Outros elos pessoais

31 maio 2007

Escravos moçambicanos no Brasil: marca genética mas pouca herança cultural

"Com a proibição do tráfico negreiro ao norte da linha do Equador, em 1815, a importância de Moçambique, no sudeste da África, como fonte de escravos aumentou e deixou uma marca genética expressiva nos descendentes de escravos do Brasil (...). Apesar da marca genética importante, segundo o historiador Manolo Florentino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a influência cultural dos moçambicanos na cultura brasileira foi muito mais sutil do que a de escravos de regiões mais ao norte do continente africano, que chegaram antes ao Brasil."
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Agradeço à Yla por me ter chamado a atenção para essa notícia.

População mundial é agora maioritariamente urbana

A população mundial é maioritariamente urbana (3,303,992,215 urbanos contra 3,303,866,404 rurais) desde 23 de Maio. A mais alta taxa de crescimento urbano regista-se nos países mais pobres localixados na Ásia e em África. Um bilião de urbanos, cerca de 1/6 da população mundial, vive em condições precárias. Cerca de 1.6 milhões de urbanos morre anualmente por carência de água potável e de saneamento.

Querem destruir o cinema Kudeka na cidade de Tete

Tenho indicações seguras de que querem destruir o cinema Kudeka (=bonito, belo) na cidade de Tete. Uma fundação quer erguer um hotel em seu lugar.
Faço questão de conhecer bem a cidade onde nasci, faço questão de conhecer bem o sabor sem perímetro do melambe, da maçanica, do pende, do cabrito, faço questão de conhecer sem fronteiras o sabor da água do meu Zambeze.
Faço questão de conhecer o cinema Kudeka, lá onde o povo ia e vai ver cinema num écran gigante, ao ar livre, ali próximo do campo de futebol do Desportivo. O maior e único do país, construção de raiz, alberga 773 pessoas.
Faço questão de iniciar aqui uma campanha contra a destruição. E a farei chegar a muitos sítios.
Prepare-se, edil César de Carvalho, para uma carta que aqui lhe escreverei nas próximas horas.

30 maio 2007

É a música de José Mucavele mais moçambicana do que a de Mc Roger?


Parece ser um intricado problema, esse. Mas aguardem o Identidade moçambicana - o problema de Olívia (3).

Identidade moçambicana - o problema de Olívia (2) (continua)

"Hoje, vivo nesta múltipla realidade, em que um pouco de cada coisa do mundo disputa lugar nas minhas preferências, incluindo as deste país."
Foi desse forma que a jornalista Olívia Massango situou, de forma áticamente dialéctica, o problema da identidade e, no caso vertente da nacionalidade, o plebiscito de cada dia que é uma nação, como observou um dia Renan.
Não é nada fácil termos da vida uma concepção tão moderna e tão ampla quanto a de Olívia. Acontece, muitas vezes, que quanto mais viajados e mais permeados pelo mundo e pelo bem-estar somos, mais tendência temos para defender a aldeia que já não habitamos (se é que algum dia a habitámos mesmo) e para tentarmos convencer os outros de que existem tradições rígidas, com fronteiras nítidas, impermeáveis às mediações. É o jeito perverso do poliglota viajado que tenta convencer os camponeses da sua aldeia natal (que já esqueceu ou que nunca habitou) de que não devem desaprender a língua local e que devem manter uma postura campesina íntegra e imaculada.
Ora, tenho por hipótese de que vivemos com o espírito da picada. Alguém um dia passou num sítio, a seguir passou mais alguém, depois passaram outros e por aí fora. Já ninguém se lembra de quando surgiu a picada nem de quantos variados e desencontrados pés a pisaram. Mas, claro, sempre aparece alguém a defender os primórdios dos seus pés.
É sempre difícil isolar realidades móveis como tradição e modernidade.
Na verdade, "Se por um lado não existem já verdadeiramente nem tradição nem modernidade, por outro vai-se àquela para modernizar esta e a esta para tradicionalizar aquela consoante os momentos, os processos e as cristas das tensões sociais. O presente é encarado com os olhos do passado, o passado com os olhos do presente. Oscila-se, como um pêndulo, à procura da vertigem do futuro ao mesmo tempo que se faz marcha-atrás à busca das âncoras de todos os dias, subvertem-se hábitos, acomodam-se subversões. Este é, afinal, um mundo misto, polissémico, do entre-dois, transfronteiriço, lábil, onde em lugar de estados há transições, onde não se é nunca mas se está a ser constantemente, ele é, finalmente, um mundo anfibológico."
Nem as línguas são tradicionais ou modernas. "Crioulizadas, estão cheias de duplicidade, de oxímoros, de antónimos, de quiasmos, são uma subversão contínua dos mundo identitário dos verbos, dos predicados, dos substantivos e dos advérbios. Os verbos estão constantemente a regastar o devir, bloqueando o ser dos substantivos. O oxímoro e a inversão argumentativa são correntes. Está mal mas não está mal", "é verdade mas não é verdade", etc."
Se calhar a vida vive-se melhor com o espírito aberto de Olívia do que com o espírito fechado do estetas das tradições frigorificadas.
Peguemos na marrabenta, por exemplo.
"É o ritmo estrangeiro? Ou moçambicano? Creio que hoje ainda se discute isso. Estamos, aí como em outras coisas, confrontados com a angustiante questão das origens, da matriz placentária das coisas, da busca desenfreada da substância única, da identidade unívoca.
E se a nossa bela marrabenta fosse, o que certamente é, a diagonal de uma mestiçagem? Um produto das minas sul-africanas e das terras pastorais de Gaza?
Sabeis, já os pitagóricos adoravam o Uno indivisível, a igualdade perfeita consigo própria, a mónada irredutível. Que risco é a indeterminação, a alteridade!
Escutai, ó gentes do Uno: marrabentanizemo-nos, deixemos os pitagorismos locais, dancemos, meneemos as ancas livremente, cantemos com Dilon Ndjindji, eventualmente o pai da marrabenta (....). Ou foi, antes, Pfani Mpfumo? Ou foram vários? Olhem: aberta a picada, alguém se lembra de quem a abriu?"

