Outros elos pessoais

31 agosto 2014

A batalha dos cartazes

As cidades estão, já, cheias de cartazes de propaganda eleitoral. Na vistosa tradição da propaganda eleitoral do país, o cartaz, o panfleto, a camisete, a sagrada efígie do candidato, o calendário com o símbolo do partido, por vezes o porta-chaves, a viatura (com o clímax ostentatório no 4x4) e o espectáculo musical são componentes obrigatórias ou quase obrigatórias do alfobre de persuasão dos candidatos, em particular dos mais abastados. Frequentemente os partidos não começam a campanha eleitoral se não estiverem munidos de cartazes. Esses apetrechos são considerados artigos sagrados, mágicos, na caixa de ferramentas dos ilusionistas políticos. Sem eles é suposto que a campanha eleitoral é má ou vai ser má. A guerra dos cartazes e dos panfletos é significativa: rasgar os do adversário constitui uma maneira guerrilheira de, por extensão, o eliminar simbolicamente. A ideia substantiva é a de que ganha as eleições quem mais abastado for na mencionada caixa de ferramentas. (Lembrar aqui).
Adenda às 09:33: Nem os sinais de trânsito escapam - fotos de António Zefanias do "Diário da Zambézia" tiradas hoje na cidade de Quelimane, com montagem minha para este diário.
Adenda 2 às 11:46: segundo o António Zefanias, respondendo por sms a uma pergunta minha, ainda não foram encontrados na cidade de Quelimane cartazes da Renamo em sinais de trânsito.

Dois engenheiros nas presidenciais

O candidato presidencial da Frelimo, Filipe Nyusi (foto à esquerda), é mestre em engenharia mecânica por uma universidade da antiga Checoslováquia; o candidato presidencial do MDM, Daviz Simango (foto à direita), é licenciado em engenharia civil pela Universidade Eduardo Mondlane. Dois engenheiros entre três candidatos presidenciais.

O eventual trunfo de Dhlakama

Se Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, participar na campanha eleitoral que hoje se inicia no país, prevejo que faça uso abundante de uma imagem de propaganda de efeito sinestésico, a de ser um esforçado cavaleiro andante que deixou o conforto de Maputo para viver no mato, lutando, de armas na mão, pelos pobres, pelos fracos, pelos direitos humanos, pela democracia e pela melhoria de vida dos Moçambicanos. Enfim, versão moçambicana do Robin Hood fadado a acabar com a caixa de Pandora.
Adenda às 15:47: sobre Dhlakama, confira este trabalho do "Diário da Zambézia"/Facebook aqui.
Adenda 2 às 18:43: permanece esta pergunta "Por quê um acordo antes dos resultados eleitorais?"

Início da quinta campanha eleitoral hoje

Bom dia a todas e todos, o meu desejo de um óptimo domingo habitado pela saúde, num dia histórico para Moçambique hoje, o dia do início da campanha eleitoral das quintas eleições gerais e presidenciais do país marcadas para Outubro. Anos das eleições anteriores: 1994, 1999, 2004 e 2009.
Adenda às 09:51: recorde este meu trabalho intitulado Três partidos, três padrões de propaganda, aqui.

Eleições 2014 e balística política: representações sobre adversários (2)

Segundo número da série. Escrevi no número anterior que em certa imprensa o MDM em geral e Daviz Simango em particular têm sido nas últimas semanas politicamente construídos de uma certa maneira. Melhor dito: a construção foi reactivada, tornada sistemática, intensa, face ao período eleitoral. Como e por quê? - eis a pergunta que formulei. Vamos lá, então. O MDM e Daviz Simango, seu presidente, têm sido politicamente construídos com recurso a cinco ingredientes: regionalismo, etnicismo, nepotismo, monarquismo e estrangeirismo. Por outras palavras: em sua actividade política o MDM e Daviz Simango só pensam na Beira e, por extensão, na província de Sofala; MDM e Simango têm como única preocupação favorecer os membros da etnia Ndau; partido e presidente apenas estão interessados em fazer do país uma coutada exclusiva de amigos e parentes; o MDM mais não é do que uma monarquia montada por Simango e seus supostos acólitos, herdeira da intolerância da Renamo, de onde é oriunda; o MDM e Simango são extensões de antigos poderes coloniais e dos seus interesses estratégicos. Quanto mais politicamente importantes se tornam MDM e Simango, mais recurso político de combate se faz aos cinco ingredientes, mais potente é a balística política. Cartune reproduzido com a devida vénia daqui.

