Outros elos pessoais

30 abril 2008

Caminhos dos sete milhões

O "Notícias" de hoje mostra o presidente da República, Armando Guebuza, preocupado com o destino dos sete milhões alocados aos distritos. Em Nampula, ele está a exigir o detalhamento do uso desse dinheiro destinado a gerar emprego e comida, confrontado que foi com a ausência de justificações e com as irregularidades detectadas. Por outras palavras, parece que nem o governador da província, nem o secretário provincial, nem outros responsáveis provinciais se aperceberam dos problemas que o presidente agora identificou.
Uma outra novidade é o facto de o presidente ter dito explicitamente em Nacarôa que com esse dinheiro devem nascer empresários que criem emprego local.
Recordo que este diário tem muitas postagens mostrando o "desvio de aplicação" dos sete milhões. Leia, por exemplo, aqui.

29 abril 2008

Sandra

Chama-se Sandra Quiroz, jornalista, escreve em espanhol, escreve sobre o nosso país, designadamente sobre Maputo. Visitem-na, visitem a sua escrita e as imagens que povoam o seu espaço.

"Licença para matar": severa crítica da AI à polícia moçambicana

Em relatório, a Amnistia Internacional criticou hoje severamente a polícia moçambicana. Confira aqui em inglês. Se quer ler um resumo em português, veja aqui na BBC.
Entretanto, segundo a Rádio Moçambique, as nossas autoridades mostraram-se indisponíveis (sic) para comentar o relatório (noticiário das 19:30).

Etiquetagem política

Esta manhã pude estar algum tempo a escutar a Rádio Moçambique antes de me integrar na conferência sobre violência e trauma que se está a realizar na Faculdade de Medicina. O que estive a ouvir? Um quente debate em torno do informe do procurador-geral da Républica, Augusto Paulino. A Renamo não queria que ele intervisse argumentando que a sua intervenção era anti-constitucional dado ser arguido em processo-crime quando foi nomeado para o cargo pelo presidente da República. A Frelimo queria que ele interviesse pois Paulino não era culpado de nada e a sua intervenção era perfeitamente constitucional, havendo apenas uma conspiração (sic) contra ele.
Mas não é isso que constitui o cerne desta postagem. Sabem do que andei à procura? Andei à procura de uma coisa que amo apaixonadamente: os processos de etiquetagem política, os labelos que cada partido cola defintivamente no outro não importa a propósito de quê, os apodos que são desembainhados sempre que há um debate, os mecanismos de ablação da integridade do outro, os subtis mas definitivos carris simbólicos de linchamento partidário.
E foi, então, que ouvi um deputado da Frelimo inscrever na galeria das etiquetagens uma nova expressão a propósito da Renamo: "cosmogonia criminal da Renamo".
E, já agora, a propósito da posição da Renamo, um outro deputado da Frelimo afirmou que quem não queria ouvir o informe de Augusto Paulino é porque "está do lado do crime organizado" e quem queria ouvir é porque "está contra o crime organizado".
Cresce em mim a vontade de um dia solicitar autorização para fazer na Assembleia da República a sociologia da etiquetagem política e das suas infra-estruturas sociais.

28 abril 2008

Negócios em Moçambique

Quer saber um pouco dos negócios em Moçambique? E de algumas coisas mais? Pois leia qui os cabeçalhos do Africa Intelligence.
Se quer ler em português, faça uso deste tradutor.

Linchado em Chimoio (32ª vítima de linchamento este ano a nível nacional)

Um indivíduo foi linchado esta madrugada, cerca das 4 horas, no Bairro Muzingaze, cidade de Chimoio, acusado de tentar assaltar uma residência local. Primeiro foi agredido, depois queimado com capim e petróleo. A polícia tentou evitar o pior disparando para o ar, mas foi tarde. Obrigado ao jornalista CL do Chimoio pela informação.
Com esta nova vítima, eleva-se para 32 o número de linchados este ano no país em zona urbana e péri-urbana, nos casos publicamente reportados, a saber: doze em Chimoio, nove na Beira, oito em Maputo, dois no Dondo e um em Vandúzi.

Pedido de desculpas

Ontem estive sem acesso à internet devido a uma avaria na provedora, hoje estive todo o dia na Faculdade de Medicina por causa da 5.ª Conferência Regional Sobre Violência e Trauma.
Como sabem alguns, é muito raro eu estar quase dois dias sem aqui postar algo em empatia convosco. O meu pedido de desculpas, tentarei voltar ao ritmo normal.

26 abril 2008

Congoleses em pânico quiseram linchar supostos ladrões ou encurtadores de pénis

Segundo a Reuters, a polícia congolesa deteve 13 indivíduos acusados de usar magia negra para roubar ou encurtar pénis, após uma vaga de pânico e tentativas de linchamento na capital, Kinshasha, com oito milhões de habitantes. A polícia deteve também 14 supostas vítimas, num esforço para evitar o que se passou uma década atrás no Gana, onde 12 suspeitos de roubo de pénis foram linchados por multidões. Os 27 indivíduos foram entretanto libertos. Se quer ler em português, socorra-se deste tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, por me ter enviado a referência.

