Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
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30 novembro 2006
Quinta-feirar as dificuldades
Costuma ser às sextas, mas hoje fiquei surpreendido ao ver as procissões de pedintes atravessarem a Mondlane a caminho da baixa, em passo acelerado, a preencherem mesmo a Nyerere. Quinta-feirar as dificuldades não me devia, afinal, surpreender.
29 novembro 2006
Sociologia da dominação (4)
"Quando falares fala falando sem falares para que te percebam. Quanto à consciência do teu falar, isso fica comigo" (salmo 11 do Livro da Maka Política, 3216 da nossa era)
Obedecer à ordem de uma autoridade, mesmo se perigosa e com efeitos potencialmente lesivos e, até, letais, é sempre um fenómeno fascinante. Fascinante e doloroso.
Entre 1950 e 1963 o psicosociólogo Stanley Milgram fez 18 experiências, laboratorialmente controladas, com o objectivo de estudar obediência e a desobediência à autoridade.
O cenário foi montado na Universidade de Yale, Estados Unidos, com um falso estimulador de choques eléctricos e um painel graduado para "choques" entre 15 e 450 volts.
Foram recrutados voluntários entre trabalhadores manuais, professores de liceu, vendedores, engenheiros, etc., a quem foi atribuído o papel de “professores” e a quem foi dito que se tratava de experiências puramente científicas com o objectivo de se estudar os efeitos da punição na memória e na aprendizagem.
Em que consistiu a experiência-tipo?
No seguinte (tendo em conta a experiência descrita na obra referenciada mais abaixo): os "professores" foram convidados por um cientista a aplicar "choques eléctricos" de intensidade crescente, de acordo com a escala acima referida, num outro indivíduo (amarrado a uma cadeira com eléctrodos, em sala adjacente), designado por "estudante"(um voluntário cujo papel de simulador os "professores" ignoravam), choques que deveriam ser administrados sempre que o "estudante" errava uma resposta a um questionário previamente determinado e aceite. O "estudante" exibia desconforto e dor a cada aumento da potência dos “choques eléctricos” infligidos.
O resultado da experiência foi surpreendente : sem hesitação, 65% dos "professores" chegaram a administrar ao "estudante", sob ordens do cientista (representando a “autoridade” na experiência), os "choques" mais potentes, dolorosos (de 450 volts), claramente perigosos e mesmo mortais.
E todos os "professores" administraram pelo menos 300 volts.
Em muitos casos, "professores" houve que se preocuparam com o bem-estar do "estudante" e chegaram a perguntar ao cientista quem se responsabilizaria pelos danos que pudessem ocorrer. Quando o cientista os tranquilizou, assegurando-lhes que assumiria a responsabilidade desses danos e encorajando-os a prosseguir, todos os "professores" persistiram na aplicação dos choques com as voltagens mais elevadas, mesmo se confrontados com os gritos de dor e as súplicas do “estudante” para que os suspendessem.
Esse tipo de experiência foi realizado em outros países, com o mesmo tipo de resultados.
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Milgram, Stanley, Soumission à l´autorité, un point de vue expérimental. Paris: Calmann-Lévy, 1974.
Obedecer à ordem de uma autoridade, mesmo se perigosa e com efeitos potencialmente lesivos e, até, letais, é sempre um fenómeno fascinante. Fascinante e doloroso.
Entre 1950 e 1963 o psicosociólogo Stanley Milgram fez 18 experiências, laboratorialmente controladas, com o objectivo de estudar obediência e a desobediência à autoridade.
O cenário foi montado na Universidade de Yale, Estados Unidos, com um falso estimulador de choques eléctricos e um painel graduado para "choques" entre 15 e 450 volts.
Foram recrutados voluntários entre trabalhadores manuais, professores de liceu, vendedores, engenheiros, etc., a quem foi atribuído o papel de “professores” e a quem foi dito que se tratava de experiências puramente científicas com o objectivo de se estudar os efeitos da punição na memória e na aprendizagem.
Em que consistiu a experiência-tipo?
No seguinte (tendo em conta a experiência descrita na obra referenciada mais abaixo): os "professores" foram convidados por um cientista a aplicar "choques eléctricos" de intensidade crescente, de acordo com a escala acima referida, num outro indivíduo (amarrado a uma cadeira com eléctrodos, em sala adjacente), designado por "estudante"(um voluntário cujo papel de simulador os "professores" ignoravam), choques que deveriam ser administrados sempre que o "estudante" errava uma resposta a um questionário previamente determinado e aceite. O "estudante" exibia desconforto e dor a cada aumento da potência dos “choques eléctricos” infligidos.
O resultado da experiência foi surpreendente : sem hesitação, 65% dos "professores" chegaram a administrar ao "estudante", sob ordens do cientista (representando a “autoridade” na experiência), os "choques" mais potentes, dolorosos (de 450 volts), claramente perigosos e mesmo mortais.
E todos os "professores" administraram pelo menos 300 volts.
Em muitos casos, "professores" houve que se preocuparam com o bem-estar do "estudante" e chegaram a perguntar ao cientista quem se responsabilizaria pelos danos que pudessem ocorrer. Quando o cientista os tranquilizou, assegurando-lhes que assumiria a responsabilidade desses danos e encorajando-os a prosseguir, todos os "professores" persistiram na aplicação dos choques com as voltagens mais elevadas, mesmo se confrontados com os gritos de dor e as súplicas do “estudante” para que os suspendessem.
Esse tipo de experiência foi realizado em outros países, com o mesmo tipo de resultados.
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Milgram, Stanley, Soumission à l´autorité, un point de vue expérimental. Paris: Calmann-Lévy, 1974.
Isenção/neutralidade
Existem palavras muito sérias, muito dignas, sem rugas, de um verniz de respeitabilidade impoluta. Essas palavras são isenção e neutralidade. O seu sumo é o mesmo.
Quando uma pessoa não toma posição perante um determinado fenómeno, dizemos que ela é neutra, que ela é isenta. Por outras palavras, que ela não se apaixona, não toma partido, não se inclina para um lado, que tem os nervos grilhetados pelo bom senso. Digamos que é uma espécie de ministro dos negócios estrangeiros da República do Equilíbrio Equilibrado.
Tudo é ainda mais fascinante quando estudamos a técnica de escrita dos cientistas sociais. A técnica mais corrente e institucionalmente apreciada é a aquela que consiste em descrever fenómenos e narradores de fenómenos como se descrevêssemos átomos ou máquinas. Eles dizem isto e aquilo, eu mostro-vos o que eles dizem, eu revelo-vos como as coisas não são o que parecem ser, a vida não é unívoca, confiem na minha neutralidade, etc. O mar pode existir amputado das convulsões.
Aliás, basta estudar os laboratórios dos directores de teses científicas e verificar o enorme esforço que muitos deles fazem para extrair o sexo aos fenómenos.
Resta acrescentar que o calmo Newton dos fenómenos sociais é especialmente apreciado quando conforta os príncipes pela sua neutralidade, pela sua alma de anjo. Perante duas soluções, ele dirá, com ar de calmo questionador socrateano ao volante de um 4/4, que pode haver uma terceira que retira das duas anteriores os frutos mais adequados, mais sensatos, obviamente neutros.
O que importa é navegar nas águas sem que os remoinhos nos incomodem. Nada de excessos, nada de úlceras desnecessárias. A este propósito, já propus, em entrada anterior, uma palavra impertinente para definir os Newtons sociais da terceira via: óciólogos.
Intelectuais da continuidade
Foi com as palavras em epígrafe que o jornalista José Belmiro, do "Canal de Moçambique", enquadrou o reitor e reverendo Jamisse Taimo, quando este pronunciou o discurso cerimonial por ocasião da recente graduação de estudantes ocorrida no Instituto Superior de Relações Internacionais. Segundo Belmiro, o reverendo pronunciou, entre outras, as seguintes palavras, com referência ao presidente da República, que reproduzo na íntegra tal como se encontram no Canal de Moçambique:
“Hoje de manhã quando ia ao meu escritório à pé, encontrei-me com uma vendedora de «badjias», e perguntou-me: O Sr. é o reverendo não é? E eu disse: sim. E ela disse: mas eu sei que o senhor fala com o presidente? E eu respondi: bem... falo de quando em vez. E ela disse: se o encontrar manda os meus cumprimentos”!... “Então acho que em nome da representação de todos esses anónimos que vendem «badjias», mas que reconhecem o trabalho que esta grande figura, este filho do povo moçambicano tem trabalhado para o desenvolvimento do país, vão os meus cumprimentos”.
“Hoje de manhã quando ia ao meu escritório à pé, encontrei-me com uma vendedora de «badjias», e perguntou-me: O Sr. é o reverendo não é? E eu disse: sim. E ela disse: mas eu sei que o senhor fala com o presidente? E eu respondi: bem... falo de quando em vez. E ela disse: se o encontrar manda os meus cumprimentos”!... “Então acho que em nome da representação de todos esses anónimos que vendem «badjias», mas que reconhecem o trabalho que esta grande figura, este filho do povo moçambicano tem trabalhado para o desenvolvimento do país, vão os meus cumprimentos”.
Coesão
Não há grupos sociais coesos em si. A coesão nasce e consolida-se em luta contra outros grupos. Também não há processos de classificação e de etiquetagem puros em si: eles nascem e desenvolvem-se quando confrontados com os processos sociais que geram classificações e etiquetagens rivais.
28 novembro 2006
Para Júlia
26 novembro 2006
O que significa compreender?
O que significa compreender? Compreender significa que sou capaz de procurar conhecer o sistema de referências de alguém, quer dizer, o quadro social que o informa, que o dirige.
Mas compreender outrem, não significa aceitar o seu sistema de referências.
Uma grande parte dos problemas de conflito social nasce quando em lugar de procurarmos conhecer o sistema de referências de outrem, simplesmente submetemos esse outrem ao nosso sistema de referências.
Chamo a isso fagocitose cognitiva.
Mas compreender outrem, não significa aceitar o seu sistema de referências.
Uma grande parte dos problemas de conflito social nasce quando em lugar de procurarmos conhecer o sistema de referências de outrem, simplesmente submetemos esse outrem ao nosso sistema de referências.
Chamo a isso fagocitose cognitiva.
Sociologia da dominação (3)
"Quando falares fala falando sem falares para que te percebam. Quanto à consciência do teu falar, isso fica comigo" (salmo 11 do Livro da Maka Política, 3216 da nossa era)
O que significa dominar? Significa basicamente que sou capaz de conseguir que uma pessoa consciente e em pleno uso das suas faculdades mentais faça o que eu quero que ela faça.
Muitas são as razões que podem levar essa pessoa a deixar-se dominar e muitas, também, as formas de dominação. Sobre isso não me vou debruçar.
A dominação consiste na substituição da vontade de outrem pela minha vontade. Outrem pode barafustar, como Calibão diante de Próspero na Tempestade de Shakespeare, mas obedece.
A mecânica da dominação tem duas componentes: o impulso e o aguilhão. O impulso é a ordem dada; o aguilhão é o efeito da ordem guardado no inconsciente do dominado.
O dominador nasce quando a sua ordem é obedecida (impulso); o dominado nasce quando a ordem já é dispensável e ele se limita a obedecer (aguilhão): bastam insígnias, uniformes, títulos, etc., para fazerem o aguilhão actuar. A dominação está interiorizada, a obediência ganhou vida própria, o quadro de referência do dominado passou a ser o do dominador.
Se os dominadores constroem os dominados, os dominados reproduzem os dominadores.
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Sempre espero os vossos comentários, caros leitores. E reitero: em qualquer altura posso alterar o que aqui vou escrevendo, especialmente tendo em conta esses vossos comentários. O que escrevo apenas tem uma virtude: a de ser um produto defeituoso e sempre inacabado. Por isso vários dos vossos comentários têm-me levado (e continuarão a levar) a mudar o que escrevo.
25 novembro 2006
Publicado há 23 anos
Sob coordenação do hoje cineasta Sol de Carvalho, este livro foi publicado em Novembro de 1983, pelos então "Cadernos Tempo", com uma tiragem de 5.000 exemplares, pouco tempo depois esgotados.
