Tenho por hipótese que uma parte significativa do nosso povo acredita que as infelicidades, que as doenças e que as mortes que nos atingem, não são provocadas por patologias meramente físicas, por microorganismos externos, por distúrbios no organismo ou na psique, pelo orgânico em si. A causalidade do mundo patológico não habita um universo de sentido único, mas um universo de sentidos múltiplos. Acredita-se que as nossas infelicidades, as nossas doenças, são regra geral provocadas por curto-circuitos no relacionamento com as forças do invisível (para usar uma expressão de Tobie Nathan) e seu mundo de regras, permissões e interditos. As forças do invisível - divindades, espíritos, habitando o saber simbólico analógico e mágico (recorde aqui e aqui) - são absolutamente entidades vivas e intervenientes em permanência nas nossas vidas - assim se crê. Mais: A patologia decorrente do curto-circuto não é um problema do doente, de uma entidade individual, mas o problema de um colectivo, de uma família, de uma comunidade. A hipótese que vou defender é a de que os problemas de saúde mental não podem ser analisados fora da epistemologia e da negociação com as forças do invisível. Tal como propus de forma docemente provocatória num seminário sobre saúde mental, é necessário anexar à farmacoterapia, à psicoterapia e às terapias sociais, a espíritoterapia.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
31 outubro 2010
Sobre saúde mental em Moçambique (3)
Tenho por hipótese que uma parte significativa do nosso povo acredita que as infelicidades, que as doenças e que as mortes que nos atingem, não são provocadas por patologias meramente físicas, por microorganismos externos, por distúrbios no organismo ou na psique, pelo orgânico em si. A causalidade do mundo patológico não habita um universo de sentido único, mas um universo de sentidos múltiplos. Acredita-se que as nossas infelicidades, as nossas doenças, são regra geral provocadas por curto-circuitos no relacionamento com as forças do invisível (para usar uma expressão de Tobie Nathan) e seu mundo de regras, permissões e interditos. As forças do invisível - divindades, espíritos, habitando o saber simbólico analógico e mágico (recorde aqui e aqui) - são absolutamente entidades vivas e intervenientes em permanência nas nossas vidas - assim se crê. Mais: A patologia decorrente do curto-circuto não é um problema do doente, de uma entidade individual, mas o problema de um colectivo, de uma família, de uma comunidade. A hipótese que vou defender é a de que os problemas de saúde mental não podem ser analisados fora da epistemologia e da negociação com as forças do invisível. Tal como propus de forma docemente provocatória num seminário sobre saúde mental, é necessário anexar à farmacoterapia, à psicoterapia e às terapias sociais, a espíritoterapia.
1 comentário:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Carissimo Carlos
ResponderEliminarPor aqui no BRASIL seu sobrenome Serra esteve em pauta, mas agora estamos mais próximos da Bulgaria do que pensavamos... e esperamos que a Saude Mental em nosso País seja mantida na direção dos pressupostos de um olhar para além do meramente biomédico dos transtornos psíquicos. Vou ler com atenção as considerações de seu blog, e já sugiro quanto a visão transcultural da psiquiatria um belo livro escrito por Denise Dias Barros: ITINERARIOS DA LOUCURA EM TERRITORIO DOGON, com belissimo trabalho de pesquisa na Republica Mali... onde a pesquisadora fala da ''dor'' e de como essa sociedade Dogon se organiza e acolhe esse momento subjetivo, ao mesmo tempo que coletivo, das pessoas. Foi publicado pela Editora Fiocruz. Com ele podemos aprender um pouco sobre outras formas de cuidar e de enfrentar o sofrimento psíquico.
Mando então meu abraço doce e suave de ultramar
Dr Jorge Márcio
http://infoativodefnet.blogspot.com