Zuma,Tsvangirai e Dhlakama: a prova do ovo de Colombo (3) (fim)

E termino a série.
Nesta prova do ovo de Colombo, falta considerar a terceira personagem: Afonso Dhlakama, presidente do partido Renamo, o maior da oposição em Moçambique.
Atento, inteligente, arúspice dos ventos da mudança no Zimbabwe e, indirectamente, na África Austral, Dhlakama soube rapidamente perceber que também ele poderia fazer o ovo de Colombo rodar em Moçambique. E fê-lo rodar.
Esteve em contacto permamente com Tsvangirai, organizou e protegeu a sua visita ao nosso país, programou-lhe o encontro com o presidente da República, Armando Guebuza.
Dessa maneira surpreendeu quem sempre vê nele a inércia de uma guerra e o ex-líder guerrilheiro sempre violento.
Com o seu ovo a rodar, Dhlakama obteve três aparentes trunfos: (1) um lugar no Zimbabwe onde, sejam quais forem os cenários futuros, Morgan Tsvangirai jogará um papel proeminente; (2) indirectamente e pelo triângulo criado (Zuma/Tsvangirai/Dhlakama), um possível aliado em Zuma; (3) aqui no país, vincou o papel do negociador hábil, conseguindo que Guebuza recebesse Tsvangirai.
Toda esta história revela que a SADC assumiu um novo rosto, um rosto motriz virado para o futuro (futuro que contempla, também, novos tipos de dirigentes), graças em grande medida à oposição (Zimbabwe/Moçambique) emoldurada e indirectamente caucionada pela subversão de Jacob Zuma da África do Sul.
Adenda: segundo a Rádio Moçambique no seu noticiário das 19:30, a Comissão Eleitoral de Eleições do Zimbabwe confirmou hoje que a ZANU-PF perdeu a maioria no parlamento. O MDC, do qual Morgan Tsvangirai é presidente, tem agora, oficialmente, a maioria.

Zimbabwe parece-se com um Estado policial (Jacob Zuma)

O presidente do ANC (partido no poder) da África do Sul, Jacob Zuma, criticou o raid feito ontem pela polícia zimbabwena ao escritório do MDC em Harare e disse à The Associated Press que o Zimbabwe assemelha-se a um Estado policial. Desta maneira, Zuma endurece a crítica que tem feito ao regime de Mugabe, abrindo janelas de reorganização do clássico xadrês silencioso da SADC e minando a posição do negociador da organização na crise zimbabweana, o presidente sul-africano Thabo Mbeki. Se deseja ler em português, faça uso deste tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.

Haiti, preços dos alimentos e revoltas populares

Achei bem colocar aqui uma descrição dos problemas sociais no Haiti por causa dos preços dos alimentos. Leiam e verão as lições que deles poderemos tirar. Obrigado ao Agry pelo envio da referência.

Zuma,Tsvangirai e Dhlakama: a prova do ovo de Colombo (2) (continua)

Prossigo, então, esta série.
Acontece que a história é perversa, para dizer as coisas com bonomia.
Na couraça histórica formada pelos partidos e pelos líderes da lutas de libertação, surgiram, entre outras, duas fissuras: a de Jacob Zuma da África do Sul e a de Morgan Tsvangirai do Zimbabwe, ambos candidatos a presidentes.
O primeiro, saído de um intenso debate em torno da sua reputação, mas agora presidente do mais antigo partido africano - o ANC - e forte candidato do partido a futuro presidente da África do Sul, decidiu começar a mostrar que é possível colocar um ovo de pé, partindo uma das bases e com a extremidade achatada mantê-lo fixo em posição vertical. Por outras palavras: Zuma pôs o futuro de pé, encontrou um caminho difícil mas simples, rompeu a casca da coesão histórica dos líderes naturais das lutas de libertação.
O segundo, ex-líder sindicalista no Zimbabwe, sem os galões do guerrilheiro das lutas de libertação, virtual vencedor das eleições de 29 de Março naquele país, decidiu ir mais à frente, decidiu fazer uma incursão diplomática pelos países da SADC. Fazendo-o, foi recebido pelos respectivos presidentes. Também ele conseguiu pôr o ovo de pé, mas de uma forma mais plena e sofisticada: cozeu o ovo e colocou-o a rodar sobre o seu eixo maior. Por outras palavras: fez-se rodar, sem nada partir, enquanto futuro, equilibrado e formalmente respeitado pela SADC.
Temos assim, por ironia da história, um ex-líder guerrilheiro histórico (Zuma) cruzando o destino com um ex-líder sindicalista (Tsvangirai) que, com o seu partido, luta para desalojar o mais velho dos líderes da guerrilha: Robert Mugabe, do Zimbabwe.

Espíritos, curandeiros e mercado (6) (continua)

Vamos lá então prosseguir esta série.
Quando os acordos gerais de paz são assinados em 1992 e, por consequência, se põe formalmente término a uma sangrenta guerra civil, o nosso povo respira de alívio.
Mas é um povo entalado entre os espíritos do passado e as exigências do futuro, entre um passado doloroso que criou raízes nas almas (de medo, de agressividade) e os imperativos de um novo tipo de sociedade, não mais uma sociedade do tipo socialista, mas uma sociedade capitalista, uma sociedade de desigualdades, uma sociedade do have lunch or be lunch.
É nos anos 90 que os chapas começam a ocupar de forma permanente o imaginário dos transportes dos citadinos, especialmente em Maputo. É nesse período que se tornam menos impositivas as regras de circulação, o controlo político anteriormente exercido. É nesse período que vão nascer os partidos políticos, os jornais. É nesse período de maior liberdade que, paradoxalmente, os linchamentos surgem em Maputo e Matola, indicador claro de desajuste social. Foi em 1996 que ouvi alguém dizer o seguinte: acabou a guerra das armas, começou a guerra dos preços.
As cidades estão cheias de gente, de gente fugida do campo e da guerra, de gente traumatizada pelo passado e confrontada com um novo e obscuro futuro, de gente fazendo face a novos padrões de vida, de gente ávida de equilíbrio, de sentido, de alegria, de paz.
É um período de fim de crise no início de uma nova crise, a crise de adaptação a novos modelos de vida, às tensões da sobrevivência diária. A tensão afectiva, o traumatismo de guerra, o conflito de gestão de diferentes culturas, a incerteza do futuro, reforçam a necessidade de segurança e ampliam paralelamente o medo do acaso, do indeterminado, do aleatório, dos maus espíritos urbanos. O xicuembo é agora habitante do mundo capitalista.

