Outros elos pessoais

25 abril 2007

Feizal Sidat

Uma vez mais aqui vou tentar, com o inêxito habitual, mas sem perda do humor digestivo, desdobrar-me nas minhas duas almas, a do estudante do social e a do cidadão. Aquele procura observar sem juízos de valor, este é completamente juízista de valor. A propósito de quê? A propósito de um dos trunfos eleitorais de Feizal Sidat, candidato às eleições da presidência da Federação Moçambicana de Futebol (FMF). E que trunfo é esse, segundo o "Notícias"? É o seguinte: "Para este candidato à FMF, os clubes têm que começar a pensar no futebol como um mundo de negócios, onde o maior ganho se assenta na produção de talentos e receitas, com a criação destas sociedades anónimas desportivas, onde, para além dos sócios, aparecem empresas que podem dar o seu contributo na gestão financeira das colectividades."

I - Posição do estudante
O candidato mostra possuir bem o ar do tempo. Se tudo é mercadoria, jogadores também devem ser mercadorias. Clube é uma unidade de produção capitalista e unidades de produção capitalistas destinam-se a produzir dinheiro, a produzir mais-valia como dizia o velho Marx. E para isso importa, entre várias coisas, prever a matéria-prima. Qual? A formação de jogadores. Quando mais pequenos e tenros, melhor - diz a alma negocial de Sidat. Mas como o futebol deve ser um complexo, o capitalismo futebolístico deve também apostar nos árbitros, nos treinadores e nos dirigentes. Tudo deve ser rentabilizado na óptica do candidato de Mário Coluna em concorrência com Mário Guerreiro e Norberto dos Santos. A frente de ataque sidatiana é, assim, completamente estrangeira ao espírito paroquial e chorão que está regra geral com a mão estendida para o Estado à procura de dinheiro. Quanto menos Estado e quanto mais Capital e lucro, melhor - eis a plataforma eleitoral de Sidat. Isto não é nem mau nem bom: é uma estratégia eleitoral enraizada no espírito empresarial, na lógica do capital. Resta saber se é eficiente.

II - Posição do cidadão
Como sabem, o cidadão é sempre muito sensível, muito chorão, muito pedinchão. Evidentemente que sei que Sidat não descobriu a banha da cobra tentando, agora, ensinar ao mundo desportivo nacional como se faz negócio. Provavelmente o pessoal não faz mais e melhor negócio do que já faz por falta de conhecimento não digo do Capital de Marx, mas da persistência educadora de Sidat. Cá por mim, vejo com maus olhos a veia capitalista de Sidat. Que tradições, que moral tenciona introduzir? Quer transformar venerandas escolas de formação e de competição sadia em unidades capitalistas de produção? Quer produzir Zainadines, Condes e Paítos para os exportar em série para a África do Sul, a Arábia e a Europa? Não bastam as empresas e os restaurantes anexos aos clubes? A mercantilização do desporto em Moçambique é um risco. O nosso desporto caminha para a privatização nas mãos de Sidat. Como, afinal, tanta outra coisa privatizada neste país.
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Bem, no meu estilo artesanal, poderei ainda voltar a isto para corrigir algo.

4 comentários:

  1. Infelizmente alguém vai caír no papo do Sidat. Esse candidato não me inspira confiança. Concordo, como cidadão, que ele anda nas nuvéns. Para mim, o candidato Sidat deve ser avaliado em concomitância com Coluna: esteve no mesmo elenco. E tendo observado de longe as capacidades intelectuais e de gestão do Monstro (De)Sagrado, posso jurar que quem deve facto esteve em frente dos destinos da FMF foi Faizal Sidat.

    Foi Sidat que convenceu a FMF a "enganar" o governo a ir na aventura de candidatar-se para a organização do Africano. Costumo dizer, como os americanos, se querem saber quem é o mentor, sigam o trilho do dinheiro. As coisas eram feitas de tal sorte impensadas que a FMF até - sem fazer concurso público - adjudicou todos os direitos para o fornecimento de material desportivo às selecções nacionais até 2010 à Sidat Sports. E advinhem quem é o proprietário da Sidat Sports? Faizal Sidat.

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  2. Professor, obrigado por ter seguido a minha dica e ter abordado este assunto das eleições na FMF.
    Concordo com as afirmações do Bayano Valy, e ainda digo mais quando começar a mercantilização dos jogadores quem irá vende-los será o agente FIFA cá da praça que é o irmão do Feizal o Shafi Sidat.
    O candidato Feizel esteve no elenco do sr. Mário Coluna, e nós todos sabemos que o Monstro Sagrado como dirigente desportivo faz-nos lembrar as afirmações do Bispo Dom Ximenes Belo que disse recentemente ao Xanana Gusmão que não é por sermos bom guerrilheiros que nos torna-mos um bom chefe de estado.Isto para dizer que Coluna como jogador pode ter sido excelente, mas como dirigente desportivo foi uma lástima.
    Coluna tinha um elenco no qual estava o candidato Feizal Sidat, portanto este também deve estar associado a lástima deixada por este elenco.
    A questão que coloco é se o Feizal Sidat é competente, então porque não ajudou o Monstro Sagrado a conduzir melhor os destinos da FMF? Avanço duas hipoteses:
    Ou é incompetente ou então era um traidor que estava a espera do seu momento para ocupar a presidência.

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  3. Bem... Nao sei se tenho dados suficientes para entrar no debate, e realmente conheco muito pouco da realidade dos destinos futebolisticos mocambicanos, a nao ser que nao andam nem desandam e se andam e so de desastre em desastre.

    Desconheco o sr. Sidat e as suas filosofias, a nao ser do que li agora... mas numa coisa tenho que concordar com o que foi dito sobre o que ele disse: quanto menos estado na bola, melhor... Nao quer isto dizer que os estado mocambicano deve parar de fincanciar, promover ou la o que seja que faz com o futebol... mas penso que o futebol mocambicano ja deu mostras que ainda tem muito que caminhar, quando outras modalidades demonstraram que estao bem colocadas para representarem Mocambique com orgulho.

    Gostaria ver o estado a investir mais noutras modalidades que merecam mais. Ainda que o futebol seja o desporto rei. A verdade e que rei por rei, tem que merecer estar no trono... e este nosso rei anda bem decadente.

    Talvez tenha saido um pouco do tema... mas sobre o futebol mocambicano e sempre assim que penso.

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