Outros elos pessoais

13 junho 2011

Sobre ritos de iniciação (8) (Texto de A. Katawala)

Legenda: comunidade Naicuanha no Niassa, acampamento feminino
Continuidade do texto do leitor A. Katawala sobre ritos de iniciação no Niassa, dando desta maneira o seu contributo à minha série Sobre ritos de iniciação feminina à maturidade em Moçambique: "Existe, na actualidade, o conflito entre a calendarização escolar e a calendarização dos ritos de iniciação, pois nas comunidades do campo inicia-se o Unyago antes do início das férias escolares, este é um assunto ao qual voltarei mais tarde. Um testemunho: "No tempo colonial não havia problema do calendário escolar porque o período dos ritos de iniciação coincidia com as férias grandes e os miúdos não tinham de abandonar a escola" - Henriques Aly, Lichinga, 2008. O Unyago é um rito de passagem de criança a adulto e, como tal, o centro do ritual está nas cerimónias de separação da criança da sua mãe e da família para um período de formação, para voltar a ser reintegrado na comunidade como um homem novo, um adulto. Para melhor percebermos o Unyago temos de perceber primeiro a relação entre a mãe e a criança que na cultura Yao é muito forte. É a mãe quem cuida integralmente do infante, é a mãe quem lava, veste, alimenta e cuida da saúde da criança e da família em geral. Quando a criança atinge a puberdade, dá-se a separação. A idade dos candidatos ao Unyago oscila entre os 9 e 14 anos, podendo ser realizada numa idade mais avançada, conforme os usos e costumes de cada região. Para as raparigas, acontece geralmente no momento da primeira menstruação, pois estando no seu período fértil, estão aptas a preparar-se para uma vasta gama de preceitos que a incentivam a dedicar a sua disponibilidade ao casamento, às tarefas domésticas, à família e ao futuro marido; para os rapazes, depende dos pais a escolha da data e alguns esperam até que o filho apresente os primeiros pêlos púbicos."
(continua)

7 comentários:

  1. São meninas? Uma parece ter uma máscara. Quem são as mulheres?

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  2. São menias, pois! a máscara é como uma máscara de beleza, mas feita de argila e serve também para tratar a pele.

    as mulheres: a de blusa amarela é a matrona/atelesi. Atelesi é a mulher organizadora e dirigente das cerimónias das raparigas. É uma mulher escolhida entre as mulheres com sucesso matrimonial e muito respeitada entre os habitantes da aldeia; uma mulher detentora de grande saber sobre as tradições do povo e da terra gozando, por isso, de um enorme prestígio. as outras, são as auxiliares que se encarregam de cuidar das meninas e de manter o contacto com o exterior do acampamento.

    A. Katawala

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  3. Não posso também deixar de notar que as meninas não estão penteadas. Têm o cabelo curto ou acabado de cortar... Isso tem algum simbolismo?

    Obrigada por partilhar esta magia connosco!

    (um) beijo de mulata

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  4. Nesta fase do ritual, o corte do cabelo serve, simplesmente, para não dedicarem o seu precioso tempo com coisinhas de menor importância (como são os penteados ou outras coisinhas), mas na fase final, depois de passarem pela educação, o cabelo será rapado com uma lamina de barbear, lavadas e vestidas com as roupas mais lindas. Aqui sim, o corte do cabelo e o banho no rio simbolizam a purificação, pois com a sujidade vai a identidade anterior (de criança) e a menina limpa, a nova "mulher".

    A. Katawala

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