Passaram, assim, 23 anos.
O motivo de capa, pintado por Miguel César, arquitecto, procura ilustrar os três tipos de modelos de luta-padrão que tiveram curso no país no período histórico coberto pelo livro: combate a peito descoberto (Sul do país, com azagaia e escudo), combate em fortificações ou aringas (Centro) e guerrilha (Norte).
Século XVI: os presentes para a rainha
Data de 1506 o que parece ter sido, na história colonial de Moçambique, a primeira notícia sistemática de presentes ou saguates dados a "uma rainha cafre mulher de um rei cafre que confina com a terra dos cafres (provavelmente Muenemutapua, C.S.), consistindo no seguinte: uma camisa branca de algodão, um ramal de corais, um de alamares, três ramais de estanho, uma "bacia de barbeiro" e uma "bacia de mijar" (sic).
Recorde-se que os Portugueses se fixaram no nosso País em 1505, construindo uma feitoria-fortaleza no litoral de Sofala.
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Anhaia, Pero de, Mandato de Pero de Anhaia, capitão-mor de Sofala aos contadores de El-Rei (1506), in Documentos sobre os Portugueses em Moçambique e na África Central, vol. I, 31 de Janeiro, p.384.
Recorde-se que os Portugueses se fixaram no nosso País em 1505, construindo uma feitoria-fortaleza no litoral de Sofala.
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Anhaia, Pero de, Mandato de Pero de Anhaia, capitão-mor de Sofala aos contadores de El-Rei (1506), in Documentos sobre os Portugueses em Moçambique e na África Central, vol. I, 31 de Janeiro, p.384.
24 novembro 2006
Sociologia da dominação (2)
"Quando falares fala falando sem falares para que te percebam. Quanto à consciência do teu falar, isso fica comigo" (salmo 11 do Livro da Maka Política, 3216 da nossa era)
Quando me dizem pára, eu páro. Quando me dizem senta-te, eu sento-me. Quando me dizem cala-te, eu calo-me. Quando me dizem escreve o que eu te digo, eu escrevo. Quando me dizem que eles são exteriores à nossa etnia, eu aceito. Quando me dizem que as crianças morreram devido a um acto de feitiçaria, eu sei que isso é verdade. Quando me dizem que os albinos são filhos dos feiticeiros, eu estou de acordo. Quando me dizem que o nosso partido é o melhor, eu sei. Quando me dizem que a nossa religião interdita a carne de coelho, eu não a como. Quando me dizem que as mulheres devem restringir-se ao mundo fechado da cozinha, eu nem discuto. Quando me dizem mata, eu mato.
E por aí fora, nesse conjunto de exemplos prepositadamente extremos.
Cada acto de genuflexão do nosso eu, da nossa vontade, cada peça da nossa crença, tem uma palavra como êmbolo. E isso é tão intenso, tão absoluto, que as palavras parecem ganhar uma autonomia indiscutível, como se elas fossem dominação e servidão em estado bruto.
O percurso da nossa vida é feito de duas coisas simples: normalização e anormalização.
Primeiro ensinam-nos a obedecer, depois nós reproduzimos, ampliamos, obedecemos e dominamos. Recebemos e interiorizamos a obediência. Mas a obediência pode um dia transformar-se em dominação e vice-versa. As palavras reflectem plasticamente esse polimorfismo, essa curiosa ubiquidade.
O processo de normalização consiste em definir o que é normal e o que é anormal, o que é aceitável e o que é inaceitável, o que devemos tolerar e o que não devemos tolerar.
Tudo se resume a um exercício de vida absolutamente primário: incluimos e excluimos. Incluimos para excluirmos e excluimos para incluirmos. Uma mesma coisa nas duas coisas de um pêndulo.
Cada palavra é, frequentemente, uma ordem de comando. Mesmo a mais gentil, mesmo a mais neutra.
Estamos, vários de nós, conscientes disso, desse aguilhão. Mas provavelmente não estamos, regra geral, conscientes disso.
O mais doce eufemismo pode ser uma AK-47 simbólica.
Todo o exercício de dominação é feito de um conjunto de palavras que definem no outro o perímetro das possibilidades a um tempo autorizadas e vedadas.
Nem todos têm acesso ao uso da palavra oficial, da palavra autorizada. Este tipo de palavra apenas pode ser enunciada por quem domina.
Mas o que é dominação?
Operários e camponeses desfrelimozados
No IXº Congresso da Frelimo, recentemente realizado em Quelimane, estiveram presentes 1326 delegados, dos 1.345 previstos. Faltaram 19 delegados por motivos considerados justificados.
Num efectivo com 470 delegados pertencentes aos aparelhos do Estado e 276 ao aparelho partidário, apenas estiveram representados 9 operários e 9o camponeses. Mas os empresários eram 29 e os "proprietários" (assim se auto-descreveram) 19. Leia aqui.
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Daria uma bela investigação saber se as quotas correspondem ou não ao grau de adesão partidária de operários e camponeses.
23 novembro 2006
22 novembro 2006
22 de Novembro de 2000: Carlos Cardoso é assassinado
A 22 de Novembro de 2000, o jornalista Carlos Cardoso foi assassinado com cinco balas de AK-47 quando saía, tarde terminada, do seu jornal, o metical.
Assim morreu, com 49 anos, o mais corajoso dos nossos jornalistas em luta contra a corrupção.
Ontem como hoje, a sigla mantém-se: é proibido pôr algemas nas palavras.
UDS reforça-se
A equipa de investigadores-mobilizadores da Unidade de Diagnóstico Social reforça-se: hoje entrou nela a jovem socióloga Natacha Moraes. Veja a equipa aqui.
Entretanto, aceitamos com prazer a adesão de quem queira connosco trabalhar. Reunimo-nos todas as quartas-feiras no Centro de Estudos Africanos, 1.º andar, campus universitário, das 12 às 14 horas.
Entretanto, aceitamos com prazer a adesão de quem queira connosco trabalhar. Reunimo-nos todas as quartas-feiras no Centro de Estudos Africanos, 1.º andar, campus universitário, das 12 às 14 horas.
Linchamentos: apelo e catarse (um texto de Honório Masfuanganhe)
O texto do sociólogo Honório Masfuanganhe, com o título em epígrafe, pode ser importado aqui.
O autor é membro da Unidade de Diagnóstico Social (UDS) do Centro de Estudos Africanos.
Aguardamos os vossos comentários, as vossas críticas, as vossas sugestões. Com a vossa contribuição e com os comentários dos colegas da UDS, uma versão melhorada do trabalho será posteriormente colocada no site indicado.
Kanimambo!
Linchamentos: apelo e catarse (um texto de Honório Masfuanganhe a postar ainda hoje aqui)
Após o texto do historiador Teles Huo sobre o bloguismo em Moçambique, será a vez hoje ainda de aqui postar um texto do sociólogo Honório Masfuanganhe, com o título em epígrafe.
Ambos são membros da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos
Sociologia da dominação (1)
"Quando falares fala falando sem falares para que te percebam. Quanto à consciência do teu falar, isso fica comigo"
(salmo 11 do Livro da Maka Política, 3216 da nossa era)
Existe um problema com as palavras que não é regra geral problema.
O problema é que as tomamos apenas por palavras, utensílios práticos e neutros com os quais nos comunicamos, uma espécie de barcos sem mistério nos quais viajamos pelos continentes dos outros, trocando as nossas coisas e as nossas ideias.
Mas por que as palavras não são, então, problema? Porque as palavras são sapatos que calçamos sem problemas de consciência nas ruas da vida. E alguém questiona os sapatos? Não foram eles inventados para serem justamente calçados?
Todavia, na alma de cada palavra-sapato habita uma inquilina da qual regra geral não temos consciência. Que vemos sem ver ou que, vista, tomamos pela coisa mais natural da vida.
Assim, o problema não é problema para quase todos nós.
Mas esse é o real problema. O problema de não ser problema sendo-o sem problemas.
Mas como se chama, afinal, essa inquilina?
Chama-se dominação.
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Como me é habitual, posso em qualquer altura rever e mudar o que aqui escrevi e irei escrever.
Leiam Luís Nhachote
Sou dos que adoram ler Luís Nhachote. Eis um curto extracto : "E, os corredores do «BUS», onde era suposto os passageiros andarem para se descontraírem, os cobradores e ajudantes iam amealhando mais cabeças e a arrumarem-nas quase quimicamente com o processo de armazenamento de carvão e cimento. Gente tratada como sacos."
Experimentem aqui.
Experimentem aqui.
21 novembro 2006
Tudo numa boa!
Apesar do debate no "Savana" e aqui em torno da famosa maboazudas de Zico, não dei que alguma mulher tivesse vindo a terreiro na nossa imprensa escrita e audio-visual para estar a favor ou contra. Tudo numa boa!
Na construção social das nossas mentes e dos nossos corpos, na incorporação doce da dominação, tudo parece ser, afinal, uma questão de hábitos, de hexis como diria o falecido Pierre Bourdieu.
Na construção social das nossas mentes e dos nossos corpos, na incorporação doce da dominação, tudo parece ser, afinal, uma questão de hábitos, de hexis como diria o falecido Pierre Bourdieu.
Virtualização do quotidiano: bloguismo em Moçambique (um texto de Teles Huo)
Esse o título da primeira versão de um trabalho escrito por Teles Huo, após uma pesquisa de cerca de dois meses realizada com nove estudantes de História da Universidade Eduardo Mondlane. Clique aqui para o importar.
Aguardamos os vossos comentários, as vossas sugestões, as vossas críticas, as vossas achegas. Kanimambo!
Manica: empório da soruma
A província de Manica é um empório da produção e comercialização de soruma (cannabis sativa), especialmente nos distritos de Sussundenga, Mossurize e Báruè, envolvendo redes de agricultores e de passadores. Na cidade, as principais colômbias estão localizadas em locais identificados, um dos quais próximo da sede da Frelimo, partido no poder.
Uma bolinha processada via excremento de cabrito e/ou picada e triturada custa 2o meticais.
O negócio parece ser especialmente lucrativo quando direccionado para países como Zimbabué e Malawi ("Diário de Moçambique", 18/11/06, p. 3).
Uma bolinha processada via excremento de cabrito e/ou picada e triturada custa 2o meticais.
O negócio parece ser especialmente lucrativo quando direccionado para países como Zimbabué e Malawi ("Diário de Moçambique", 18/11/06, p. 3).
Nado-mortos e crença
Munícipes de Manica estiveram agitados por se terem convencido de que alguém andava a violar túmulos onde estavam enterradas crianças recém-nascidas. Acontece que uma investigação permitiu mostrar que o desenterros eram provocados por cães, dado os corpos estarem enterrados a pequena profundidade.
Por quê a pequena profundidade? Porque existe localmente a crença de que os nado-mortos devem ser enterrados a uma profundidade máxima de 20 centímetros, pois se a profundidade for maior as mães que abortaram ou que perderam os filhos recém-nascidos poderão levar muito tempo a conceber de novo ("Diário de Moçambique", edição de 18/11/06, p. 3).
Por quê a pequena profundidade? Porque existe localmente a crença de que os nado-mortos devem ser enterrados a uma profundidade máxima de 20 centímetros, pois se a profundidade for maior as mães que abortaram ou que perderam os filhos recém-nascidos poderão levar muito tempo a conceber de novo ("Diário de Moçambique", edição de 18/11/06, p. 3).
Politização do Zambeze
As travessias no Zambeze também podem ser politizadas, a fazer fé no "Canal de Moçambique". Leia aqui.
20 novembro 2006
A virtualização do quotidiano: características do bloguismo em Moçambique (leiam amanhã aqui)
Processo político em Moçambique
19 novembro 2006
Assassinados mais dois "mambas"
Mais dois agentes da famosa brigada operativa "mambas", da Polícia de Investigação Criminal, foram assassinados terça-feira, na Machava, em pleno dia, cerca das 15 horas, por 15 balas de metralhadora ("Notícias" de 15/11/06, primeira página).
