Afastado Nkomo (à direita na foto), destruída a ZAPU, Mugabe e ZANU-PF ficaram soberanos no terreiro.
As eleições deste ano revelaram, porém, uma coisa: o povo do Zimbabwe deseja que sejam Tsvangirai e MDC a governar, coisa insuportável para Mugabe (à esquerda na foto) e ZANU-PF, que se consideram donos definitivos do país e atribuem à oposição a natureza maligna de um epifenómeno do Ocidente imperialista.
Contudo, o desejo popular de mudança foi tão flagrante, tão evidente era e é a violência política contra a oposição, tão claras foram as ilegalidades cometidas na segunda volta das presidenciais (nas quais Tsvangirai não participou) e tão péssimo é o estado social do país, que surgiu finalmente a ideia de um "governo de unidade nacional", à moda do Quénia. Começou o processo negocial, durou semanas, mas terminou sem qualquer resultado concreto. Et pour cause.
Entretanto, quando já era evidente que as negociações não dariam resultados concretos, veio à luz uma segunda ideia, a de se pôr o parlamento zimbabweano a funcionar, ideia vinda do mediador negocial, Thabo Mbeki, presidente da África do Sul. O parlamento iria resolver o que as negociações não puderam resolver. Como ZANU e Mugabe tudo têm feito para aliciar a ala minoritária do MDC de Mutambara (este últimos são muito gulosos e, por isso, facilmente manobráveis), o quadro ficaria claro: os primeiros receberiam o apoio dos segundos, ficando o MDC de Tsvangirai em desvantagem parlamentar. Estando em desvantagem, o chamado "governo de unidade nacional" receberia do parlamento a chancela para a distribuição de algumas pastas cosméticas pelas duas alas do MDC (colocadas perversamente em situação de igualdade) e de algum papel subalterno para Tsvangirai, continuando na gestão zanuísta as forças de defesa e segurança, as minas, os negócios estrangeiros, o Banco Central e as empresas estatais. Por outras palavras: tudo ficaria como antes, salvo algum retoque na superfície do bolo. O efeito Nkomo estaria, uma vez mais, activo.
O problema é que Tsvangirai e o MDC maioritário não alinham nesse diapasão. Conhecem bem o efeito Nkomo, conhecem bem os efeitos da perseguição e das prisões e por isso não aceitam "partilhas" à luz desse efeito.
E assim estamos neste interim. Nada irá avançar se, entre várias alternativas, os governos regionais e internacionais não pressionarem firmemente ZANU e Mugabe, se o povo do Zimbabwe não tomar partido mais efectivo. Poder não se dá nem se partilha por geração expontânea: conquista-se. O problema político central no Zimbabwe consiste em saber como se pode lutar democraticamente contra uma autocracia bem armada.