Vereador em apuros no confronto grossistas/retalhistas

No conflito tenso que opõe grossistas e retalhistas, um vereador do Conselho Municipal da cidade de Maputo escapou ontem a uma situação desagradável no Zimpeto. Confira aqui.

Identidade moçambicana - o problema de Olívia (1)

"Hoje, vivo nesta múltipla realidade, em que um pouco de cada coisa do mundo disputa lugar nas minhas preferências, incluindo as deste país. Entretanto, oiço um gritante apelo para a valorização da tradição. Afinal, de que tradição se está a falar? De tudo quanto aprendi ao longo da minha vida, ou de tudo quanto os meus ascendentes aprenderam na altura em que eram mais novos?"
Eis uma admirável introdução da jornalista Olívia Massango a um tema sobre o qual aqui escreverei um pouco.

Humanos problemáticos e a cultura do depois

Ouvia esta manhã a Rádio Moçambique no seu sempre fascinante noticiário das 6, quando o jornalista Óscar Libombo veio a terreiro com o já clássico "conflito homem/animal". O problema, contou Óscar, é que "animais problemáticos" (sic) estavam a destruir culturas e haveres de camponeses num certo distrito de Cabo Delgado. E assim, uma vez mais, vi-me passageiro da "problemática dos animais problemáticos" (sic, de novo).
Lembrei-me, então, do que entre Junho de 2002 e Maio de 2003 sete leões provocaram pânico generalizado durante vários meses no distrito de Muidumbe, província de Cabo Delgado, com uma população de cerca de 63.000 pessoas. Comeram 46 pessoas e feriram outras seis. Impotentes, habitantes enfurecidos deram então curso à catarse, espécie de rito de purificação social total, linchando 18 dos seus compatriotas, acusados de participarem no comando.Todavia, os principais acusados de comandarem os leões à distância eram pessoas bem distintas: o administrador distrital, os régulos, membros do partido no poder, um comerciante, etc.
Apesar de insistentes apelos distritais à intervenção de caçadores, com papel puxa papel, só um ano depois surgiram dois caçadores enviados de Pemba. Os sete leões foram mortos, o problema acabou.
Não são os animais que são problemáticos: somos nós. O chamado conflito homem/animal é um falso conflito para disfarçar o nosso desmazelo.