Sobre a violência (2) (continua)

Estamos, então, confrontados com este enigmático fenómeno da violência, fenómeno que, porém, parece ser simples, cristalino, tocável, rapidamente compreensível.
Em lugar de consequência de algo ou de um conjunto de fenómenos, a malfadada violência é, frequentemente, havida como uma causa, como algo que está à cabeça de tudo. Considera-se que o ser humano tem uma dose inata de religiosidade, de piedade, de amor paternal, de ciúme sexual, de agressividade, de violência, de pacifismo em tempos normais, etc. Dessa maneira tudo fica espantosamente simplificado e digerível, bastando depois adicionar uma pitada de predicação moral e de condenação veemente para o produto estar pronto a servir ao reino da alma confortada.
Quando queremos compreender a violência (ou não importa qualquer outro fenómeno social), entendemo-la frequentemente no sentido em que, outrora, explicávamos os efeitos do ópio pelas suas virtudes dormitivas, o vinho pelo espírito do vinho e o fogo pelas suas propriedades flogísticas. Por outras palavras: a violência explica-se pela violência, pelo espírito da violência, por uma substância virtualmente genética. Por outras palavras: dizemos que as pessoas são violentas porque possuem um coeficiente de violência inato, que os homens batem nas mulheres porque são violentos, que os pobres são pobres porque são preguiçosos, que a oposição política faz o que faz e diz o que diz porque é visceralmente violenta, etc.
Em última análise, em casos politicamente úteis, reorganizamos o edifício analítico, tornamo-lo de repente pacífico (porque somos pacíficos por natureza), mas introduzindo nele um dado perversamente percutor: o vírus da mão externa.
Mas vamos lá: o que é violência?

Sobre a violência (1)

Multiplicam-se os apelos à não violência, ao civismo, ao bom comportamento, desde que eclodiram as manifestações populares do 5 de Fevereiro na cidade de Maputo. Dirigentes estatais, políticos, líderes religiosos endereçam à nação ferverosos apelos à expressão serena dos sentimentos e dos agravos.
Há quem entenda que a alteração electro-fisiológica (digamos assim), a perversa adrenalina social das pessoas tem a ver com uma mão externa que agita um corpo social unificado que é considerado ser, por natureza, bondoso, pacífico, compreensivo. Esta mão externa pertence a dois tipos de forças: a dos mal-intencionados internos e a das forças cegas do mercado internacional. Os primeiros buscam fins obscuros; as segundos contribuem, com o seu malévolo efeito borboleta à Lorenz, para aumentar os preços dos combustíveis e dos alimentos. Uns e outros são supostos desestabilizar ou poder desestabilizar a ordem social.
Mas esta enigmática e rizomática história da violência tem outros níveis, mais constantes, mais estrangeiros às mãos externas. Por exemplo, a violência doméstica. Aqui, é como se existisse um fundo natural, a-histórico, de violência que leva homens a magoar mulheres ou, como nos últimos meses tem sido relatado pela imprensa, mulheres a magoar homens.
É esse fundo, esse estoque como que biológico de violência que é, também, implicitamente, atribuído, por exemplo, aos linchadores e às suas horríveis proezas de justiça primária e selvagem no país, esquecidos que estão eles de que existem instituições destinadas a resolver conflitos e a dar-lhes o destino legal conveniente.
Finalmente, há quem entenda que os meios de informação, que as novelas, que o cinema, criam ou aceleram a violência.
Por outras palavras: há todo um múltiplo mundo (porque outros campos de canalização de violência poderiam ser mencionados) que entendemos estar irrigado pela violência, expressa ou latente. São quase tantos os campos de expressão da violência quanto os ângulos e os contextos sociais que quisermos considerar.
Violência que aparece, regra geral, como um instinto de agressão primordial, natural, inato, independente da história e das relações sociais, como uma pulsão primária brutal que afecta, magoa, que mutila outrem.
E porque suposta natural, produto de aleivosia ou obra intencional, regra geral a violência apenas merece o labelo da condenação, do vitupério, da criminalização. Prosseguirei.

25 abril 2008

A "hora do fecho" do "Savana"

Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "Na hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Deliciem-se com a "hora do fecho" desta semana:
* Morgan Tsvangirai foi submetido a desnecessária humilhação na Presidência da República sendo forçado a passar por um detector de metais instalado pelos oficiais de protocolo e segurança no local. Resta saber se as ordens para tal exagero partiram mais de cima…
* Outra nota de desagrado na Presidência foram as informações, ou mais concretamente a ausência delas. A solícita assessora pouco solícita disse aos escribas que a informação do encontro com o PR na quarta-feira seria disponibilizada na sexta-feira, à partida de Tsvangirai. Fachavor mana…
* Na confusão, Dhlakama soma pontos na área diplomática. Depois da postura de estadista no 5 de Fevereiro e líder piedoso e solidário nas cheias do vale do Zambeze. No batuque fartam-se de perguntar quem são os seus novos assessores…
* Apesar do artigo 33 da lei mãe, que permite de facto vários passaportes aos moçambicanos, o debate da nacionalidade parece uma vez mais estar na ordem do dia. Como arma de arremesso político, como invariavelmente tem acontecido. E a procissão ainda não chegou ao destino…
* O governador de Inhambane, Itai Meque, que não tem aparentemente problemas de nacionalidade, ordenou a mudança do nome da rua que Narciso Pedro, o edil da Maxixe, atribuiu a si próprio. Não será isto ingerência nos assuntos municipais? E se a moda pega? Um dia vamos ver Vaquina a anular as praças Matsangaíssas e ruas Simango, Dhlakama, Celina…
* E mais para sul, Comiche volta a insurgir-se com as alegadas interferências de Rosa da Silva nas suas actividades e reiterou a irrelevância de Maputo ter um(a) governador(a). O edil poderá fazer uma troca de experiências com os seus colegas da Ilha de Moçambique, de Marromeu, de Nacala e da Beira e verificará que não é a única rosa com espinhos.
* Para as paragens do Atlântico, em mais um paraíso que parece bananalândia, o director das aeronáuticas e aeroportos (só há dois) foi forçado a demitir-se por pressão do Primeiro-Ministro. Motivo aparente: deu ordem por telemóvel para abortar a descolagem de um avião da estatal angolana pois havia um passageiro para embarcar. Não riam dos nossos irmãos dos Palop pois por cá houve um general que muitas descolagens fez abortar aos Antonov da Força Aérea.
* Com a entrada no segundo trimestre começou a publicação dos relatórios de contas das empresas do grupo A. Interessante notar o lacrimejar dos nossos bancos que choram o abaixamento das taxas dos Bilhetes do Tesouro, logo menos lucros no exercício. Para o ano há mais 20% de imposto deduzido.
* E na banca há mais uma aquisição de vulto. Um nadador de juventude, irmão de nadadora e futebolista dos “ventoinhas”, filho do chefe dos “cabeças de giz” do tempo colonial vem pôr à prova os conhecimentos adquiridos na universidade onde estudava a filha de Jimmy Carter, a Brown. O jovem já esteve no BIM, foi a Luanda trabalhar para o ABSA e agora regressa como CEO de uma das marcas recentes da praça.
Em voz baixa
* Não é só Tsvangirai que é humilhado. A comunicação oficial, silenciosa no caso do barco chinês, provavelmente porque esperava vê-lo atracar na Beira em apoio ao tio Bob, teve que finalmente dar a notícia do “An Yue Jiang” porque o cachimbo falou do assunto. Como anima ser pau mandado…

Zimbabué


Confira aqui as últimas notícias, entre as quais uma queixa da oposição de que o seu escritório na capital, Harare, foi hoje assaltado por forças policiais, que terão detido 300 pessoas. O assalto não foi reportado pelo The Herald, jornal pró-governamental, o qual pode conferir aqui (sugiro-lhe que aí leia também a coluna de Opinião&Análise). Se quer ler em português, sirva-se deste tradutor. Nota: passo a grafar Zimbabué, para seguir uma correcção feita pela Prof.ª Fátima Ribeiro.
Adenda às 21:03: nos seus noticiários das 19:30 e 21:00, a Rádio Moçambique referiu que a polícia de choque invadiu a sede do MDC no "maior acto de repressão sobre o MDC desde as eleições de 29 de Março, tendo prendido algumas pessoas" (sic).

Traz outro Amigo (Zeca Afonso)

Sim, traz, traga, tragamos. Deixem-me lembrar com carinho este homem, este cantor falecido em 1987, meu professor de português nos anos 60 na Beira.

Inédito

É francamente inédito: o Correio da Manhã de hoje grafou de forma correcta em português (texto na imagem à esquerda) dois nomes de países que invariavelmente aparecem grafados em inglês na nossa imprensa: Zimbabwe e Malawi. Dura luta esta entre o w e o u. E luta também nos acentos: à economia inglesa dos acentos responde o português com a severidade e a variedade acentuais.

África do Sul pós-apartheid beneficiou ricos

De acordo com o BusinessReport, os maiores beneficiários da África do Sul pós-apartheid foram os ricos. Os ricos tornaram-se mais ricos, negros e brancos - disse ontem o vice-presidente sul-africano, Phumzile Mlambo-Ngcuka. Se quer ler em português, use este tradutor aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.

Manchete de "O País" desta semana


Um tema demasiado preocupante, este (pp. 2-3). Neste diário, o tráfico de seres humanos tem sido um dos temas mais frequentes. Do ponto de vista jornalístico, a peça de Lázaro é excelente, no mais puro estilo clássico do jornalismo investigativo. Sugestão: clique duas vezes com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.
Adenda às 18:35: confira aqui o texto do Lázaro, gentilmente enviado a meu pedido.

25 de Abril

Comemora-se hoje mais um aniversário da revolução dos cravos ocorrida em Portugal a 25 de Abril de 1974. Saiba aqui, veja aqui e recorde aqui a canção do falecido cantor e compositor Zeca Afonso (leccionou muitos anos em Moçambique, em particular na cidade da Beira) que serviu de senha para o início da revolução que levou à queda da ditadura em Portugal e constituiu um passo importante para a independência de Moçambique a 25 de Junho de 1975.

Paulina Chiziane: "indígenas", "homem branco" e "mulatos" no seu novo romance

Chama-se "O alegre canto da perdiz", o novo livro de Paulina Chiziane, publicado em Portugal. Ainda não tenho, eu amo a escrita de Paulina (é para mim o melhor romancista moçambicano), apenas me resta chamar a vossa atenção para a entrevista dela ao Diário de Notícias online/Artes. Eis as suas palavras iniciais: "É um livro polémico. Tenho consciência, mas era preciso começar a discutir o problema. Olhávamos para o invasor como a causa dos problemas. A Zambézia é das províncias mais ricas, um lugar onde a exploração portuguesa foi muito forte. Se os portugueses eram tão poucos ali, como dominaram a província e o país? Qual a participação dos indígenas? Se parar para uma reflexão interna, a mão dos indígenas foi muito forte. A Zambézia foi a parcela do território com maior miscigenação. Como aconteceu? Será que as mulheres foram violadas? Será que se entregaram? Como é que a Zambézia tem tantos mulatos?"
Tendes aí os ingredientes de dois (outros são, porém, possíveis) apaixonantes temas para debate: (1) a gestão política colonial da Zambézia e (2) a mestiçagem. E isso é para mim tão mais apaixonante quanto estudei a história da província da Zambézia, milhares dos seus documentos escritos, montes de entrevistas, distritos percorridos um a um.

