Outros elos pessoais

12 fevereiro 2014

A thomo tiya kudlayiwene, my love

É penoso ver o espectáculo diário desse tipo de transporte, é penoso saber que as pessoas aceitam viajar assim, mas não é menos penoso saber que é o Estado que autoriza semelhante situação. Enquanto isso, aqui e acolá, entre escárnio e resignação, passantes largam frases compensatórias: "Ali vão os bois! (em XangaanA ti homo!)". Há quem acrescente: "Para o matadouro! (A thomo tiya kudlayiwene)."
Um trabalho da "Folha de Maputo" assegura que os municípes da cidade de Maputo acarinham o "my love". Eis o que reporta: "Os residentes de alguns bairros periféricos da cidade de Maputo, são obrigados a viajar em carros de caixa aberta, carinhosamente tratados por “my love”, devido à paralisação dos transportes semi-colectivos de passageiros, na capital do país."
Observação: neste mundo que apela à diversidade opinativa, compete-me saber quais os indicadores para aferir do amor, deste suposto "my love" pelos carros de caixa aberta, nos quais se viaja como gado sob o olhar impávido da polícia rodoviária. Não tenho qualquer dúvida de que o problema não está em sujeitar-nos à animalidade, mas em aceitá-la e, no que ao Estado concerne, em permiti-la. Mas, também, não tenho qualquer dúvida de que, afinal, não se trata de "my love", mas do "my nightmare" (meu pesadelo). Tentem viajar nesses my loves especialmente nas horas de ponta.
Adenda: foto deste texto alusivo postado neste diário a 22 de Novembro de 2012, aqui.

3 comentários:

  1. O nosso povo sabe dizer my love para dizer que sofre, Professor. É uma ironia.

    ResponderEliminar
  2. Tanto quanto sei, essa forma de transporte é chamada "my love" porque as pessoas, por desconhecidas que possam ser, têm que ir agarradas umas às outras para não cairem. Como apaixonados.

    Bem sei que os jormais não escrevem para as pessoas que se vêem forçadas a utilizar o "my love". Mas transformarem uma ironia cáustica e crítica num "tratamento carinhoso" parece-me corresponder a um nível raro de insensibilidade social e de indizenização do povo...

    ResponderEliminar
  3. Ao Ministerio dos Transportes e comunicações:
    Uma simples ronda pela cidade de Maputo nas horas de ponta mostra que que cada um dos mais de 20 Ministerios,mais 10 Institutos, 10Empresas Públicas,7 Tribunais,6 Universidades etc têm, cada um , pelo menos, 4 autocarros de 30 a 60 lugares os quais circulam carregados de trabalhadores num sentido e vazios no regresso e funcionam entre as 06:00 h e 08:00e entre as 15:30 e 18:00 h de Segunda a Sexta. Fora destas horas, regra geral esta capacidade de transporte esta ociosa nas garagens das instituições ou é usada para levar expediente de um lado para o outro.
    Façamos contas: A estimativa acima exposta quer dizer que existe uma capacidade de transporte de 15000 lugares ou mais que é usada durante 4 horas por dia. Que 50% da utilização é ineficaz pois apenas transporta o motorista aquando do regresso. Que as instituiçoes mantêm no seu quadro motoristas. Completamente fora da sua actividade nuclear.
    Raciocinemos:
    Se esta capacidade de transporte fosse gerida por uma unidade especializada e fosse utilizada durante todo o dia mediante criterios de planificação racionais o transporte "my love" não teria mercado.
    Mas quem planifica não tem a noção do bem comum e por isso privatiza o colectivo acreditando estar a resolver problemas. Ora que para andar de autocarro não se contenta em comprar um bilhete e adquire um para si nada mais é do que estúpido.( Passe desta vez o termo porque é a verdade, professor.).

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.