Oitavo número da série. Escrevi no número anterior que na lógica sensorial do pensamento e da comunicação de todos-os-dias, estão social e persistentemente hospedados quatro fenómenos: simplismo, essencialismo, maniqueísmo e a-historicismo. Tendo já escrito um pouco sobre o simplismo, passo agora ao essencialismo. A virtude cardeal do essencialismo - coisa de todos nós, ao mais variados níveis - consiste em tomar comportamentos, estados e identidades por fenómenos imutáveis e auto-explicáveis. A etiquetagem social é, regra geral, o produto do essencialismo. Quando dizemos que o norte do país é matriarcal, estamos simplesmente a dizer que perderíamos o norte caso algo se desmatriarcalizasse, caso sumisse essa confortante evidência irremediavelmente natural e fagocitante. Eis uma pergunta à Georg Simmel: a partir de que efectivo os desviantes seguros ou prováveis podem ser tomados como quantidade negligenciável?
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