A polícia continua a não emitir nenhum comunicado oficial esclarecendo as causas de semelhante fenómeno.
Todavia, a invisibilidade causal desse fenómeno (cujo desfecho é, porém, bem visível numa real luta entre polícias e gangsters à moda de Chicago) mostra, por um lado, o peso da grande criminalidade em Maputo e deixa antever, por outro, a existência de uma poderosa rede de acumulação primitiva de capital com ramificações no Estado e com possíveis ligações com o tráfico de armas, de automóveis, de droga e seres humanos.
A polícia continua a não emitir nenhum comunicado oficial esclarecendo as causas de semelhante fenómeno.
Todavia, a invisibilidade causal desse fenómeno (cujo desfecho é, porém, bem visível numa real luta entre polícias e gangsters à moda de Chicago) mostra, por um lado, o peso da grande criminalidade em Maputo e deixa antever, por outro, a existência de uma poderosa rede de acumulação primitiva de capital com ramificações no Estado e com possíveis ligações com o tráfico de armas, de automóveis, de droga e seres humanos.
IXº Congresso da Frelimo: dos preservativos aos patrimonialistas
O IX.º Congresso da Frelimo, partido no poder, teve momentos curiosos.
No que me concerne, saliento apenas dois, de natureza completamente oposta.
Segundo o semanário "Savana" na sua edição de sexta-feira (17/11/06, última página), a comunidade indiana de Nampula ofereceu 60.000 preservativos aos congressistas.
Por sua vez, no semanário "Domingo", um editorial chama hoje, de forma corajosa, a atenção para a formação de uma associação de filhos de antigos combatentes que deseja que os pais lhes transfiram, de forma institucionalizada, o seu espólio político. O editorial afirma tratar-se de um discurso "perigoso, eivado de mentalidade nepotista, anticonstitucional, orgulhoso, elitista, subjacente ao qual existe um conceito patrimonialista do poder", discurso que teve apoio no congresso "em voz de figura altamente relevante". O editorial refere ainda "o exibicionismo e a ostentação de alguns dirigentes e seus familiares" no congresso e alerta para o risco de as críticas serem abafadas no país, porque confundidas com "uma tentativa de luta contra os interesses do Estado, confundindo-se interesses do Estado com os interesses privados de quem o dirige" (edição de 19/11/06, última página).
A minha pobre mentalidade proto-sociológica dispensa qualquer tipo de comentário.
Todavia, gostaria aqui de dizer que no nosso jornalismo escrito, crescentemente fast foodado e think tanks, apenas quatro jornalistas séniores e um comentarista conseguem manter a coluna vertical erguida em permanência: Salomão Moyana ("Zambeze"), Fernando Gonçalves, Fernando Lima (ambos do "Savana"), Augusto de Carvalho ("Domingo") e Machado da Graça(comentarista no "Savana").
Poeta expulsa sociólogo
A gaiola
Naquele dia rigorosamente simples
com a mente lavada dos maus sentimentos
na pureza da manhã apenas acordada
segura do seu acto
firme no seu voo
a gaiola saiu à procura do seu pássaro
Sabes meu amor
da solidão das gaiolas?
____________
Veja aqui.
18 novembro 2006
O passado não regressa
A Fátima Ribeiro mandou-me esta foto, que tirou o ano passado em Inharuca, província de Sofala. O que teria levado o proprietário da casa a sentir necessidade de assinalar de forma tão vincada o não-regresso ao passado? A frase é de tristeza? De alegria? Perguntas tão complicadas para coisas tão espantosamente simples na aparência. Cito de memória Franz Kafka: "No passado eu não compreendia por que não encontrava respostas às minhas perguntas; hoje não compreendo como podia acreditar que pudesse perguntar. Entretanto, eu não acreditava, somente perguntava".
Inatismo
Violência doméstica, era o tema esta manhã na Rádio Moçambique. Teses simples: urge punir a violência doméstica, violência que atinge especialmente as mulheres. Claro que também há violência feminina, mas a masculina é bem mais clara, severa e maioritária. Temos de fazer muito esforço para ensinar as pessoas a não serem violentas. Se o forem, temos de as punir. Etc.
Assim somos. Atribuímos aos seres humanos um fundo inato de violência, de religiosidade, de amor filial, de respeito, etc. Depois, por simples processo dedutivo, limitamo-mos a enumerar a sua morfologia, as suas características. Se atacarmos estas características, podemos atenuar os males, podemos mesmo sonhar que um dia viveremos num mundo impoluto, estrangeiro à maldade.
Por outras palavras, fazemos das consequências das relações sociais as suas causas.
Bem mais complicado é estudar (e aceitar como dado de partida) as condições sociais que geram os comportamentos que transformamos em consequências, bem mais difícil é transformar a violência não num fundo inerente aos seres humanos, mas numa consequência das relações nas quais estamos inseridos, relações que simultaneamente construímos e nos constroem.
Assim somos. Atribuímos aos seres humanos um fundo inato de violência, de religiosidade, de amor filial, de respeito, etc. Depois, por simples processo dedutivo, limitamo-mos a enumerar a sua morfologia, as suas características. Se atacarmos estas características, podemos atenuar os males, podemos mesmo sonhar que um dia viveremos num mundo impoluto, estrangeiro à maldade.
Por outras palavras, fazemos das consequências das relações sociais as suas causas.
Bem mais complicado é estudar (e aceitar como dado de partida) as condições sociais que geram os comportamentos que transformamos em consequências, bem mais difícil é transformar a violência não num fundo inerente aos seres humanos, mas numa consequência das relações nas quais estamos inseridos, relações que simultaneamente construímos e nos constroem.
17 novembro 2006
Saiba sobre Moçambique
Com Joseph Hanlon, jornalista e professor universitário britânico, escrevendo baseado na nossa imprensa, saiba sobre Moçambique, lendo dois textos em língua inglesa, desde o IX.º Congresso do partido Frelimo ao dossier Cabora-Bassa.
Bom preço patrão!
-Pára-brisa patrão, bom preço!
-Obrigado, já tenho.
-Coisa de limpar vidro, patrão!
-Obrigado, não preciso.
-Patrão bom pineu não furar!
-Onde está o pneu?
-Com meu primo lá lá [gesto largo, sorridente, apontando vagamente para a retaguarda] no Xiquelene.
-Obrigado, já tenho pneu.
-Vidro para pôr ali no frente, faz bom preço!
-Obrigado, já tenho vidro.
-Relógio mesmo coisa rolexi patrão, bom preço!
-Tenho relógio.
-Pedra-pome patrão dez faz preço um!
-Obrigado, não uso.
-Patrão capulana bom preço!
-Não quero.
-Bom batique dois faz preço um!
-Já tenho.
-Patrão caneta parquere bom preço compra dois preço um!
-Já tenho, obrigado.
-Patrão, guardar carro.
-Você quer guardar carro quando eu estou a sair?
-Patrão dá cinco mil!
-Hé wena famba teca timbuti, unga ni quatisse!!!!!!! (é homem vai buscar cabrito não me aborreça)
Há dias, devo confessar, em que não tenho paciência para ser sociólogo. O cidadão com úlceras gástricas proteínadas, ganhas nas ruas do bom-preço-patrão, eclipsa-o por completo.
-Obrigado, já tenho.
-Coisa de limpar vidro, patrão!
-Obrigado, não preciso.
-Patrão bom pineu não furar!
-Onde está o pneu?
-Com meu primo lá lá [gesto largo, sorridente, apontando vagamente para a retaguarda] no Xiquelene.
-Obrigado, já tenho pneu.
-Vidro para pôr ali no frente, faz bom preço!
-Obrigado, já tenho vidro.
-Relógio mesmo coisa rolexi patrão, bom preço!
-Tenho relógio.
-Pedra-pome patrão dez faz preço um!
-Obrigado, não uso.
-Patrão capulana bom preço!
-Não quero.
-Bom batique dois faz preço um!
-Já tenho.
-Patrão caneta parquere bom preço compra dois preço um!
-Já tenho, obrigado.
-Patrão, guardar carro.
-Você quer guardar carro quando eu estou a sair?
-Patrão dá cinco mil!
-Hé wena famba teca timbuti, unga ni quatisse!!!!!!! (é homem vai buscar cabrito não me aborreça)
Há dias, devo confessar, em que não tenho paciência para ser sociólogo. O cidadão com úlceras gástricas proteínadas, ganhas nas ruas do bom-preço-patrão, eclipsa-o por completo.
Preservativo tem SIDA
Grande parte das trabalhadoras do sexo no distrito fronteiriço de Madimba, província do Niassa, uma parte das quais oriunda do Malawi, não aceita o preservativo alegando que contém SIDA.
Em Chemba, província de Sofala: guerra à oposição
"Aqui em Chemba há ordens superiores. A Renamo não deve ter espaço de manobras (...) Não queremos ver bandeiras da Renamo e fotografias de Dhlakama. A questão que se coloca agora é de soberania, não é de legalidade" - afirmou o chefe das operações da polícia local ao jornalista Isaías Natal do semanário "Zambeze" (edição de 16/11/06, p. 17).
Membros da Renamo são presos, punidos, emigram para o Malawi.
A Frelimo parece, a nível local, esquecer uma fórmula política simples: quanto mais perseguir os seus opositores, mais estes crescerão em crença e quantidade.
E as perseguições, comandadas pelo administrador Jorge Daúl, ocorrem justamente num território sob hegemonia da Renamo, onde 80% da população é camponesa e quase analfabeta, segundo o jornalista Natal.
16 novembro 2006
"Médico tradicional" que cura tudo incluindo o bicho
A cidade povoa-se cada vez mais de "médicos tradicionais" que tudo curam. De médicos e de tabuletas. O mercado da credulidade é imenso. Consultem aqui este senhor, dito da Tanzânia: Avenida de Angola, junto ao n.º 385.
___________________________
À Fátima um forte abraço por me ter enviado a foto e um texto maravilhoso.
Seminários
Quantos mais seminários fazemos, menos nós actuamos.
O workshop (glorioso estilo linguístico e accional instalado na nossa vida) tornou-se o substituto da acção.
Essa hipótese parece-me bem mais elegante do que aquela, à La Palice, que consiste em dizer que quanto mais pobres somos mais possibilidade temos de contrair a Sida.
O workshop (glorioso estilo linguístico e accional instalado na nossa vida) tornou-se o substituto da acção.
Essa hipótese parece-me bem mais elegante do que aquela, à La Palice, que consiste em dizer que quanto mais pobres somos mais possibilidade temos de contrair a Sida.
Crime
I
Quanto maior for a desigualdade social maior será o coeficiente de crime existente.
As sociedades que puderam distribuir melhor a riqueza social são aquelas com um menor coeficiente criminal.
O criminoso não é um fenómeno natural, mas social.
Se no contexto do ponto vista moral genérico o crime é uma coisa anormal, no contexto de uma sociedade profundamente desigual o crime é uma coisa normal.
II
Mas mais: Sócrates era um criminoso à sombra do direito ateniense, mas nós ou muitos de nós achamos que o direito à independência de pensamento era e é um acto digno.
Contudo, para chegarmos a essa liberdade de pensamento, enchemos a história de violações, de coisas anormais que permitiram que hoje achemos normal pensar de forma independente.
Muitas vezes no âmago de um crime está o rosto de uma sociedade diferente (Simmel e Durkheim têm muitas páginas belas sobre a função socializadora do crime).
Quanto maior for a desigualdade social maior será o coeficiente de crime existente.
As sociedades que puderam distribuir melhor a riqueza social são aquelas com um menor coeficiente criminal.
O criminoso não é um fenómeno natural, mas social.
Se no contexto do ponto vista moral genérico o crime é uma coisa anormal, no contexto de uma sociedade profundamente desigual o crime é uma coisa normal.
II
Mas mais: Sócrates era um criminoso à sombra do direito ateniense, mas nós ou muitos de nós achamos que o direito à independência de pensamento era e é um acto digno.
Contudo, para chegarmos a essa liberdade de pensamento, enchemos a história de violações, de coisas anormais que permitiram que hoje achemos normal pensar de forma independente.
