Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
22 novembro 2006
Sociologia da dominação (1)
"Quando falares fala falando sem falares para que te percebam. Quanto à consciência do teu falar, isso fica comigo"
(salmo 11 do Livro da Maka Política, 3216 da nossa era)
Existe um problema com as palavras que não é regra geral problema.
O problema é que as tomamos apenas por palavras, utensílios práticos e neutros com os quais nos comunicamos, uma espécie de barcos sem mistério nos quais viajamos pelos continentes dos outros, trocando as nossas coisas e as nossas ideias.
Mas por que as palavras não são, então, problema? Porque as palavras são sapatos que calçamos sem problemas de consciência nas ruas da vida. E alguém questiona os sapatos? Não foram eles inventados para serem justamente calçados?
Todavia, na alma de cada palavra-sapato habita uma inquilina da qual regra geral não temos consciência. Que vemos sem ver ou que, vista, tomamos pela coisa mais natural da vida.
Assim, o problema não é problema para quase todos nós.
Mas esse é o real problema. O problema de não ser problema sendo-o sem problemas.
Mas como se chama, afinal, essa inquilina?
Chama-se dominação.
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Como me é habitual, posso em qualquer altura rever e mudar o que aqui escrevi e irei escrever.
8 comentários:
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As palavras sao sempre um problema... Mas dependendo de quem as diz, como as diz, a quem as diz e com que intencao.
ResponderEliminarAs palavras nao sempre sao dominacao, as vezes sao bem afirmacao e reaccao.
Minhas eternas referencias sobre este assunto: Les Back e John Solomos.
Obrigado...Veremos a sequência do texto nos próximos dias.
ResponderEliminarOh...
ResponderEliminarProfessor, aguardo a sequência com grande expectativa.
O estilo anti-acadêmico do texto me desarmou completamente, e chegando ao seu fim, foi como ter levado um golpe, um susto, uma verdade chocante (ainda que já conhecida, mas não percebida, não estudada, 'sem problema') jogada sobre mim, que o próprio texto exemplificou. Curiosa sensação.
Sem dúvida ...
ResponderEliminar"Uma palavra e tudo está salvo / Uma palavra e tudo está perdido" (André Breton)
Gostei imenso do Post ... voltarei para ver o evoluir.
Bjs
Sim, Aut, a introdução foi prepositadamente desacademizada. Fica com melhor gosto, não acha? Veremos, entretanto, até conduz esta anatomia da dominação, eventualmente com sabor bretoneano.
ResponderEliminarse ela, a palavra, conseguiu sobreviver a arte da escrita, ora et labora, hoje na sociologia estuda-se a forca social da palavra: sociologia urbana - a sociologia da dominacao e da reaccao
ResponderEliminarO filósofo Liebniz, no seu artigo sobre o mau uso das palavras, acusava alguns filósofos de usarem a obscuridade para encobrir as fragilidades das suas teorias. Não são as palavras que são problema, elas não tem aprior uma substancialidade capaz de lhes conferir um poder de destruir, amar, criar etc, as palavras são instrumentalizadas.A relacão afetiva, entre o emissor e o receptor, determina em larga medida o efeito da palavra.
ResponderEliminarVeremos a sequência da série, Honório.
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