Outros elos pessoais

21 novembro 2006

Virtualização do quotidiano: bloguismo em Moçambique (um texto de Teles Huo)


Esse o título da primeira versão de um trabalho escrito por Teles Huo, após uma pesquisa de cerca de dois meses realizada com nove estudantes de História da Universidade Eduardo Mondlane. Clique aqui para o importar.
Aguardamos os vossos comentários, as vossas sugestões, as vossas críticas, as vossas achegas. Kanimambo!

13 comentários:

  1. Bom texto.
    Posso também divulgá-lo?
    Já o li e acho algumas conclusões dignas de debate.
    1. Porque tantos fotologs?
    2.Porque tanto anonimato?
    3.Porque as pessoas gostam mais de "rir" do que pensar e reflectir (uma alusão aos fotologuismo e ao seu conteúdo dominante).

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  2. Pode, sim. Creio que o Teles lhe responderá ainda hoje.Abraço.

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  3. Tambem gostei de ler o texto. Achei coerente, de facil digestao e directo ao assunto. Pequenos pontos de observacao:

    - De todas as definicoes de blog apresentadas, a do Franquinho e a que mais comichao me causou, com a sua retorica internauta de 'dar voz aos que nao tem voz'. Sob meu ponto de vista, quem tem acesso a internet e o tempo de criar um espaco, seja ele intimo, politico, publico, ou coisa que o valha nao e tanto uma pessoa que nao tem voz, mas uma pessoa que sabe e/ou pode criar meios alternativos de se fazer ouvir. Isto da democracia internauta convence-me cada vez menos, e creio que Mocambique, e sobretudo se nos bloggistas nos concentramos em Maputo, somos uma elite, e se participamos, sabemos exactamente como nos fazer ouvir.

    - Sobre as relacoes sociais virtuais, a estratificacao social e a afinidade tematica... Nao creio que as relacoes sociais se criem ou se estabelecam sempre e necessariamente ao longo de linhas de estratificacao. E algumas vezes penso que nao e tanto a afinidade, mas a rejeicao das ideias apresentadas que criam debates e popularidades dos blogs mais controversos.

    - Quanto ao anonimato, a natureza intimista de muitos blogs pode ser uma razao para que as pessoas nao queiram revelar quem sao. Querem partilhar os seus pensamentos, mas nao a sua pessoa no seu todo. Certamente um circulo restrito sabera quem a pessoa e, permitindo ao mesmo tempo que a pessoa se proteja de ser assediada por gente desconhecida e indesejada. Lembremo-nos que isto e bloggismo, nao jornalismo.

    - E por fim, o dominio masculino na nossa blogosfera. Nao duvido... mas com tao poucos blogs a identificarem-se em pleno, e uma conclusao um pouco ousada, nao?

    Otherwise, nice work... prova cada vez mais a nossa diversidade natural, mesmo num meio tao minusculo como a e nossa diminuta blogosfera.

    A proposito, Egidio, se 'rir e o melhor remedio', nao deixa de ser uma forma de pensar e reflectir.

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  4. Concordo com os pontos da “la strega”.
    Todavia, não nego que o riso seja uma forma de reflectir.
    O riso torna-se preocupação quando, numa altura em que cada um de nós, devia dedicar um pouco do seu tempo à reflexão de coisas sérias-machismo, por exemplo - esse tempo é totalmente dedicado ao “riso”. Ou seja, com tantos "doutores", por exemplo, é curioso que haja mais fotoblogs destes do que de Blogs dedicados à reflexão e debate da nossa quotidianidade. A não ser que o riso também seja uma forma de reflexão filosófica.

    Intriga-me é, na realidade aquilo que Boaventura de Sousa Santos algum dia chamou de
    RESIGNAÇÃO. Acho, e preocupo-me com tanta resignação que se observa, na nossa nociedade, em que quase tudo é NORMAL.
    Normaliza-se o zicoismo, normaliza-se fastfoodismo, normaliza-se o "tou a pidir" normaliza-se "os prpojectos e Workshopes", normaliza-se, enfim, a própria SIDA e seus derivados.
    E aos sábados e domingos (para não dizer sexta-feira), todos nos encontra-mos na Machava (cerveja 2M)!
    Da segunda á sexta, cada um no seu lugar. A “trabalhar”.
    Esta negação de conflicto é que me tritura a consciência. Essa negação de debate raxa-me a cabeça.
    Seria "normal", por exemplo, que cada docente universitário tivesse um e-mail. Mas não é verdade. São mui poucos. Ínfima parte.
    Seria "normal" que os estudantes universitários tivessem blogues, pelo menos para cada turma, UM Blogue (sabe que todas universidades e institutos superiores em Moçambuique possuem salas com computadores ligados à internet para estudantes?). Apenas ínfima parte possui e na maioria despercebida.
    Seria "normal" que cada docente tivesse sua "página" web, mas antes, que cada departamento tivesse a sua. Nenhuma.
    Todavia, é NORMALÍSSIMO que todos saibam e coemntem que os linchamentos urbanos são consequência da ineficácia da polícia e das instituições do Estado. O que e quanto sabemos nós sobre o crime em Moçambique?
    E todos vão a TV comentar.
    Esse é o “riso” que me apoquenta, “la strega”. Este é o riso que, enfim, este relatório de pesquisa descortina. Um (so)rriso entristecedor.
    Ajuda-me

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  5. Eu as vezes pergunto-me... pergunto-me muitas coisas... mas as vezes pergunto-me se esta nossa resignacao nao e medo... medo de nos proprios, dos nossos radicalismos...

