Mas a fugacidade que escorre da agitação do mundo febril dos chapas, dos dumbas, das barracas, etc., é constantemente violada e compensada pela produção do tempo antropológico.
Na verdade, milhares de pessoas investem diariamente no diálogo, nas horas que perderam o perímetro, no tempo que rompe os relógios, nos espaços a um tempo afectivos e belicosos, rudes e doces, confiantes e trágicos.
Cerimónias fúnebres, repastos, bula-bula de esquina, inter-ajuda de bairro, solidariedades religiosas, festas populares: tudo isso passa e pára, avança e recua, encurta e alonga, perpassa e sustém.
No tempo que pressiona enxerta-se o tempo grávido do cosmos. Ao relógio da física clássica sucede a nuvem popperiana, complexa, aleatória, sempre mutante; a porta da vida cede lugar à ponte de Georg Simmel: aquela pode fechar-se, esta dá sempre passagem.
O Ministerio do Plano e Desenvolvimento esta em Conselho Coordenador na Namaacha. A anteceder o evento, os quadros do Ministerio visitaram uma quinta que produz morangos e umas capoeiras para exemplificar o combate a pobreza e a producao de riqueza, nas palavras de Salimo Vala, SP.
ResponderEliminarNo entanto as pessoas continuam a fazer os 17 Km entre Matola e Maputo em mais de duas horas de tempo. Durante este tempo estas muitas pessoas, e por via delas, o país, não estão a produzir, não estão a combater a pobreza ou seja, não estão a fazer riqueza.
Para que serve mesmo o Ministerio do Plano e Desenvolvimento?
PS:O texto é uma fotografia rimada de Maputo. É excelente. Mais umas pinceladas sobre sequestradores,o tráfico de drogas e a completa desorientação das autoridades complementavam-no.
O texto é bem maior, publicado faz tempo em dois dos meus livros, só mais um pouco:
ResponderEliminar"É nas cidades onde toma curso o complexo mundo do informal (que é, afinal, o nosso verdadeiro mundo formal), mundo da nocturnidade para alguns, mundo da diurnidade real para a maioria, mundo da mestiçagem, heterogénea panóplia de actores, de práticas e de processos, federados todos na marginalidade em relação ao oficial e à lei mas sem quebrar os laços com ambos, onde tudo se vende (incluindo provas de exame, drogas, armas e medicamentos) numa permanente negociação sem recibo, onde os preços são feitos e refeitos a cada instante ao sabor do poder estruturante do aleatório, onde o inesperado e a ambivalência são a regra, onde a racionalidade económica e a impiedosa luta pela sobrevivência pagam tributo à afeição, ao dom e às redes de solidariedade, aos espíritos e à contra-feitiçaria, mundo onde as línguas originais são, afinal, línguas crioulas, mundo onde os processos de exclusão social são permeados pela inclusão das representações sociais e da cultura dos centros hegemónicos de bem-estar, mundo do ruído, das aparelhagens com o som no máximo, das querelas, das negociações, da vida permanentemente a descoberto, face a face, à vista de todos."
Não é preciso mais comentários.
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