"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht)
-"Esta cintura compacta, composta por casas pequenas e frágeis, feitas de caniço, madeira e zinco e, ultimamente (depois da independência), de cimento, quase que não tem quintais, ruas, água e luz em todo o sítio (...) Nestes subúrbios não se vive, sobrevive-se. Eles estão apinhados de gente: os suburbanos." (carta de um leitor do “Notícias” publicada a 25/09/2010 com o título “A cidade e o mega-subúrbio de Maputo”)
Tinha previsto que este fosse o último número da série, mas não será assim, este é o penúltimo (procuro evitar as postagens maçudas), explorando mais algumas hipóteses, tendo em conta o sumário (continuo a pensar em todos aqueles que, eventualmente, decidam estudar e analisar seriamente as manifestações, de Fevereiro de 2008 e de Setembro deste ano, abandonando as opiniões preguiçosas).
4.6.Causalidade histórica, causalidade sistémico-dialéctica, detonador causal e produção de sentido (continuidade do ponto). As manifestações em Maputo e Matola ocorreram em bairros densamente povoados, mal iluminados, mal arruados, com deficientes ou inexistentes sistemas de escoamento e drenagem, nos quais as pessoas estão habituadas ao não-emprego e/ou ao emprego temporáro de magros proventos. São sociedades sobrevivendo regra geral de pequenos e múltiplos esquemas de sobrevivência. Mais do que conceberem os problemas que enfrentam, os seus moradores sofrem-nos. O seu poder sobre o presente é mínimo e incerto, logo o futuro é um constante ponto de interrogação. Não é a revolução que os movimenta, mas - com a mentalidade anárquica do comércio informal - o protesto sensitivo e imediato contra uma situação plural que sentem oprimi-los diariamente. Sugiro que se tenha em conta dois tipos de causalidade: a histórica e a sistémico-dialéctica. A primeira acumula na consciência dos actores, de forma como que vertical, acontecimentos e valências de grande peso emocional e social (por exemplo, os protestos de Fevereiro de 2008, o anúncio da subida de preços); a segunda é o registo diário, transversal, imbricado, de fontes e de situações de privação (falta de emprego, falta de lazer, busca incessante de alimentação, de rendimentos para pagar a escolaridade das crianças e fazer face a múltiplos tipos de exigênias e "esquemas", criminalidade, incerteza no xitique, etc.). O primeiro tipo de causalidade pode permitir responder a esta pergunta: Por que razão (ões) o corpo social nos bairros periféricos de Maputo e Matola tem o fácies que tem? O segundo tipo de causalidade pode permitir responder a estoutra pergunta: Por que razão (ões) a situação X com o fácies atrás sugerido nos bairros periféricos de Maputo e Matola deu origem aos protestos Y? Por hipótese, foi na conjunção desses dois tipos de causalidade que percutiu, de forma desmesurada, ampliada, o anúncio da subida de vários tipos de preços. Mas não só: a esses dois tipos de causalidade juntou-se a busca permanente, imediata (a consciência imediata de que falei em número anterior), de sentido, a este nível foi frequente as pessoas dizerem não só que "Estamos a passar mal" quanto "O pai não está a pensar em nós". Defendo que o anúncio da subida dos preços foi o detonador causal, não a causa em si (crédito da foto aqui).
-"Esta cintura compacta, composta por casas pequenas e frágeis, feitas de caniço, madeira e zinco e, ultimamente (depois da independência), de cimento, quase que não tem quintais, ruas, água e luz em todo o sítio (...) Nestes subúrbios não se vive, sobrevive-se. Eles estão apinhados de gente: os suburbanos." (carta de um leitor do “Notícias” publicada a 25/09/2010 com o título “A cidade e o mega-subúrbio de Maputo”)
Tinha previsto que este fosse o último número da série, mas não será assim, este é o penúltimo (procuro evitar as postagens maçudas), explorando mais algumas hipóteses, tendo em conta o sumário (continuo a pensar em todos aqueles que, eventualmente, decidam estudar e analisar seriamente as manifestações, de Fevereiro de 2008 e de Setembro deste ano, abandonando as opiniões preguiçosas).
4.6.Causalidade histórica, causalidade sistémico-dialéctica, detonador causal e produção de sentido (continuidade do ponto). As manifestações em Maputo e Matola ocorreram em bairros densamente povoados, mal iluminados, mal arruados, com deficientes ou inexistentes sistemas de escoamento e drenagem, nos quais as pessoas estão habituadas ao não-emprego e/ou ao emprego temporáro de magros proventos. São sociedades sobrevivendo regra geral de pequenos e múltiplos esquemas de sobrevivência. Mais do que conceberem os problemas que enfrentam, os seus moradores sofrem-nos. O seu poder sobre o presente é mínimo e incerto, logo o futuro é um constante ponto de interrogação. Não é a revolução que os movimenta, mas - com a mentalidade anárquica do comércio informal - o protesto sensitivo e imediato contra uma situação plural que sentem oprimi-los diariamente. Sugiro que se tenha em conta dois tipos de causalidade: a histórica e a sistémico-dialéctica. A primeira acumula na consciência dos actores, de forma como que vertical, acontecimentos e valências de grande peso emocional e social (por exemplo, os protestos de Fevereiro de 2008, o anúncio da subida de preços); a segunda é o registo diário, transversal, imbricado, de fontes e de situações de privação (falta de emprego, falta de lazer, busca incessante de alimentação, de rendimentos para pagar a escolaridade das crianças e fazer face a múltiplos tipos de exigênias e "esquemas", criminalidade, incerteza no xitique, etc.). O primeiro tipo de causalidade pode permitir responder a esta pergunta: Por que razão (ões) o corpo social nos bairros periféricos de Maputo e Matola tem o fácies que tem? O segundo tipo de causalidade pode permitir responder a estoutra pergunta: Por que razão (ões) a situação X com o fácies atrás sugerido nos bairros periféricos de Maputo e Matola deu origem aos protestos Y? Por hipótese, foi na conjunção desses dois tipos de causalidade que percutiu, de forma desmesurada, ampliada, o anúncio da subida de vários tipos de preços. Mas não só: a esses dois tipos de causalidade juntou-se a busca permanente, imediata (a consciência imediata de que falei em número anterior), de sentido, a este nível foi frequente as pessoas dizerem não só que "Estamos a passar mal" quanto "O pai não está a pensar em nós". Defendo que o anúncio da subida dos preços foi o detonador causal, não a causa em si (crédito da foto aqui).
(continua)
Adenda: esta série continua a ser divulgada semanalmente no semanário "Savana".
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