Segundo o jornal "O País" na versão digital, o Presidente da República, Filipe Nyusi, chegou a Quelimane num avião das Linhas Aéreas de Moçambique, abandonando o uso de helicópteros e recorrendo a viaturas para visitar distritos na província da Zambézia, em nome da austeridade do seu governo. Aqui.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
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30 junho 2015
Primeira prova editorial do número "Qual o papel da imagem na história?"
Recebi hoje da editora às 08 horas locais a primeira prova editorial do 15.º número da coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da "Escolar Editora", intitulado "Qual o papel da imagem na história?"; entrego as eventuais correções próxima sexta-feira, às 08 horas locais. A autoria do número é de João Spacca de Oliveira do Brasil, Rui Assubuji de Moçambique, Osvaldo Macedo de Sousa de Portugal e Lailson de Holanda Cavalcanti do Brasil, de acordo com a sequência das fotos anexas.
Matriz da luta antiracial
A matriz da luta antiracial consiste não em trabalhar sobre os mecanismos infra-estruturais do sistema social que produz e reproduz a visão racial – das relações de produção aos sistemas educativos -, mas em defender a paridade das raças, em defender que as raças têm os mesmos direitos. Diferentes, mas iguais - para usar um cliché da moda. Nesta óptica, o problema não está na raça em si, mas na distribuição desigual de direitos raciais. O antiracismo é, muitas vezes, infelizmente, um mero biombo do racismo, seja este ofensivo ou defensivo. Nesta óptica, o problema não está na raça em si, mas na distribuição desigual de direitos raciais.
O que significa proclamar o fim da ideologia?
São vários aqueles que decretaram o fim da ideologia, entre os quais Daniel Bell e Francis Fukuyama, em meio a impugnadores do Estado social como Von Mises e Friedrich Hayek, de defensores acérrimos do Estado liberal enquanto única e última trincheira de democracia como Norbert Bobbio e de produtores do fim da dicotomia esquerda/direita como Anthony Giddens. O que, em última instância, significa proclamar o fim da ideologia? Significa proclamar o fim das diferenças sociais geradoras das lutas de protesto e recomposição, significa proclamar o fim dos mecanismos pelos quais se procura obscurecer a produção e a reprodução das desigualdades sociais, significa proclamar o fim do questionamento de um dado sistema de relações sociais, o sistema capitalista.
29 junho 2015
16.º e 17.º números dos "Cadernos de Ciências Sociais" da "Escolar Editora"
Entreguei hoje à "Escolar Editora", às 08 horas locais, o 16.º número da coleção "Cadernos de Ciências Sociais", intitulado "O que são pobreza e pobres?", com autoria de Kajsa Johansson da Suécia, Narciso Mahumana de Moçambique e Marcelo Medeiros do Brasil, fotos abaixo.
O 17.º número chamar-se-á "O que é sociologia?", com autoria de Vicente Paulino de Timor-Leste, Paulo de Carvalho de Angola e Ricardo Arruda do Brasil, fotos abaixo. Em breve começarei a trabalhar nele e proximamente dir-vos-ei quando o entregarei à editora.
No "Savana" 1120 de 26/06/2015, p.19
Se quiser ampliar a imagem, clique sobre ela com o lado esquerdo do rato. Nota: "Fungulamaso" (abre o olho, está atento, expressão em ShiNhúnguè por mim agrupada a partir das palavras "fungula" e "maso") é uma coluna semanal do "Savana" sempre com 148 palavras na página 19. A Cris, colega linguista, disse-me que se deve escrever Cinyungwe. Tem razão face ao consenso obtido nas consoantes do tipo "y" ou "w". Porém, o aportuguesamento pode ser obtido tal como grafei.
Adenda: também na rubrica Crónicas da minha página na "Academia.edu", aqui.
