Outros elos pessoais

01 novembro 2006

Bom dia, obrigado

-Bom dia, Sr. Samussone
-Bom dia, obrigado
-Como está?
-Estou bem, obrigado, não sei do seu lado.
-Também estou bem, obrigado

Oiçam: quanto mais subimos na escala social aqui, mais aquele generoso obrigado por termos cumprimentado desaparece.

2 comentários:

  1. Hmmmm...

    Ha uns anos atras a minha irma exaltou-se com o guarda da casa por ter feito algo que a desagradou. No fim de toda a gritaria adolescente o guarda simplesmente respondeu: obrigado.

    Menina bonita da Sommershield, ela olhou para mim e disse: ainda por cima agradece.

    Eu sou mais velha 6 anos e tive oportunidade de conhecer melhor a terra dos avos antes da guerra comecar. As minhas referencias nao sao so a cidade e o cimento. Conheco as galinhas, as capoeiras, os almocos de fim de semana da familia alargada, os primos, os tios, as linguas, as falas e as gentes. E mesmo assim sou apanhada de surpresa... Nunca me tinha apercebido da expressao... e perguntei-me tambem eu porque teria ele agradecido? Realmente nao tinha nada que agradecer.

    E a unica resposta que encontrei foi que o tinha feito para agradecer o facto de ela chamar a atencao e que isso significava que nao repetiria o acto.

    Nao foi ate ouvir (prestar a atencao) num outro contexto que me surgiu uma outra hipotese. Dessa vez ouvi alguem agradecer um cumprimento, bem ao genero do que se refere o Professor. E pensei, na etimologia da palavra (como seria o dialogo na lingua primeira do autor). E na lingua banto o cumprimento agradece-se, tudo se agradece. Na lingua portuguesa nao.

    Por isso penso que talvez e uma questao de distancia linguistica e nao de distancia social... acontece e que a distancia social e acompanhada pela distancia linguistica.

    Basi (em Tete aprendi que pode querer dizer 'prontos' ficamos por aqui, mas tambem e obrigado pela conversa, assim ja vou)

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  2. Tenho para mim que o obrigado reenvia para um convite terno de companheirismo permanente, para um testemunho de profundo respeito por outrém. Até eu agora digo obrigado quando me cumprimentam. E sinto-me bem dizendo-o. As línguas são um termómetro fiel do social e guardam uma memória bela a esse respeito. Por exemplo, obrigado em shinhunguè (longe de mim agora discutir a grafia) diz-se "ndatenda" no singular, mas "tatenda" no plural, em colectivo. Subtilezas belas. Por outro lado, "basi" significa de facto basta. Finalmente, a Fátima pediu-me que eu corrigisse o seu "á" do "até à próxima" colocando o acento grave.

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