Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
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21 julho 2007
Privatização da violência e da justiça: a criminalização do social em Moçambique (4) (continua)
"A moderna sociedade burguesa, uma sociedade que desenvolveu gigantescos meios de troca e de produção, é como o feiticeiro incapaz de controlar os poderes ocultos que desencadeou com as suas fórmulas mágicas" (Manifesto do Partido Comunista)
Naturalmente que são muitos os factores que estão à retaguarda da privatização da violência e da justiça.
Regra geral e no movimento instintivo que nos é peculiar de procurarmos as causas mais locais, mais à mão, recorremos a situações que nos parecem sensatamente lógicas e que, afinal, são mesmo sensatamente lógicas.
Por exemplo, em Moçambique, diremos que as fissuras no nosso judicial e no nosso sistema policial - morosidade processual, corrupção - são as causas da privatização da justiça e da crispação social, da violência que salta da alma para a adrenalina pistoleira, do desespero para as gangs de AK47 que parecem inundar Maputo.
Na mesma ordem de ideias, diremos que o futuro hospital privado a construir em Maputo e orçado em 18 milhões de dólares é fruto natural dos bloqueios de todos os tipos que encontramos nos hospitais estatais.
Tudo isso é sensatamente sensato. Tão sensato como dizermos que a intemperança da linguagem é produto da intemperança da alma.
Mais difícil, porém, é irmos à lógica de um sistema social que - por inteiro - produz, segrega naturalmente, logicamente, inexoravelmente, a visão privada de resolver as coisas da vida, o salve-se quem puder, o darwinismo social.
A privatização da violência e da justiça não tem nada a ver com o inatismo, com o guarda-roupa dos instintos. Não somos inatamente violentos e justiceiros. Não é naturalmente que segregamos os Filemos e as Báucias do Fausto de Goethe ou os pedintes e as crianças de rua das nossas cidades. É socialmente, deixe-me enunciar tão bárbara redundância.
A privatização da violência e da justiça tem, sim, a ver com o sistema social que produz a segregação, o racismo sem raça e as representações sociais atinentes.
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