Transformar a mentalidade, não a situação dos oprimidos
"Em suma, se tratará de transformar a mentalidade dos oprimidos, e não a situação que os oprime. Assim procede cinicamente, nos Estados Unidos, o Big Business. Serve-se das Public Relations para propagar entre os explorados os slogans que interessam aos exploradores. Criou a técnica da Human Engineering, que serve para dissimular a realidade material da condição operária por meio de mistificações morais e afetivas. Através de uma educação apropriada, de métodos de mando cuidadosamente estudados, esforça-se por convencer o proletário de que ele não é um proletário, mas um cidadão americano. E se ele recusa deixar-se manobrar, é considerado como um anormal, e inventou-se para ele uma terapêutica de "desrecalque"." (Beauvoir, Simone de, O pensamento da direita, hoje [1955]. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra S.A., 1972, p. 20, itálicos na obra.)
28 junho 2015
Apetência pelo homem providencial
Tal como anteriormente Samora, Chissano e Guebuza, Nyusi aparece com um ser providencial, capaz, por si só, de resolver não importa que problema na óptica dos que o prezam, dos que o adulam e, mesmo - suprema preversidade - dos que nele vêm apenas uma emanação amorfa dos presidentes anteriores. O apelo à excepcionalidade do grande homem representa, quase sempre, o eclipse das instituições, a falta de confiança nelas. Representa, também, um enorme desejo de divindades.
Ideologia segundo Samora Machel
"As ideias, os valores, os hábitos, os usos e costumes, o conjunto das normas inconscientes que regulam o comportamento quotidiano do indivíduo, são expressões da ideologia e cultura da sociedade existente. Acontece que todos nós nascemos e crescemos na sociedade exploradora, fomos profundamente impregnados da sua ideologia e cultura, por isso é-nos difícil e por vezes parece-nos impossível o combate interno, contra o que cremos constituir o nosso esqueleto moral. Arrancar de nós a ideologia e cultura exploradora para assumirmos e vivermos, no detalhe do quotidiano, a ideologia e cultura requeridas pela revolução, constitui a essência do combate pela criação do homem novo." - Excerto de um discurso deSamora Machel num simpósio de homenagem a Amílcar Cabral em 1973 - Bragança, Aquino de e Wallerstein, Immanuel, Quem é o inimigo (II). Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1978, p. 176.
27 junho 2015
Por quê?
Homem de calças ou de tronco nu não é problema; mulher de calças ou de mini-saia, é problema. Por quê? Porque é suposto transportar sexualidade pura, justamente a sexualidade pensada, desejada e criada pelos homens. Na história da humanidade, razão, história, pensamento, verticalidade, luz, alma e superioridade têm sido considerados apanágio dos homens; emoção, natureza, sensações, horizontalidade, trevas, corpo e inferioridade, apanágio das mulheres.
Normalidade
Chama-se a atenção do automobilista para o facto de que ao estacionar a viatura no passeio impede a passagem dos peões. Debalde, personagem mira-nos com estranheza e cólera, nós é que somos anormais, normais são ele e todos os outros que fazem da contravenção e da falta de respeito regras de comportamento urbano diário. E depois temos, no mesmo local, certos polícias que, rodeados da viaturas mal estacionadas, fazem o controlo rodoviário à espera do refresco dos automobilistas apressados.
"À hora do fecho" no "Savana"
Na última página do semanário "Savana" existe sempre uma coluna de saudável ironia que se chama "À hora do fecho". Naturalmente que é necessário conhecer um pouco a alma da vida local para se saber que situações e pessoas são descritas. Segue-se um extracto reproduzido da edição 1120, de 26/06/2015, disponível na íntegra aqui:
26 junho 2015
Desconstrutora de mitos politicamente úteis
A filósofa brasileira Marilena Chauí, várias vezes citada neste diário, é uma admirável desconstrutura de mitos politicamente úteis: "A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da idéia de “humanidade”, ou da idéia de “nação” e “pátria”, ou da idéia de “raça”, etc. Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc." Aqui.
25 junho 2015
40 anos de Moçambique independente
Hoje, 25 de Junho de 2015, o nosso país faz 40 anos, pois nasceu a 25 de Junho de 1975. O aniversário do nosso jovem país não deve conjugar-se no presente do indicativo, mas no futuro. Tenhamos orgulho nele, tenhamos orgulho na nossa pátria sejam quais forem os problemas e os desencontros. E ao tê-lo e ao praticá-lo, ao orgulho, façamos nossas também as outras pátrias. Com as raízes aqui, sejamos a todo o momento a copa do mundo, frondosa e hospitaleira. Oiçam o hino nacional aqui. Finalmente, para aqueles que eventualmente por aqui passarem e hoje também façam anos, parabéns habitados pela saúde.