29 maio 2007

Gprofam e o país da marrabenta

Aqui tendes não o Mc Roger com a sua ode ao Poder (vide mais abaixo), mas a banda Gprofam com o seu "país da marrabenta". Logo ao princípio do vídeo ouvirão um digestivo "porra".

Mc Roger e a ode ao Poder

Convido-vos a fazer a hermenêutica deste glorioso hino ao Poder do nosso bem-amado Mc Roger. O vídeo tem todos os ingredientes necessários para uma suculenta e variada refeição sociológica. Em frente, Mc Roger, à frente é que está o tapete vermelho, nada de confusão, patrão é patrão! Consigo e com o Homo Sibindycus, a pobreza será fatalmente vencida!

Previne-se depois


Quando as explosões de 22 de Março no paiol de Malhazine foram severamente trágicas, o governo decidiu finalmente desactivá-lo. Um incêndio grave deflagrou no Ministério da Agricultura na cidade de Maputo, o Serviço Nacional de Bombeiros, com apenas uma viatura operacional, foi incapaz de o apagar e eis que o Estado decide atribuir mais duas viaturas destinadas a combater os incêndios.

Onde anda o Homo Turbantus?


Devo confessar a minha preocupação: o vistoso Homo Turbantus, o Homo Sibindycus, político da oposição aliado da Frelimo, anda, aparentemente, silencioso. Nem no "Notícias", sua guarida publicitária habitual, surge. Mas conforta-me prever que esteja ocupado com a sua gloriosa luta contra a pobreza.

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Pós-Malhazine: risco e medo




Após as explosões de 22 de Março no paiol de Malhazine - que mataram mais de 100 pessoas, feriram mais de 500 e fizeram 80 crianças órfãs, 18 viúvos e 7 viúvas - são grandes o risco da desactivação dos engenhos obsoletos e o receio de novas explosões. Os soldados trabalham em condições precárias. Confira aqui um despacho do New York Times.

Ir aonde o povo está: etnografia de uma reforma da justiça


Esse o aliciante título da tese de doutoramento de Jacqueline Sinhoretto, uma investigadora brasileira que virá a Maputo este ano para participar no seminário final de divulgação dos resultados da pesquisa que a Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos realiza sobre linchamentos nos bairros suburbanos de Maputo. Pode importar a tese aqui.

Burocracia e gestão estratégica de recursos de poder


I
"O Presidente da República, Armando Guebuza, alertou sábado para o facto de que, apesar das reformas em curso no sector público, o burocratismo continua a ser um problema sério no país. Falando a jornalistas no final da sua Presidência Aberta na província de Manica, Guebuza afirmou que, de uma forma geral, o burocratismo tende a diminuir nas instituições públicas, mas continua a ser um problema sério que urge erradicar. Disse prevalecerem nas instituições públicas, a vários níveis, funcionários com mentalidade retrógrada que resistem a assimilar a imperiosa necessidade de mudança, continuando a criar obstáculos aos interesses dos cidadãos na tramitação dos seus documentos e não só, junto das instituições do Aparelho do Estado."

II
O que é burocracia? Permitam-me que a defina de forma breve e tacanha assim: gestão estatal de pessoas e coisas. Se aceitardes essa definição, quero acreditar que aceitareis, também, que ontem, hoje e amanhã dela não sairemos. Aqui e acolá poderá ser mais célere a nossa presença nos corredores da burocracia. Mas sempre por lá teremos de passar numa espécie de destino sem tréguas. E aqui, neste destino, o problema consiste em dependermos de uma visão moral ou pedagógica de como as coisas deviam ou podiam ser melhores. Acreditamos, muitos de nós, sensatamente, que basta reformar as instituições para as coisas melhorarem. Ora, o problema central da gestão de pessoas e de coisas é que ela passa por uma coisa imediata e permanente: a dos recursos de poder. A burocracia é uma cadeia diversificada de gestão útil e estratégica de recursos de poder fundamentais, gestão que pode variar segundo épocas históricas e culturas nacionais, com maior ou menor coeficiente de Estado. Por hipótese, defendo que quanto mais jovem for a experiência do Estado num país, mais robusto e visóvel será o peso da burocracia enquanto teia de relações de poder, de gestão de recursos necessários, de clientelismo plural. Por hipótese, defendo que a burocracia no sentido corrente (conjunto de actos que impedem a resolução célere dos problemas) é, frequentemente, uma gestão clientelista calculada, uma gestão estratégica e útil de recursos de poder (preeminência social, prestígio, monitoria de redes cientelistas, punção de imposto complementar, etc.). Muitas vezes o problema não está em que os funcionários não saibam fazer as coisas ou que sejam preguiçosos: o problema está, antes, em que eles sabem muito bem fazer as coisas e têm uma habilidade admirável na gestão criteriosa e remuneradora dos recursos. Por isso é, regra geral, difícil desburocratizar a burocracia. Por hipótese, ela faz parte do jogo normal, tenso e desigual, da vida social, o jogo das relações de poder em campos múltiplos. Assim, a mentalidade de muitos funcionários é não retógrada, mas agudamente moderna e jogadora. Infelizmente, não temos aqui, como em tantos outros casos, a sociologia empírica dos estudos de caso, aquela actividade sociológica rotineira que consiste em passar meses inteiros estudando instituições e processos (sobre isso já escrevi, tempos atrás, neste diário). Podíamos fazer estudos como os feitos, por exemplo, por Michel Crozier sobre a burocracia francesa. Mas preferimos opinar. Por isso campeia, em profusão, a sociologia da opinião.
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Pode acontecer que eu regresse a esta entrada para modificar ou acrescentar algo.

