Apresentei-vos algumas representações de Chineses feitas por Moçambicanos e destes feitas por Chineses, a partir de um estudo conduzido por João Feijó (confira a obra indicada mais abaixo).
Prossigo a série entrando, agora, no ponto 5 do sumário, a saber: Poder político, Capital e relações assimétricas.
Confrontados com as representações que durante alguns dias vos dei a conhecer, tenderemos regra geral a admitir que Moçambicanos e Chineses são como são, são o que as representações deles mostram, são assim mesmo, nasceram assim, trazem dentro de sim desde a nascença uma substância chamada nuns casos comportamento chinês, noutros comportamento moçambicano. Essencializar parece ser uma regra da qual dificilmente abdicamos. Essencializar consiste em atribuir a pessoas e colectivos princípios inerentes, explicáveis por eles-mesmos circularmente. É uma verdadeira crença animista.
Prossigo mais tarde.
Excelente.
ResponderEliminarUm aspecto interessante prende-se com a forma como rapidamente se espalhou o rumor segundo o qual os trabalhadores chineses da construção civil constituem prisioneiros a cumprir uma pena no exterior. O mesmo rumor foi observado na Zâmbia, Namíbia, Angola, Guiné Equatorial, entre outros países. Um jornalista e um professor universitário chegaram-me a garantir que o rumor tem fundamento de verdade, apesar de não terem qualquer evidência nesse sentido.
ResponderEliminarAcho que este rumor pode ser explicado por um conjunto de 4 factores:
Em primeiro lugar, pela existência de uma memória histórica de trabalho forçado.
Um segundo factor está relacionado com o facto de muitos africanos não estarem familiarizados com populações de origem não africana a realizar trabalhos braçais (conduzir máquinas nas obras, carregar baldes, etc.) e a dormir em camaratas, como o fazem muitos trabalhadores chineses.
Em terceiro lugar, pelas rigorosas condições de trabalho a que se sujeita a mão-de-obra chinesa, pela disciplina laboral extrema e largamente desconhecida no país.
Por fim, este estereótipo é encorajado pela reduzida interacção entre os expatriados chineses e os trabalhadores locais, resultante não só da existência de barreiras linguísticas, mas também do carácter desconfiando das populações chinesas, sobretudo quando interpeladas pelas homólogas não asiáticas. O raciocínio é mais ou menos este: se são tão desconfiados é porque têm alguma coisa a esconder.