    Nao sei se como sociedade sabemos de facto debater sem incorrer em extremismos, sem nos ofendermos, sem acharmos que foi pessoal. E por isso, para evitar conflitos maiores passeamo-nos pela superficialidade...

    E o riso continua a ser um remedio e uma capa. Uma capa de um pretenco 'esta tudo ok'... o que eu quero e que me deixem em paz e me deixem chegar ao dia de amanha...

    Em sociedades em que o conflito e tao latente quanto a nossa, e parece estar sempre prestes a eclodir... ha que rir, porque nunca se sabe quando se vai ter que chorar. E ja se sabe que nao ha lagrimas suficientes para chorar tantas miserias.

    O riso e as relacoes jocosas como lhe chamam alguns pensadores sociais, sao o que nos proteje de pensarmos demais no que nos faria, em condicoes normais querer rebentar com muita coisa.

    It's just a theory like any other.

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  6. Colegas, só amanhã o Teles vai poder responder dado não ter net em casa. Perdoem e aguardem , por favor! Abraço.

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  7. O comentario que deixei no sitio ficou truncado, dai que o deixe de novo aqui.

    "Os dados mostram que há poucos blogs verdadeiramente de especialidade na blogosfera moçambicana. São quase inexistentes, por exemplo, os blogs científicos ou de professores ao nível de disciplinas especializadas que sirvam de espaços de debate, contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento num campo específico."

    Nao e uma questao retorica, o que aqui se explicita eh a concepcao de que isto eh um deficit. Nao poderia discordar mais. Ha em algum bloguismo mocambicano uma tentativa de normativizar o registo bloguistico, de o "academizar", que mais nao eh do que efeito da ausencia de outros espacos para a tal reflexao "seria" - a cuja tambem eh criticavel, mas isso ja seria outro ponto

    Sobre o rir (ou seja, sobre o registo bloguistico dominante) ja se comentou acima o que acho.

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  8. Agradeco os vossos valiosos comentarios.

    A comecar, lamento estar a usar um teclado nao portugues.

    Egidio,

    As perguntas que coloca sao pertinentes. As suas questoes merecem uma analise mais aprofundada. Como primeiro trabalho visava caracterizar o movimento em Mocambique, possibilitando o levantamento de questoes que deverao ser aprofundadas. Reparo que "Ia strega" avanca uma hipotese, no seu comentario. Julgo ser uma janela a ser explorada.

    Obrigado!
    Teles Huo.


    "Ia Strega",

    Obrigadissimo pela sua intervencao.
    Relativamente ao "dar a voz aos que nao tem voz", vejo esta questao nao na perspectiva que coloca, porque o facto de os que referencia procurarem, como bem diz, meios alternativos de se fazer ouvir, sugere essa busca de
    voz pelas formas alternativas que referencia. Isto sustenta que efectivamente permite dar a voz aos que a "tem" ou entao, aos que nao podem usa-la de forma aberta, dai, tambem, o anonimato.

    Obviamente que as relacoes sociais nao se estabelecem unicamente ao longo das linhas de estratificacao, pois sao essas relacoes fora das linhas de estratificacao que consolidam e asseguram a estratificacao...
    A "afinidade" deve ser vista como afinidade nas inquietacoes e nao nas ideias, isto alimenta o debate. Por exemplo, uma afinidade na avaliacao da pertinencia de um fenomeno para debate, mas com divergencia de pontos de vista sobre o mesmo.

    Quanto ao anonimato, agradeco a hipotese que coloca. Concordo como a primeira parte mas nao concordo com a parte em que sugere que assim deve ser por se tratar de bloggismo. Julgo que depende dos objectivos, natureza e funcionalidade do blog e nao o facto de ser blog...

    Quanto ao dominio masculino, se reparar chamamos a atencao para a necessidade de tal constatacao ser vista com prudencia, considerando o numero de blogs que apresentam a sua identidade completa no perfil de identificacao. Conduto, julgamos pertinente mostrar a tendencia face aos dados apurados.

    Aguardo comentarios!
    Obrigado.
    Teles Huo.

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  9. jpt

    Obrigado pelo comentario.
    Em relacao a referencia da ausencia de blogs de especialidade, no ambito do trabalho e na perspectiva da caracterizacao, pretendemos mostra-lo e nao critica-lo, se bem que a sua ausencia e realmente lamentavel...

    Teles Huo.

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  10. Entao, posso divulgar o seu trabalho no meu blog?
    Ainda aguardo pela resposta.

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  11. Egídio: pode perfeitamente divulgar o trabalho do Teles, já ontem aqui deixei uma referência a isso.

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  12. Já l+a está.
    Abraços

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  13. So hoje li o texto, achei informativo. Nem vale a pena comentar porque estou anos luz atrazada, mas gostei imenso dos comentarios de La strega.

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