Outros elos pessoais

23 dezembro 2010

A presença da ausência

Uma vez, há muitos anos, no decorrer de um trabalho, pesquisadores de uma equipa minha queixaram-se de que não conseguiam ser recebidos pela chefia de um determinado partido político do país.
Essa foi uma boa oportunidade para discutirmos métodos de pesquisa. Então, procurei mostrar quanto a ausência de algo é, ao mesmo tempo, a sua presença através de uma certa forma; quanto o não querer receber alguém é ao mesmo tempo receber de uma certa maneira; quanto o que é dito ao mesmo tempo esconde algo; quanto as palavras  e as atitudes são ao mesmo tempo a máscara ou o rosto de outras, mas sempre reveladoras de algo; quanto falas, discursos e práticas formais contêm - embutidas em si - falas, discursos e práticas informais; quanto, afinal, o fenómeno a estudar não é a ausência ou a presença de algo, mas a liga ausência-presença ou vice-versa. O estudo dialéctico deste fenómeno - da sua estrutura, da sua linguagem, dos seus símbolos, das suas formas, dos seus hibridismos, dos seus jogos - é, para mim, uma importante área metodológica. A propósito desse Jano da vida, é possível criar um aforismo à Heráclito do género: "O mesmo habita em nós: presente e ausente".

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.