"(...) o tempo q lhe concedem, q não he mais senão emq.to tem que gastar (...)"
Escrevendo para o rei português em 1648, o então capitão de Sena, Francisco Figueira de Almeida, afirmou que no antigo Império de Muenemutapua (ou Mwenemutapwa ou Munhumutapwa, como queiram, escolhei a grafia), as povoações (muzindas) tinham chefes chamados fumos ou encosses, todos dependentes de um mambo. Os fumos eram eleitos entre os que mais posses tinham localmente. O seu reinado durava enquanto tivessem com que gastar com a comunidade. Eram obrigados a tudo gastar: comida, pombe, jóias, tecidos, etc. Quando nada mais lhes restasse, eram destituídos e passavam a pertencer ao grupo dos grandes por mérito, com direito ao uso de um chapéu de palha e de um bordão.
Ora, naturalmente, as coisas são hoje diferentes. Os nossos mafumo são personagens diferentes e o uso triste que, aqui e acolá, é feito dos sete milhões, comprova isso.
Disse-vos, em número anterior, que a avaliação do governo era o primeiro dos seis factores que estão em jogo quando votamos. Mas o que é governo? Aqui está uma pergunta cuja resposta provavelmente nada tem a ver com a imagem ao mesmo tempo múltipla e unificada que formamos e difundimos no conforto urbano dos nosssos gabinetes e dos nossos artigos de jornal. Governo é uma coisa cujo significado pode variar localmente, regionalmente, péri-urbanamente, urbanamente, ruralmente.
Mas, independentemente dessas variações, a primeira coisa que as pessoas fazem é avaliar aquilo que cada estrutura, cada chefe, cada Nação local, faz por eles, não quando o chefe do Estado as visita e o fulgor ruidoso das coisas toma conta das vidas, mas naqueles dias rotineiros sem Guebuza. Os cidadãos não estão interessados em saber que, estatisticamente, verbalmente, em discursos inflamados, a vida melhorou, que a Nação vive agora melhor. Ou que os preços estão mais altos porque o mercado internacional é perverso e os gestores dos combustíveis são instáveis. Nestas circunstâncias os olhos da vida são mais importantes do que os ouvidos dos comícios.
O que as pessoas querem saber, diariamente, é o que aquele chefe – governo é isso, aquele chefe, quanto mais pequena e distante do mundo do néon for a localidade – fez por elas. O que fez por elas e não por eles. Se foi capaz de ser, um pouco que seja ou fosse, o fumo de que vos falei. Se foi capaz de dar aos sete milhões – por exemplo - um destino diferente daquele que, triste muitas vezes, encaixado em redes patrimoniais e clientelistas, a nossa imprensa tem reportado.
Escrevendo para o rei português em 1648, o então capitão de Sena, Francisco Figueira de Almeida, afirmou que no antigo Império de Muenemutapua (ou Mwenemutapwa ou Munhumutapwa, como queiram, escolhei a grafia), as povoações (muzindas) tinham chefes chamados fumos ou encosses, todos dependentes de um mambo. Os fumos eram eleitos entre os que mais posses tinham localmente. O seu reinado durava enquanto tivessem com que gastar com a comunidade. Eram obrigados a tudo gastar: comida, pombe, jóias, tecidos, etc. Quando nada mais lhes restasse, eram destituídos e passavam a pertencer ao grupo dos grandes por mérito, com direito ao uso de um chapéu de palha e de um bordão.
Ora, naturalmente, as coisas são hoje diferentes. Os nossos mafumo são personagens diferentes e o uso triste que, aqui e acolá, é feito dos sete milhões, comprova isso.
Disse-vos, em número anterior, que a avaliação do governo era o primeiro dos seis factores que estão em jogo quando votamos. Mas o que é governo? Aqui está uma pergunta cuja resposta provavelmente nada tem a ver com a imagem ao mesmo tempo múltipla e unificada que formamos e difundimos no conforto urbano dos nosssos gabinetes e dos nossos artigos de jornal. Governo é uma coisa cujo significado pode variar localmente, regionalmente, péri-urbanamente, urbanamente, ruralmente.
Mas, independentemente dessas variações, a primeira coisa que as pessoas fazem é avaliar aquilo que cada estrutura, cada chefe, cada Nação local, faz por eles, não quando o chefe do Estado as visita e o fulgor ruidoso das coisas toma conta das vidas, mas naqueles dias rotineiros sem Guebuza. Os cidadãos não estão interessados em saber que, estatisticamente, verbalmente, em discursos inflamados, a vida melhorou, que a Nação vive agora melhor. Ou que os preços estão mais altos porque o mercado internacional é perverso e os gestores dos combustíveis são instáveis. Nestas circunstâncias os olhos da vida são mais importantes do que os ouvidos dos comícios.
O que as pessoas querem saber, diariamente, é o que aquele chefe – governo é isso, aquele chefe, quanto mais pequena e distante do mundo do néon for a localidade – fez por elas. O que fez por elas e não por eles. Se foi capaz de ser, um pouco que seja ou fosse, o fumo de que vos falei. Se foi capaz de dar aos sete milhões – por exemplo - um destino diferente daquele que, triste muitas vezes, encaixado em redes patrimoniais e clientelistas, a nossa imprensa tem reportado.
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