Muitas vezes no âmago de um crime está o rosto de uma sociedade diferente (Simmel e Durkheim têm muitas páginas belas sobre a função socializadora do crime).
Coisa má e coisa boa
Todos nós ou quase todos nós temos sempre à mão um termómetro normativo com o qual instintivamente avaliamos a temperatura moral dos fenómenos. À partida as coisas são invariavelmente boas ou más. À partida e à chegada.
O crime, por exemplo, é uma coisa má para nós, os que não somos criminosos. Mas se formos criminosos o crime é uma coisa boa.
Consoante o nosso grupo, a nossa prática social, o nosso ângulo de visão, assim rotulamos normativamente os fenómenos.
O crime, por exemplo, é uma coisa má para nós, os que não somos criminosos. Mas se formos criminosos o crime é uma coisa boa.
Consoante o nosso grupo, a nossa prática social, o nosso ângulo de visão, assim rotulamos normativamente os fenómenos.
Sociólogos e óciólogos
Os sociólogos (os artífices da ciência do social) são pessoas que procuram estudar a regularidade do comportamento de outras pessoas tentando furtar-se à filosofia ("os homens não preexistem ao estudo das relações sociais") e ao nominalismo ("os homens não são um conceito apenas", um flatus voici, pura essência fonética).
Os óciólogos (os artífices da ciência do ócio) são pessoas mais sofisticadas que procuram estudar a forma como os sociólogos e todos os comuns mortais estudam outras pessoas, recuperando a filosofia ("os homens podem não existir") e recasando-se decididamente com o nominalismo ("as rosas são o que nós queremos que elas sejam e eu sei ver isso").
Um óciólogo inteligente, bem mais inteligente do que os comuns óciólogos, fino futurólogo, criador da teoria da "estruturação", conselheiro de Tony Blair, falo de Anthony Giddens, fechou o seu edifício óciológico com a perspectiva de uma sociedade sem esquerda nem direita, sem alternativa para o capitalismo e com as classes sociais mortas e trocadas pelas oportunidades de vida.
Os óciólogos (os artífices da ciência do ócio) são pessoas mais sofisticadas que procuram estudar a forma como os sociólogos e todos os comuns mortais estudam outras pessoas, recuperando a filosofia ("os homens podem não existir") e recasando-se decididamente com o nominalismo ("as rosas são o que nós queremos que elas sejam e eu sei ver isso").
Um óciólogo inteligente, bem mais inteligente do que os comuns óciólogos, fino futurólogo, criador da teoria da "estruturação", conselheiro de Tony Blair, falo de Anthony Giddens, fechou o seu edifício óciológico com a perspectiva de uma sociedade sem esquerda nem direita, sem alternativa para o capitalismo e com as classes sociais mortas e trocadas pelas oportunidades de vida.
Bigode é sua coisa, não rir é minha coisa!
Fui a um fotógrafo tirar fotografias para renovar o meu bilhete de identidade. Uma fila de pessoas. Serviço rápido. Cada pessoa, cada rosto sério, a foto pronta. Foi a minha vez de me sentar no banquinho. O jovem fotógrafo ajeitou o meu rosto e foi para o tripé. Eu sorri.
-Senhor favor não rir.
-Não posso rir?
-Não, a fotografia tem de sair com a cara sem rir.
-Mas há alguma lei que proíba o riso nas fotografias para bilhete de identidade?
-Isso não sei, o que sei é que não deve rir, ninguém ri, só o senhor quer rir, mais ninguém ri.
-Senhor fotógrafo, deixe lá eu rir-me. Também ninguém tem um bigode como o meu...
-Senhor, não vale a pena confusionar, não pode rir! Bigode é sua coisa, não rir é minha coisa.
_______________________
Sabeis, eu adoro a vida, eu adoro as pequenas coisas, as pequenas comoções. Tudo o que é modestamente pequeno, é espantosamente grande.
-Senhor favor não rir.
-Não posso rir?
-Não, a fotografia tem de sair com a cara sem rir.
-Mas há alguma lei que proíba o riso nas fotografias para bilhete de identidade?
-Isso não sei, o que sei é que não deve rir, ninguém ri, só o senhor quer rir, mais ninguém ri.
-Senhor fotógrafo, deixe lá eu rir-me. Também ninguém tem um bigode como o meu...
-Senhor, não vale a pena confusionar, não pode rir! Bigode é sua coisa, não rir é minha coisa.
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Sabeis, eu adoro a vida, eu adoro as pequenas coisas, as pequenas comoções. Tudo o que é modestamente pequeno, é espantosamente grande.
Obesos ultrapassam subnutridos
Um cientista americano, Barry Popkin da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, afirmou que há no mundo mais obesos do que subnutridos. Pessoas com peso a mais já ultrapassam o bilhão e os subnutridos são cerca de 800 milhões. O cientista propôs um imposto sobre calorias.
Entretanto, estima-se que nos próximos cinco anos duplicará o número de pessoas obesas em África.
___________________
Será para mim sempre fascinante conhecer o ângulo a partir do qual nós estabelecemos as prioridades cognitivas. Por outro lado, seria fascinante saber (o que parece não ser possível) como foi possível a Barry Popkin estimar o número de obesos e de subnutridos.
Entretanto, estima-se que nos próximos cinco anos duplicará o número de pessoas obesas em África.
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Será para mim sempre fascinante conhecer o ângulo a partir do qual nós estabelecemos as prioridades cognitivas. Por outro lado, seria fascinante saber (o que parece não ser possível) como foi possível a Barry Popkin estimar o número de obesos e de subnutridos.
Descrever os Outros
Quando estudamos os Outros, estamos regra geral convencidos de que apenas temos de estudar esses Outros.
O problema é, porém, bem mais complicado. Na verdade, a operação é dupla: temos começar por nos estudar a nós-próprios (o que os cientistas sociais nem sempre aceitam) e só depois podemos tentar estudar os Outros.
Mas as coisas são ainda bem mais complicadas do que essa dupla operação deixa antever.
Ao estudarmos os Outros, corremos invarivelmente o risco de os dissolvermos no que somos, de os canibalizarmos por inteiro. Aqui reside o eterno problema de como compreender os Outros não sendo nós esses Outros.
Julgo que quando descrevemos os Outros somos atirados para o vórtice de os moldamos num conjunto comportamental e reactivo que é, afinal, o nosso, o dos investigadores.
Mas não só: se descrever o Outro já é um problema, problema maior é e será sempre descrever os Outros.
Resta a pergunta fatal: então não é possível descrever os Outros?
A resposta é, para mim, a seguinte: é, desde que tenhamos consciência do que acima fica escrito e desde que assumamos que (1) a descrição é sempre processual e interminável e (2) que dependemos completamente da avaliação de nós feita pelos Outros, avaliação que, ela também, é afectada pelos mesmos problemas acima propostos.
_____________________
Eu teria muito prazer em conhecer a vossa opinião, opinião de eventuais leitores.
O problema é, porém, bem mais complicado. Na verdade, a operação é dupla: temos começar por nos estudar a nós-próprios (o que os cientistas sociais nem sempre aceitam) e só depois podemos tentar estudar os Outros.
Mas as coisas são ainda bem mais complicadas do que essa dupla operação deixa antever.
Ao estudarmos os Outros, corremos invarivelmente o risco de os dissolvermos no que somos, de os canibalizarmos por inteiro. Aqui reside o eterno problema de como compreender os Outros não sendo nós esses Outros.
Julgo que quando descrevemos os Outros somos atirados para o vórtice de os moldamos num conjunto comportamental e reactivo que é, afinal, o nosso, o dos investigadores.
Mas não só: se descrever o Outro já é um problema, problema maior é e será sempre descrever os Outros.
Resta a pergunta fatal: então não é possível descrever os Outros?
A resposta é, para mim, a seguinte: é, desde que tenhamos consciência do que acima fica escrito e desde que assumamos que (1) a descrição é sempre processual e interminável e (2) que dependemos completamente da avaliação de nós feita pelos Outros, avaliação que, ela também, é afectada pelos mesmos problemas acima propostos.
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Eu teria muito prazer em conhecer a vossa opinião, opinião de eventuais leitores.
15 novembro 2006
Missionários abandonam Tete temendo pela sua segurança
Cinco missionários abandonaram Tete temendo pela sua segurança, após o assassinato há dias de um missionário brasileiro e de uma leiga portuguesa.
14 novembro 2006
Violada
Uma jovem de 21 anos foi violada por quatro indivíduos na cratera do bairro Polana Caniço A, periferia da grande Maputo, domingo, 21 horas, quando regressava do trabalho. Após o acto, os criminosos levaram o que a jovem trazia: celular, brincos e alguns artigos de beleza. Segundo a polícia, o caso não foi comunicado ao posto policial do bairro ou a qualquer outra unidade da PRM. Segundo os moradores, este é um crime frequente no bairro, acontecendo que muitas vezes não é comunicado por receio das consequências.
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Parece uma notícia banal, rotinizada. Mas é justamente com notícias dramáticas deste tipo que melhor podemos compreender a pequena vida de todos os dias, vida que a muitos custa bem mais do que a poucos.
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Parece uma notícia banal, rotinizada. Mas é justamente com notícias dramáticas deste tipo que melhor podemos compreender a pequena vida de todos os dias, vida que a muitos custa bem mais do que a poucos.
1976: fuzileiros soviéticos para convencer Samora Machel?
A notícia saiu hoje no "Diário de Notícias", em Portugal. Em 1976, várias dezenas de fuzileiros da então U.R.S.S. teriam ocupado o porto de Maputo por algumas horas para forçarem Samora Machel a entregar cinco conselheiros militares soviéticos raptados dias antes. Veja aqui.
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Obrigado a Mithá Ribeiro por me ter chamado a atenção para a notícia.
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Obrigado a Mithá Ribeiro por me ter chamado a atenção para a notícia.
Quatro aforismos
1. Não há países naturalmente pobres. Há países socialmente empobrecidos.
2. Não há países socialmente empobrecidos em si. Há países empobrecidos pelos interesses de determinados grupos sociais.
3. Discursos políticos apelando a interesses gerais gerais podem servir para disfarçar práticas sociais particulares.
4. Quanto mais aguda for a desigualdade social maior será o recurso de muitos intelectuais e políticos aos conceitos nefelibatas.
2. Não há países socialmente empobrecidos em si. Há países empobrecidos pelos interesses de determinados grupos sociais.
3. Discursos políticos apelando a interesses gerais gerais podem servir para disfarçar práticas sociais particulares.
4. Quanto mais aguda for a desigualdade social maior será o recurso de muitos intelectuais e políticos aos conceitos nefelibatas.
Professor Staffan Bergstrom e a mortalidade materna nos países pobres
Os países pobres são duramente afectados pela mortalidade materna. Muitos desses países são africanos. O Professor Staffan Bergstrom (Chair, International Health, Division of International Health, Karolinska Institutet, Nobels väg 9, SE-171 77 Stockholm, Sweden), que durante anos trabalhou em Moçambique como ginecologista e que trabalha em vários países aficanos todos os anos, tem um excelente trabalho em língua inglesa sobre o tema. Leia-o aqui. E se quiser aprofundar o seu conhecimento sobre os cuidados obstétricos de emergência em Moçambique, Tanzânia, Malawi, Burkina Fasso e Zâmbia, leia-o também aqui.
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O meu obrigado ao Professor pelo envio dos textos.
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O meu obrigado ao Professor pelo envio dos textos.
Nós, os Outros e a História
Uma boa tese de mestrado, aquela que João Feijó escreveu sobre a história deste país abrindo a janela do semanário Savana (1998/2003). E com uma bela citação de Pierre Bourdieu: "Nada classifica melhor uma pessoa do que a forma como ela classifica os outros".
