Adenda às 17:29: Eis, para já, um pequeno comentário a propósito da notícia em epígrafe. O regresso do presidente da Renamo à Gorongosa não representa a busca de uma vida espartana ou o acto de um maluco, de um inconsequente ou de um psicopata, como certos círculos gostam de o apelidar. É, antes, o regresso pressionante ao berço da guerrilha de muitos anos. Em que sentido? Por hipótese, no sentido político de que, nacional e internacionalmente, Dhlakama e o bloco hegemónico da Renamo vão tentar obter um “Governo de Unidade Nacional” do género queniano ou zimbabueano. De que maneira? Mantendo-se deliberadamente exteriores ao processo eleitoral, reactivando a memória do passado castrense, jogando no futuro com a possibilidade de uma guerrilha barata no centro do país (afectando os interesses mineiros do Capital internacional com a sua placa giratória situada em Tete) e procurando tirar partido indirecto dos movimentos sociais de protesto em curso no país.
Adenda 2 às 18:02: no noticiário das 18 horas, a "Rádio Moçambique" citou Malagueta dizendo que a Renamo nada tem a ver com o ataque ao paiol ao Savane. A seguir à notícia, um comentarista convidado, Alfiado Zunguza, fez cautelosa referência ao bloqueio prometido pela Renamo para amanhã.
Adenda 3 às 19:02: as transições são sempre compósitas, complexas, mestiças. O novo faz quase sempre amor com o velho, os espíritos do passado coabitam com os espíritos do futuro. Por baixo de um fato cerimonial pode muitas vezes esconder-se o camuflado da guerra. Muitas das características da guerrilha mantiveram-se no partido que o ex-líder guerrilheiro, Afonso Dhlakama, continuou a dirigir, com os seus generais. Características que a Frelimo perdera, pouco a pouco, desde 1975. Esse problema estará inscrito, reactivando-se em permanência, dentro de um duplo constrangimento. De que duplo constrangimento falo? Do seguinte: por um lado, a nova etapa história da Renamo obriga-a a lidar com processos de gestão social que consistem em convencer pessoas do seu projecto de governação; por outro lado, uma forte, constante e multilateral pressão adversária obriga-a a re-infiltrar nesses processos, comportamentos de violência reactiva oriundos da mentalidade guerrilheira do seu passado. No primeiro caso, a Renamo vai para a frente, no segundo vem para trás. O presidente Dhlakama é a diagonal desse duplo constrangimento. Ele é o César de dois tipos de história abraçados em permanência.
Adenda 4 às 20:29: A epistemologia do dia-a-dia opta pela casca da laranja. Mas deixemos a casca da laranja e peguemos nos gomos. Ao pegarmos nos gomos, o que realmente mastigamos, o que realmente sorvemos? A luta completa, sem mercê, entre estabelecidos e pretendentes ao estabelecimento, entre quem possui o Estado e a alma do sistema capitalista em curso e quem isso almeja, entre quem monopoliza as fontes e os recursos de poder e quem deles se sente despojado.
Adenda 5 às 20:37: despacho da "Rádio Moçambique"/"Agência de Informação de Moçambique", aqui.
Adenda 6 às 14:25 de 20/06/2013: segundo o "@Verdade", "Nas primeiras horas desta quinta-feira alguns autocarros circularam sem problemas na Estrada Nacional n.1 no troço entre o Inchope e o rio Save. Segundo a Rádio Moçambique um comboio partiu esta manhã de Moatize para Beira apesar das ameaças da Renamo em paralisar linha férrea a partir de hoje." Aqui, "Rádio Moçambique" aqui.
Guerras disruptivas em Africa:
ResponderEliminarhttp://www.csmonitor.com/World/Africa/2011/1030/Move-over-Boko-Haram-Nigeria-s-MEND-rebels-set-to-restart-oil-war-in-Niger-Delta
Em nome do combate comum, inimigos figadais podem se unir momentaneamente...
Comentário de um amigo via email: "Temo que nada se ultrapasse sem uma redistribuição dos benefícios dos presentes e futuros lucros de recursos minerais por ambas as elitesm mesmo que sob a capa de soluções políticas. Obsceno bem sei (e os interesses nacionais? e as necessidades da população?), mas que me parece consentâneo com esta escalada de tensão (desde que se fala de gás, carvão e areias pesadas), e com as lógicas de naturalização da obtenção da riqueza através da política..."
ResponderEliminarPenso que o sr. Professor ja se havia referido varias vezes ao tema "Recursos de Poder"...
ResponderEliminarMas ha aqui um factor comum que muitas vezes e esquecido. Uma guerra em Mocambique poderia valorizar as accoes de algumas multinacionais, por um lado. E tambem, negociar concessoes mais vantajosas com as partes em litigio, por outro.
Que isto já cheira mal não há duvidas mas, não é estranho que os homens treinados, apetrechados e pagos com o dinheiro dos impostos que me doem , e muito, para garantir a soberania nacional e o meu sossego sejam sempre apanhados a dormir? Até, ao que se diz, o próprio chefe do Estado Maior?
ResponderEliminarPS: só depois do Congresso de Pemba é que a Frelimo deixou de gerir sem aquela Frelimo. E não se vai dar bem.
Errata
ResponderEliminarPS: Só depois do Congresso de Pemba a Frelimo começou a gerir sem aquela Frelimo. E não se vai dar bem
O Malagueta bem disse que a riqueza estava só dum lado mas apagou o picante da malagueta dizendo que os moçambicanos estavam privados, o que ele queria dizer era que a Renamo é que estava privada.
ResponderEliminarA amnésia histórica é uma estratégia ideológica de certos políticos que pretendem lavar as mãos como Pilatos desresponsabilizando-se pelas cedências e pelos retrocessos de projectos de desenvolvimento global do país e do Povo a que dizem pertencer e que se recusam questionar as origens do seu próprio poder.
ResponderEliminarRendidos ao neoliberalismo apostam na criação duma burguesia nacional como condição indispensável ao lançamento das bases para um desenvolvimento sustentado (sustentável e sustentador) ao serviço das oligarquias nacionais e estrangeiras.
Os privilégios, o enriquecimento ilícito, a arrogância e o abuso do Poder, são as novas palavras de ordem.
Na ausência de uma politica económica, social e cultural ao serviço dos cidadãos, a alternativa é a luta do Poder pelo Poder. É a paz fétida.
Isto é, uma má paz. Tão má com era a paz do apartheid e do colonialismo. Não importa a cor de quem sustenta um estado de coisas assim, importa corrigir a podridão que grassa. Em casos assim uma boa guerra é melhor que uma paz. Pode constituir-se mesmo a única saída, tal como em 1962.
ResponderEliminarPS Convem lembrarmo-nos sempre que a Renamo é constituida por moçambicanos
http://www.vanguardngr.com/2013/06/statoil-tullow-strike-oil-in-mozambique/
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