Lá no Niassa

Amplie as imagens clicando sobre elas com o lado esquerdo do rato. Em língua yaawokucela significa amanhecer. Sobre a província do Niassa, aqui.

30 agosto 2014

Movimentação partidária em Quelimane

A Frelimo antecipou a campanha eleitoral realizando hoje uma cerimónia tradicional designada mucuthu; a Renamo tem estado à espera do seu secretário-geral, que ainda não chegou via avião; o MDM andou concertando a estratégia, abrindo amanhã a campanha no campo do  Chirangano (jornalista António Zefanias do "Diário da Zambézia", respondendo a uma pergunta minha por sms).

Dhlakama amanhã na Beira?

Um porta-voz da Renamo afirmou à Rádio Moçambique que Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, abrirá amanhã a campanha eleitoral do seu partido na cidade da Beira às 13 horas, estando para o efeito a ser criadas condições de segurança ("Rádio Moçambique", noticiário das 18 horas).
Adenda às 18:07: se isso for verdade, impugnará a notícia dada pela "Folha de Maputo", citando António Muchanga, aqui.
Adenda 2 às 18:32: se for verdadeira a notícia veiculada pela "Rádio Moçambique", os alvos políticos directos de Dhlakama serão Daviz Simango e o MDM.

Golpe de Estado no Lesotho?

O primeiro-ministro do Lesotho - pequeno país dentro da África do Sul - afirmou ter sido deposto pelo exército. Aqui, aqui e aqui.

Kucela do "Faísca" lá no Niassa

Em língua yaawokucela significa amanhecer. Sobre a província do Niassa, aqui.

Eleições 2014 e balística política: representações sobre adversários (1)

A imprensa tem sido palco de uma já intensa balística política, em combates de reportagens, de crónicas e de cartas de leitores que irão previsivelmente ampliar-se com o início amanhã da campanha eleitoral para as legislativas e presidenciais. A construção política dos adversários é um momento maior do confronto interpartidário e intercorrentes da imprensa. Por exemplo, em certa imprensa o MDM em geral e Daviz Simango em particular têm sido nas últimas semanas politicamente construídos de uma certa maneira. Como e por quê? Eis o pretexto para começar esta série e alimentá-la ao longo do período de campanha, mostrando e analisando a produção de representações sobre os adversários políticos. Cartune reproduzido com a devida vénia daqui.

Acordo, Estado e paz no Moçambique pré-Outubro (16)

*O que significam acordo, Estado e paz no Moçambique pré-Outubro, quer dizer, antes das eleições gerais marcadas para esse mês?
*Em 1919, numa conferência, o sociólogo alemão Max Weber disse o seguinte: "O Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território".
*"Os nossos homens têm armas em todo o país", disse Rahil Khan, acrescentando que o Acordo Geral de Paz (AGP), assinado pela Renamo e o Governo em 1992, permite aos antigos guerrilheiros manterem o armamento.
Décimo sexto número da série. Eis a décima quarta nota sobre o futuro Acordo de Maputo, que deverá ser assinado muito brevemente pelo presidente da República, Armando Guebuza, e pelo presidente da Renamo, Afonso DhlakamaDeixei no número anterior as seguintes perguntas: como entender esta dupla e dramática face política de Jano antes das eleições gerais de Outubro? Qual o real significado de um bi-acordo político pré-eleitoral? O primeiro ponto a ter em conta foi a reactivação da guerra, desta feita de baixa intensidade. Esta guerra - com o risco de ampliar-se - punha em causa os processos normais de acumulação de Capital - local e internacional - e a vida dos cidadãos, especialmente das zonas rurais.

Construção identitária no Facebook (facebooko, logo existo) (16)

Décimo sexto número da série. Passo ao último ponto do sumário proposto aqui7. Conclusões. Apresentados os cinco padrões de construção identitária, torna-se agora indispensável apresentar algumas conclusões. Que grandes conclusões podem ser apresentadas? Por hipótese, são três. Veremos quais proximamente.