24 abril 2008

Enviada americana para África diz que Tsvangirai ganhou as presidenciais no Zimbábuè

Enviada para África e assistente do secretário de Estado norte-americano para os assuntos africanos, Jendayi Frazer (na foto à esquerda) disse hoje que Morgan Tsvangirai ganhou as eleições no Zimbábuè de 29 de Março e que por consequência não havia necessidade de partilha de poder com Robert Mugabe. "Pensamos que estamos numa situação de uma clara vitória" - disse. Na mesma referência, veja do lado esquerdo dois vídeos, um com Jacob Zuma - presidente do ANC da África do Sul - e outro com a recontagem oficial dos resultados. Se quer ler em português, use este tradutor aqui.

O tricô das maçanicas

Pois é, o Daniel da Costa - escritor, motorista da escrita fina, re-inventor da vida, bebedor da água do Zambeze, guloso de maçanica, apreciador de pende, condutor de uma enorme mota quando o conheci em Tete, jovial e folgazão - também tem um blogue. Bem-vindo, fikani bwino! Leiam-no.

Tsvangirai e Dhlakama: a prova do ovo de Colombo (1)

Vinte e sete dias depois das eleições de 29 de Março no Zimbábuè, os resultados oficiais ainda não saíram. Uma exemplar espera de Godot.
Há anos que a situação no Zimbábuè é bem mais do que um simples problema interno. Há anos que esse situação é também nossa, a vários níveis, na África Austral. E é também de outros, mais a norte.
Uma solidariedade militante (justa, diga-se de passagem), uma camaradagem produto das lutas de libertação tem constituído o cerne do que, oficialmente, se chama diplomacia silenciosa, diplomacia que é, afinal, a da compreensão, a da história, a do staus quo, a dos espíritos do passado. A cargo de quem? De uma aristocracia, a tal aristocracia referida num texto recente que traduzi para este diário, aristocracia dos libertadores que tem servido para caucionar o comportamento da ZANU e de Robert Mugabe, para dar ao presente o aval do passado, sejam quais forem os nós de estrangulamento político existentes no Zimbábuè.
Confrontada com os ataques do Ocidente, em especial da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, a rígida hierarquia dos libertadores - à testa da qual, pela idade, está Mugabe - regressou ao passado e naturalmente aceitou a visão mugabeana de um país vitimizado em permanência pelo neo-colonialismo, pela neo-arrogância. Prisioneiros da história e do passado, os líderes libertadores e dirigentes da SADC - claramente acima dos líderes júniores que não passaram por lutas de libertação - ficaram assim reféns da ZANU e de Mugabe. Reféns de tudo o que de politicamente perigoso se passou e se passa no Zimbábuè, reféns de uma situação social imputada à malevolência racista do Ocidente, reféns de um processo eleitoral instintivamente considerado credível, reféns de uma visão da oposição em termos de marionete, de joguete do exterior, de acidente negligenciável no leito sagrado das lutas de libertação.

Tsvangirai sujeito a detector de metais antes de ser recebido pelo presidente Guebuza

Segundo o semanário "Savana" desta semana, o líder do partido Movimento para a Mudança Democrática do Zimbábuè, Morgan Tsvangirai (à esquerda na foto), foi sujeito a um detector de metais antes de ser recebido pelo presidente da República, Armando Guebuza (à direita na foto), num encontro que durou 15 minutos. O semanário usou o título "Guebuza recebe Tsvangirai pela porta dos fundos" e o subtítulo "Gaffe diplomática" (p. 3). Foto reproduzida daqui.

Zuma, Tsvangirai e Dhlakama: a prova do ovo de colombo

Aguardem nas próximas horas um texto com o título em epígrafe. Um texto que gravita em torno da prova do ovo de Colombo a propósito da visita de Morgan Tsvangirai a Maputo e do papel jogado em Moçambique por Afonso Dhlakama na nova história que parece desenhar-se na África Austral. Até já.

Graça Machel


Leia aqui, em espanhol, uma entrevista dada por Graça Machel, 62 anos, ao La Vanguardia. Se quer ler em português, use este tradutor. Entretanto, "Graça Machel Machel tornou-se ontem na primeira africana a ser investida doutora “honoris causa” pela Universidade de Barcelona, Espanha, em reconhecimento do seu contributo para o mundo da ciência, do conhecimento e da cultura."

Viver com mortos em Maputo, roubar pertences de mortos em Nampula

Projecta-se transferir 150 famílias que vivem no interior do cemitério de Lhanguene, periferia da cidade de Maputo, lá onde há cerca de 40 enterros diários. Enquanto isso, dez carpinteiros do Bairro Muatala, periferia da cidade de Nampula, estão detidos sob acusação de profanarem sepulturas para roubarem madeira para o fabrico de caixões, bem como "artigos de vestuário dos defuntos, flores, vasos, entre outros bens que depois eram vendidos na via pública."
Entretanto, leia e/ou recorde esta minha série aqui.

Tsvangirai recebido por Guebuza


O presidente Armando Guebuza (à direita) recebeu ontem o presidente do Movimento para a Mudança Democrática do Zimbábuè, Morgan Tsvangirai (ao meio). Segundo o Diário Independente de hoje, o líder do MDC esteve hospedado no Hotel Polana "e sob forte protecção e protocolo de quadros da Renamo, Morgan Tsvangirai teve sessões de trabalho com Afonso Dhlakama, organizador da sua agenda de Maputo e com o Presidente do Fórum dos antigos Chefes de Estado de África, Joaquim Chissano, antes de se reunir ao fim da tarde com o Presidente Armando Guebuza. No centro das suas preocupações está a crise pós-eleitoral no seu país e as garantias de segurança e estabilidade nesta fase e na fase que se vai seguir à divulgação definitiva dos resultados das eleições presidenciais e legislativas que ele reclama tê-las ganho." Imagem reproduzida da edição de hoje do jornal de referência. Leia e/ou recorde aqui e aqui.