Bicicletistas "lixados" em Quelimane
Segundo o "Canal de Moçambique", o IXº Congresso do partido no poder, a Frelimo, tem perturbado imenso a circulação das bicicletas na cidade de Quelimane, onde elas se tornaram os táxis locais. Restrições na sua circulação estão a indignar os bicicletistas, especialmente os do enorme bairro Brandão, havendo 50 retidas na sede provincial do partido. A cidade tornou-se a meca dos 4/4. Eis um flash daquele jornal: "Os utilizadores de bicicletas andam em pânico. Nunca viram tanto “four by four” junto em todas suas vidas. O remédio é sair das estradas."
13 novembro 2006
Desenvolvimento vs macdonaldização
Leia o trabalho de Valerito Pachinuapa com o título Desenvolvimento vs Macdonaldização.
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http://unidadediagnosticosocial.blogspot.com
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http://unidadediagnosticosocial.blogspot.com
12 novembro 2006
11 novembro 2006
Companhia de Jesus nega versão oficial sobre assassinatos em Fonte Boa, província de Tete
REGIÃO MOÇAMBICANA AV. KIM IL SUNG, 377
DA COMPANHIA DE JESUS C.P. 2626
Fax.: (21)494609 - Tel. (21) 492710
E-mail: cjesus@tvcabo.co.mz
MAPUTO – MOÇAMBIQUE
NOTA SOBRE OS TRÁGICOS ACONTECIMENTOS EM FONTE BOA.
A Região Moçambicana da Companhia de Jesus (Padres e Irmãos Jesuítas) sente-se na obrigação de informar todos os nossos amigos e amigas sobre o triste facto ocorrido numa das nossas missões no centro-norte de Moçambique, Província de Tete, Distrito de Tsangano, planalto de Angónia, que culminou com o trágico assassinato do P. Waldyr dos Santos, SJ e de Idalina Gomes, Leiga para o Desenvolvimento.
Queremos em primeiro lugar agradecer de coração e louvar o Senhor pelas sinceras manifestações de solidariedade que todos estão a ter para connosco, neste momento de dor e perplexidade.
É justo esclarecer que a morte do P. Waldyr e de Idalina não foi de forma nenhuma um ajuste de contas, como veiculou em certos meios de comunicação, mas sim um acto brutal de tentativa de intimidar e desestabilizar as Instituições Religiosas na Província de Tete e concretamente os trabalhos que a Companhia de Jesus, as Irmãs do Divino Pastor e os Leigos para o Desenvolvimento estão a desenvolver em prol do povo de Angónia, sobretudo no campo da Evangelização, da Educação, da Saúde e dos projectos sociais que visam o crescimento e o bem estar deste povo tão sofrido.
A Companhia de Jesus tem uma longa história de comunhão com o povo no planalto de Angónia, mesclado com momentos de muitas alegrias e também de muitas tristezas. Sempre procuramos conservar fidelidade e respeito pela cultura deste povo. E é justo afirmar que os cristãos sempre reconheceram e corresponderam em todos os momentos com as nossas intervenções. Um bom número de jesuítas deram ali suas vidas pela causa do Evangelho. Tomamos a liberdade de recordar alguns deles: P. Miguel Ferreira da Silva, SJ, que no cumprimento de suas tarefas, morreu tentando construir a Igreja para a população da Macanga. Os Pp. João de Deus e Silvio Moreira regaram com seu sangue a terra por amor e fidelidade ao povo que amavam. O P. Cirilo Moises Mateus, SJ que desgastou a vida pelo seu povo e agora, no dia 11 de Novembro, completa 5 anos de falecimento.
Nos momentos mais difíceis para o Povo Moçambicano, em que muitos tiveram que se exilar para o Malawi, por causa da guerra interna, a Companhia de Jesus foi com o seu povo para o exílio, viveu e deu toda a assistência que lhe foi possível nos campos de refugiados. Vibrou com o povo pela alegria de retornarem a casa, depois do acordo de Paz, assinado em Roma. E não poupamos esforços para reabilitar as escolas, os hospitais e até ajudar o governo a reabilitar o posto fronteiriço em Mtengombalene. Tudo feito em parceria com muitas instituições solidárias com o bem estar do Povo Moçambicano, especialmente com o Governo da República de Moçambique, com o UNHCR, Intermon, Misereor, Cafod, Cebemo, etc.
E não será por causa de um acto covarde e violento que nos iremos intimidar. Nossas vidas só têm sentido quando as damos aos demais.
Pedimos a todos para que colaboremos com o Governo da República de Moçambique no sentido de estancar estas ondas de violência que assolam o País. Só na Província de Tete, os religiosos (Padres Combonianos, Irmãs Vicentinas, e Jesuítas) foram vítimas de 5 ataques neste ano de 2006. A pergunta que paira em nossos corações é o por quê da violência somente aos religiosos nesta Província?
Humanamente não há palavras que expliquem o sucedido. O P. Waldyr e a Idalina vieram só para servir e foram barbaramente assassinados quando sabemos que Moçambique precisa de obreiros como eles, cheios de generosidade. Acreditamos que o sangue deles, mais uma vez derramado naquela terra de Angónia, ajudará a produzir frutos espirituais que só Deus-Pai pode fazer aparecer pela sua imensa generosidade e misericórdia.
Continuemos a pedir ao Senhor por eles e pelos seus familiares. Encomendamo-nos às vossas orações.
P. Carlos Giovanni Salomão, SJ
(Superior Regional dos Jesuítas)
Maputo, 09 de Novembro de 2006.
_______________________________
Para a versão do ajuste de contas, veja "Notícias", edição de 07/11/06, primeira página.
DA COMPANHIA DE JESUS C.P. 2626
Fax.: (21)494609 - Tel. (21) 492710
E-mail: cjesus@tvcabo.co.mz
MAPUTO – MOÇAMBIQUE
NOTA SOBRE OS TRÁGICOS ACONTECIMENTOS EM FONTE BOA.
A Região Moçambicana da Companhia de Jesus (Padres e Irmãos Jesuítas) sente-se na obrigação de informar todos os nossos amigos e amigas sobre o triste facto ocorrido numa das nossas missões no centro-norte de Moçambique, Província de Tete, Distrito de Tsangano, planalto de Angónia, que culminou com o trágico assassinato do P. Waldyr dos Santos, SJ e de Idalina Gomes, Leiga para o Desenvolvimento.
Queremos em primeiro lugar agradecer de coração e louvar o Senhor pelas sinceras manifestações de solidariedade que todos estão a ter para connosco, neste momento de dor e perplexidade.
É justo esclarecer que a morte do P. Waldyr e de Idalina não foi de forma nenhuma um ajuste de contas, como veiculou em certos meios de comunicação, mas sim um acto brutal de tentativa de intimidar e desestabilizar as Instituições Religiosas na Província de Tete e concretamente os trabalhos que a Companhia de Jesus, as Irmãs do Divino Pastor e os Leigos para o Desenvolvimento estão a desenvolver em prol do povo de Angónia, sobretudo no campo da Evangelização, da Educação, da Saúde e dos projectos sociais que visam o crescimento e o bem estar deste povo tão sofrido.
A Companhia de Jesus tem uma longa história de comunhão com o povo no planalto de Angónia, mesclado com momentos de muitas alegrias e também de muitas tristezas. Sempre procuramos conservar fidelidade e respeito pela cultura deste povo. E é justo afirmar que os cristãos sempre reconheceram e corresponderam em todos os momentos com as nossas intervenções. Um bom número de jesuítas deram ali suas vidas pela causa do Evangelho. Tomamos a liberdade de recordar alguns deles: P. Miguel Ferreira da Silva, SJ, que no cumprimento de suas tarefas, morreu tentando construir a Igreja para a população da Macanga. Os Pp. João de Deus e Silvio Moreira regaram com seu sangue a terra por amor e fidelidade ao povo que amavam. O P. Cirilo Moises Mateus, SJ que desgastou a vida pelo seu povo e agora, no dia 11 de Novembro, completa 5 anos de falecimento.
Nos momentos mais difíceis para o Povo Moçambicano, em que muitos tiveram que se exilar para o Malawi, por causa da guerra interna, a Companhia de Jesus foi com o seu povo para o exílio, viveu e deu toda a assistência que lhe foi possível nos campos de refugiados. Vibrou com o povo pela alegria de retornarem a casa, depois do acordo de Paz, assinado em Roma. E não poupamos esforços para reabilitar as escolas, os hospitais e até ajudar o governo a reabilitar o posto fronteiriço em Mtengombalene. Tudo feito em parceria com muitas instituições solidárias com o bem estar do Povo Moçambicano, especialmente com o Governo da República de Moçambique, com o UNHCR, Intermon, Misereor, Cafod, Cebemo, etc.
E não será por causa de um acto covarde e violento que nos iremos intimidar. Nossas vidas só têm sentido quando as damos aos demais.
Pedimos a todos para que colaboremos com o Governo da República de Moçambique no sentido de estancar estas ondas de violência que assolam o País. Só na Província de Tete, os religiosos (Padres Combonianos, Irmãs Vicentinas, e Jesuítas) foram vítimas de 5 ataques neste ano de 2006. A pergunta que paira em nossos corações é o por quê da violência somente aos religiosos nesta Província?
Humanamente não há palavras que expliquem o sucedido. O P. Waldyr e a Idalina vieram só para servir e foram barbaramente assassinados quando sabemos que Moçambique precisa de obreiros como eles, cheios de generosidade. Acreditamos que o sangue deles, mais uma vez derramado naquela terra de Angónia, ajudará a produzir frutos espirituais que só Deus-Pai pode fazer aparecer pela sua imensa generosidade e misericórdia.
Continuemos a pedir ao Senhor por eles e pelos seus familiares. Encomendamo-nos às vossas orações.
P. Carlos Giovanni Salomão, SJ
(Superior Regional dos Jesuítas)
Maputo, 09 de Novembro de 2006.
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Para a versão do ajuste de contas, veja "Notícias", edição de 07/11/06, primeira página.
Blogosfera em Moçambique
Até à primeira semana de Outubro, 321 blogs tinham sido contabilizados em Moçambique, dos quais:
-270 de Maputo
-274 fotoblogs
- 16 exibindo fotografias dos autores
Este trabalho de pesquisa prossegue, a cargo de uma equipa de nove estudantes universitários sob direcção do meu assistente, Teles Huo.
Brevemente os resultados serão divulgados.
Maboazuda: comentário de uma brasileira
De uma leitora brasileira recebi por email um texto que, pela sua oportunidade, coloco em destaque neste entrada. Ei-lo:
Esta discussão não me é nova, já correram por aqui textos como os referidos por si, quase todos lúcidos e elucidativos, muitos panfletários, acerca da qualidade e do teor das músicas que da periferia surgiram e tomaram as pistas de dança da classe média, de todos os abastados. É o funk carioca que segue, em sua maior parte, por este caminho temático da música do Zico.
Como aí, antropólogos, sociológos, psicólogos, críticos de música, jornalistas, etc., estudiosos do social e do humano, todos falaram. Eu fico aqui a pensar...
Como já disseram, não haveria Zico e seu sucesso estrondoso, se não houvesse quem o aplaudisse e com ele e com seu repertório se identificasse. Eu me pergunto se uma letra que denegrisse outra categoria de pessoas, não sei, que desqualificasse uma profissão ou etnia, por exemplo, faria tanto sucesso mesmo com um ritmo irresistível. Apesar de se dançar o ritmo e não a letra, deve haver alguma identificação do público que dança com o que se ouve (letra e melodia), pois se uma delas não acontece fortemente não se adere à onda. Bem, falo por mim, pelo que sinto. Adoro dançar e ao funk carioca é mesmo difícil de resistir. Mas há letras que enojam, que nos envergonham, que nos enrubescem, que indignam. A aversão à letra por quem nela reconhece agressão, desrespeito, discriminação, etc., é natural, eu acho...Falo a partir do que há aqui, porque sequer conheço a marrabenta, muito menos o rap+marrabenta do tal Zico.
____________________________
Solicito à leitora brasileira que, em comentário, diga se respeitei o que enviou. Obrigado.
Esta discussão não me é nova, já correram por aqui textos como os referidos por si, quase todos lúcidos e elucidativos, muitos panfletários, acerca da qualidade e do teor das músicas que da periferia surgiram e tomaram as pistas de dança da classe média, de todos os abastados. É o funk carioca que segue, em sua maior parte, por este caminho temático da música do Zico.