Florestas, madeira e fiscais em Sofala - carta de um leitor (3) (continua)


Esta a terceira parte de uma carta de leitor devidamente identificado. Confiram as partes anteriores aqui e aqui.
"Voltemos ao início.
Circularam mais de 80.000 toneladas de madeira ilegal em Sofala em 2006. Não foram apreendidas.
Por que não foram apreendidas?
Porque, segundo os funcionários dos serviços de Florestas, era madeira proveniente de outras províncias de trazia a documentação em regra.
Portanto, os funcionários dos serviços das Florestas de Sofala afirmam que nada podem fazer para controlar a madeira ilegal documentalmente avaliada por outras províncias.
Isto, até o fim do ano. Porque....
Quando se inicia 2007 e, com ele, o escândalo da madeira ilegal por dúzias de milhares de toneladas ameaça tornar-se o ponto fulcral em matéria de corrupção, aí é que foi imperativo a tomada de medidas.
Hipótese: dificilmente se podem tomar medidas contra os ilegais quando existe bom entendimento entre os funcionários e os próprios ilegais, caso contrário não poderiam ter circulado mais de três mil camiões com madeira irregulamente abatida.
Em situações do género procuram-se vítimas. Assim aconteceu. Senão, vejamos.
Em 9 de Fevereiro de 2007 foram apreendidos 18 contentores com madeira serrada no porto da Beira.
A Lei obriga (artigo 109 do regulamento florestal) a entregar o auto de notícia ao infractor na mesma data em que actua a fiscalização.
Ora, o auto de notícia nunca foi entregue ao proprietário dos 18 contentores até ao dia de hoje (escrevo a 20 de Maio de 2007).
À empresa de nacionalidade chinesa, proprietária dos 18 contentores de madeira serrada, foi apenas passada uma multa, sem o auto de notícia para se defender, passados 35 dias após da apreensão dos contentores.
Neste tempo, os serviços provinciais de florestas de Sofala declararam no "Diário de Moçambique" que nos contentores havia madeira em toros, o que é total e rigorosamente falso.
A empresa proprietária dos contentores, de nacionalidade chinesa, é proprietária de uma serração, empresa séria que se caracteriza por pagar aos produtores valores mais altos do que outros intermediários pela madeira legalmente abatida e foi obrigada a pagar 130.000 Mtn (130 milhões dos antigos meticais) de multa por uma infracção consistente em ter serrado apenas 10% da madeira existente nos contentores com mais centímetros acima do normal."

Linchamentos: primeiro seminário público


Para divulgar resultados preliminares - e debatê-los - da pesquisa que efectua sobre linchamentos sob minha direcção, a Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos irá realizar o primeiro de três seminários públicos provavelmente no dia 11 de Julho, em hora e local a informar oportunamente.
Manter-vos-ei informados.

27 maio 2007

Mais um prémio para o "Diário de um sociólogo"

Depois do "Blog com tomates" português, é agora a vez de uma premiação brasileira: "Você está fazendo parte da maior e melhorseleção de Sites do País!!! - Só Sites Premiados -Selecionado pela nossa equipe, você está agora entre os melhores e mais prestigiados Sites do Brasil!"
Obrigado pelo prémio.

