Outros elos pessoais

10 agosto 2006

Espíritos da modernidade

Viajo com regularidade pelas províncias.
E quanto mais viajo mais me convenço da quantidade pujante de vida plural que permeia o nosso Povo e da qual ele dá provas de historicidade diária.
Mais me convenço, sobretudo, de que ele é, na sua diversidade, um produtor constante de mestiçagens, de hibridismos culturais.
Na verdade, se estivermos atentos ao que parece ser a vida de todos os dias, verificamos com facilidade quanto as tradições se modernizam e quanto as modernidades se tradicionalizam.
No mais modesto dos actos da moçambicanidade do dia a dia, habita, na verdade, uma espécie de vitalidade browniana.
E isso mesmo ao nível daquelas entidades que, sobrehumanas, parecem ser o recurso obrigatório das gentes.
Os espíritos, por exemplo, eles também são, acreditem-me, produtores de historicidade. Os homens assim os querem e os moldam, atentos que estão à mudança, e não tenho conhecimento de que haja protesto espiritual contra isso.
Numa das províncias onde estive há alguns anos, um régulo presenteou-me com uma cerimónia de invocação de espíritos destinada ao mesmo tempo a informá-los da minha presença e a dar-me boa sorte na vida.
A invocação foi feita com pombe, cerveja da Namíbia em lata, coca-cola, três bolachas Maria e um cigarro SG.
Fiquei perfeitamente maravilhado com esse sincretismo da modernidade espírita.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.