Como aí, antropólogos, sociológos, psicólogos, críticos de música, jornalistas, etc., estudiosos do social e do humano, todos falaram. Eu fico aqui a pensar...
Como já disseram, não haveria Zico e seu sucesso estrondoso, se não houvesse quem o aplaudisse e com ele e com seu repertório se identificasse. Eu me pergunto se uma letra que denegrisse outra categoria de pessoas, não sei, que desqualificasse uma profissão ou etnia, por exemplo, faria tanto sucesso mesmo com um ritmo irresistível. Apesar de se dançar o ritmo e não a letra, deve haver alguma identificação do público que dança com o que se ouve (letra e melodia), pois se uma delas não acontece fortemente não se adere à onda. Bem, falo por mim, pelo que sinto. Adoro dançar e ao funk carioca é mesmo difícil de resistir. Mas há letras que enojam, que nos envergonham, que nos enrubescem, que indignam. A aversão à letra por quem nela reconhece agressão, desrespeito, discriminação, etc., é natural, eu acho...Falo a partir do que há aqui, porque sequer conheço a marrabenta, muito menos o rap+marrabenta do tal Zico.
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Solicito à leitora brasileira que, em comentário, diga se respeitei o que enviou. Obrigado.
10 novembro 2006
Maboazuda e dominação masculina
Maboazuda é uma canção que celebra a dominação masculina disfarçando-a, anestesiando-a com a emoção, com o fervor entorpecente da dança.
Já aqui um dia, numa entrada, vos recordei o belo livro de Pierre Bourdieu, justamente chamado "A dominação masculina".
Tendo em conta esse livro, defendo que o problema fundamental não é que a canção de Zico seja um exercício pleno de dominação masculina: o problema está em que as mulheres que dançam a música aceitam essa dominação. Dançá-la é aceitar, interiorizar a dominação, consciente ou inconscientemente.
Mas nós temos muitas vezes a suprema e dialéctica capacidade de estarmos hoje, como mulheres, a dançar a maboazuda e, amanhã, numa sala de conferências, a exigir solenemente um papel mais amplo para a mulher dirigente.
Estou disposto ao debate.
Estamos juntos, para dizer como o Emílio Manhique!
Já aqui um dia, numa entrada, vos recordei o belo livro de Pierre Bourdieu, justamente chamado "A dominação masculina".
Tendo em conta esse livro, defendo que o problema fundamental não é que a canção de Zico seja um exercício pleno de dominação masculina: o problema está em que as mulheres que dançam a música aceitam essa dominação. Dançá-la é aceitar, interiorizar a dominação, consciente ou inconscientemente.
Mas nós temos muitas vezes a suprema e dialéctica capacidade de estarmos hoje, como mulheres, a dançar a maboazuda e, amanhã, numa sala de conferências, a exigir solenemente um papel mais amplo para a mulher dirigente.
Estou disposto ao debate.
Estamos juntos, para dizer como o Emílio Manhique!
O cepticismo dos habitantes de Quissanga
Os habitantes do distrito de Quissanga, em Cabo delgado, disseram ao governador Lázaro Mathe que não acreditam no fim da pobreza, em si ou absoluta. Que tudo falha lá em termos de planos, que eles estão fartos da modesta agricultura de enxada e que precisam de quem os ajude a mecanizá-la. Nem sequer, acrescentaram, os elefantes os deixam em paz. Acresce que o administrador distrital é acusado de gerir sozinho o dinheiro alocado pelo Estado. Impotente mas confiante, o governador Mathe pediu ao povo que tivesse fé na luta contra a pobreza absoluta pois o governo tinha uma boa liderança sob direcção do presidente Guebuza "que escolheu homens firmes para as diferentes frentes da batalha. Havemos de vencer a pobreza. Podem acreditar que havemos de acabar com a pobreza" ("Notícias", edição de hoje, 10/11/06, p. 2).
Vendedores ambulantes e polícias lutaram ontem na baixa de Maputo
Vendedores ambulantes e polícias confrontaram-se ontem de manhã na baixa da cidade. Os polícias disseram querer disciplinar o negócio de esquina, os vendedores disseram que os polícias queriam fazer cabritismo e roubar os seus bens. A zona de terminal de chapas na Av.ª Guerra Popular foi barricada com contentores de lixo, pneus incendiados, cartolina e caixas de papel. A Polícia Municipal foi reforçada pela Polícia de Protecção e pela Polícia de Intervenção Rápida: disparos para o ar, gás lacrimogéneo. Os vendedores debandaram.
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http://www.jornalnoticias.co.mz/pt/topoption/56
Desmaboazudando a maboazuda
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"Negra, mulata, leva
europeia, chinesa, apanha
filipina, monhé, dá-lhe
até albina"
(da letra de maboazuda)
I
Não tenho qualquer dúvida de que o cantor Zico gosta de mulheres. Isso é bem saudável. Cá por mim também amo mulheres e amo sexo.
Igualmente não tenho qualquer dúvida de que o ritmo leva fogo ao corpo, o que é bem saudável. E au amo o casamento entre a marrabenta e o rap, ainda que abomine o rap em si.
O meu problema começa quando penetro na alma da letra. Esta alma suscita debate desde que na edição do "Savana" da semana passada, o jurista Carlos Serra Jr a analisou à sombra da Constituição da República e procurou mostrar como Zico ofende a dignidade de outrém (03/11/06, p. 10); e desde que, na edição de hoje do mesmo semanário, Bayano Valy procura mostrar a diversidade de opiniões sobre a canção, tomando o meu blog como ponto de referência, ainda que, infelizmente, ele mostre que Zico se recusou a comentar o que da letra da canção se diz (10/11/06, p. 30).
Ora, maboazuda (escrevo com "z") é, para além de um manifesto amoroso pujante e cheio de força da natureza, um exercício pleno de desqualificação da mulher, um manifesto de androcentrismo primário.
O cantor sente-se em condições óptimas para "levar", "apanhar" e "dar", quer dizer, para transformar as mulheres em objecto sexual, instintivo e violento. Nem as albinas escapam à ilimitada fome androcêntrica de Zico.
Efectivamente, a mulher surge na letra como mero receptáculo sexual, como mero objecto sexual, no caixilho unilateral imposto pelo cantor-garanhão (seja este autor ou não da letra).
O cantor (e/o autor da letra) procede a um autêntico exercício de fagocitose social.
Em que consiste a fagocitose social? Consiste em negar o Outro como sujeito reflexivo, dotado de liberdade, do direito de produzir a sua própria historicidade, de dispor da sua vontade. Assim fazendo, a letra violenta simbolicamente esse Outro, no caso vertente essa Outra.
Ao cantor não importa se as negras, se as mulatas, se as europeias, se as chinesas, se as filipinas (estranha referência esta), se as monhés (termo injurioso) e se, até, as albinas, estão de acordo com a pulsão amorosa expressa univocamente: o fundamental é pura e simplesmente Zico matá-las ("eu vos vou matar com fofinhas, boasudas, gostosas, jeitosas"), absorvê-las, devorá-las na sua masculinidade.
Assim, Zico é o gestor definitivo da verticalidade; às mulheres da letra apenas compete aceitar horizontalmente a vontade zaratustreana do cantor.
Suspeito de que há gente que partilha o zicoísmo, a masculinidade matadora. E também suspeito de que há por aí muito matador convencido de que as mulheres amam tanto mais quanto mais apanham.
E, já agora, pode acontecer que tanta discussão amplie ainda mais o raio de acção da canção, tornando-a ainda mais ouvida, cantada, dançada, enfim, maboazudada.
II
Mas não é Zico que é sociologicamente fundamental, não é a maboazuda que é sociologicamente fundamental: o que é fundamental é o imaginário social ávido de novidade que torna um herói e a outra, uma necessidade.
A nossa sociedade é cada vez mais um caleidoscópio de expectativas, de culturas, de mitos, de ansiedades, uma interface de muitas coisas, um mata-borrão social. Absorvemos intensamente o que nos chega do exterior e depois procuramos fazer localmente a digestão o melhor que sabemos e podemos. O casamento da marrabenta com o rap é um modelar exemplo.
Nesse mundo mestiço, no qual as tradições se modernizam e as modernidades se tradicionalizam, Zico é apenas uma emanação de um social prismático, capaz de dotar o machismo com os condimentos do espectáculo e de o fazer absorver naturalmente por uma espécie de alma feminina: digamos, de forma provocadora, numa ensaio de semiologia à Roland Barthes, que se a letra zicoísta é masculina, a dança é feminina; ao macho que canta altaneiro em seu harém onírico, junta-se e ajoelha-se pela dança erotizada a mulher, mesmo a albina maboazudada.
E assim, numa vertigem zicoísta, a marrabenta americaniza-se, o rap moçambicaniza-se.
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Fotografia de Zico reproduzida do "Savana" de hoje. Por outro lado, quero dizer que a letra da canção, por mim aqui reproduzida em entrada anterior, está cheia de erros. Não não me preocupei com eles.
Voltarei à "Maboazuda" hoje
Na sequência do que o Savana tem publicado sobre Maboazuda, a famosa canção de Zico, retomarei aqui hoje a letra, aprofundando o processo de desqualificação que, em meu entender, a permeia por inteiro.
09 novembro 2006
Liderança comunitária em Maputo
Veja um trabalho com o título em epígrafe de Morten Nielsen, doutorando dinamarquês e investigador associado do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, no blog da Unidade de Diagnóstico Social.
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http://www.unidadediagnosticosocial.blogspot.com
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http://www.unidadediagnosticosocial.blogspot.com
"Pineu! Deita pineu!" amanhã no "Savana"
18 linchados nos últimos 2 meses
De acordo com um oficial da polícia, Sr. Abílio Quive, citado pelo "Canal de Moçambique", 18 pessoas foram linchadas nos últimos dois meses* na periferia de Maputo, a maior parte das quais estava inocente. O oficial disse que anda à procura dos autores dos linchamentos, que não são honestos, não residem nos bairros onde se registam os linchamentos e são criminosos que incitam as populações tirando partido do "efeito emotivo". O Sr. Quive disse ainda que a população honesta não comete linchamentos e trabalha com a polícia.
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http://www.canalmoz.com/default.jsp?file=ver_artigo&nivel=1&id=6&idRec=1156
*A notícia menciona 18 linchados, mas oscila na temporalidade: nos últimos três meses (2.º parágrafo) e nos últimos dois meses (10.º). Optámos pela último registo dado pertencer ao discurso directo do Sr. Quive.
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Estamos confrontados com uma clara teoria complotária, que é fácil de resumir: se não fossem os malfeitores, não haveria linchamentos pois a população é honesta e colabora com a polícia. Basta apenas expurgar os malfeitores dos bairros periféricos de Maputo para tudo voltar à normalidade.
08 novembro 2006
Mediocridade
Quando criticamos algo, alguém, uma postura, uma intervenção, etc., abstraímos regra geral da estrutura radicular, capilar, rizomática, que acolhe e irriga e homologa tudo isso.
Nada é medíocre se não houver um solo que acolha a mediocridade, que mediocretize.
Solo? Nem de solo nem de cérebro a mediocridade carece afinal: nasce e vive por geração espontânea.
Nada é medíocre se não houver um solo que acolha a mediocridade, que mediocretize.
Solo? Nem de solo nem de cérebro a mediocridade carece afinal: nasce e vive por geração espontânea.
A santíssima trindade dos positivistas
Os positivistas, declarados ou disfarçados, regem-se pela santíssima trindade seguinte:
1. A sociedade é comandada por leis independentes da vontade e da acção humanas;
2. Sendo as leis naturais, a sociedade pode ser estudada com os mesmos métodos das ciências da natureza;
3. As ciências sociais, tal como as da natureza, devem rigorosamente cingir-se à observação, à análise e à explicação neutras, objectivas, isentas de julgamentos de valor e de ideologias.
