Outros elos pessoais

09 outubro 2007

Dhlakama roubou a guerra à paz? (3) (fim)

“Como o leão não se sabe defender das armadilhas e a raposa não se sabe defender dos lobos, é necessário ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para meter medo aos lobos. Os que querem fazer apenas de leão não percebem nada do assunto” (Maquiavel em "O Príncipe")
Se tivesse ido às comemorações oficiais dos Acordos de Paz assinados em Roma em 1992, Dhlakama teria sido obrigado a fazer duas coisas: (1) reconhecer os donos do país, prestar-lhes contínua vassalagem; (2) ficar prisioneiro de um campo inimigo de luta política, sem possibilidades de fazer frente ao exército contrário presente em peso, sem recurso à emboscada política. Teria sido um soldado convencional integrado no exército contrário, fazendo os mesmos gestos convencionais que os soldados inimigos, disparando o mesmo tipo de tiros-cheios-de-abraços. Mantendo-se afastado, assinalando a efeméride em local por si escolhido, Dhlakama quis mostrar que tem força suficiente para se poupar a genuflexões e a pactos sem futuro. E quis especialmente mostrar que o Estado não é isento, que neste Estado tudo tem a mão da Frelimo. Recusando o sibindysmo, seguiu a via da guerrilha, foi oposição efectiva. Para modificar uma fórmula de Che Guevara, foi o jesuíta da oposição.
Mas o presidente da Renamo tinha ainda uma outra hipótese de luta: a do cavalo de Tróia em nova versão. Indo às cerimónias oficiais, poderia ter conjugado duas coisas: (1) infiltrar a Renamo em território inimigo, disseminando a força de um partido que também sabe lutar sem florestas e que sabe gerir as regras negociais de jogo da gravata: certamente teria ganho pontos no auditório nacional e apoios nos doadores internacionais; (2) manter o golpe rins da guerrilha, comemorando as cerimónias em território neutro por si escolhido. Desta maneira à Janus, teria morto dois coelhos de uma só cajadada ampliando o efeito da técnica de Epeu.
_____________________
O humor prazenteiro evita as úlceras, como sabeis. E foi com esse humor, escondido em sisudo rosto de Nietzsche, que um dia, quando instado a dar uma receita de como chegar a presidente de município de uma das nossas cidades, aconselhei dois graves e ansiosos senhores a lerem Maquiavel.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.