Cadernos de Ciências Sociais/Escolar Editora/14.º número no prelo [4]
Quarto e último número da série. Capa e contracapa do 14.º número da coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da "Escolar Editora", intitulado "Existe imprensa independente?", no prelo, com autoria de Tomás Vieira Mário de Moçambique, Ethel Corrêa do Brasil e Nuno Ramos de Almeida de Portugal. Recorde os dez primeiros números já no mercado, aqui. Amplie a imagem clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato.
24 junho 2015
Cadernos de Ciências Sociais/Escolar Editora/13.º número no prelo [3]
Samora e o Capital (9)
Nono número da série. Hoje os momentos são outros, a roda da história parece ter outra história, diferentes são as maneiras por que se lê e se analisa o que se passa em Moçambique e no mundo em geral. Recordemos extractos de um texto de Samora Machel e retomemos contacto com categorias analíticas que parecem perdidas, num país como o nosso onde é cada vez mais forte a presença do Capital internacional e, em particular, do Capital mineiro [amplie a imagem abaixo clicando sobre ela com o lado esquerdo do rato]:
Fonte: Machel, Samora Moisés, O processo da revolução democrática popular em Moçambique (1970?). Maputo: Departamento de Informação e Propaganda, 1976, in Colecção estudos e orientações, Instituto Nacional do Livro e Disco, 1980, 78 pp.
Adenda: leia dois textos da autoria de brasileiros, a saber: José Flávio Sombra Saraiva, Moçambique em retrato 3x4: Uma pequena brecha para a política africana do Brasil, aqui; Beluce Belluci, Tudo e nada: aposta do Capital em Moçambique, aqui.
23 junho 2015
Dhlakama, o castrense
Segundo a "Lusa", o Sr. Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, admitiu ter ordenado a forças do seu exército o ataque de 14 de Junho às forças governamentais, causando - asseverou - 45 mortos. Aqui. Recorde o que no dia 16 deste mês disse o porta-voz da Renamo, Sr. António Munchanga, aqui.
Adenda: "O importante é que é muito difícil classificar uma democracia onde, por um lado, temos um partido no poder, e, por outro, temos um partido da oposição com o seu exército privativo, isso é um bocado estranho." Aqui.
Adenda: "O importante é que é muito difícil classificar uma democracia onde, por um lado, temos um partido no poder, e, por outro, temos um partido da oposição com o seu exército privativo, isso é um bocado estranho." Aqui.
Cadernos de Ciências Sociais/Escolar Editora/12.º número no prelo [2]
Obediência e desobediência
Creio que os seres humanos são portadores de um capital de obediência formado ao longo das suas diferentes socializações, com aprendizagem e interiorização de regras e de fórmulas de obediência à Ordem. É por aí que se estruturam os veios de identificação e os laços afectivos primordiais.
É como se quiséssemos ser como o Pai e, por extensão, como todos aqueles que simbolizam esse Pai e a sua autoridade: o Presidente, o Professor, o Curandeiro, o Escritor, o General, etc.
Mas o processo está acoplado ao desejo de sermos o próprio Pai (na plural assunção atrás sugerida) e, se possível, de irmos para além dele: é aqui que nasce a ruptura filial e a aspiração a uma nova identificação com a figura do rebelde, do subvertor, do anómico, do produtor de historicidade. Eis, então, o capital de desobediência.
É como se quiséssemos ser como o Pai e, por extensão, como todos aqueles que simbolizam esse Pai e a sua autoridade: o Presidente, o Professor, o Curandeiro, o Escritor, o General, etc.
Mas o processo está acoplado ao desejo de sermos o próprio Pai (na plural assunção atrás sugerida) e, se possível, de irmos para além dele: é aqui que nasce a ruptura filial e a aspiração a uma nova identificação com a figura do rebelde, do subvertor, do anómico, do produtor de historicidade. Eis, então, o capital de desobediência.