Armados com a santíssima trindade, os cientistas sociais positivistas fazem ciência tão naturalmente como o Sr. Jourdain fazia prosa: sem o saber.
1. A sociedade é comandada por leis independentes da vontade e da acção humanas;
2. Sendo as leis naturais, a sociedade pode ser estudada com os mesmos métodos das ciências da natureza;
3. As ciências sociais, tal como as da natureza, devem rigorosamente cingir-se à observação, à análise e à explicação neutras, objectivas, isentas de julgamentos de valor e de ideologias.
Armados com a santíssima trindade, os cientistas sociais positivistas fazem ciência tão naturalmente como o Sr. Jourdain fazia prosa: sem o saber.
O casal sensação segundo a tvzine
No seu n.º 46 deste mês, a tvzine, revista do jetset nacional, apresenta em capa e nas pp.8-9, o que chama casal sensação: Lizha James, rainha do ragga que afirma ter em preparação um single chamado Moçambique, com ragga misturado com "os nossos sons" dando origem ao Panza; Bang (Ederson Mourinho), empresário e noivo de Lizha, com o seu ar de matador americano de charuto e óculos vai-a-rachar, que afirma ter por vezes "que lhe dizer (à Lizha, CS) que se usar uma saia curta vai ficar a matar". Acresce que Bang não só quer que Lizha lhe dê seis filhos como, também, deseja entrar na moda, no fashion show: diz já ter uma loja de roupas e bijutaria brasileira e sonha "dar um salto aos Estados Unidos".
Tudo muito comovente, sem dúvida.
E fascina-me o antetítulo da capa da tvzine a propósito do casal: "Saiba o que sempre quis saber". Como é possível eu não ter nunca sabido o que sempre, afinal, quis saber?
Unidade de Diagnóstico Social
Veja a mais recente entrada no blog da Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos.
As nossas portas estão abertas a quem quiser participar, todas as quartas-feiras entre as 12 e as 14 horas, campus universitário, 1.º andar.
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http://unidadediagnosticosocial.blogspot.com
As nossas portas estão abertas a quem quiser participar, todas as quartas-feiras entre as 12 e as 14 horas, campus universitário, 1.º andar.
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Imprensa Universitária da UEM reforça-se
A Imprensa Universitária da Universidade Eduardo Modlane adquiriu uma moderna máquina industrial para impressão de livros, esperando receber uma outra brevemente. A qualidade gráfica vai, desse modo, ser grandemente melhorada.
Foi com prazer e honra que hoje pude visitar a nova máquina, a convite do Presidente do Conselho de Administração da Fundação Universitária, Doutor Luís Cezerilo.
Foi com prazer e honra que hoje pude visitar a nova máquina, a convite do Presidente do Conselho de Administração da Fundação Universitária, Doutor Luís Cezerilo.
Oposição desposicionada
Representando o Bloco da Oposição Construtiva (uma coligação de pequenos partidos sem expressão votal no país), o seu presidente, Sr. Ya-qub Sibindy (na foto), do partido PIMO, entregou ontem ao Partido Frelimo, no poder, 17.786 meticais, em apoio aos IX Congresso deste partido.
O Bloco deu, assim, um notável exemplo das fragilidades da oposição política no país.
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Fotografia do "Notícias" de hoje, 08/11/06, p. 3.
http://www.jornalnoticias.co.mz/pt/topoption/53
07 novembro 2006
99.º lugar para Moçambique na corrupção mundial
O nosso país ocupa o 99.º lugar com o índice 2.8 numa escala entre 0 e 10 de uma lista de 163 países segundo o Index de Percepções de Corrupção 2006, lançado ontem pela Transparência Internacional (TI). O zero indica elevados níveis de percepção de corrupção e o 10, baixos níveis. O relatório da TI mostra uma forte correlação entre pobreza e corrupção. Os países com menores percepções de corrupção são a Finlândia, a Islândia, a Nova Zelândia e a Dinamarca.
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http://www.transparency.org/
http://www.transparency.org/news_room/in_focus/cpi_2006/cpi_table
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http://www.transparency.org/
http://www.transparency.org/news_room/in_focus/cpi_2006/cpi_table
06 novembro 2006
Prontos!
-As coisas são assim e prontos!
Ah, como é pronto este prontos! Mas por que razão as coisas são mesmo assim e não de outra maneira? Por que razão as coisas parecem tão óbvias, tão evidentes? Serão mesmo óbvias, evidentes, dispensadoras de análise?
O óbvio é um exercício de preguiça que nos dá o conforto botânico. Ou mineral.
Ah, como é pronto este prontos! Mas por que razão as coisas são mesmo assim e não de outra maneira? Por que razão as coisas parecem tão óbvias, tão evidentes? Serão mesmo óbvias, evidentes, dispensadoras de análise?
O óbvio é um exercício de preguiça que nos dá o conforto botânico. Ou mineral.
Prognóstico
Dentro de dez anos, o capital chinês estará casado com o capital indiano no domínio da economia moçambicana, com um centro redistribuidor na África do Sul.
Diário de um sociólogo 2 e segundo livro de poesia
Entregarei este mês à imprensa universitária da Universidade Eduardo Mondlane o "Diário de um sociólogo 2" (aqui penso sentindo) e o segundo livro de poesia (aqui sinto pensando), ainda sem título. Mais dois blooks. Uau...
04 novembro 2006
Na Moamba: cidadão acusado de violar sexualmente uma burra
No distrito da Moamba, província de Maputo, um indivíduo de 54 anos encontra-se em dificuldade por ter sido encontrado a ter relações sexuais com uma burra, em crime considerado de ultrage à moral pública.
O proprietário do animal apresentou queixa às autoridades locais, que consideram o "crime passível de ser punido nos termos da lei como violação sexual, com a agravante de ter acontecido contra um animal (...) Em termos criminais compara-se o acto ao de violação de uma mulher e o facto de ter acontecido com um animal agrava a situação, podendo o autor ser condenado a uma pena de prisão que poderá ir até oito anos" ("Notícias, edição de hoje, 04/11/06, p. 7).
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É tão bizarra a história quanto a acusação. De facto, o incriminado apenas pode ser condenado por atentado ao pudor e jamais...até oito anos, salvo se as leis da Moamba forem especiais, do que tenho dúvida. E tenho sérias reservas sobre se a pobre burra foi violada, no sentido humano equiparado que surge na notícia. E muito maiores são as minhas reservas sobre se "agrava a situação" o facto de o crime ter sido cometido com um animal. Imagino agora o pobre violador de uma jumenta chorando em alguma enxovia tão grave irresponsabilidade! Mas o que pensarão as mulheres da comparação efectuada?
Escapa ao linchamento no Bairro 25 de Junho
As estruturas
As populações foram avisadas de que deveriam estar todas no comício com as estruturas da Nação. As estruturas chegaram. A estrutura máxima dirige-se às populações, boné jetset protegendo a fala e camisete com os dizeres "vamos lá ouvir" de uma provedora de celulares:
-Bom dia, companheiros! Estamos muito satisfeitos por verificarmos que estão a trabalhar com muita vontade, que tendes produzido muito milho, muita mandioca, batata, couves, galinhas. Tudo isso é porque vocês compreenderam o plano quinquenal do Governo. Temos de vencer a pobreza absoluta, daqui a cinco anos ela tem de estar reduzida a 30%. E vamos também lutar contra o HIV/SIDA, a pandemia do século. Companheiros, vamos deixar de estender a mão para a esmola, vamos colocar a mão na enxada e trabalhar ainda mais. Unidos venceremos a pobreza! Obrigado.
O comício acabou, as estruturas dirigem-se para os confortáveis 4/4 e o embaixador da União De Luta Contra a Pobreza diz à estrutura sénior:
-O vosso povo é pacífico e trabalhador.
-Bom dia, companheiros! Estamos muito satisfeitos por verificarmos que estão a trabalhar com muita vontade, que tendes produzido muito milho, muita mandioca, batata, couves, galinhas. Tudo isso é porque vocês compreenderam o plano quinquenal do Governo. Temos de vencer a pobreza absoluta, daqui a cinco anos ela tem de estar reduzida a 30%. E vamos também lutar contra o HIV/SIDA, a pandemia do século. Companheiros, vamos deixar de estender a mão para a esmola, vamos colocar a mão na enxada e trabalhar ainda mais. Unidos venceremos a pobreza! Obrigado.
O comício acabou, as estruturas dirigem-se para os confortáveis 4/4 e o embaixador da União De Luta Contra a Pobreza diz à estrutura sénior:
-O vosso povo é pacífico e trabalhador.
03 novembro 2006
As alforrecas desconhecidas e o opinador João Deixa-Falar-Bem
Temos muitos opinadores no país. E excelentes. O que é um opinador? Um opinador é invariavelmente um sábio que sabe sempre tudo de tudo. Sabem inclusivamente tudo sobre o nada. E são, claro, elegantes: têm a alma da gravata.
Mas vamos à história. O opinador João Deixa-Falar-Bem foi convidado por uma estação televisiva para falar sobre a importância social das alforrecas desconhecidas.
-De quanto tempo disponho, senhor jornalista?
-É uma coisa curta senhor doutor, 5 minutos.
-Está bem, lá estarei.
Chegou o dia.
-Senhor doutor, como devo tratá-lo?
-Bem, sou Doutor.
-Doutor só? Pequeno, grande?
-Professor Doutor, tudo por extenso.
-Mas Prof. Dr.?
-Não: Professor Doutor! Tudo por extenso!
-Muito obrigado, Senhor Professor Doutor!
Chegou a hora de intervenção.
-Senhores telespectadores, o nosso tema hoje tem a ver com a importância social das alforrecas desconhecidas, um tema que começa a mexer com os cidadãos e portanto com o país. E para sabermos algo sobre tão candente tema, temos hoje connosco aqui no estúdio o conhecido especialista, Professor Doutor João Deixa-Falar-Bem. Senhor Professor Doutor, o que acha então da problemática das alforrecas desconhecidas?
-(pigarreio) Boa noite, senhores telespectadores. Muito obrigado pelo honroso convite que me foi feito! Bem, como sabe, as alforrecas desconhecidas são um problema nacional. Por natureza são desconhecidas, isso está provado (pigarreio). É fundamental que ganhemos consciência da sua importância porque inevitavelmente a problemática já é preocupante. Devemos formar parcerias inteligentes para atacar a problemática rapidamente e assim contribuirmos decisivamente para a luta contra a problemática da pobreza absoluta e da pandemia do século, o HIV/SIDA (novo pigarreio)
-Muito obrigado Senhor Professor Doutor. E assim, senhores telespectadores....Etc.
Mas vamos à história. O opinador João Deixa-Falar-Bem foi convidado por uma estação televisiva para falar sobre a importância social das alforrecas desconhecidas.
-De quanto tempo disponho, senhor jornalista?
-É uma coisa curta senhor doutor, 5 minutos.
-Está bem, lá estarei.
Chegou o dia.
-Senhor doutor, como devo tratá-lo?
-Bem, sou Doutor.
-Doutor só? Pequeno, grande?
-Professor Doutor, tudo por extenso.
-Mas Prof. Dr.?
-Não: Professor Doutor! Tudo por extenso!
-Muito obrigado, Senhor Professor Doutor!
Chegou a hora de intervenção.
-Senhores telespectadores, o nosso tema hoje tem a ver com a importância social das alforrecas desconhecidas, um tema que começa a mexer com os cidadãos e portanto com o país. E para sabermos algo sobre tão candente tema, temos hoje connosco aqui no estúdio o conhecido especialista, Professor Doutor João Deixa-Falar-Bem. Senhor Professor Doutor, o que acha então da problemática das alforrecas desconhecidas?
-(pigarreio) Boa noite, senhores telespectadores. Muito obrigado pelo honroso convite que me foi feito! Bem, como sabe, as alforrecas desconhecidas são um problema nacional. Por natureza são desconhecidas, isso está provado (pigarreio). É fundamental que ganhemos consciência da sua importância porque inevitavelmente a problemática já é preocupante. Devemos formar parcerias inteligentes para atacar a problemática rapidamente e assim contribuirmos decisivamente para a luta contra a problemática da pobreza absoluta e da pandemia do século, o HIV/SIDA (novo pigarreio)
-Muito obrigado Senhor Professor Doutor. E assim, senhores telespectadores....Etc.
