Comentários de vários tipos surgidos na imprensa e neste diário mostram quão difícil vai ser implementar a cesta básica. Porém, já escrevi que não tenho competência para analisar a consistência económica da cesta, restando-me unicamente a possibilidade de procurar analisá-la como cesta política.
Falei-nos no número anterior nos seis percutores da cesta básica, a qual é, afinal, em meu entender, basicamente política. Num país de profundas desigualdades sociais, o problema central e complexo do partido gestor do Estado consiste em assegurar a superioridade do capital directivo sobre o capital de dominação e em evitar a todo o transe que seja alta a composição orgânica da política e, portanto, menor a taxa de lucro político, quer dizer, menor a legitimidade nas percepções populares.
Nos últimos dias têm-se sucedido, veementes, os apelos estatais e políticos à não participação em manifestações "violentas", os apelos à paz. E não é por acaso que esses apelos se sucedem: manifestações podem dar origem ao exercício rude do capital de dominação e à erosão rápida do capital directivo, expondo em toda a nudez a fractura social existente e inutilizando precocemente os frutos publicitários da cesta.
Prossigo mais tarde.
Os tais apelos de que fala o jornalista Machado da Graça no texto que o Professor colocou à nossa disposição.
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