Outros elos pessoais

02 novembro 2006

Os grandes pensadores corta-mato

Estou completamente consciente de que percorrer as estradas em seu sentido pleno, total, táctil, é uma aventura muitas vezes cansativa. Por isso compreendo todos aqueles grandes pensadores que sabem encontrar vias mais rápidas para chegar às grandes verdades, os pensadores corta-mato, como um tal Ducarla, autor de um livro com o título "O fogo completo" e que, tal como o Sr. Jourdain escrevia prosa sem o saber, descobriu que sabia tudo do fogo sem necessidade de o estudar: "As moléculas ígneas... aquecem porque são; são...porque foram...esta acção só deixa de verificar-se por falta de sujeito."
Quantos Ducarla não há por aqui?

3 comentários:

  1. Linchamentos e acadêmicos: o império da doxa!

    Não confudai o detentor de crêndecial de sociologo, com o Sociologo!
    Não confudai o detentor de certificado de antropologo, com o Antropologo.
    Não confudai o detentor de diploma de Filosofia, com o Filósofo.
    As nossas universidades, infelizmente, multiplicam os primeiros e exterminam as possibilidades de existência dos segundos. E isso ocorre independetemente da origem social destes.
    O problema, então, não esta em estes oferecerem respostas tipo “corta-mato”. O problema é estes não saberem fazer outra coisa se não oferecer respostas do tipo “corta-mato”. E nisso a responsabilidade não é de todo daqueles.

    Com o crêdo que alimentamos de que a credêncial representa efectivamente conhecimento, projectamos nossas expectivas sobre os credênciados convencidos que estes adoptaram, durante os anos de socialização académica, a postura que os levaria além da legitimação da doxa. De preferência fazendo-se legitimar pelo título do que pelo mérito do argumento. Repareis e analisais os debates televisivos que ocorrem no país. Lides os nossos jornais. Ireis encontrar um espaço fertil para doxosociologos, doxohistoriadores, doxofilosofos e por aí em diante.

    Recordais, a doxa não pensa. A doxa é senso-comunista.
    O pior é quando esta se faz passar por conhecimento, envoltro em conceitos comuns no discurso acedêmico. A doxa aí faz-se passar por senso comum erudito. O tão caro “Combate pela Mentalidade Sociológica”, deve alarga-se a abertura de outras frêntes de combate. O combate pela mentalidade histórica, filosófica, antrolplogica etc. O dificil combate em todas as frentes só cessa quando tivermos no país massa crítica capaz de distinguir doxa, senso comum, mesmo quando eruditizado, de conhecimento. Quando formos capazes de incutir o principio epistémologico fundamental: Duvidai, Indagai e investigai!

    As nossas universidades ainda estão na idade das trevas a esse respeito.
    Nós temos um sistema de ensino superior que só permite multiplicar credências. Talvez seja altura de fazermos uma avalição séria do que andamos a reproduzir nas nossas universidades.
    Opinião todo mundo pode ter, e não é mal nenhum não ter uma. Perguntemo-nos se é de universidades formadoras de doutores em doxologia que preciamos no país. Hoje já vamos com 23.

    PL

    ResponderEliminar
  2. “O cancro dos cancros”

    Um professor meu volta e meia fazia referencia aos “Tueurs des Chercheurs”. Na época esta expressão fazia-me sorrir... Verdade seja dita, era o meu lado naïf que se materializava no meu sorriso. Guardei os dentes qdo li a seguinte frase de H. Mendras:

    “Certes le diplôme est nécessaire pour le recrutement, mais finalement le choix se fait à travers un réseaux de rapports personnels et d’influences ; il faut être bien avec Monsieur X pour se faire embaucher dans tel service »,

    Assim, dei por mim cogitando: apesar de mto boa vontade, mta persistencia, existem “sujeitos capazes” que nunca poderao ser sociologos, arquitetos, antropologos, engenheiros ...

    Tendo em mente que o papel das ciencias sociais é de contribuir para uma cada vez melhor formulação dos pensamentos, das ideias... Continuei refletindo sobre a frase supracitada. Deparando-me assim com aquilo a que eu chamo “o cancro dos cancros”.

    O cancro é uma doença caracterizada por uma proliferaçao de celulas anormais...
    Felizmente nos nossos dias mtos tipos de cancros já têm cura. Mas, o que ainda nao tem cura é o “nosso olhar” face às pessoas portadoras de tais doenças. E quando digo “nosso olhar” refiro-me à sociedade feita em valores e normas. Assim, “o cancro dos cancros” resulta numa proliferaçao de ideias preconcebidas, em torno de pessoas malfadadas por tal doença. Ideias essas que por vezes podem ter um efeito opressor e desestruturador. Noutros termos, “o cancro dos cancros” é a implicaçao social de tal doença. Exemplo, discurso de alguns profs.(com todo respeito pelos Profesores que nao têm comportamentos semelhantes) para um doutorando em sociologia a quem embora tenha sido diagnosticado um cancro, insistia em terminar sua tese:
    1) “pode ser cruel o que eu vou dizer-te, eu tbem acho, mas nao se pode trabalhar com uma pessoa que tem sempre desculpas para nao cumprir os prazos... se nao tens capacidades vai fazer outra coisa”; 2)“Você trabalhava mto bem, ja produziu mtos artigos mas agora nao...nao podemos continuar a trabalhar consigo.” 3) “sejamos pragmaticos, nao importa o que ja fêz, foi um dos meus alunos mais promissores mas, a verdade é que ha cerca de dois anos nada faz absolutamente nada”.

    Recordo que para certos cancros , os dois primeiros anos sao fatais, um outro periodo critico sao os 5 anos. Minha pergunta é o que impediria ao estudante em questao de continuar a trabalhar(nesses tres anos) no sentido de (pelo menos) poder obter a sua credencial? Acresce ao facto que tempos depois aquilo que seria sua tese foi publicado por terceiros.

    ... nao pretendo alargar-me nos comentarios, mas apenas queria reforçar a ideia que, de facto nao sao as credenciais ou os diplomas que fazem as profissoes. Ser sociologo, engenheiro, antropologo, ou la o que seja é tambem uma questao de “encontros”. Encontros que nos possam ajudar a caminhar por “estradas em seu sentido pleno”. Estradas essas, por vezes, cansativas e artilhadas de contrariedades...

    A minha intervençao nao é no sentido de julgar os “pensadores corta-mato”, mas de chamar a atençao para outros factores impulsionadores do espaço para a acçao dos “pensadores corta-mato” ou “investigadores corta-mato”

    Iolanda Aguiar

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.