O segundo ponto do sumário que vos propus é o poder comemoracional-cerimonial.
Comemorações, inaugurações, condecorações, desfiles: eis momentos efusivos de grande importância para expôr e exaltar o poder político, as datas históricas, para assinalar visitas especiais dos chefes, para premiar os cumpridores, para reforçar a memória dos heróis fundadores, polir o poder da história vencedora, a saga da gestão estatal, as vitórias do plano estratégico, para desfraldar as virtudes da estatística no cumprimento heróico das metas.
Grande cuidado ritual é dedicado a estes momentos que se pretendem de rejuvenescimento, de racauchutagem da confiança política, de restauro do espectáculo do poder exposto na sua força imponente, persuasiva, sinestésica, produtora de efeitos ópticos fantásticos.
Cerimónias propiciatórias oficiadas pelos curandeiros em memória dos espíritos, coros de pendor religioso e espectáculos musicais são alguns dos ingredientes usados na produção simbólica e massiva de poder político em dias de festa.
Do topo à base da cadeia do poder, do grandioso ao modesto, da capital ao território sem altifalantes do chefe de posto, ritmadas pelas bandeiras do Estado e do partido, as comemorações sucedem-se, em cerimonialismo cuidadoso: nenhum chefe as perde ou as esquece, sagradas que são.
Imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera).
Continua brilhante esta série, força.
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