29 agosto 2014

Dhlakama: o telecandidato presidencial

Segundo a "Folha de Maputo", o porta-voz da Renamo, António Muchanga, afirmou hoje que o presidente do seu partido, Afonso Dhlakama, não participará fisicamente na campanha eleitoral, fá-la-á por teleconferência. Por quê? Porque - disse Muchanga - "a Assembleia da República do acordo de cessação de hostilidades entre o Governo e aquele partido, rubricado semana passada em Maputo." Aqui.
Observação: resta agora saber se semelhante opção é legal.
Adenda às 16:51: um despacho da "Agência de Informação de Moçambique", citado pelo "Sapo.mz/Notícias", anunciou hoje que Dhlakama poderia sair do seu esconderijo no domingo. Aqui.
Adenda 2 às 19:32: nenhuma manchete da "Rádio Moçambique" sobre a notícia da "Folha de Maputo".
Adenda 3 às 19:41: entretanto, confira este trabalho aqui.

Prismas

Segundo a "Lusa" citada pelo "Sapo.mz/Notícias", aqui
*"A Frelimo rejeitou ontem a criação de uma comissão de verdade para reconciliar o país, defendendo que "o espírito da Lei de Amnistia já promove a concórdia entre os moçambicanos";
*"O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, defendeu, na quarta-feira em entrevista à Lusa, a criação de uma comissão da verdade, à semelhança do que sucedeu na África do Sul após o fim do "apartheid", para investigar as mortes de civis nas confrontações recentes com o Governo."
Adenda às 12:21: pode acontecer que amnistia e comissão da verdade sejam temas de campanha eleitoral.

Luta pela hegemonia política

Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato.

"À hora do fecho" no "Savana"


Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1077, de 29/08/2014, disponível na íntegra aqui:
Notas: de vez em quando um leitor queixa-se de não conseguir baixar o semanário "Savana" neste diário. Só tem de executar os seguintes três passos: clicar no "Disponível na íntegra aqui" da postagem, a seguir no "Baixar" do programa 4Shared e, a terminar, no "Baixar grátis" também do programa. Por outro lado, de vez em quando também me perguntam por que razão o ficheiro está protegido com senha e marca de água. Resposta: para evitar que os ávidos parasitas do copy/paste/mexerica o copiem, colocando-o depois no seu blogue ou na sua página de rede social digital com uma indicação malandra do género "Fonte: Savana". Mas, claro, um ou outro é persistente e consegue transcrever para o word certos textos, colocando-os depois no blogue ou na rede social, mas sem mostrar o verdadeiro elo. Mediocridade, artimanha e alma de plagiador são infinitas.

Propensão

Não seria certamente descabido encontrar nas pessoas, sobretudo quando empobrecidas, uma especial propensão a compensar ou a sobrecompensar a inferioridade social com a aceitação da ordem dos fortes e/ou com a busca reverencial de um salvador.

28 agosto 2014

Erro que pode ser fatal

Hoje, em qualquer parte do mundo, descurar o cibermilitantismo e a ciberpropaganda política é um erro que pode ser fatal a qualquer partido político, mesmo nos países com pequena cobertura de internet como o nosso. A história está bem mais à frente do que pensamos e as cidades são como ondas cibernéticas ininterruptas que se estendem para o campo e o contagiam colando-se à rádio-boca e à rádio-savana.

Impugnação da legalidade

Segundo uma fonte, "O presidente da Renamo, principal partido da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama, acusou ontem o exército moçambicano de se ter aproximado de uma base do movimento no sul do país, considerando a alegada movimentação "uma provocação". Aqui.
Observação: sendo verdadeiras as afirmações de Dhlakama, elas revelam uma clara impugnação da legalidade do exército governamental, exército que pode e deve estar onde for necessário.
Adenda às 07:16: entretanto, preste atenção aos últimos quatro parágrafos - plenos de vaidade - do que ele terá dito em entrevista à Lusa, aqui.

Sobre a proposta do MDM

Segundo "O País" digital, o chefe da bancada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, instou o governo a compensar as vítimas de "cerca de dois anos da tensão político-militar que "terminou" na noite de domingo, com a declaração de cessar-fogo". E acrescentou ser imperativo nacional a tensão terminar: "Já basta de mortes programadas politicamente". Aqui.
Observação: sem dúvida que através do Eng.º Simango o MDM exprimiu um desejo importante. Todavia, falta saber por que razão os autores das mortes e dos estragos (mentais, afectivos e físicos) provocados ficarão impunes. Certamente não era tema politicamente programado para colocar na Assembleia da República, a magna Casa do Povo como se diz.