Ausente


Estarei ausente em Junho. Manter-vos-ei informados sobre o tempo de ausência.

Dois blogues



Há um novo blogue (feminino) de poesia nos elos deste meu aqui. Entretanto, Mabel recomeçou o seu.

Se calhar


"Se calhar tenha-se aproveitado de algumas oportunidades, surgiu aquele golo...." - foi literalmente dessa forma que o locutor de hoje no jogo de futebol da 1.ª Liga, Atlético Muçulmano/Académica, referiu o golo da última equipa, marcado na segunda parte na cidade de Maputo.

Ainda o incêndio no Ministério da Agricultura



A propósito do incêndio deflagrado anteontem no edifício do Ministério da Agricultura, o semanário "domingo" coloca na sua edição de hoje, em manchete, a inquietante pergunta que reproduzo em epígrafe. E numa extensa reportagem, deixa-nos os dois últimos parágrafos que também exibo.

26 maio 2007

Prémio "Blog com tomates" para este diário


Foi atribuído a este blogue o prémio com o título em epígrafe. Mas se título cheio de subtis sentidos, tem, porém, um âmbito que me agradou: o da "luta pelos direitos fundamentais do ser humano". Por isso o aceitei com prazer. E, para seguir a ideia que preside à sua atribuição, aqui sugiro ao júri do concurso cinco blogues merecedores do prémio:

Diário do senso comum


Amigos: no diário do senso comum escrevo tematicamente de forma diferente da que aqui faço. Lá sou bem mais essencialista do que aqui sou. É o exercício do equilibrismo essencial, bizarra expressão claro, mas definitiva. Provem aqui.

O que o incêndio destruiu no Ministério da Agricultura


O incêndio no edifício do Ministério da Agriocultura, deflagrado na madrugada de ontem, destruiu "por completo 58 gabinetes, incluindo os do ministro e vice-ministra, as direcções de Pecuária, Economia, Inspecção-Geral, Cooperação Internacional e Coordenação do Programa Nacional de Desenvolvimento Agrícola". O incêndio afectou áreas vitais do Ministério. Assim, por exemplo, é lícito supor que foi perturbado o conhecimento da sua gestão financeira.
Enquanto isso, o Conselho de Ministros nomeou uma comissão de inquérito.

Fora da lei


Essa a manchete de hoje do semanário "Savana", a propósito de uma organização, criada a 22 de Dezembro de 2005, cujo estatuto aqui dei a conhecer em primeira mão. Entretanto, um membro dessa organização agora ilegal, Sr. Júlio Sitoe, afirmou que foram dez os membros que promoveram a ideia de combater o crime ajudando a polícia. Não podia revelar os nomes - disse -, mas assegurou que eram maioritariamente desmobilizados de guerra (p. 2).

Dudu almoçou no Kaya Kwanga


Segundo o "Canal de Moçambique" de hoje, "Osvaldo Razak Muianga, comummente tratado por Dudu, detido há cerca de seis anos na cadeia civil – onde goza de estatuto especial –, arguido no processo do caso da tentativa do assassinado do advogado Albano Silva e peça controversa no caso «Carlos Cardoso», almoçou na tarde de ontem na residencial «Kaya Kwanga»."

Incêndio no MA: informação destruída, bombeiros sem meios e relatório de Songane


O "O país online" já tem uma referência ao incêndio hoje no Ministério de Agricultura. Destaco três partes que me pareceram significativas e que não vou comentar:
I
"Três pisos do edifício do Ministério da Agricultura foram atingidos por fortes chamas de fogo, por volta das cinco horas da manhã de hoje. A vice-ministra da Agricultura disse que ficaram destruídos o seu gabinete, o do ministro e o departamento de economia, onde estava arquivada toda a informação sobre o Programa da Agricultura (PROAGRI)."
II
"Para debelar as chamas, o Serviço Nacional de Bombeiros, que não conseguiu controlar a situação nos primeiros momentos, contou com o apoio dos Aeroportos de Moçambique, do Porto de Maputo e da Mozal, provando-se a deficiência dos “soldados da paz” no combate a situações do género. Pedimos ajuda quando vimos a dimensão do incêndio, pois a maioria dos nossos meios estão obsoletos”, disse Renato Taveira, porta-voz do Serviço Nacional de Bombeiros."
III
"Entretanto, o coordenador executivo do PROAGRI, Fernando Songane, disse que não haverá perturbações no funcionamento daquele programa, que foi gravemente afectado pelo incêndio, pois, segundo ele, grande parte da sua informação estava no departamento de economia e finanças. “A informação disponível é suficiente para produzir o relatório do fim de semestre”, garantiu Songane, para quem “esta é a primeira experiência deste calibre”."

