Outros elos pessoais

31 março 2007

Parage!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

-Parage!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
-Senhor você não ter respeito estar me purrar qualquer maneira?
-Tia aguenta leva-me lá aí.
-Senhor eu não ser sua tia.
-Mamã faz conta. Mano sai! Parage!!!!!!!!!!!!!
-Mano hoiiiiiiiiiiiiiiiii Benfica!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Mc Roger: um patrãotismo patrãoótico


Estava eu a querer ouvir o noticiário da Rádio Moçambique quando me saltou em cima o meu bem-amado Mc Roger (neste momento no Brasil) em seu casamento mexe-mexe da marrabenta com o rap.
"Patrão é patrão/seja pobre seja rico/não faz confusão/abre alas/deixa entrar." Etc.
Sempre que oiço o bem-amado, assalta-me a necessidade de sentir as palavras e os sentidos mudarem.
Sem dúvida que os meus quadris patrãomexem. Na realidade, é um autêntico patrãotismo patrãoótico.

Mafia madeireira ameaça de morte em Nampula

A desflorestação é um processo, não é uma coisa que se faz de um dia para o outro. Hoje podemos ver árvores, amanhã poderemos vê-las menos, um dia podemos nem sequer vê-las mais. As árvores não somem pela acção dos maus espíritos, mas pelo efeito das moto-serras. Árvores são mais do que árvores: são a nossa alma.
"A chefe do posto administrativo de Covo, distrito de Nacala-a-Velha, na província de Nampula, Ana Sabonete, queixou-se ao governador Felismino Tocoli, de ser constantemente ameaçada de morte, por exploradores ilegais de madeira daquele ponto do país sob a sua jurisdição administrativa. (...) Localizado no interior do distrito, o posto administrativo de Covo, tem assistido a uma incursão sem precedentes de exploradores ilegais de madeira que suplanta o nível de intervenção das autoridades locais, que no referido encontro solicitaram a afectação de mais fiscais florestais, tendo em conta que apenas existe um posicionado na vila-sede de Nacala-a-Velha."
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Aqui temos mais um severo indicador de como as coisas não vão bem num país onde há quem insista em que tudo vai bem nas nossas florestas. Leia, entretanto, a entrevista que dei ao "O País", edição de 30/03/07, pp. 2-3, suplemento "economia".

Os caminhos que Cristo percorre


"Uma galeria de Nova Iorque cancelou sexta-feira uma exposição de uma escultura de chocolate que representa Jesus Cristo, nu, na cruz, devido aos protestos de grupos cristãos, por coincidir com a Semana Santa."

Polícia gora manifestação

Uma manifestação junto do edifício da Assembleia da República foi hoje gorada pela polícia. Informações que me foram fornecidas e que em parte surgiram na estação televisiva STV no seu noticiário das 13.00 horas, dão conta da presença de cerca de 70 pessoas no local, entre as quais seis foram preventivamente detidas (incluindo um membro da banda Gprofam, de acordo com uma informação que acabo de receber). Ao que parece, a origem da manifestação tinha a ver com uma exigência de demissão do ministro da Defesa face às recentes explosões no paiol de Malhazine.
Conto ter mais dados nas próximas horas.

30 março 2007

Aforismando


Com alguma regularidade aqui deixo aforismos, aqui aforismo quando me canso de leis, regras e úlceras gástricas potenciais. Eis, então, mais uma dose de aforismos estúpidos para o fim-de-semana:

1. Quanto mais modesto te mostrares, mais vaidoso te revelas.
2. Quanto mais confessional fores (reticências, jogos de duplo sentido, palavras almadas, crença na ego-profundidade), mais petulante surges.
3. Quanto mais fontes de autoridades usares, menos tutano de ti deixas.
4. Quanto mais recorreres a ti, menos queres saber dos outros.
5. Quanto mais criticares os outros, mais provas apresentas da tua fragilidade.

Caderno de campo de Isabel

Um novo elo neste diário, o de Isabel, com o seu "caderno de campo". Interesses em sociologia, museologia social, arte, literatura e educação patrimonial. Leiam-na.

O resto do mundo com Gabriel



Há letras de canções que são admiráveis manifestos de intervenção social, que são extraordinários documentos sociológicos. Por isso, após re-ouvir hoje o rapper, compositor e escritor brasileiro Gabriel o Pensador num dos seus álbuns dos anos 90, decidi aqui recordar a letra do famoso "O resto do mundo".
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Lembrai-vos de que existem neste diário vários entradas sobre música de intervenção social, a última das quais a 21 de Março a propósito de um trabalho da banda GProfam.

