Outros elos pessoais

29 agosto 2008

Ciências criminais (4) (os excluídos são descartáveis)

Retomo um ponto deixado no último número.
O que concluiu Maria Ignez Baldez Kato? Concluiu que nenhuma sociedade será melhor se apenas nos limitarmos a defender a igualdade formal dos cidadãos perante a lei. O defensor público deve aprofundar o seu dever constitucional trabalhando no sentido de os excluídos sociais lutarem para, também eles, disporem dos recursos materiais que os tornem efectiva e genuinamente iguais aos outros perante a lei e numa democracia de facto.
E, já agora, permitam-me inserir aqui um extracto do que, na sessão inaugural do seminário do IBCCRIM, afirmou o Doutor Alberto Silva Franco:
"Todos nós sabemos que vivemos tempos difíceis, extremamente difíceis, no Brasil e no mundo. Para onde quer que se volte o olhar, tudo parece estar de pernas para o ar. A renda continua concentrada, numa proporção assustadora, nas mãos de poucos; o fosso, em termos de desigualdade humana, se alarga e se aprofunda mais e mais; os fluxos migratórios, resultantes do aumento da pobreza e da falta de oportunidades, gerados pelo modelo econômico globalizador, transformam-se em tráfico de seres humanos, ou seja, na terceira atividade ilícita mais lucrativa depois do tráfico de drogas e de armas, fazendo lembrar os tempos da escravidão dos séculos XVII e XVIII; muros são construídos e forças armadas são posicionadas nas fronteiras dos países mais ricos, para impedir a invasão dos miseráveis que lutam pela sobrevivência física; as cidades se agigantam num ritmo avassalador e os campos se esvaziam; as favelas espraiam-se sem nenhuma limitação pelas áreas urbanas e invadem todos os espaços possíveis e os habitantes dessas cidades da miséria estão permanentemente privados do trabalho, da possibilidade de estudar, do atendimento à saúde, do acesso à justiça e à segurança, pessoal e coletiva; os excluídos são descartáveis numa sociedade de consumidores porque não são necessários na medida em que são consumidores falhos, incompletos, imperfeitos; os meios de comunicação social, a serviço de grandes grupos econômicos, manipulam a opinião pública e são os grandes produtores da legislação penal emergencial; a corrupção desavergonhada se esparrama pelo espaço público; os valores éticos e morais ingressam num processo de liqüefação; a insensibilidade toma conta de tudo e de todos; a política, com suas alternativas, e o discurso jurídico, com as suas variações, distanciam-se da realidade viva e começam a ser incluídos no rol das atividades secundárias, porque são postos num segundo plano pelo pensamento único que dá validade exclusiva às leis do mercado."
Nota: foto reproduzida daqui.

2 comentários:

  1. Bonitas e realistas explanações dom Sr. Alberto é uma pena que a disigualdade social acontece em todo o mundo excepto em um pais que ainda defende o sistema SOCIOLISTA (Cuba) nao é tempo de parar e pensar????????

    Anselmo

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  2. Os discursos sempre sao bonitos caro anónimo, sempre teremos bons oradores, mas nao acredite muito neles, porque em se aproximando dele (esse discursador), já mil maos te barraram, em tocar a campaínha da sua porta para pedir pao, cem caes te perseguiram. Nao há no mundo vontade colectiva, e muito menos individual de acabar com a desigualdade, alias, a tendencia é de sempre cavar este fosso (que nome) entre os que tem tudo e os que nao tem nada. É engracado. Sabe sr. anonimo, quando ainda ia à escola, às vezes que confessava aos meus colegas (do grupo) que estava com fome, e sabe o senhor qual era a primeira pergunta? Nao? Era esta: Porque deixou de comer? E isto é uma base para estudo. Porque deixou de comer? Aqui parece que eu afastava o prato cheio de comida e corria para a escola. Para os meus colegas nao existia outra razao para uma pessoa dizer que nao jantou ou nao matabichou. A frase "falta de comida" nao conheciam. É assim com os que tem controlo sobre as riquezas do planeta, se apareceres a dizer que estas a pedir comida, admiram, e pensam que aquilo é um bluff para lhe poder roubar ou matar. Por isso sr. anomino, isto é anonino, ou melhor amonimo, quero dizer, ANO-NI-MO, isto mesmo, nao te iludas com os varios cantaclaros que estao cheios por aqui no mundo: so papo e nenhuma accao. Watch your Back! Warrethwa!

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