Edifício do Ministério da Agricultura em chamas



No dia de África, o edifício do Ministério da Agricultura arde na cidade de Maputo desde a madrugada de hoje. É impressionante ver como tão imponente edifício é pasto das chamas. Quase impotência dos bombeiros, enquanto se procura salvar o que for possível salvar de documentos e computadores. Não sou ainda sabedor das causas do incêndio.

Medifax nasceu a 25 de Maio de 1992


O mediafax nasceu a 25 de Maio de 1992, há 15 anos. Veja aqui a edição experiência e a primeira edição. O meu obrigado ao Fernando Lima, presidente do Conselho de Administração da Mediacoop, empresa proprietária, pelo envio dos dois documentos.
E nasceu bem, nasceu no dia de África, que hoje se assinala.

24 maio 2007

Malaika by Angelique Kidjo

Por ocasião do 25 de Maio, Dia de África, esta sempre bela canção que nos habituámos a ouvir na voz de Miriam Makeba, mas que também vale a pena ouvir na voz de Angelique, do Benin.

Mediafax: n.º experiência e n.º 1 à meia-noite para o Dia de África


Quando aqui for meia-noite, reproduzirei o número experiência e o número 1 do mediafax de 25 de Maio de 1992. Amanhã é o dia do aniversário desse primeiro jornal independente de Moçambique, completando 15 anos de publicação. Mas amanhã é, também, o Dia de África.

O campeonato dos negócios (2) (continua)



Estamos hoje, no país, numa fase histórica em que é de bom tom esgrimirmos rankings e mostrarmos regozijo desde que possamos subir mais uns degraus, nem que isso implique - como implica - termos de ouvir considerações doutas, de um darwinismo cristalino e sem rebuços, como as feitas pelo Sr. Timothy Born. Ou por Nelson Guilaze, para estarmos mais em casa.
Tenho para mim que o salário se transformou num pequeno pormenor técnico, meramente numérico, fortuitamente dizendo respeito a pessoas concretas com necessidades concretas, pormenor que permite, até, momentos conviviais agradáveis nas discussões tripartidas entre Estado, patronato privado e sindicatos (digam lá: não dá prazer ver a foto da satisfação negocial que exibo, extraída do "Notícias" de hoje?). Mais uns meticais mensais e pronto, lá fica a nossa consciência rankingal pronta para novas caminhadas até que, um dia, com a densidade de espera igual à do Godot de Becket, novo reajuste salarial ocorra, com longas conversações amigas em torno do aumento salarial em alguns por cento monitorados de perto pelo Banco Mundial.

O campeonato dos negócios (1)

De acordo com o semanário "Zambeze" de hoje, Timothey Born, chefe do Programa de Comércio e Investimento da USAID em Moçambique, o nosso país podia ter feito mais para colocar a nova Lei do Trabalho em sintonia com o mundo dos negócios. Por exemplo, a lei poderia ter reduzido os custos de contratação e de despedimento da mão-de-obra. Se isso tivesse sido feito, Moçambique poderia abandonar o incómodo 140.º lugar no ranking dos 150 países submetidos a uma avaliação do Banco Mundial no que concerne à saúde negocial. Segundo o "Zambeze", também foi esse o diapasão de Nelson Guilaze, economista da USAID, que, pelo nome, creio ser Moçambicano.

Salário mínimo nacional: impasse negocial

Trabalhadores, empregadores e Estado estão num impasse no concernente ao reajustamento do salário mínimo nacional. Os sindicatos desejam um aumento de 17%, mas os empregadores dizem que apenas poderão ir até aos 13%. O salário industrial mínimo nacional é de 1,443 meticais (55,7 USD) e o agrícola de 1.024 mês. Provavelmente, como em vezes anteriores, terá de ser o Estado - afinal o maior empregador do país - a anunciar uma solução intermediária, do género 15%.

