Outros elos pessoais

29 novembro 2006

Sociologia da dominação (4)

"Quando falares fala falando sem falares para que te percebam. Quanto à consciência do teu falar, isso fica comigo" (salmo 11 do Livro da Maka Política, 3216 da nossa era)

Obedecer à ordem de uma autoridade, mesmo se perigosa e com efeitos potencialmente lesivos e, até, letais, é sempre um fenómeno fascinante. Fascinante e doloroso.
Entre 1950 e 1963 o psicosociólogo Stanley Milgram fez 18 experiências, laboratorialmente controladas, com o objectivo de estudar obediência e a desobediência à autoridade.
O cenário foi montado na Universidade de Yale, Estados Unidos, com um falso estimulador de choques eléctricos e um painel graduado para "choques" entre 15 e 450 volts.
Foram recrutados voluntários entre trabalhadores manuais, professores de liceu, vendedores, engenheiros, etc., a quem foi atribuído o papel de “professores” e a quem foi dito que se tratava de experiências puramente científicas com o objectivo de se estudar os efeitos da punição na memória e na aprendizagem.
Em que consistiu a experiência-tipo?
No seguinte (tendo em conta a experiência descrita na obra referenciada mais abaixo): os "professores" foram convidados por um cientista a aplicar "choques eléctricos" de intensidade crescente, de acordo com a escala acima referida, num outro indivíduo (amarrado a uma cadeira com eléctrodos, em sala adjacente), designado por "estudante"(um voluntário cujo papel de simulador os "professores" ignoravam), choques que deveriam ser administrados sempre que o "estudante" errava uma resposta a um questionário previamente determinado e aceite. O "estudante" exibia desconforto e dor a cada aumento da potência dos “choques eléctricos” infligidos.
O resultado da experiência foi surpreendente : sem hesitação, 65% dos "professores" chegaram a administrar ao "estudante", sob ordens do cientista (representando a “autoridade” na experiência), os "choques" mais potentes, dolorosos (de 450 volts), claramente perigosos e mesmo mortais.
E todos os "professores" administraram pelo menos 300 volts.
Em muitos casos, "professores" houve que se preocuparam com o bem-estar do "estudante" e chegaram a perguntar ao cientista quem se responsabilizaria pelos danos que pudessem ocorrer. Quando o cientista os tranquilizou, assegurando-lhes que assumiria a responsabilidade desses danos e encorajando-os a prosseguir, todos os "professores" persistiram na aplicação dos choques com as voltagens mais elevadas, mesmo se confrontados com os gritos de dor e as súplicas do “estudante” para que os suspendessem.
Esse tipo de experiência foi realizado em outros países, com o mesmo tipo de resultados.
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Milgram, Stanley, Soumission à l´autorité, un point de vue expérimental. Paris: Calmann-Lévy, 1974.

1 comentário:

  1. Olá, Carlos, escrevi alguns textos sobre Experimentos em Psicologia, semelhantes ao de Stanley Milgram. O primeiro deles, apresentando o tema, está em http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/06/experimentos-em-psicologia-introducao.html

    Espero que goste! Saudações do Brasil! Um abraço, Rodolfo.

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