Hoje: o último pôr-de-sol do 4 Estações





O último pôr-do-sol hoje, daquele que esteve para ser o Hotel 4 Estações, na marginal de Maputo. Amanhã, às 7 horas, uma técnica de demolição chamada implosão vai transformá-lo em destroços, levantando uma nuvem de poeira que poderá durar 30 minutos. Uma parte da nossa memória urbana que amanhã será entulho. O projecto turístico data de 1968 e foi previsto que pudesse ser um hotel de luxo com 340 quartos virados para o mar. Fracassaram as tentativas para o manter vivo e em uso. Mas saiba da história e dos mitos na edição de hoje do "Savana", em trabalho de Sol de Carvalho, pp. 16-17.
As fotografias forem tiradas por Fátima Ribeiro, a quem agradeço o gentil envio.

Oprimido ontem opressor hoje


O editorial do "Savana" de hoje (30/03/07, p. 6) merece ser lido. O resumo é simples: oprimido ontem pode tornar-se opressor hoje, a opressão não tem raça. A caricatura foi tirada daqui. Clique no texto abaixo para o ampliar.

Explosões e stress pós-traumático


As consequências de um fenómeno como as explosões do paiol de Malhazine são muitas, a vários níveis.
O stress pós-traumático é uma delas. E várias as suas manifestações.
Muito certamente temos, agora, centenas, senão milhares de pessoas em Maputo sofrendo desse stress. Custos psicológicos enormes.
Muito certamente temos crianças que apresentam sintomas como: estados ansiogénicos, ausência de sono, sono irregular, pesadelos, enurese nocturna, atonia, anorexia, etc.

Malhazine, Estado e legitimidade


Um Estado pode ser legalmente instituído, mas não ser considerado legítimo. Legalidade e legitimidade não são a mesma coisa.
Quando é que um Estado pode ser considerado legítimo nas percepções populares? Um Estado pode ser considerado legítimo nas percepções populares quando os seus gestores, em troca da lealdade que exigem aos cidadãos, são capazes de assegurar pelo menos cinco coisas:
1. Protecção incondicional da vida e da propriedade
2. Redistribuição da riqueza social evitando assimetrias sociais chocantes
3. Provimento de bens sociais fundamentais: emprego, ensino, saúde, justiça e reforma condigna
4. Liberdade de movimento e de expressão
5. Indemnização sempre que os seus cidadãos forem afectados por actos irresponsáveis e práticas lesivas decorrentes da governação
Se a minha grelha de definição de legitimidade for considerada certa e justa, então estamos confrontados com uma situação chocante após as declarações recentes da Primeira-Ministra, Sra Luisa Diogo.
Entretanto, governantes e membros do Partido Frelimo desdobraram-se nos últimos dias em numerosas declarações, em idas aos cemitérios, em ajuda de emergência, numa enorme e mediatizada cobertura de imprensa e, ontem, na Assembleia da República, numa ausência completa e confrangedora de análise crítica da situação decorrente das explosões no paiol de Malhazine.
Este é um momento crucial para o nosso Estado se interrogar seriamente sobre as consequências sociais e ambientais da tragédia de Malhazine, as quais estendem-se e estender-se-ão por um tempo e por um espaço de angústia populares bem mais amplos do que muitos pensam.
Acontece que os cidadãos da nossa pátria têm aprendido, década após década, a avaliar a realdade das promessas dos políticos.
Cidadãos que estão magoados, chocados e revoltados.
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Gostaria de vos convidar a um debate sobre aquilo que acabei de escrever.

Contaminação nos bairros afectados pelas explosões do paiol



Os mais jovens são os mais afectados por doenças sobrevindas após as explosões do paiol de Malhazine, arredores da cidade de Maputo.
É vital uma investigação urgente para avaliar o potencial de contaminação existente em todos os bairros afectados.
Tenho para mim que químicos, biólogos e médicos devem dar imediatamente corpo a esse trabalho, com auxílio de especialistas sul-africanos, dado que o paiol continha e contém substâncias altamente tóxicas e perigosas, como, por exemplo, o fósforo branco. Sobre o fósforo branco leia aqui. E recorde aqui.

