Ora -
termino esta série -, Sérgio Vieira, o camarada Sérgio Vieira, pertence a uma geração nobre de libertadores da pátria, a uma geração que pegou em armas para libertar o país da opressão colonial. Mas foi apenas para isso que a Frelimo fez a luta armada de libertação nacional? Para libertar a pátria do jugo colonial? Para se substituir ao colonizador? Creio que não, se recordarmos os textos da Frelimo da luta armada e do pós-independência. A luta não foi apenas para substituir o colonizador, mas para criar novas relações sociais, relações isentas de exploração (como Mondlane escreveu no seu "Lutar por Moçambique"), novas relações que atravessam em permanência os textos de Samora Machel, o mesmo Samora que em 1974 exigiu trabalho duro aos governantes, trabalho entre e com o povo, trabalho para o qual colocou como sigla o seguinte: "
É evidente que por maioria de razão não se pode tolerar que um representante nosso possua meios de produção ou explore o trabalho de outrem."
Mas Sérgio Vieira já esqueceu isso, Sérgio e outros já esqueceram isso. Por isso Sérgio não é capaz de admitir que as pessoas possam estar revoltadas com as desigualdades sociais que
Eduardo Mulémbwè e
Azagaia (isso mesmo, Sérgio, Azagaia!) apontaram e apontam, desigualdades que são bem maiores e bem mais complexas do que aquelas que Sérgio indica e cujo perverso-produto-rosto-criança Sérgio disse ter visto a partir de um 9.º andar de um prédio da cidade de Maputo, desigualdades que têm unicamente a ver com quem as segrega (incitando por isso à violência) e não com Azagaia, desigualdades que não são produzidas pelo rio que sofre, mas pelas margens que o comprimem e oprimem.
Afinal, Sérgio entende que as revoltas populares ficaram para sempre congeladas na era colonial. Por isso - resumiu no mesmo momento em que apontou dificuldades sociais -, em verdadeiro golpe de rins, tudo etiquetou em meia dúzia de crianças comandadas por adultos mal-intencionados. Mas, claro, também, por políticos oportunistas.
Incapaz (
et pour cause) de aceitar o estômago da indignação popular em período pós-colonial, Sérgio meteu-se pelo ofício do agente de segurança e do oficial da política nas cavalgadas conspiratórias, deixando nas entrelinhas a mensagem de que as revoltas foram organizadas pela
Renamo, por essa mão tenebrosa, pois estamos vizinhos das eleições. E, claro, porque a Renamo governa o município da Beira, lá não houve "motins", os motins ficaram concentrados nas áreas "muito tradicionalmente favoráveis ao
partido que está no poder" (sic). Exemplar sabedoria!
Por outro lado, Sérgio fala da "esmagora maioria" que, afinal, passa dificuldades e lá acaba por tocar no pão e nos transportes. Mas de que maneira Sérgio aborda o problema?
Remetendo-o para a negligência dos "tecnocratas" (o termo é seu), para a falta de diálogo com "esmagadora maioria" (sic), transformando o problema gritante das desigualdades e das injustiças sociais num problema técnico, de falta de aprumo e de gestão de tempos de intervenção, tanto mais que - disse-o de forma perversa - os governantes estavam de férias "mais que merecidas" na altura do
5 de Fevereiro.
Finalmente, as "crianças-soldado" que Sérgio refere na sua crónica, naturalmente que pensando na Renamo, tem as sucessoras que, com exemplar rigor, indica: as "crianças desordeiras" (sic). Mas estas "crianças desordeiras", camarada Sérgio, são produzidas em cada vez maior quantidade pelo sistema social que os camaradas como Sérgio Vieira gerem, camaradas, Sérgio, que, cheios de bem-estar, hoje assinalam, com pompa e circunstância,
o heroísmo de Tomás Nduda lá por terras de Muidumbe, quando durante 40 anos se esqueceram de que a mãe e a irmã viviam e vivem com extremas dificuldades, sem casa digna, sem água, sem casa de banho.
A luta continua, camarada Sérgio Vieira! Quero acreditar que a "Memória do povo", título do seu livro de poesia, não foi esquecida e que você continua a celebrar "o mistério do nosso povo", tal como escreveu num poema faz muitos anos.
Nota: pode acontecer que ainda volte a este texto e corrija ou acrescente algo. Se isso acontecer (como acontece com alguma frequência nos meus textos), ficará assinalado a vermelho.
...O sr Sérgio Vieira é um caso digno de ser estudado.
ResponderEliminarCom a maior cara de pau tem passado a vida a botar opinião,sempre desenquadrado da realidade,pensando que o a ditadura de partido unico ainda está vigente .