23 abril 2008

Diário de um sociólogo no "La Vanguardia"

Postagens deste diário têm surgido na versão online do jornal catalão La Vanguardia. Veja a coluna do lado direito aqui.

Zimbábuèano propõe governo transitório de unidade nacional no "The Herald"

O jornal pró-governamental zimbábuèano, The Herald, insere hoje um artigo de opinião da autoria de Obediah Mukura Mazombwe, que propõe um governo de transição de unidade nacional dirigido por Mugabe. É, indiscutivelmente, um dado importante, este, logo naquele jornal. Já agora, leia a posição da Voz da América a esse respeito aqui. Se quer ler em português, use este tradutor.

RM: manchete com Tsvangirai

Manchete da Rádio Moçambique neste momento: o presidente Guebuza recebeu o líder do MDC, Morgan Tsvangirai, que, entretanto, já partiu para Joanesburgo. Também se encontrou com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama (noticiário das 19:30).

Sérgio Chichava e a etnicidade em Moçambique

O Sérgio Chichava chamou-me a atenção para um trabalho que escreveu sobre a etnicidade em Moçambique. Confira aqui.

Zimbábuè: por que razão os vizinhos permanecem inactivos?

Com o título em epígrafe, o La Croix francês tem hoje um texto que achei por bem traduzir para vós, a saber: "Mais de três semanas após as eleições no Zimbabwe, os resultados ainda não tinham sido publicados ontem. Pouco inclinados a defender a oposição e respeitando a figura de Robert Mugabe, os dirigentes da África Austral mostram-se reservados. Na África Austral, dedica-se muita importância às noções de soberania e de independência, em razão do passado colonial e do apartheid. Também se tem um grande sentido de hierarquia social e aqueles que lutaram contra o colonialismo formam uma espécie de aristocracia na qual Robert Mugabe é o mais velho. A este respeito, ele beneficia sempre de uma popularidade significativa nos países da região. A recordação do colonialismo sempre está presente e mesmo se as pessoas estão conscientes de que a Grã-Bretanha não é a única responsável pela crise actual do Zimbabwe, eles têm o desejo de recordar aos Britânicos a sua responsabilidade histórica. Os governantes da África Austral têm razão em recordar que os Ocidentais permanecem silenciosos sobre Estados praticando violações dos direitos humanos bem piores do que o Zimbabwe, como a Guiné Equatorial ou a Suazilândia. Nestes últimos dias começaram a agir. Por exemplo, o presidente zambiano Patrick Levy Mwanawasa, que preside à Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), pediu que um navio chinês transportando armas destinadas ao Zimbabwe seja afastado dos portos da região. Na África do Sul, o ANC dissociou-se do presidente Thabo Mbeki, que estima demasiado benevolente em relação a Mugabe. Por outro lado, há uma falta de habilidade estratégica do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), o principal partido da oposição. Mugabe acusa sistematicamente a oposição de estar vendida ao Ocidente e, como para lhe dar razão, os dirigentes do MDC não cessam de viajar para obter apoios, com sucesso aliás. Do seu lado, os dirigentes britânicos dão argumentos a Mugabe de cada vez que que se exprimem sobre o Zimbabwe. Morgan Tsvangirai, que afirma ter ganho a eleição presidencial, também cometeu numerosos erros na maneira como geriu as relações com a SADC. Na semana passada, pediu publicamente que Thabo Mbeki fosse afastado das suas funções de mediador. Ora o presidente sul-africano foi confirmado segunda-feira pelos seus homólogos. Qualquer que seja a frustração que estes chefes de Estado sentem em relação ao Zimbabwe, quaisquer que sejam os riscos de desestabilização corridos pelos seus países, não há garantia de que as coisas ficarão melhores: a situação pode piorar" (A questão do dia por Tom Cargill, recolha de Laurent dÉrsu, La Croix, 23 Abril de 2008, referência enviada pelo Ricardo, meu correspondente em Paris).

AIM: Guebuza vai receber Tsvangirai



De acordo com a Revista da Imprensa de hoje da Agência de Informação de Moçambique hoje, "O Presidente da República, Armando Guebuza (primeira imagem à esquerda), prometeu, em conversa telefónica que manteve com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, na ultima quinta-feira, que aceitava receber no seu gabinete de trabalho, Morgan Tsvangirai, líder do Movimento para a Mudança Democrática (MDC ) do Zimbabwe (segunda imagem), com quem pretende discutir a situação prevalecente no seu país. Informações em poder do “Magazine” indicam que o Presidente da República atendeu a uma chamada telefónica de Afonso Dhlakama, na quinta-feira passada, tendo conversado sobre a pretensão do líder do MDC de visitar Moçambique e ser recebido pelo Chefe do Estado. “O Presidente Guebuza disse, ao telefone, ao líder da Renamo, que aceitava a vinda de Morgan Tsvangirai ao nosso país, mas não avançou com as datas, porque informou que viajava no fim-de-semana para as Maurícias. Só depois de regressar ao país é que poderia agendar o encontro com Tsvangirai”, assegurou uma fonte próxima do assunto."

Ainda sobre o barco com armas para o Zimbábuè

De acordo com o mediafax de hoje, (1) as autoridades do nosso país recusaram receber o navio chinês que transporta armas para o Zimbábuè, (2) nenhuma fonte oficial diz onde pára o navio e (3) Pequim diz que o navio está de regresso à China.