Acordo, Estado e paz no Moçambique pré-Outubro (15)

*O que significam acordo, Estado e paz no Moçambique pré-Outubro, quer dizer, antes das eleições gerais marcadas para esse mês?
*Em 1919, numa conferência, o sociólogo alemão Max Weber disse o seguinte: "O Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território".
*"Os nossos homens têm armas em todo o país", disse Rahil Khan, acrescentando que o Acordo Geral de Paz (AGP), assinado pela Renamo e o Governo em 1992, permite aos antigos guerrilheiros manterem o armamento.
Décimo quinto número da série. Eis a décima terceira nota sobre o futuro Acordo de Maputo, que deverá ser assinado muito brevemente pelo presidente da República, Armando Guebuza, e pelo presidente da Renamo, Afonso DhlakamaDeixei no número anterior as seguintes perguntas: como entender esta dupla e dramática face política de Jano antes das eleições gerais de Outubro? Qual o real significado de um bi-acordo político pré-eleitoral? Por hipótese, as respostas deverão começar na redistribuição de recursos de vida, poder e prestígio e terminar na enigmática frase do Prof. Filipe Couto em entrevista recente ao semanário "domingo", a saber:

Capital intelectual

De um texto de Aparecida dos Santos com o título em epígrafe: "Surgida no contexto da reestruturação produtiva e do neoliberalismo, a Teoria do Capital Intelectual caracteriza-se pela afirmação de que o conhecimento é o principal fator de produção da era contemporânea." Aqui.

27 agosto 2014

Nova batalha das ambulâncias políticas em Moçambique

("Diário da Zambézia" digital de hoje. Amplie as imagens em epígrafe clicando sobre elas com o lado esquerdo do rato). Em 2008 publiquei neste espaço um texto em três números com o título "A guerra dos dons e dos créditos: CMB oferece ambulância e balneários", aqui, aqui e aquiO fenómeno então ocorrido na Beira pode ter uma morfologia diferente, mas o conteúdo é o mesmo: a ambulância é um bem eleitoral, um bem político, estamos verdadeiramente perante uma luta de trincheiras políticas entre o poder municipal e o poder estatal, entre o local e o global (a esse propósito e igualmente para 2008 neste diário, sugiro a leitura de um trabalho intitulado "A competição política dos dons", aqui).
Permitam-me recordar-vos o que, no terceiro e último número da série da guerra dos dons dons e dos créditos, escrevi, a saber: "O que se passa na Beira [poder-se-ia perfeitamente substituir Beira por Quelimane, CS] mostra claramente que uma democracia é tão mais viva quanto mais poderes estiverem em competição permitindo aos cidadãos quer a escolha dos produtos de utilidade social mais legítimos, quer a aferição dos que lhe são dados como oferta política prepositada e sem sua consulta. Um gestor político é tão mais legítimo quanto mais souber provar que o produto que oferece é, efectivamente, pretendido pelos governados e/ou por eles qualificado como bom, como eficaz. Mas mais fundamente ainda: quando uma luta política se faz sem apelo a líderes salvacionistas imediatos, a líderes carismáticos julgados portadores de curas milagreiras instantâneas, esse democracia é boa. Significa que os cidadãos sabem encontrar embaixo, entre várias possibilidades, soluções que os messias dizem estar em cima, apenas a cargo deles. E na Beira [uma vez mais poder-se-ia perfeitamente substituir Beira por Quelimane, CStemos inegavelmente um caso notável: o de um poder estatal com décadas de gestão política exclusiva confrontado com um poder municipal pequeno mas prestigiado: este ensina aquele a democratizar-se, aquele ensina este a pré-estatizar-se. Aplicar a força na competição política com o poder municipal minoritário no mar estatal, não só o robustecerá quanto legitimirá ainda mais os produtos que ele oferece aos cidadãos." Aqui.

