 12% do PIB
A indústria contribui apenas com 12% do Produto Interno Bruto de Moçambique, faltam investimentos para a transformação dos produtos naturais, privilegia-se a exportação de matérias-primas e a maioria das unidades económicas do país está paralisada - afirmou o director nacional da indústria, Sérgio Macamo.
Quando o bizarro se naturaliza
Quando o bizarro se naturaliza e achamos que a vida prossegue, podemos estar certos de que não teremos úlceras gástricas. Não há crise, sempre há uma solução. Por exemplo: "Fracassou o processo de colocação duma substação móvel da Electricidade de Moçambique, na região de Conjerenge, distrito de Mandimba, no Niassa. O director da Electricidade de Moçambique, Área Operacional de Lichinga, Carlito Pastola, disse que o equipamento que se destinava para aquele projecto foi desviado para outro projecto de extenção de energia eléctrica para a província de Cabo Delgado. Para resolver aquele fracasso Carlito Pastola afirmou que será estendida a linha de fornecimento de energia eléctrica a partir das sustações de Lichinga e Cuamba para os distritos de Ngauma e Mandimba."
Joaquim Fumo - entrevista (3) (sobre os sociólogos) (continua)
Carlos Serra: o que significa ser sociólogo no nosso país hoje?
Joaquim Fumo: infelizmente, neste país ser sociólogo significa muitas coisas. Desde logo significa partilhar de um campo epistémico especializado e como tal partilharmos todos esta identidade. Por outro lado, significa uma atitude na vida, uma postura que é bastante marcada pelo campo simbólico binário das velhas e persistentes teorias da acção política: esquerda e direita.
De acordo com o nosso posicionamento no quadro binário, ser sociólogo assume um papel e uma identidade bastante diferente.
Os sociólogos de esquerda, com os quais perfilho a identidade, cumprem uma missão histórica, potencialmente subversiva. Aliás, é aí onde, no meu entender, reside a verdadeira sociologia: a subversão dos sentidos superficiais atribuídos à vida quotidiana. É verdade que está postura não é sempre fácil, porquanto se opõe a forças hercúleas, de ordem moral, política, religiosa, etc. Esta postura vincula moralmente o sociólogo à causa dos oprimidos. Infelizmente são poucos os sociólogos que assumem esta postura. Ser sociólogo de esquerda é ser sociólogo por vocação.
Por outro lado, existem os sociólogos de direita, que são os ideólogos do sistema, os que se preocupam com o status quo. São os lambe-botas do sistema. Sobre eles não preciso mais dissertar. São claros os prejuízos que trazem à imaginação sociológica e à dúvida radical.
Uma terceira categoria é a dos sociólogos mercenários. Esses são autênticos garimpeiros da sobrevivência.
Joaquim Fumo: infelizmente, neste país ser sociólogo significa muitas coisas. Desde logo significa partilhar de um campo epistémico especializado e como tal partilharmos todos esta identidade. Por outro lado, significa uma atitude na vida, uma postura que é bastante marcada pelo campo simbólico binário das velhas e persistentes teorias da acção política: esquerda e direita.
De acordo com o nosso posicionamento no quadro binário, ser sociólogo assume um papel e uma identidade bastante diferente.
Os sociólogos de esquerda, com os quais perfilho a identidade, cumprem uma missão histórica, potencialmente subversiva. Aliás, é aí onde, no meu entender, reside a verdadeira sociologia: a subversão dos sentidos superficiais atribuídos à vida quotidiana. É verdade que está postura não é sempre fácil, porquanto se opõe a forças hercúleas, de ordem moral, política, religiosa, etc. Esta postura vincula moralmente o sociólogo à causa dos oprimidos. Infelizmente são poucos os sociólogos que assumem esta postura. Ser sociólogo de esquerda é ser sociólogo por vocação.
Por outro lado, existem os sociólogos de direita, que são os ideólogos do sistema, os que se preocupam com o status quo. São os lambe-botas do sistema. Sobre eles não preciso mais dissertar. São claros os prejuízos que trazem à imaginação sociológica e à dúvida radical.
Uma terceira categoria é a dos sociólogos mercenários. Esses são autênticos garimpeiros da sobrevivência.
O bem amado FMI
Diz o "O Paísonline" hoje: "Os condicionalismos impostos pelo Fundo Monetário Internacional na concessão de créditos para a educação impedem o governo moçambicano de contratar metade de professores necessários nas escolas públicas, uma vez que aquele banco limita as despesas de salários do Ministério da Educação e Cultura."
De acordo com um estudo, o país precisa de 109 mil professores até 2005.
Quando o Fundo Monetário Internacional diz que estamos no bom caminho, é evidente que o caminho é apenas um: o da alma privada. Quanto mais privada estiver a alma, mais o FMI nos premeia. E, então, por que deveria o FMI preocupar-se com os salários dos professores das escolas públicas em Moçambique?