02 novembro 2006
Os grandes pensadores corta-mato
Estou completamente consciente de que percorrer as estradas em seu sentido pleno, total, táctil, é uma aventura muitas vezes cansativa. Por isso compreendo todos aqueles grandes pensadores que sabem encontrar vias mais rápidas para chegar às grandes verdades, os pensadores corta-mato, como um tal Ducarla, autor de um livro com o título "O fogo completo" e que, tal como o Sr. Jourdain escrevia prosa sem o saber, descobriu que sabia tudo do fogo sem necessidade de o estudar: "As moléculas ígneas... aquecem porque são; são...porque foram...esta acção só deixa de verificar-se por falta de sujeito."
Quantos Ducarla não há por aqui?
Quantos Ducarla não há por aqui?
Linchamentos e académicos
A página 7 do semanário "meianoite" desta semana (31/10 a 06/11/2006) trás os testemunhos de três académicos sobre os linchamentos: o antropólogo Alípio Siquisse e dois filósofos, Guilherme Basílio e Camilo Jinica.
Creio ser possível resumir os argumentos dos três: trata-se de um problema grave, este problema grave pode gerar a perda de valores morais, as gerações futuras estão assim em risco e, por isso, a justiça deve ser enérgica contra os linchadores, a polícia deve reorganizar-se, dispôr de mais meios, etc., para que a ligação entre Estado e povo seja harmoniosa. O antropólogo Siquisse acha que o povo é movido pela "psicologia de massas" (sic) e o filósofo Jinica propõe que a polícia investigue os "promotores dos linchamentos" (sic).
De ambos extrai-se uma diagonal: o povo é simples e obediente, os promotores dos linchamentos é que o estragam instaurando a psicologia de massas e, por isso, devem ser encontrados.
Nenhum dos meus três colegas parece ter-se inquietado sobre como vivem os moradores na periferia de Maputo.
Creio ser possível resumir os argumentos dos três: trata-se de um problema grave, este problema grave pode gerar a perda de valores morais, as gerações futuras estão assim em risco e, por isso, a justiça deve ser enérgica contra os linchadores, a polícia deve reorganizar-se, dispôr de mais meios, etc., para que a ligação entre Estado e povo seja harmoniosa. O antropólogo Siquisse acha que o povo é movido pela "psicologia de massas" (sic) e o filósofo Jinica propõe que a polícia investigue os "promotores dos linchamentos" (sic).
De ambos extrai-se uma diagonal: o povo é simples e obediente, os promotores dos linchamentos é que o estragam instaurando a psicologia de massas e, por isso, devem ser encontrados.
Nenhum dos meus três colegas parece ter-se inquietado sobre como vivem os moradores na periferia de Maputo.
Pineu! Deita pineu! (9)
10. Conclusões
"(...) a força do fogo é tanto mais forte quanto mais comprimida e apertada estiver" - Jean-Pierre Fabre, 1636, citado em Bachelard, Gaston, A psicanálise do fogo. Lisboa: Estúdios Cor, 1972, p. 8
"No tempo de Samora havia ordem, agora só há bandidos" (moradores dos bairros periféricos de Maputo em entrevista comigo)
Escreveu Bachelard que se o que se modifica lentamente se explica pela vida, o que se modifica depressa explica-se pelo fogo.
Ora, essa bela visão permite, quanto a mim, dar visibilidade paradigmática a todo um processo acumulativo de problemas (a vida dos bairros periféricos de Maputo) , problemas que um dia transbordam porque demasiado comprimidos entre as margens da vida e, subitamente, nas possibilidades abertas de uma bifurcação, dão origem a um clímax brutal, dinamogénico, final (os linchamentos pelo fogo). No contexto das palavras de Fabre, mais acima referido, a força do fogo estava demasiado comprimida.
Com efeito, o quadro social que apresentámos mostra uma saturação social grande, uma angústia grande, uma impotência grande.
Os moradores dos bairros periféricos da grande Maputo sentiram-se e sentem-se como se poluídos pelo mal que os corrói, pela insegurança que os atemoriza, pelo abandono a que o Estado os deixou e deixa.
Lutando em meio a um mar de problemas de sobrevivência, eles chegaram e chegam a um limite a partir do qual não há mais retorno. Não foi nem é a insegurança ou a falta de protecção em si que esteve e está na origem dos linchamentos, mas, antes, a multiplicidade dos problemas sociais de sobrevivência. É esta multiplicidade, essa multipolaridade de problemas sociais que percute, ampliando-a desmesuradamente, a consciência aguda da insegurança que tem na protecção da vida e dos haveres um dos seus eixos basilares.
Eclipsada a razão, libertada a emoção, cidadãos pacíficos tornaram e tornam-se, repentinamente, vozes de uma natureza em fúria. Tornam-se maus não porque sejam maus em si, mas porque - assim sentem - a vida é má e maus os torna.
Decidiram e decidem fazer justiça por suas próprias mãos, decidiram e decidem ignorar os caminhos normais da lei, decidiram que poderiam tentar ter paz da forma mais brutal que pode haver: tirar a vida pelo fogo a um ser humano, culpado ou inocente. E depois, consumado o acto, sentem-se felizes porque julgam ter evacuado o mal.
O vazio institucional que sentiram e sentem é tão grande, que parece terem perdido a confiança total na polícia. "Aqui não é coisa de partidos, aqui todos nós sentimos. Bairros estão cheios de armas, mesmo de polícias" - disseram-me os moradores dos bairros.
A opção pelo exército, a busca aparente de soluções fortes diz bem do estado emocional em que se encontram.
E é justamente nesse contexto que a figura de Samora Machel é constantemente recordada nos bairros. "No tempo de Samora havia ordem, agora só há bandidos" - em uníssono me disseram os dez moradores que entrevistei.
Assim, recuperado na memória ferida, Samora aparece como o justiceiro, o redentor, como aquele que poderia trazer paz e ordem social aos bairros periféricos da grande Maputo.
Os linchamentos são mais do que um exercício brutal de justiça arbitrária: são, também, um aviso ao Estado, não porque os moradores o recusem, mas porque desejam um Estado diferente, um Estado redistribuidor, um Estado que proteja os cidadãos.
Portanto, tomar medidas violentas, enérgicas, para debelar o problema, apenas contribuirá para agravá-lo.
Um fogo nunca se apaga com outro fogo.
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E assim cheguei ao fim desta série dedicada aos linchamentos. Desejo que ela possa contribuir para reflectirmos profundamente sobre um fenómeno que, tudo leva a crer, é mais do que súbito: é cíclico. Como repararam, eu furtei-me completamente ao coro das vozes que no país apenas pedem, na imprensa e em reuniões magnas, o fim da violência sem a estudarem e, portanto, sem a compreenderem. E estou certo de que há gente iluminada que nem precisa de compreender o que quer que seja, salvo a linguagem do bastão e da repressão. Por outro lado, eu não estive nem estou a dar razão aos linchadores. O que fiz e faço é tentar perceber a lógica que organiza o perfil do seu comportamento. E fazendo-o, estou certo de que nem todos me darão razão. O que é compreensível, tal como argumentei ao tentar definir a sociologia logo no início desta série. Vou recordar o que então escrevi a 28 de Outubro, no terceiro número desta série: "O produto final da construção teórica é uma sociedade cujas lógicas de funcionamento nem sempre correspondem às lógicas quer da consciência imediata dos actores sociais em geral, quer da consciência interessada dos produtores oficiais de opinião. Por isso nem sempre a construção sociológica agrada às lógicas de uns e de outros."
01 novembro 2006
Chapa
-Senhor não está ver está deitar casca de mendoim na minha saia?
-Mamã quando está chateado melhor sair cada um é como cada qual.
Travões a fundo, paragem desenfreada, corpos para a frente.
Xiqueleneóóóóó despachar meu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Passageiro entrou.
Chapa.
-Mamã quando está chateado melhor sair cada um é como cada qual.
Travões a fundo, paragem desenfreada, corpos para a frente.
Xiqueleneóóóóó despachar meu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Passageiro entrou.
Chapa.
Aforismos digestivos
Por trás de uma lei, esconde-se um acaso envergonhado; por trás de um teorema, espreita um poema reservado; por trás de um cientista, está um curandeiro de quarentena.
Bom dia, obrigado
-Bom dia, Sr. Samussone
-Bom dia, obrigado
-Como está?
-Estou bem, obrigado, não sei do seu lado.
-Também estou bem, obrigado
Oiçam: quanto mais subimos na escala social aqui, mais aquele generoso obrigado por termos cumprimentado desaparece.
-Bom dia, obrigado
-Como está?
-Estou bem, obrigado, não sei do seu lado.
-Também estou bem, obrigado
Oiçam: quanto mais subimos na escala social aqui, mais aquele generoso obrigado por termos cumprimentado desaparece.
Pineu! Deita pineu! (8)
7. Justificações para o pineu
"O fogo dorme dentro de uma alma mais seguramente do que debaixo das cinzas" (Gaston Bachelard)
Quando interrogados sobre por que razão as pessoas preferiam a justiça sumária, por suas próprias mãos, os meus entrevistados responderam em uníssono que essa era a melhor maneira de fazer justiça e que não valia a pena esperar que a polícia resolvesse os problemas pois nunca os resolve.
Quando indagados sobre se um ser humano não merecia respeito e defesa, responderam que sim, mas que eles também mereciam respeito e defesa e que estavam cansados de esperar esse respeito e essa defesa.
8. Soluções para evitar o pineu
O Estado deve tomar as seguintes duas decisões: (1) reuniões de estudo colectivo de soluções com os moradores; (2) fazer intervir o exército com blindados a proteger os bairros. Quando se chega à epoca das festas de fim-de-ano, a BTR que aparece nos bairros inspira respeito e atemoriza os ladrões.
Essa a posição dos meus entrevistados.
Como se verifica, ela é bem dura. Já não querem polícias, querem soldados. Os entrevistados disseram inclusivamente que o cansaço dos moradores é tão grande que um dia um polícia é linchado. "Sabemos quantas balas tem uma pistola makarov, são oito. Quando as balas acabarem, os moradores começam."
9. Razões por que o pineu não existe na cidade central
Os linchamentos têm ocorrido desde os anos 90 nos bairros periféricos da cidade de Maputo.
Por que razão não ocorrem eles na grande Maputo, na zona central?
De acordo com os meus dez entrevistados, isso deve-se ao facto de a grande Maputo dispor de iluminação e de segurança estatal e privada, tornando difícil a acção de multidões.
Porém, creio que as duas razões indicadas podem ser ampliadas por uma terceira razão. Com efeito, a estrutura urbanística, com os seus prédios, o seu tráfego rodoviário e o seu convite a uma vida mais individualizada e bem mais e melhor gradeada, dificulta naturalmente a formação das multidões temporárias que estão nos linchamentos. O conhecimento colectivo com possibilidades de irradiação imediata é, aqui, claramente inferior ao conhecimento social quase quinestésico que se tem nos bairros periféricos.
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Como sempre, espero que os leitores me ajudem a melhorar o quadro traçado. Tento, através deste rápido diagnóstico, mostrar que um estudo sério é bem melhor do que uma má decisão.
Identidades inesperadas: Associação dos Cornos de Rondónia no Brasil
As identidades são polimorfas. E, por vezes, elas podem surgir e tomar corpo institucional onde menos esperamos. Esta entrada serve para assinalar a existência da Associação de Cornos de Rondónia, no Brasil, a qual agrupa, afirma o seu presidente, 7.000 traídos e traídas conjugais, ao que parece de gente pobre que terá votado em Lula da Silva, agora reeleito. O símbolo da associação é o que aparece na imagem.
Não sou capaz de imaginar que reacções haveria no nosso país caso surgisse por estas bandas uma associação similar. Um bom tema para uma sociologia das possibilidades. E para uma antropologia das alcovas.
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