Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
22 janeiro 2007
Por que urinamos e defecamos ao ar livre?
Perante tantos problemas que fazem as manchetes dos jornais, devíamos reflectir sobre aqueles temas modestos, sem glória, mas persistentes, que fazem o nosso dia-a-dia.
Por exemplo, sobre o fecalismo a céu aberto.
Alarguemos a amplitude do problema: por que razão ou por que razões urinamos e defecamos a céu aberto nas áreas urbanas e peri-urbanas? É, provavelmente, uma pergunta muito vasta. Mas fica feita.
Deixem-me avançar cinco hipóteses simples, provocadoras:
(1) Porque as pessoas não têm hábitos de higiene
(2) Porque não existem sanitários disponíveis
(3) Porque as pessoas possuem ainda hábitos rurais
(4) Porque não existe o sentido do pudor
(5) Porque se considera que o mar e os rios são sanitários naturais e ideais
E, já agora, entremos no campo normativo, no campo das medidas a tomar. Três hipóteses:
(1) Educação generalizada a todos os níveis, especialmente nas escolas
(2) Punições graduadas consoante a severidade das faltas
(3) Ambas as coisas
Deixo ficar aqui o desafio a ver se surge o debate.
13 comentários:
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A senhora não acha o seu pensamento muito redutor? A senhora acha mesmo que as pessoas não têm pudor e moral? E perderam os valores morais como? Quais valores morais?
ResponderEliminarPara mim, Cada uma das cinco hipóteses está incompleta.
ResponderEliminarTalvés tentarmos conjugar todas elas de acordo com cada situação, lugar, região, etc.
Voltarei para formular as minhas a partir das suas, Prof.
ResponderEliminarCasas de banho? Mas e o pagamento? E depois ensinar as pessoas a usar a retrete e a sanita. Novos problemas.
ResponderEliminar(curioso)
Pelo que vejo, o debate começou. Vamos então aguardar a sua hipótese, Egídio. Você, Esfinge, parece uma Hitler de saias.
ResponderEliminaré simpatica a maneira como aborda a sociologia das “pequenas coisas” no nosso quotidiano. Gostaria de “deitar mais uma acha para a fogueira”. Sera que existe uma correlaçao entre o afluxo de estrangeiros ao país (habitando em condiçoes deploraveis) e o fecalismo. Sera o fecalismo é induzido por habitos externos?
ResponderEliminarAnalisando as cinco hipóteses,me pareceu faltar uma hipótese nr:
ResponderEliminar(6) Nenhuma das respostas
Assim sendo não tenho o devido comentário.
Quanto ao campo das medidas à serem tomadas:
(1)X
Esta minha afirmativa na primeira questão de nada tem haver com o que eu responderia nas hipóteses simples se houvesse a questão (6).
Minha opção na afirmativa (1) das medidas...é por sempre acreditar no imenso poder da educação, e por
desprezar todo e qualquer tipo de punição.
Não creio que o fecalismo tenha o que quer que seja a ver com os estrangeiros. Por outro lado, não podemos desprezar outro tipo de hipóteses.Finalmente, importa dizer que uma hipótese não é uma resposta a um problema, mas uma pré-resposta que a pesquisa homologa ou invalida.
ResponderEliminarO mais interessante dos discursos pretensamente 'solucionarios' e perceber os preconceitos que se percebe nas mentalidades...
ResponderEliminarSe os dirigentes e administradores desta grandiosa nacao sucumbirem aos mesmos preconceitos, as solucoes vao deixar tudo a desejar.
E de necessidade em necessidade vamos continuando na m...esma situacao.
Bem... nao acho que haja uma solucao magica. Acho que existem varias possibilidades, da qual a educacao e uma delas. Mas educacao nao so no sentido de como mantera higiene e salubridade ou conscientizacao dos problemas de saude publica advindos de defecacao ao ar livre; mas tambem no sentido de ensinar aos cidadaos em geral (de uma vez por todas) que se alguem nao faz as coisas como nos fazemos, nao partir do principio imediato que e porque e primitivo, imoral ou ignorante.
ResponderEliminarA minha hipotese:
ResponderEliminarVivemos numa anomia social que bem merece ser compreendida.
As hipoteses lancadas pelo professor nao passam, quanto a mim, de meros sinais dessa animia, sintonamas de uma sociedade que clama pelos bens de consumo.
Em suma:
Porque, perante o poli-traumatismo social (por poli-traumatismo social quero me referir ao multiplo conjunto de carencias de bens de consumo que, juntos, conduzem a uma situacao de anomia social), actos, aparentemente tentadoras ao pudor e a postura urbana, perdem sentido, e sao normalizados, autolegitimando-se.
O urinar-e-defecar-ao-ar-livre, surge ao mesmo tempo como um grito de protesto a esse poli-traumatismo social.
ERRATA a entrada anterior:
ResponderEliminarOnde se le: animia, deve se ler ANOMIA.
Bem, mais dados foram lançados. E ainda bem. Dois dados aqui ficam: uma educação sem prejuízos (la strega) e o conceito de acto normal fora do espaço onde são oficialmente produzidas as regras de comportamento considerado normal (Egídio).
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