Quando o Fundo Monetário Internacional diz que estamos no bom caminho, é evidente que o caminho é apenas um: o da alma privada. Quanto mais privada estiver a alma, mais o FMI nos premeia. E, então, por que deveria o FMI preocupar-se com os salários dos professores das escolas públicas em Moçambique?
Ou será que estou a ler mal as coisas e que o FMI está apenas e rigorosamente preocupado com a qualidade dos nossos professores e entende que poucos mas bem preparados são a solução? O que pensam vocês?
Guerra das bandeiras: Chomera amplia raio das ameaças
O ministro da Administração Estatal, Lucas Chomera, disse na Beira que penalizações poderão ser tomadas contra o presidente do Munucípio da Beira, Deviz Simango, "se este insistir na violação da lei, continuando a retirar as bandeiras dos partidos políticos hasteadas um pouco por todos os bairros da urbe. " O ministro foi mais longe na sua sua ameaça musculada ao afirmar que "os administradores e outras entidades públicas que assim o fizerem poderão ser demitidos imediatamente", pois - sustentou - "a Constituição da República consagra a livre criação e a existência de formações políticas no país."
Lembre o que aqui escrevi anteontem.
Lembre o que aqui escrevi anteontem.
22 novembro 2007
Joaquim Fumo - entrevista (2) (continua)
Carlos Serra: tem uma obra que deseja publicar. Qual é o conteúdo?
Joaquim Fumo: sim. A obra debruça-se sobre o quotidiano dos Moçambicanos. Analiso o quotidiano que foi banalizado e naturalizado pelo comum dos mortais, mas, também, pelos cientistas sociais que têm por missão problematizá-lo.
Discuto questões ligadas à cidadania que, muitas vezes, por detrás de uma linguagem universal-liberal proferida pelo poder político, oculta uma cultura jurídica cínica que não se preocupa com a garantia dos direitos. Naturalmente que é indispensável nesta análise a avaliação do papel do Estado e das correlativas políticas públicas.
Avalio igualmente os impactos da globalização no nosso país enquanto sociedade periférica do sistema capitalista, os seus bloqueios e possibilidades no cumprimento do contrato social.
A outra vertente da minha reflexão é a intervenção social do sociólogo em Moçambique.
Joaquim Fumo: sim. A obra debruça-se sobre o quotidiano dos Moçambicanos. Analiso o quotidiano que foi banalizado e naturalizado pelo comum dos mortais, mas, também, pelos cientistas sociais que têm por missão problematizá-lo.
Discuto questões ligadas à cidadania que, muitas vezes, por detrás de uma linguagem universal-liberal proferida pelo poder político, oculta uma cultura jurídica cínica que não se preocupa com a garantia dos direitos. Naturalmente que é indispensável nesta análise a avaliação do papel do Estado e das correlativas políticas públicas.
Avalio igualmente os impactos da globalização no nosso país enquanto sociedade periférica do sistema capitalista, os seus bloqueios e possibilidades no cumprimento do contrato social.
A outra vertente da minha reflexão é a intervenção social do sociólogo em Moçambique.
Gama: já não há fome em Moçambique
Eis uma passagem da notícia dada pelo "Magazine Independente" da visita do presidente da Assembleia da República de Portugal, Jaime Gama, ao recém-inaugurado e gigantesco Maputo Shopping Centre: "Acompanhado pelo empresário Momade Bachir Sulemane, dono do grupo MBS, Gama ficou bastante sensibilizado com o hipermercado, tendo comentado, surpreendido, que é um dado adquirido que já não há fome em Moçambique" (edição de de 21/11/07, p. 23).
Azagaia e os cavaleiros locais da Távola Redonda
Sabeis que foram vários os cavaleiros da Távola Redonda, adorados pelo rei Artur e possuidores de um severo código de honra. Localmente, alguns dos nossos cavaleiros estão em combate contra o grande Mal, a grande ameaça, um novo xicuembo em cd, o pérfido vírus Azagaia. Se estivermos algum tempo em certos blogues e comentários da blogosfera local, se lermos mesmo certos jornais, se passarmos pelo círculo estrídulo dos guardiões da realeza e dos bons costumes, verificaremos quanto o azagaismo se tornou um percutor de úlceras gástricas para certos dos nossos cavaleiros. Com pouco esforço, apercebemo-nos logo dos eixos de ataque, dos desqualificadores. São basicamente cinco, que faço acompanhar do resumo das críticas feitas a Azagaia pelos cavaleiros:
IDADE: Azagaia é jovem e, naturalmente, em jovial pressuposto, os jovens são irreverentes, são por natureza mais inclinados à emoção do que à razão - este o tom dos cavaleiros mais velhos. Emocionais e emocionados, os jovens são propensos a dizer coisas sem sentido. Neste desqualificador, a idade opera imediatamente no sentido de eliminar em Edson da Luz a responsabilidade, a maturidade, a cidadania responsável.