Estamos em democracia , o povo não quer ser mais manietado,e as divagações marxistas encapotadas já não pegam mais.
Não tem,nem nunca teve a capacidade de um pedido de desculpas pelos actos cometidos num passado muito recente,quando no cargo de ministro decidiu a vida de muitos bons moçambicanos.
O tribunal para a reconciliação nunca foi aplicado em Moçambique e este e outros senhores,podem continuar ainda acoitados neste regime ,sem terem de perante o povo se retratarem.
Como se fosse possivel apagar o passado..!!
É preciso ter muita lata!
Já é mais que altura dele e outros como ele,se retirarem do palco .
Triste a realidade de quem se acha um intelectual e se expõe ao ridiculo,tantas e tantas vezes...
Reforme se!!!!
Análise exemplar. Contundente, sem a mínima ambiguidade. À Samora. Os meus cumprimentos, Carlos Serra.
ResponderEliminarL.S. Kudjeka
As crian�as do Soweto n�o nos fazem lembrar de nada?
ResponderEliminarLutavam contra qu�?
Ser� que a Frelimo se passou para o outro lado? O do poder dos ricos, dos corruptos. Dos que querem ficar no poder por mais mil anos, para sempre e que n�o hesitam em matar por e para isso?
Houve uma s�rie de opositores que foram fuzilados por (alegadamente) defenderem o capitalismo, etc. Quem s�o os grandes capitalistas de hoje? V�o fuzil�-los tamb�m?
A Frelimo esquece-se de muita coisa... Conv�m.
Que resultados gerou o vale do Zambeze? Criancas soldado, vi muitas serem retiradas do machimbombo bastava ser um pouco mais alta que uma AK47, ja tive que correr para escapar a operacao tira camisa e tinha 15anos, amigo meu foi levado da Rua na Maxaquene para um Antonov direto para a Beira, arranjem outra conversa todos usaram criancas na guerra. Se a RENAMO tem aquele poder de mobilizacao, entao alguns estao mal nas proximas eleicoes, nao? Hector Peterson morto com 15anos, como muitas que morreram em Malhazine, tem um monumento no Soweto um heroi Sulafricano, aqui herois so velhos.
ResponderEliminarEstou plenamente de acordo com o comentário do Tóxico!
ResponderEliminar Quem na orquestra do “Partido Estado” tocou tantos instrumentos (Sise, Ministro Governador do BM, Ministro da Agricultura, Governador Provincial Niassa, Professor, Investigador do CEA/UEM, Gestor de empresas do Partido, Director do Gabinete do Vale do Zambeze), não pode passar de um Generalista, com pretensões a Especialista. De todos os instrumentos que tocou, aquele a que melhor se adaptou foi, indubitavelmente, o Sise.
Eventualmente, com a sua recente estadia no exterior, por razões de saúde já resolvidas, acabou por ser ultrapassado pelo dinamismo da Sociedade. Parou no tempo, mas o tempo não esperou por ele e avançou!
Só assim se pode entender tamanha indisciplina partidária. Um “camaradão” vir a público defender posições completamente contrárias aos pontos de vista do Chefe. As mudanças de Valores não se verificam apenas na "populaça"…também há turbulência no Partidão.
> Como diria SV, será que há uma “mão estranha”, astuta estratégia, nesta “divergência” de opiniões entre camaradas?
Florêncio
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PS: As recentes cheias do Zambeze tiveram lugar em áreas abrangidas pelo Gabinete do Vale do Zambeze, dirigido por SV, logo, é da responsabilidade de SV o pouco trabalho realizado ao longo dos últimos anos com vista ao Reordenamento das populações das zonas abrangidas e sua fixação em zonas seguras.
SV devia consultar os Relatórios Anuais de Actividade do Gabinete do Plano do Zambeze (até 1974), onde (i) todas as operações de movimentação de populações, (ii) estudos de solos das duas margens do grande rio, (iii) parcelamento de zonas para produção, estão previstas e calendarizadas (algumas realizadas). Lá encontrará o recenseamento de então, de homens, mulheres e crianças por Regulado, não só nas áreas que vieram a ser alagadas pela albufeira (então priorizadas) como também a jusante (as actuais zonas de cheias).
O Gabinete do Plano do Zambeze era uma Instituição com elevada capacidade técnica. Infelizmente, após a Independência Nacional, foi entregue a João Ferreira, mais tarde Ministro da Agricultura, um “ten year” com elevadíssima capacidade para escangalhar: e se escangalhou, por onde passou!
Finalmente: SV preocupa-se e perde tanto tempo a identificar o que os outros devem fazer …, que se esquece de fazer o que deve!
