"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht).
Avanço na série e nas hipóteses, continuando a apresentação das características da revolta de 1/3 deste mês, muitas das quais pontuaram também - como já salientei anteriormente - a revolta de 5 de Fevereiro de 2008:
7.Objectivo central: o objectivo central não consistiu em derrubar o Estado, teve apenas o presente como horizonte, a luta não foi contra o Estado em si, mas contra um Estado considerado distante, um Estado sentido como não sendo o desejado Estado-Pai (este é sentido percepcional a nível popular), como não sendo um Estado-redistribuidor, um Estado sentido como estando apenas ao serviço dos poderosos. Em alguns canais televisivos, surgiram pessoas com expressões do género "Queremos justiça", "Estamos a passar mal", "Tratam-nos mal", etc. Os manifestantes não estiveram contra a posse de recursos em si, mas contra a não redistribuição justa desses recursos. De forma imediata, os objectivos centrais foram dois: (1) pela destruição, pela agressão e pelo roubo, assinalar de forma imponente a revolta, o desgosto, disseminar o aviso de que as coisas tinham de mudar; (2) chamar a atenção do Estado para uma identidade, a identidade dos excluídos que vivem nas periferias urbanas. É como se as pessoas se sentissem vítimas de um mal simbólico-urbano do tipo leões de Muidumbe e procurassem exorcizá-lo, condenando os seus proprietários.
8.Significado catárquico do pneu: saído dos bairros onde joga um papel cultural fundamental a vários níveis, designadamente ao nível lúdico das nossas crianças, o pneu tornou-se uma das figuras centrais da revolta. Préfiguração do carro que não se possui, do mercedes benz do centro urbano, incendiado, colocado nas vias públicas, o pneu em chamas constituiu-se como o símbolo do protesto e da catarse. É esse pneu incendiado que, nos linchamentos, assume o papel de purificação dos agravos que as comunidades dizem sentir diante dos ladrões ou de supostos ladrões (foto reproduzida daqui).
Avanço na série e nas hipóteses, continuando a apresentação das características da revolta de 1/3 deste mês, muitas das quais pontuaram também - como já salientei anteriormente - a revolta de 5 de Fevereiro de 2008:
7.Objectivo central: o objectivo central não consistiu em derrubar o Estado, teve apenas o presente como horizonte, a luta não foi contra o Estado em si, mas contra um Estado considerado distante, um Estado sentido como não sendo o desejado Estado-Pai (este é sentido percepcional a nível popular), como não sendo um Estado-redistribuidor, um Estado sentido como estando apenas ao serviço dos poderosos. Em alguns canais televisivos, surgiram pessoas com expressões do género "Queremos justiça", "Estamos a passar mal", "Tratam-nos mal", etc. Os manifestantes não estiveram contra a posse de recursos em si, mas contra a não redistribuição justa desses recursos. De forma imediata, os objectivos centrais foram dois: (1) pela destruição, pela agressão e pelo roubo, assinalar de forma imponente a revolta, o desgosto, disseminar o aviso de que as coisas tinham de mudar; (2) chamar a atenção do Estado para uma identidade, a identidade dos excluídos que vivem nas periferias urbanas. É como se as pessoas se sentissem vítimas de um mal simbólico-urbano do tipo leões de Muidumbe e procurassem exorcizá-lo, condenando os seus proprietários.
8.Significado catárquico do pneu: saído dos bairros onde joga um papel cultural fundamental a vários níveis, designadamente ao nível lúdico das nossas crianças, o pneu tornou-se uma das figuras centrais da revolta. Préfiguração do carro que não se possui, do mercedes benz do centro urbano, incendiado, colocado nas vias públicas, o pneu em chamas constituiu-se como o símbolo do protesto e da catarse. É esse pneu incendiado que, nos linchamentos, assume o papel de purificação dos agravos que as comunidades dizem sentir diante dos ladrões ou de supostos ladrões (foto reproduzida daqui).
(continua)
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