29 março 2007

Foi acidente, não indemnizamos - Primeira-Ministra Luisa Diogo segundo a Reuters





Tratou-se de um acidente num paiol estatal e por isso não há compensação monetária. Segundo a Reuters, essa é a posição da nossa Primeira-Ministra, Sra. Luisa Diogo (segunda foto), comentando as explosões no paiol das Forças Armadas em Malhazine, periferia da cidade de Maputo. Leia também aqui.
Entretanto, chove torrencialmente em Maputo, agravando ainda mais a precaridade daqueles que sobreviveram às explosões mas tudo perderam.

102 mortos e 500 feridos


As explosões no paiol das Forças Armadas em Malhazine, arredores da cidade de Maputo, causaram 102 mortos e 500 feridos de acordo com a Rádio Moçambique no seu noticiário das 19.30 de hoje.

Tarefa da sociologia



Tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca- eis a tarefa da sociologia.

Situação no Zimbábuè


Líderes dos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), entre os quais Moçambique, deverão emitir hoje um comunicado sobre a situação no Zimbábuè de Robert Mugabe (ao centro), onde o líder da oposição, Morgan Tsvangirai (à direita), foi, uma vez mais, detido. Veja vídeos aqui e aqui.

Matemática em África


Acaba de ser publicado um livro com o título Matemática na história e culturas africanas. Uma bibliografia anotada, escrito por dois matemáticos: Professor Paulus Gerdes (Moçambique) e Professor Ahmed Djebbar (Argélia), com 1600 entradas, fruto de 20 vinte anos de colaboração. Veja as referências aqui e aqui.

Tragédia de Malhazine e indemnizações



De acordo com o semanário "Zambeze" de hoje, moradores dos bairros afectados pelas explosões do paiol de Malhazine criaram um Núcleo das Vítimas das Explosões, cujos porta-vozes afirmaram que vão exigir indemnizações ao Estado (29/03/07, p. 13). Entretanto, releia aqui esta entrada de ontem.

Maputo: agora são as mulheres a violentar os homens?


Não há muito rigor estatístico comparativo, mas a notícia é interessante, creio: "Temos atendido mais homens que mulheres e crianças” e “do mês Janeiro até ao presente mês Março já atendemos mais de 60 homens que foram violentados psicologicamente pelas mulheres”.

28 março 2007

Rogério Uthui, novo reitor da Universidade Pedagógica


O nosso colega Rogério José Uthui, o único físico nuclear de que o país dispõe e antigo director científico da Universidade Eduardo Mondlane, é o novo reitor da Universidade Pedagógica, substituindo Carlos Machili.

Estado moçambicano: responsabilidade civil objectiva perante as vítimas da tragédia




Subscrevo o que adiante se segue e que constitui parte de um conjunto de ideias de um jurista:
"A nossa constituição garante o direito a indemnização no caso de violação dos direitos fundamentais (art. 58), devendo fazer-se a leitura combinada com os artigos 40 (direito à vida) e 95 (direito a assistência em caso de incapacidade).
Com a tragédia do dia 22 de Março, quem morreu, quem viu os seus membros decepados, quem viu a sua casa e os seus bens reduzidos a cinzas, não teve os seus direitos violados?
A indemnização é uma obrigação do Estado porque os danos existem, as vidas foram ceifadas e a causa é o conjunto dos artefactos pertencentes ao Estado e que constituem artefactos de risco pelo que o Estado tem o dever de garantir a sua manutenção em segurança. Há nexo de causalidade.
Estamos perante a figura de responsabilidade civil objectiva, aquela que se produz independentemente da culpa."

Tragédia de Malhazine: o ovo, o pinto e o calor que a comissão de inquérito terão de enfrentar (2)




Nenhum ovo dá origem a um pinto se um calor local não lhe der um empurrão (palavras minhas para uma ideia de Mao Tse Tung).