Foram os tecnocratas, mais adultos que agitaram criancas, organizados por um partido, em lugar tradicionalmente outro Partido domina, lembrar que andar a pe ja foi tradicao de alguns dirigentes que hoje tem outra tradicao, a de andar de mercedes benz.Faltou escrever que a falta de resultados no Vale do Zambeze, as cheias tambem, sao culpa do poeta Azagaia. Os colonos portugueses disseram varias vezes o mesmo sobre Marcelino dos Santos, Noemia de Souza, Craveirinha e outros poetas, nao?
ResponderEliminarOs que estão em Muidumbe a celebrar a vida de Tomás Nduda estão cheios de bem-estar? Estão cheios de bem-estar mais do que quem? Mais do que Carlos Serra?
ResponderEliminaro "general das beatas" ta apto para ir parar ao José Macamo..um artigo publicado no canalmoz aqui a uns tempos mostra bem o que ele foi, as atrocidades cometidas e o que ele defende hoje..so um doido, que julga o povo cego,consegue ainda vir a publico dizer barbaridades destas!devem ser os fantasmas do passado a atrofiar-lhe o cérebro!
ResponderEliminar"Os que estão em Muidumbe a celebrar a vida de Tomás Nduda estão cheios de bem-estar? Estão cheios de bem-estar mais do que quem? Mais do que Carlos Serra?"
ResponderEliminarCaro anónimo, os que estão em Muidumbe estão sem vergonha na cara isso sim. Sem vergonha de se "aproveitar" da vida dum homem que tal como tantos outros, se entregou de corpo e alma para libertar Moçambique dos colonialistas portugueses e entrega-lo infelizmente nas mãos de colonialistas Moçambicanos.
E se o caro anónimo tivesse alguma vergonha na cara, antes de fazer as perguntas que faz e que são legitimas, devia se perguntar porque só hoje se celebra a vida desse herói que ao longos desses tantos anos nem menção dele se fazia? Acha que vai me custar relacionar essa "celebração desenvergonhada" às eleições que se avizinham?
Escute oque azagaia diz:
"E se eu te dissesse
Que antigos combatentes vivem de memórias
Deram a vida pela pátria e o governo só lhes conta histórias
Quantos nos dias de hoje dariam metade que eles deram?
Em nome de Moçambique, nem os que vocês elegeram"
O que é que o governo deve fazer para que os antigos combatentes deixem de viver na penúria? Definir-lhes um salário, digamos, semelhante a de um docente universitário? Como é que se paga a entrega à causa da libertação da pátria? Supondo que estamos a falar de 50.000 a 60.000 combatentes, o que é lícito e sustentável fazer? A penúria porque passam os veteranos não é parte da penúria porque passam quase todos os moçambicanos (incluindo antigos governantes que há alguns anos atrás eram considerados ricos e corruptos)? Os que hoje choram lágrimas de crocodilo por causa da pobreza dos antigos combatentes o que irão dizer se o governo decretar uma substancial melhoria das suas condições de vida?
ResponderEliminarCaro Nelson, se o Partido de sua escolha tiver herois, pois que os celebre também. Pode ser que também ganhe eleições.
Jonas Langa
...certas picardias meio infantis nos últimos comentários,não chegam para disfarçar o óbvio do aproveitamento do governo em repescar um heroi que ninguem em 32 anos de independencia , ouviu falar.
ResponderEliminar32 anos não são pouco tempo;quando e porquê se lembraram deste herói ;o que fez com que de repente ele fosse ressuscitado?
...os antigos combatentes estão todos com mais de sessenta anos ,e se não se fez nada por eles ,não vai ser agora que se vai fazer!
Os que se desenrascaram tão bem, os outros,esses vão vivendo como podem e daqui a mais trinta e tal anos, talvez alguém se lembre deles e os transformem em heróis...como ao desconhecido Nduda!!
Caro Jonas Langa que bom que se identificou assim fica mais fácil me dirigir a ti. Detesto falar com gente sem rosto é por isso que sempre me identifico com foto inclusive. Vamos lá deixar de parte os "venenos partidários" que estão claramente presentes nos seus comentários e falar usando os "raciocínios" que com certeza ainda temos apesar de sofrerem constantemente de lavagens lá nos partidos onde somos simpatizante e ou membros. Olha que isso não é acusação nenhuma pois se aplica a todos partidos. A dias neguei veementemente que me etiquetassem "simpatizante da Renamo" só porque criticava a Frelimo.
ResponderEliminarÉ o seguinte caro Jonas, não sei oque o governo da Frelimo deve fazer pelos antigos combatentes mas está claro(só quem não quer não vê) que não deve se aproveitar deles. Não acha estranho que essa celebração aconteça agora? 32 anos de independência. Quantos de nós estamos ouvindo falar de Nduda pela primeira vez? Como pode ter se esquecido dum herói desse tamanho que hoje merece todas essas honras? E ter se esquecido por todos esses anos? Não existe um registo dessa "malta" que morreu para libertar Moçambique?