Espanha e linchamentos

Como sabem, este diário é um canal permanente de relato e análise dos linchamentos em Moçambique (mas não só). Agora, estaremos nós dispostos a globalizar o fenómeno e a senti-lo também em Espanha e, aqui, a sentir o protesto de um espanhol com o que apelida de "notável desprestígio da Administração da Justiça" perante lapidações (sic) físicas e mediáticas? Pois leiam aqui no SUR. Se quer traduzir para português, use este tradutor. Como sempre, obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.

Banco alemão tentou apreender conteúdo do barco chinês que transporta armas para o Zimbábuè

Uma notícia no Spiegelonline dá conta de que um banco alemão tentou apreender en Durban o conteúdo do barco chinês que transporta armas para o governo do Zimbábuè. Confira aqui. Se quer ler em português, use este tradutor. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.

Pennsylvania: Hilary deverá ganhar, mas Obama deverá vencer...

Resultados preliminares da primária do Estado de Pennsylvania ontem realizada nos Estados Unidos mostram uma pequena vitória de Hilary Clinton com 66 delegados, tendo Barack 7, uma diferença mínima, portanto. Faltam ainda 35 assentos por decidir. Apenas quarta-feira deverão ser conhecidos os resultados finais. Acontece porém que, no total, Obama,705,5 delegados e Hilary, 1,575.5. O vencedor terá de somar 2,025 delegados para a nomeação democrata. Se quer ler em português, faça uso deste tradutor aqui.
Por outras palavras e por hipótese: Hilary deverá ganhar a primária , mas Obama deverá ganhar a batalha final. Pode acontecer que Hilary finalmente desista em favor de Obama. Ela precisava ganhar Pennsylvania por uma margem substancial, o que não vai acontecer.

Tsvangirai está em Maputo

O presidente do MDC, Morgan Tsvangirai - virtual vencedor das eleições no Zimbábuè -, está em Maputo, neste momento reunido com Afonso Dhlakama, presidente da Renamo. Reúne-se depois com o presidente da República, Armando Guebuza, e com o ex-presidente da República, Joaquim Chissano (informação de um jornalista sénior há momentos).
O presidente do MDC está em Maputo na sequência do seu périplo por países da África Austral face à delicada situação política no Zimbábuè, onde ainda não são conhecidos os resultados eleitorais oficiais após as eleições de 29 de Março. E isto perante uma SADC indecisa.

Religiosos, Meque, violência e moral

O governador de Inhambane, Itai Meque (na imagem), convocou os líderes religiosos para uma "reflexão conjunta sobre a necessidade de moralização da sociedade e debate de assuntos relativos à agenda nacional." Alguns líderes disseram que a violência era feia, imoral, a cargo de insurrectos, pelo que tudo fariam para intensificar o programa de educação dos filhos. O governador falou em campanhas de desinformação contra o governo - contra as quais era importante lutar com vigor -, disse que uma boa estratégia para os religiosos "era divulgar as realizações do Governo, comparando o que era o país antes da independência e actualmente", pediu aos religiosos para dedicarem alguns minutos das missas a explicar o que de bom o governo tem feito e terminou afirmando que alguns sectores da oposição querem conquistar o voto a qualquer preço e por isso "como sempre, optam pela violência".
Aqui está um belo documento para uma aula de sociologia política.

Comiche aborrecido com a dupla administração

O presidente do Conselho Municipal da cidade de Maputo, Eneas Comiche, afirmou ontem que a dupla administração "dilui as responsabilidades, tanto da edilidade como do Governo da cidade, podendo futuramente prejudicar o desenvolvimento harmonioso e integrado da urbe como um todo." Claro que Comiche refere-se ao governo da cidade e à governadora Rosa da Silva. Já uma vez Comiche queixou-se disso. Entretanto, recorde aqui uma situação na Beira.

22 abril 2008

Guebuza e o 5 de Fevereiro

Em conferência de imprensa a propósito do início hoje da sua presidência aberta na cidade de Maputo, o presidente da República, Armando Guebuza, referiu-se às manifestações populares de 5 de Fevereiro desta maneira: “Tivemos problemas em Fevereiro, nos quais houve violência, são lições nas quais aprendemos que devemos ter soluções, porque isto deriva da pobreza”, ajuizou. E acrescentou: “Temos que dar passos rápidos na procura de soluções para os nossos problemas, temos que arranjar emprego e nos educarmos, porque a solução dos problemas não deve ser por via da violência porque assim corremos o risco de destruir aquele recurso que nos pode ajudar a superar esses problemas" (Rádio Moçambique, noticiário das 19:30).
Não é a primeira vez que Guebuza se refere ao 5 de Fevereiro nesses termos - recorde aqui -, ao contrário de certos arautos da mão invisível ou, até, da atribuição à Renamo da responsabilidade dos actos de violência nesse dia.

Custo de vida e cartas de leitores

O jornal "Notícias" é uma excelente janela da vida do país. Regra geral, o seu corpo noticioso nacional é um hino à boa saúde do país, um montra oficial para os grandes e exaltados feitos da nossa economia. Mas, por outro lado, a sua secção de certas de leitores mostra uma face diferente. Creio que de forma crescente, leitores escrevem dando conta de quão difícil é viver em Moçambique. Hoje, por exemplo, há duas cartas a dar conta da carestia de vida. Assim, a Sra. Isabel Zimane fala dos preços do que chama produtos de primeira necessidade. E sentencia: "As estatísticas da economia nacional dão conta de que a economia do país está a crescer, porém, sempre defendo que o tal crescimento tem que se reflectir na barriga dos cidadãos nacionais. O fosso entre ricos e pobres acentua-se cada dia que passa." Por sua vez, o Sr. Salvador Agostinho escreve: "Grande parte da população moçambicana ressente-se do elevado custo de vida. Já ninguém mais consegue resistir à tentação de falar sobre o assunto. É quase que impossível entabular uma conversa sem que se faça menção a este aspecto; até os que por muito tempo se mantiveram indiferentes dado o salário que auferem ou outras fontes de rendimento, já quebraram o jejum e entram no debate."