Grupos de Vigilância: estudante de direito escreve carta aberta à Ministra da Justiça


O estudante de Direito da Faculdade de Direito da Universidade Católica em Nampula, Leovegildo Juliasse, escreveu uma carta aberta à Ministra da Justiça a propósito dos Grupos de Vigilância. Confira aqui. E veja aqui o estatuto do Conselho Nacional dos Grupos de Vigilância de Moçambique, publicado no Boletim da República e divulgado em primeira mão neste blogue.

Aimuquentene! Aimuochene!

Na continuidade da pesquisa que a Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos realiza sobre linchamentos nos bairros suburbanos de Maputo, soube ontem que num dado bairro (onde este ano terão sido já linchadas duas pessoas sem que isso conste dos jornais e os corpos apareçam) existem duas frases densamente apelativas que precedem o linchamento: aimuquentene (aimu= vamos; quentene=aquecer) ou aimuochene (aimu=vamos; ochene= assar). Um entrevistado converteu tudo isso nesta imagem em português: vamos meter no microondas.
Tudo parece bárbaro, difícil de aceitar, de compreender. Mas é possível compreender, como eu e a minha equipa de investigadores mostraremos brevemente em seminário público.

23 maio 2007

Mediafax faz 15 anos sexta-feira


O mediafax assinala sexta-feira o seu 15.º aniversário. Nasceu a 25 de Maio de 1992, este primeiro jornal independente do país transmitido via fax, técnica inovadora na altura, técnica que permitiu, a pouco e pouco, o nascimento de muitos outros jornais. O seu primeiro editor foi Carlos Cardoso, assassinado a 22 de Novembro de 2000.

Um relatório sobre a deflorestação em Cabo Delgado


Só um alto nível de vontade política pode evitar a cadeia social que deprada as nossas florestas em Cabo Delgado - talvez seja esta a conclusão principal a extrair deste relatório da autoria de Antoine Bossel e Simon Norfolks, datado de Maio deste ano.

Florestas, madeira e fiscais em Sofala - carta de um leitor (2) (continua)

"Esta carta tem a ver com a apreensão de 18 contentores de madeira serrada no porto da Beira.
Em sua superficialidade, os media cantam vitória por isso. Sem entrar numa análise mais justa e sempre necessária.
Senão, vejamos.
Na Beira circularam mais de 80 mil toneladas de madeira ilegal em 2006.
80.000 toneladas de madeira ilegal são 3.650 camiões.
Nao há possibilidade de entrar na Beira sem passar pela fiscalização, permanente na balança de Dondo, que se encontra na única estrada existente para entrar na Beira. Nao há estradas secundárias transitáveis. Os fiscais de Florestas prestam nesta balança um serviço permanente, 24 sobre 24 horas, incluídos domingos e feriados.
Contrariamente ao que se disse, a fiscalização na província de Sofala não tem falta de meios.
Os fundos de PROAGRI não foram para apoiar os camponeses a produzir e a escoar a sua produção.
Em Sofala, os fundos de PROAGRI foram para melhorar as infraestruturas administrativas de Agricultura e, sobretudo, dos serviços provinciais de Florestas, que receberam inúmeros carros e, até, um machibombo para ir recolher e deixar os funcionários (das florestas) em suas casas antes e depois do trabalho.
Por que foram para as Florestas esses fundos?
Porque a fiscalização florestal dá muito dinheiro aos funcionários.
Muito mais que o controlo das queimadas. Muito mais do que a produção agrícola dos camponeses.
Voltemos ao início."

Florestas, madeira e fiscais em Sofala - carta de um leitor (1)

A 16 de Março postei a seguinte entrada:
"Dezoito contentores, provenientes de Manica, com 250 metros cúblicos de madeira serrada e de outro tipo em toros, do tipo panga-panga, foram apreendidos anteontem no porto da Beira. Segundo um funcionário sénior do Estado, a apreensão foi possível graças a um denúncia chegada ao ao gabinete do governador de Sofala ("Diário de Moçambique, edição de 15/03/07, p. 4)."
A propósito disso, recebi uma carta de um leitor devidamente identificado, cujo teor darei a conhecer aqui.