Não acha caro Jonas ser maldosamente irónico perguntar se deve se atribuir ao antigo combatente um salário "semelhante a de um docente universitário"? Acha que se precisa de tanto para se ter uma vida condigna?
Se pedisse poderia mencionar uns 3 "antigos governantes que há alguns anos atrás eram considerados ricos e corruptos" e hoje vivem na "penúria porque passam quase todos os moçambicanos"
"Os que hoje choram lágrimas de crocodilo por causa da pobreza dos antigos combatentes o que irão dizer se o governo decretar uma substancial melhoria das suas condições de vida?"
Desde quando o governo da Frelimo se preocupou com oque se diz por ai? Quando se estipulam salários astronómicos para os PCA´s das empresas públicas por exemplo, alguém se preocupa com oque se vai dizer? Porque se preocupar com o que vai se dizer quando se melhorar a vida do antigo combatente? Não acha incoerência no raciocínio?
Quando o povo foi à rua reclamar da penúria em que vive qual foi a interpretação do governo do dia? Mão da oposição. Como quem ou ignora o sofrimento do povo ou o acha incapaz de reivindicar.
"Caro Nelson, se o Partido de sua escolha tiver herois, pois que os celebre também. Pode ser que também ganhe eleições"
Essa parte do seu comentário é infantilmente provocadora. É nele que leio o tanto que não chegaste a dizer e fico com uma ideia da pessoa que está detrás desses comentários a saber alguém que recorre à todos os argumentos possíveis para negar oque sabe ser verdade. No seu todo o comentário procura desviar as atenções. Não se disse aqui que não se deve celebrar os heróis. Oque se nega é essa vergonha que estão protagonizando. Oque se gastou com a pompa dessa "celebração" seria suficiente para melhorar a vida da família do referido herói não acha caro Jonas? Nem seria preciso estipular salário de docente universitário.
Agora me diga caro Jonas custa compreender isso? Esse meu raciocínio tem algo a ver com ser deste ou daquele partido? Precisa deixar de ser da Frelimo para pensar dessa forma?
Esse como disse antes é o problemas que se vive nos partido onde estamos filiados. Sentimo-nos obrigados a "parar de pensar" para a todo custo defendermos os "pecados" da nossa turma.
Para mim essa "celebração" é isso sim um insulto à alma de Tomás Nduda e a dos seus familiares vivos. Vamos ver oque acontece aos coitados dos familiares depois dessa celebração.
Para quem não sabia: (1) a FRELIMO decidiu celebrar os 40 anos da morte ou do assassinato dos heróis da Luta de Libertação Nacional; (2) O processo começou com Filipe S. Magaia, em 2006; (3) Prosseguirá, ainda este ano, com as celebrações das vidas e obras de Mateus Sansão Muthemba, John Issa, José Macamo, Paulo Samuel Kankhomba e outros que morreram ou foram assassinados em 1968; (4) a FRELIMO vai ainda promover a celebração dos 40 anos da realização do histórico II Congresso, na localidade de Matchedje, em Niassa.
ResponderEliminarNo geral, a FRELIMO dá um significado especial às celebrações das vidas dos seus heróis quando se completa 5; 10; 15; 20; 25... anos da sua morte. Ou seja, celebrações de grande vulto acontecem de 5 em 5 anos.
Só quem não conhece a história de Moçambique é que nunca ouviu falar de Tomás Nduda. Em primeiro lugar, pode-se mencionar que há uma rua, de apreciável dimensão, com o seu nome em Maputo. Em segundo lugar, é um dos herois cujos restos mortais repousam na cripta dos herois moçambicanos. A vida e obra de Tomás Nduda é extensivamente referenciada na historiografia da FRELIMO.
A perspectiva da FRELIMO em relação aos seus herois não é a de andar a distribuir dinheiro pelos seus ascendentes e herdeiros. O tesouro público não daria para a encomenda. Aliás, os mesmos que hoje hipocritamente exigem esse tipo de solução seriam os primeiros a criticar. A FRELIMO não distribuiu dinheiro pelos parentes de Eduardo Mondlane, Samora Machel, Josina Machel e outros.
Para quem não sabe, o irmão gémeo de Josina Machel vive em condições mais que modestas em Tshalala. Só a Josina teve mais de 6 irmãos. Se se fosse a distribuir dinheiro por todos eles o que seria das finanças deste país.
O que estou a dizer não é nada partidário. Parece-me que a FRELIMO, neste caso, está a ter a mais ampla visão de Estado.
Jonas Langa