Foi formada uma comissão de inquérito para, em duas semanas, averiguar as causas das explosões do paiol de Malhazine.
Três juristas, incluindo o presidente do Tribunal Administrativo. Não faço a mínima ideia de quais foram os critérios usados para seleccionar três juristas, mas algo de muito forte me diz que foi uma má escolha. Bastava um jurista. Para quê três? Não seria bem mais sensato seleccionar uma equipa multisectorial?
Entretanto, estamos confrontados com um relatório muito técnico, muito preciso, muito rigoroso, escrito por Adrian Wilkinson da SEESAC (South Eastern and Eastern Europe Clearinghousing For the Control of Small Arms and Light Weapons).
Os membros da comissão de inquérito terão, em curto espaço de tempo, de revelar a mesma capacidade para obter um relatório do mesmo nível do que aquele que foi executado por Wilkinson, confirmando ou informando o que ele escreveu.
Mas estarão ainda confrontados com uma questão bem mais complexa do que aquela que Wilkinson teve de resolver, a saber: averiguar a responsabilidade de quem, eventualmente, permitiu ou tem permitido que o paiol seja um constante perigo para as pessoas e para o meio ambiente.
O pinto que provocou a tragédia (explosões) saiu de um ovo (paiol) depois que sobre o ovo agiu uma dada causa ou um conjunto de causas (o "calor" surgido no vocabulário de muitos de nós).
Mas o problema central não é esse.
O problema central é saber quem, eventualmente, foi e é responsável pelo "calor" gerado de forma sistemática, tendo em conta que já em Janeiro houve explosões no paiol de Malhazine. Melhor: quem é o "calor" que gera "calor".
O sempre jovem Marx diria que é necessário verificar se a impossibilidade de solução do problema não está contida nas premissas da questão tal como esta foi formulada. Frequentemente, diria ele se hoje viesse a este país, a única possível resposta consiste em criticar e eliminar a questão tal como foi colocada.
Por outras palavras, a questão central reside em saber usar outras premissas para se obter uma solução correcta.
Não é a decomposição autocatalítica ou não é a ignição do fósforo branco (por exemplo e por possibilidade) que constitui a questão central. Não é esse o "calor" principal. Nem deve constituir questão central estar sempre a estudar as causas técnicas dos problemas do paiol de Malhazine. A questão central reside na gestão humana das condições que podem ou não dar origem aos fenómenos citados, gestão que, se inadequada, pode gerar uma tragédia.
E houve, de facto, uma imensa tragédia.

Explosões no paiol de Malhazine: as possibilidades causais do relatório de Adrian Wilkinson da SEESAC




Não tenho competência para avaliar o relatório muito técnico - e creio que muito rigoroso - escrito por Adrian Wilkinson da SEESAC.
O que me importa aqui, agora, é destacar as duas possibilidades causais, uma alta e outra média/alta, exploradas pelo autor para explicar as explosões:
1. Deterioração da condição física e química das munições e dos explosivos, com decomposição autocatalítica geradora de ignição espontânea (probabilidade alta):
2. Efeitos externos de ambiente (ignição do fósforo branco devido a altas temperaturas (probabilidade média/alta).
Coloca como possibilidade baixa/média a possibilidade de fogo irradiando da vegetação próxima (ainda que não haja testemunhas), situa como baixas três possibilidades concernentes aos cuidados de armazenamento e, finalmente, exclui a possibilidade de sabotagem ou de fogo posto.
O relatório pondera, ainda, sobre as formas e os riscos da desactivação do paiol.

Paiolizados: um poema de Miguel César



Eis, do arquitecto, artista plástico e escritor Miguel César, o seguinte poema:
Paiolizados
no cumprimento da tarde
quando esta se fazia à noite
aprendizes de feiticeiro
lançaram à fogueira fetiches
trucidaram corpos, casas
num bombardeamento
não programado
enchendo o céu de engenhos metálicos
reconstruíram a guerra
hiroximando
o tempo presente

não há perdão
para os construtores
dos cogumelos de morte em chuva de aço

momentaneamente a incompetência se abateu como abutre mortífero
e o povo
sem escolha correu radialmente
no sentido contrário ao epicentro que se explodia
crivado pelas costas pela cobardia
dos incapazes.

a tarde foi noite
e dos nossos olhos dificilmente de apagará a memória do acontecido

paiolizaram Magoanine
(Miguel César)
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Foto reproduzida daqui.

Explosões no paiol de Malhazine: leia aqui um relatório elaborado por um organismo especializado das Nações Unidas






O Centro de Integridade Pública recebeu um relatório sobre as explosões do paiol de Malhazine, elaborado pela SEESAC (South Eastern and Eastern Europe Clearinghousing For the Control of Small Arms and Light Weapons), um organismo das Nações Unidas. O relatório da SEESAC, escrito por Adrian Wilkinson, ao qual tive acesso hoje, apresenta as causas prováveis das explosões. Sugere que uma investigação apurada das causas obrigaria à formação de uma equipa multidisciplinar. Importe aqui.
Voltarei ainda hoje ao tema da comissão de inquérito formada no nosso país.