IDADE: Azagaia é jovem e, naturalmente, em jovial pressuposto, os jovens são irreverentes, são por natureza mais inclinados à emoção do que à razão - este o tom dos cavaleiros mais velhos. Emocionais e emocionados, os jovens são propensos a dizer coisas sem sentido. Neste desqualificador, a idade opera imediatamente no sentido de eliminar em Edson da Luz a responsabilidade, a maturidade, a cidadania responsável.
ARTE: a arte de Edson é frágil, é péssima. Primeiro a sua poesia é pecaminosamente horrível, malcriada, insultuosa, diz coisas abomináveis que chocam a alma - vituperam em uníssono os cavaleiros; segundo, a sua música nada tem de especial, vários outros rapam bem melhor do que ele. Então, senhores, não é o bem-amado e patrãoótico Mc Roger bem superior? E, em última análise, não foi Jeremias Ngwenha bem mais educado? Este é um desqualificador possante que tem por objectivo adicionar à imaturidadade a mediocridade artística e a rudeza educacional do autor.
POLÍTICA: o que Edson canta é, certamente, produto dos maus espíritos da oposição, não devemos ter qualquer dúvida de que ele está ao serviço da malévola oposição. E, porque é jovem, imaturo, não sabe que pérfidas cabeças o estão a usar para dele fazerem um cavalo de tróia. Aqui, o processo de descerebralização do cantor é cristalino, clara a teoria do conspiracionismo político.
AMPLITUDE: as canções de Edson têm um limitado raio de acção porque são cantadas em português. Acresce que poucos são os que têm acesso a cds. O ideal, claro, seria o cantor converter o seu recente álbum às mais de 20 línguas do nosso país. Implicitamente, critica-se o cantor por não se comportar como africano, como bantuísta de raíz.
CIÊNCIA: para os cavaleiros do rigor académico (que no fundo queriam que o cantor fosse um doutor das boas regras da ciência e não um cantor), o que Edson canta não tem raízes científicas, não é produto de investigação prévia, Edson devia ter estado no terreno, o ideal teria sido tirar um curso de sociologia (ou coisa parecida) e aprender que a coisa mais importante na análise das coisas da vida é uma mistura de rigor e de neutralidade axiológica. Se tivesse aprendido esse abc, saberia que não pode generalizar o que os cavaleiros acham que não deve ser generalizado nas suas letras. Neste nível, Edson é remetido para o sotão da incultura pré-científica.
Resumo dos argumentos dos cavaleiros: Azagaia é (1) imaturo, (2) artística e culturalmente péssimo, (3) utensílio político inconsciente, (4) com limitado raio de acção e (5) estrangeiro ao escopro da ciência séria e neutral.
Por outras palavras: os cavaleiros da Távola Redonda pegam nos muitos lados do fascinante poliedro que é, afinal, Edson. Mas quanto mais nele pegam e repegam, quanto mais dele exigem, quanto mais o canibalizam, o fagocitam, quanto mais o reverenciam parecendo bater-lhe (coisa dialéctica que o sempre jovem Freud amava estudar), mais ele se difunde, renasce como uma hidra, se azagaia azagaiando.
Por outras palavras: os cavaleiros da Távola Redonda pegam nos muitos lados do fascinante poliedro que é, afinal, Edson. Mas quanto mais nele pegam e repegam, quanto mais dele exigem, quanto mais o canibalizam, o fagocitam, quanto mais o reverenciam parecendo bater-lhe (coisa dialéctica que o sempre jovem Freud amava estudar), mais ele se difunde, renasce como uma hidra, se azagaia azagaiando.
Assim, estamos confrontados com três azagaias: ele-próprio, o dos cavaleiros e aquele que, produto histórico desses progenitores, se torna mito e aspiração populares.
Carlos Cardoso assassinado há 7 anos
(...) Então/com a raiva intacta resgatada à dor/danço no coração um xigubo guerreiro/e clandestinamente soletro a utopia invicta/À noite quando me deito em Maputo/não preciso de rezar/ já sou herói (...) (Do poema "Cidade 1985", de Carlos Cardoso, 1985)
Hoje, 7.º aniversário do assassinato do jornalista Carlos Cardoso (foto à esquerda), será lançado na Organização Nacional de Jornalistas, 17 horas, cidade de Maputo, o livro "Carlos Cardoso: um poeta de consciência profética", da autoria de Cremildo Behula, jovem professor do ensino secundário numa escola de Inhagóia (periferia da cidade de Maputo) e investigador da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane. O livro tem prefácio do padre Alberto Maquias e posfácio meu.
Hoje, 7.º aniversário do assassinato do jornalista Carlos Cardoso (foto à esquerda), será lançado na Organização Nacional de Jornalistas, 17 horas, cidade de Maputo, o livro "Carlos Cardoso: um poeta de consciência profética", da autoria de Cremildo Behula, jovem professor do ensino secundário numa escola de Inhagóia (periferia da cidade de Maputo) e investigador da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane. O livro tem prefácio do padre Alberto Maquias e posfácio meu.