Moçambique, custo de vida e crise na análise do economista Castel-Branco

Segundo o "Diário Independente" de hoje, tomando em conta uma palestra com o tema Determinantes do Desenvolvimento Económico nos Países designados por Tigres Asiáticos proferida há dias pelo economista Carlos Nuno Castel-Branco, este considerou que "Moçambique não tem alternativas, a médio prazo, para sair da crise em que está mergulhado, caracterizada pela subida galopante do custo da vida, sobretudo para a população pobre. Mesmo com os subsídios que o Governo concede, por exemplo, aos transportadores semicolectivos de passageiros, resultante das manifestações de 5 de Fevereiro, em que os insurgentes reclamavam a subida do preço de transporte, assim como a alocação de mais meios de transporte, a população vai continuar na pobreza, pois será esta mesma população pobre a custear tais subsídios. Portanto, não havendo nenhuma alternativa à vista, que a médio prazo possa reverter a situação, o País pode entrar numa convulsão social. No seu entender, Moçambique só pode sair desta crise em que se encontra, com base no aumento da produção e diversificação de produtos, emprego formal e de maior rendimento. “Se não apostarmos num investimento produtivo, com capacidade de produzir muito e rapidamente, mesmo daqui a 10 anos vamos continuar na mesma ou vamos até passar para o pior”, sublinhou o economista. Castel-Branco considera ser populista e sem base a ideia de que “com a produção de trigo podemos reduzir o preço de pão”, porque, para ele, “vamos continuar a importar outros factores de produção, porque para produzir trigo não precisamos, apenas, de plantar, há outros vários factores determinantes de que não dispomos”, realçou."

Craveirinha diz que marrabenta não nasceu em Gaza

É João Craveirinha quem afirma: "A Marrabenta não é nem nunca foi de Gaza"... É com muita tristeza que digo: Nunca vi tanta ignorância em Moçambique sobre a cultura moçambicana como agora. Nunca digam que não existem pessoas que sabem quando vocês desconhecem algo da cultura moçambicana. E isso nada tem a ver com especialistas de coisa alguma. Mas sim de conhecimento e de vivência. (...) Em relação à Marrabenta (nome de raiz de arrebenta do verbo em português), trata-se de um ritmo dentro do género da URBAN MUSIC nascido na Mafalala mestiça e ronga dos anos 1930 a 1940 e da fusão básica da Mâgika do Guijá e da rumba cubana (tocada no Comoreano e no Grupo Desportivo Zambeziano de tetenses, fundada por Baltazar Chagonga (por sinal fundador do único partido político moçambicano com sede no interior de Moçambique em 1960 a 1964). Voltando à marrabenta: outros sons intervenientes foram o Zore dos manhambanes também a viverem na Mafalala na década dos anos 1930/40. Foi no Comoreano dos maDjódjos onde tocava o grande guitarrista mestiço Daíco que a fusão teria se formado. Outro interveniente foi o Chico Albasine, filho de José Albasine do proto-nacionalismo do Grémio Africano, e o Mudapana que trabalhava no John’Orr’s onde hoje está o Banco - MBCM na baixa.
Já agora, oiça esta marrabenta do amor aqui, ex-Lourenço Marques, 1970. E recorde este meu texto de 2006 com o título Marrabentanizemo-nos. Imagem reproduzida daqui.

Linchado no Magoanine A (31 linchamentos este ano a nível nacional)

Citando uma fonte policial, o Diário do País noticiou hoje que um suposto ladrão foi linchado no Bairro Magoanine A, periferia da cidade de Maputo, dia 14, por "golpes desferidos por populares daquele aglomerado populacional depois de ter sido surpreendido a roubar numa residência local. Em consequência daquela acção da população duas pessoas foram detidas pela polícia acusando-as de fazerem justiça com as próprias mão."
Com esta nova vítima, eleva-se para 31 o número de linchados este ano no país em zona urbana e péri-urbana, nos casos publicamente reportados, a saber: onze em Chimoio, nove na Beira, dois no Dondo, oito em Maputo e um em Vandúzi.

Segundo "mediafax": barco com armas para Zimbábuè está em Moçambique

Segundo o mediafax de hoje, "O navio chinês “An Yue Jiang” que transporta cerca de 77 toneladas de material bélico entre morteiros, roquetes e três milhões de munições para “kalashnikov” encontrava-se na noite de segunda-feira em águas territoriais moçambicanas, onde aguarda por uma autorização do Governo, para atracar. Contudo, uma fonte qualificada do governo de Moçambique disse-nos categoricamente que as autoridades civis e portuárias que fazem a gestão dos portos de Maputo, Beira e Nacala não têm conhecimento de qualquer pedido de atracagem do “An Yue Jiang”. O navio foi impedido a semana finda de descarregar o armamento no porto de Durban, na República da África do Sul, RSA depois de uma acção concertada entre o sindicato dos estivadores filiado na central sindical COSATU e organizações da sociedade civil que conseguiram uma ordem judicial de proibição."
Comentário: o governo do Zimbábuè é livre de importar armas, tem esse direito como qualquer outro governo. Mas quando as armas surgem num contexto particularmente delicado como aquele que atravessa o país, quando as armas surgem em meio a uma repressão política crescente e evidente, qualquer país que permita o desembargue e o envio dessas armas para o Zimbábuè pode sujeitar-se a sérios riscos de credibilidade a nível internacional e pagar por isso uma grossa factura. O governo do país que permitir o desembarque e o encaminho das armas para o Zimbábuè será, no mínimo, agora, encarado como homologador da repressão e das irregularidades eleitorais.
Adenda às 18:26: um jornalista sénior disse-me há momentos que o governo do nosso país recusou diplomaticamente, com argumentos técnicos, a atracagem em porto moçambicano do barco chinês.