Outros elos pessoais

01 setembro 2010

Os médicos do social

Passo os olhos pelas estações televisivas, em cada uma está uma equipa de comentadores, de analistas. As manifestações (descritas aqui e aqui) são tema exclusivo. Das mais variadas maneiras, as manifestações são uma coisa anormal, uma crise. Cada um de nós é, então, chamado a ser o médico do social, radiografando o problema e procurando encontrar causas e soluções. Estamos prisioneiros do que consideramos normal no dia-a-dia (ausência suposta de violência, de doença) e ficamos estupefactos quando damos de frente com o que entendemos ser a violência e o anormal absurdos, eruptivos, singulares em sua unicidade. A nossa concepção de anormal é a das coisas súbitas, imediatas, não a das coisas em processo, em gestação, invisíveis mas vivas (regressarei a este tema na postagem, já anunciada, Quatro pontos sobre as manifestações). Então, torna-se fascinante estudar como produzimos o discurso da compreensão, como discutimos se o vírus percutor é interno ou externo. Fazemos a radiografia da manifestações, quase sempre como se elas fossem algo exterior a nós, algo vivendo de si próprio. Falta fazer a radiografia dos produtores de radiografias.
Adenda às 21:35: recorde como neste diário procurei descrever o que se passou a 5 de Fevereiro de 2008, num texto com 51 adendas, aqui.
Adenda 2 às 22:39: na cidade da Beira, a polícia evitou que alunos queimassem pneus próximo da Escola Secundária Sansão Muthemba, estando a cidade calma desde as 17 horas - informação de um jornalista da Rádio Moçambique.
Adenda 3 às 23:11: confira uma colecção de fotos sobre as manifestações em Maputo aqui.

4 comentários:

  1. Manter o "status-quo" é a palavra de ordem. Daqui a uma semana mais ninguém voltará a falar no assunto. Aliás, enquanto Maputo ficava reclusa em suas casas, alguns forasteiros tomavam cafezinhos e divertiam-se com as imagens da TV.

    Para isso é que o pobre serve. Divertir os mais abastados...

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  2. Me apetece hoje re-ler o texto de Juluis Nyerere com titulo "Mocambique no Mar Alto"....e um trecho desse texto fazia parte do manual da 2a ou 3a classes do Antigo Sistema. Que me ajuda a encontrar esse manual?

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  3. É curiso como alguns analistas associam estas manifestações com a "mão-externa"? Que vantagens teria o Ocidente para deixar o país em "chamas"?

    Neste país o culpado é sempre o outro. É sempre a "mão-externa". Nunca o governo soube reconhecer os seus erros. Nunca.

    Curioso: nem os habituais rotuladores de "antipatriota" deixaram ficar hoje os seus comentários. Até parece que não existem. Onde anda o economista Basílio Muhate? E outros?

    Zicomo

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  4. Um compatriota nosso intervindo no programa da STV via telefone da Matola questiona:
    1. Como e que a tal conjuntura internacional afecta o preco de combustiveis quando o Presidente da Republica voa com 5 a 8 helicopteros para Boane ou Catembe?

    2. Com que dinheiro paga o aluguer de helicopteros e os respectivos combustiveis?

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