-"Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht)
-"Esta cintura compacta, composta por casas pequenas e frágeis, feitas de caniço, madeira e zinco e, ultimamente (depois da independência), de cimento, quase que não tem quintais, ruas, água e luz em todo o sítio (...) Nestes subúrbios não se vive, sobrevive-se. Eles estão apinhados de gente: os suburbanos." (carta de um leitor do “Notícias” publicada a 25/09/2010 com o título “A cidade e o mega-subúrbio de Maputo”)
4.4. Acentuada politização da causalidade. Com efeito, as manifestações foram, igualmente, de forma cerrada, uma disputa sobre a preeminência política causal. Por outras palavras, uma luta não sobre causas causais, mas sobre causas politizadas. Cenáculos, fóruns, entrevistas, artigos, palestras - todo um variado e apaixonado mundo de análise, no qual, não poucas vezes, a questão fundamental foi menos a pesquisa sobre as condições sociais geradoras das manifestações, foi menos a pesquisa sobre as razões dos manifestantes, foi menos o exercício de uma mentalidade genuinamente pesquisadora, do que uma luta normativa cerrada (pró ou contra-governamental), do que um exercício opinativo consumado. Activos estiveram e estão os defensores de ambos os lados, acompanhados de uma terceira via sincrética e minoritária do género "sim, problemas internos, mas não devemos esquecer que a crise é internacional e por isso...". Colocando o problema de uma forma disjuntiva daltónica: culpa do governo ou culpa da crise financeira internacional? O corpo cai porque é pesado (visão à Aristóteles) ou o corpo cai devido à força da gravidade (visão à Galileu)? O fundamental é a coisa (manifestação) ou o fundamental é o processo que a ela leva? (foto reproduzida daqui).
Até ao próximo número.
(continua)
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