Acho uma boa ideia situar melhor a ideia central da série recorrendo a Georges Balandier que escreveu o seguinte a propósito do que chamou teatrocracia: "Todo o sistema de poder é um dispositivo destinado a produzir efeitos, entre os quais os que se comparam às ilusões criadas pelo teatro. (...) O poder estabelecido unicamente sobre a força ou sobre a violência não controlada teria uma existência constantemente ameaçada; o poder exposto debaixo da iluminação exclusiva da razão teria pouca credibilidade. Ele não consegue manter-se nem pelo domínio brutal, nem pela justificação racional. Ele só se realiza e se conserva pela transposição, pela produção de imagens, pela manipulação de símbolos e sua organização num quadro cerimonial" (Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, pp.15-16) (imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera).
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
23 abril 2011
Poder e representação: teatrocracia em Moçambique (2)
Acho uma boa ideia situar melhor a ideia central da série recorrendo a Georges Balandier que escreveu o seguinte a propósito do que chamou teatrocracia: "Todo o sistema de poder é um dispositivo destinado a produzir efeitos, entre os quais os que se comparam às ilusões criadas pelo teatro. (...) O poder estabelecido unicamente sobre a força ou sobre a violência não controlada teria uma existência constantemente ameaçada; o poder exposto debaixo da iluminação exclusiva da razão teria pouca credibilidade. Ele não consegue manter-se nem pelo domínio brutal, nem pela justificação racional. Ele só se realiza e se conserva pela transposição, pela produção de imagens, pela manipulação de símbolos e sua organização num quadro cerimonial" (Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, pp.15-16) (imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera).
7 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Professor,
ResponderEliminarCitação: “Ele só se realiza e se conserva pela transposição, pela produção de imagens, pela manipulação de símbolos e sua organização num quadro cerimonial" (Balandier, Georges, Le pouvoir sur scènes. Paris: Balland, 1980, pp.15-16) .
Perfeito!
Permita-me sugerir-lhe uma olhadela ao Notícias de hoje, pág. 6 “Em 2010 despesas da AR suplantam previsão”,
ou seja: os nosso ilustríssimos Deputados SOBRECUMPRIRAM O PLANO. Aplausos!!!
Como pode a AR vier dizer, cito: “A exiguidade orçamental e a constante subida de preços de bens e serviços no mercado concorreram para o agravamento da situação deficitária do Orçamento da Casa do Povo”.
MENTIRA: o que contribuiu para o incumprimento foi terem GASTO MAIS DO QUE LHES TINHA SIDO ATRIBUIDO.
Os recursos da AR são elásticos: crescem para GARANTIR os níveis e padrões de consumo! Os sacrifícios são para o Povo, cujos magros rendimentos, não tem a magia de crescer como os da AR, logo, que remédio: o Povo reduz no consumo!
DIGNO DE REFLEXÃO, cito: “ Foi também reforçada a verba destinada à compra de mobiliário e electrodomésticos para o dirigente superior do Estado cessante da Assembleia da Republica no valor de 1.214.998,00Mt”.
Em suma, á verba prevista e gasta, cujo valor não conhecemos, mas deve ser bem gordo, foram adicionados mais cerca de 40 mil dólares, para mobílias e electrodomésticos do Senhor Mulembwé... a acrescentar á casa, etc., etc.
Força Professor.
ResponderEliminarE quem ferteliza o mercado para que a constante subida de preços de bens e serviços permaneça e reine para sempre?
ResponderEliminarEugénio: ser-lhe-ia possível fornecer mais um ou dois pontos de apoio?
ResponderEliminarEugénio: ser-lhe-ia possível fornecer mais um ou dois pontos de apoio?
ResponderEliminarProf.
ResponderEliminarA ideia e' saber ate' que ponto os deputados contribuem para esse estado das coisa que origina excessos na execucao orcamental.
A carestia de vida (associada a essa constante subida de precos) nao estara' associada a aprovacao de leis/ politicas falhadas? E quem aprova directa ou indirectamente tais leis?
A questao da pobreza em mocambique e' circular. Vai girando, girando, mas sempre desagua no mesmo sitio: falta de politicas adequadas, estrategicamente bem estruturadas e articuladas.
Magister Dixit!
ResponderEliminar