26 agosto 2014

Prismas

Segundo o porta-voz da Frelimo, Damião José, citado pela "Folha de Maputo", o grande vencedor no processo foi o povo, "que sempre repudiou o recurso às armas como meio de resolver as diferenças." Aqui.
Segundo o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, citado pelo "Canal de Moçambique", "Não quero ofender a Frelimo, que perdeu esta luta, mas quero dizer que ganhámos, o povo ganhou, a democracia ganhou, todos fizemos esta revolução, e as assimetrias vão acabar." Aqui.

Tem 99 anos e ajuda África

No queminova de São Paulo: "Lillian Weber, uma simpática norte-americana de 99 anos, que mora no Estado americano de Iowa, é uma costureira de mão cheia. Há três anos, ela conheceu um projeto que auxilia crianças carentes na África e em outros países e resolveu ajudá-las de uma forma inusitada: confecciona um vestido por dia." Aqui e aqui. (encontrei a referência aqui)

Acordo, Estado e paz no Moçambique pré-Outubro (14)

*O que significam acordo, Estado e paz no Moçambique pré-Outubro, quer dizer, antes das eleições gerais marcadas para esse mês?
*Em 1919, numa conferência, o sociólogo alemão Max Weber disse o seguinte: "O Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território".
*"Os nossos homens têm armas em todo o país", disse Rahil Khan, acrescentando que o Acordo Geral de Paz (AGP), assinado pela Renamo e o Governo em 1992, permite aos antigos guerrilheiros manterem o armamento.
Décimo quarto número da série. Eis a décima segunda nota sobre o futuro Acordo de Maputo, que deverá ser assinado muito brevemente pelo presidente da República, Armando Guebuza, e pelo presidente da Renamo, Afonso Dhlakama. Deixei no número anterior a seguinte pergunta: os efeitos da guerra de pequena intensidade iniciada em 2013 podem ser ignorados? A resposta é esta: não. Absolutamente não. Esta é a segunda face de Jano. Se forem interrogados todos aqueles que perderam parentes e bens facilmente se saberá que a resposta só pode ser não. E se formos acordar a terrível memória da guerra de grande intensidade de 1976/1992, então o aguilhão da dor aumenta de forma considerável, retroactiva, pungente. E de forma tão mais considerável quanto pode surgir e consolidar-se a ideia de que a morte, a tortura e a destruição sempre serão bem sucedidos no país, porque, afinal, os seus autores sempre serão politicamente amnistiados, quer dizer - recorrendo ao significado original em grego - que autores e crimes sempre serão esquecidos, que a impunidade politicamente situada sempre será uma regra. Mas avancemos com esta pergunta: como entender esta dupla e dramática face política de Jano antes das eleições gerais de Outubro? Qual o real significado de um bi-acordo político pré-eleitoral? 
Adenda às 05:15: confira aqui.
Adenda 2 às 05:49: "Para trás ficaram dois anos de extrema tensão militar de que resultou um número desconhecido de mortes e feridos, entre militares e civis, para além de diversas infra-estruturas sociais que ficaram destruídas." Aqui.

25 agosto 2014

Prismas

A propósito do cessar-fogo, extractos de declarações:
Chefe da delegação da Renamo, Saimone Macuiana: "Sem querer dizer que a guerra é uma coisa boa, queremos dizer que tudo foi para que os moçambicanos recuperassem a sua dignidade".
Chefe da delegação governamental, José Pacheco: "[...] os confrontos de natureza militar opondo as forças do partido Renamo e do Estado levaram à perda de vidas humanas ou deficiências físicas permanentes, a destruição de infra-estruturas."
Fonte aqui.

Cólera e ébola: o mesmo tipo de pânico e de imputação causal

Cólera na Inglaterra e na França (1832)
Em 1832 a cólera disseminou-se rapidamente na Inglaterra, chegada de barco através de pessoas infectadas com o vibrião. As mortes sucederam-se entre as pessoas pobres, o povo foi tomando de pânico. Tomado de pânico com tanta morte, acusou vários médicos do assassinato deliberado dos doentes "para pôr em prática técnicas de dissecação de cadáver e aprimorar seus conhecimentos em anatomia". Em Paris, no mesmo ano, o mesmo tipo de pânico, os mais pobres são os mais afectados pela doença. Cerca de 120 mil pessoas abandonaram a cidade. Extracto de uma obra: "O desespero dos pobres se mobilizou contra as classes sociais altas, logo suspeitas de ter envenenado o sistema de abastecimento de água dos trabalhadores. Assim, iniciou-se em Junho daquele ano uma série de rebeliões nas ruas de Paris contra as classes altas. A França perdeu cem mil habitantes na epidemia". Neste diário aqui.
Cólera em Moçambique (2002/2011)
Em províncias nortenhas, é costume popular atribuir a responsabilidade pela introdução da cólera a funcionários governamentais (designadamente da Saúde), extensionistas rurais, régulos, proprietários, etc. Água, pó, comprimidos, o escape das motas e dos carros, tudo isso é suposto conter cólera. Esta não é encarada como uma doença natural provocada pela falta de asseio, mas como uma doença objectiva e socialmente criada para matar gente local.  Acredita-se que os poderosos querem acabar com os pobres. Comunidades entram em convulsão, surgem ataques contra pessoas e bens, a polícia intervém, morre gente, o caos instala-se. Neste diário aqui.
Cólera no Haiti (2011)
Flagelado por um terramoto horrível, pela miséria e pela fome, o Haiti viu-se a braços com a cólera, que estava erradicada havia mais de um século. Primeiro foram os protestos populares contra os soldados nepaleses da ONU, acusados de a introduzirem; depois surgiram os linchamentos a eito, visando especialmente  os sacerdotes vodu, acusados, eles também, via bruxaria, de introduzirem a doença. Neste diário aqui.
Ébola na África Ocidental (2014)
"Grupos de ajuda humanitária como o Médicos sem Fronteiras (MSF) e a Cruz Vermelha estão enfrentando cada vez mais resistência em seus trabalhos nas aldeias e povoados rurais da região: muitas comunidades estão fazendo barricadas e reagindo com hostilidade à presença dos agentes de saúde, considerando-os os culpados pela epidemia. [“Não queremos nenhum contato com ninguém, todos os lugares que aquelas pessoas passaram foram atingidos pela doença”, disse ao NY Times Faya Iroundouno, presidente da liga da juventude que impediu a entrada de uma comitiva do Médicos sem Fronteiras em Kolo Bengou, Guiné." Aqui.

Acordo, Estado e paz no Moçambique pré-Outubro (13)

*O que significam acordo, Estado e paz no Moçambique pré-Outubro, quer dizer, antes das eleições gerais marcadas para esse mês?
*Em 1919, numa conferência, o sociólogo alemão Max Weber disse o seguinte: "O Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território".
*"Os nossos homens têm armas em todo o país", disse Rahil Khan, acrescentando que o Acordo Geral de Paz (AGP), assinado pela Renamo e o Governo em 1992, permite aos antigos guerrilheiros manterem o armamento.
Décimo terceiro número da série. Eis a décima primeira nota sobre o futuro Acordo de Maputo, que deverá ser assinado muito brevemente pelo presidente da República, Armando Guebuza, e pelo presidente da Renamo, Afonso DhlakamaEscrevi, no número anterior, que a amnistia decretada teve e tem um culto iminentemente político. Em que sentido? No sentido de que são dois contendores políticos - um gerindo o Estado, o outro a isso aspirando per si ou em partilha - que, sem recurso a sufrágio popular mas com o aval parlamentar, a definiram e juridizaram em função de um acordo global que visa a redistribuição de recursos de vida, poder e prestígio antes das eleições gerais marcadas para Outubro. Mas os efeitos da guerra de pequena intensidade iniciada em 2013 podem ser ignorados?
Adenda às 04:50: "O Governo e a Renamo assinaram na noite deste domingo (21h30) o acordo político de cessação de hostilidades militares." Aqui.

No "Savana" 1076 de 22/08/2014, p.19

Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do ratoNota: "Fungulamaso" (abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser obtido tal como grafei.
Adenda: também na rubrica Crónicas da minha página na "Academia.edu", aqui.

Faleceu Eduardo Costley-White

Um comunicado familiar em página do Facebook informa que faleceu esta madrugada no Hospital Central de Maputo o escritor moçambicano Eduardo Costley-White, vítima de doença. Paz à sua alma. Obrigado ao jornalista António Zefanias pelo alerta que me enviou.
Adenda às 10:16: Eduardo é o segundo grande poeta zambeziano a falecer, depois de Heliodoro Baptista em 2009, recorde aqui. A Zambézia foi também, quanto a mim, o berço da imprensa escrita em Moçambique, recorde uma série minha em 17 números aqui.

Nova ronda negocial hoje+procuração enviada

Segundo o "Diário da Zambézia" digital, Governo e Renamo reúnem-se hoje em mais uma ronda negocial, enquanto - assevera o jornal, citando uma fonte ontem entrevistada em Quelimane - Afonso Dhlakama já enviou ao seu negociador Saimone Macuiane uma procuração por si assinada. Aqui.

Lançamentos nos dias 10 de 18 de Setembro

Da coleção "Cadernos de Ciências Sociais", o livro com a capa logo abaixo será lançado na Faculdade de Arquitectura da Universidade Eduardo Mondlane, cidade de Maputo, no dia 10 de Setembro, às 17.30.
Também da coleção citada, o livro com a capa logo abaixo será lançado no dia 18 de Setmbro no Complexo Pedagógico da Universidade Eduardo Mondlane, quando do II Congresso Nacional de Psicologia e Psicoterapia, cidade de Maputo, em hora a indicar proximamente.
Manter-vos-ei informados. Amplie as imagens clicando sobre elas com o lado esquerdo do rato.

"Inclusão" apropriada pelo neoliberalismo


Parte introdutória de um texto de Roberto Laher: "Nas duas últimas décadas, uma hegemonia discursiva sobre a educação se afirmou de modo penetrante. A narrativa neoliberal demonstrou extraordinária capacidade adaptativa ao assimilar as palavras-chaves do discurso que se apresentou como a sua crítica, concentrada na idéia de “exclusão e inclusão social” e educação. [Essa hegemonia discursiva incorpora, no sentido neoliberal, formulações, palavras e imagens provenientes das lutas e da produção de conhecimento na universidade e nas entidades acadêmicas. A incorporação dessas expressões ressignificadas confere ao discurso hegemônico uma embalagem “progressista”, dita pós-neoliberal, e amplia a sua eficácia ideológica." Aqui.
Adenda: No nosso caso, a receita fica assim: primeiro disputa-se o jogo de quem vence e perde e, depois, tempera-se o prato obtido com a palavra placebo “inclusão” ou “inclusivo”. Faz-se um comício e diz-se, formalmente, que é um “comício inclusivo”.

Construção democrática, neoliberalismo e participação: os dilemas da confluência perversa

De um texto de Evelina Dagnino: Os limites e dilemas que enfrenta hoje o processo de construção democrática têm sido objecto de um número significativo de análise". Aqui.

23 agosto 2014

Excelente iniciativa

Encontrei esta manhã o cartaz em epígrafe nos sanitários de um restaurante da cidade de Maputo e presumo que esteja espalhado por outros locais. Excelente iniciativa. Perdoem-me a má qualidade da foto, mas usei uma pequena e barata máquina de fotografar.

Situação dos portais de partidos políticos em Moçambique

O portal da Frelimo está actualizado e sem problemas técnicos aqui, o da Renamo está inoperacional há meses aqui e o do MDM tem meses de desactualização aqui.

Cada vez mais muros num "mundo sem fronteiras"

Aqui. Repare no muro entre a África do Sul e Moçambique. Agradeço ao RC o envio da referência.

Prismas

Sobre o estado geral do país no último informe do Presidente da República, ontem acontecido, o balanço antecipado deste jornal digital aqui e o balanço posterior desteoutro, também digital, aqui.

"À hora do fecho" no "Savana"


Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1076, de 22/08/2014, disponível na íntegra aqui:
Notas: de vez em quando um leitor queixa-se de não conseguir baixar o semanário "Savana" neste diário. Só tem de executar os seguintes três passos: clicar no "Disponível na íntegra aqui" da postagem, a seguir no "Baixar" do programa 4Shared e, a terminar, no "Baixar grátis" também do programa. Por outro lado, de vez em quando também me perguntam por que razão o ficheiro está protegido com senha e marca de água. Resposta: para evitar que os ávidos parasitas do copy/paste/mexerica o copiem, colocando-o depois no seu blogue ou na sua página de rede social digital com uma indicação malandra do género "Fonte: Savana". Mas, claro, um ou outro é persistente e consegue transcrever para o word certos textos, colocando-os depois no blogue ou na rede social, mas sem mostrar o verdadeiro elo. Mediocridade, artimanha e alma de plagiador são infinitas.