Outros elos pessoais

17 novembro 2009

Hora da vida

Na Polana, cidade de Maputo, moradias com história vão desaparecendo para dar lugar a prédios ora para habitação, ora para escritórios. Nos arrabaldes, são os condomínios. O imobiliário está na hora da vida, deve ser fascinante conhecer quem mexe os cordelinhos.
Adenda às 5:54 de 18/11/09: se não houver cuidado, em meio a esta febre futurista, calculo que dentro de cinco anos pouco restará da arquitectura histórica da cidade, digamos que a traça do Hotel Polana, a memória do Karel Pott, meia dúzia de casas anteriores a 1950 e pouco mais. Acham que estou enganado?

10 comentários:

  1. Duas palavras sobre este assunto. Primeiro, não havendo meios para a reabilitação destes edifícios, há duas saídas que a câmara de Lisboa, a título de exemplo, está a colocar em prática. (1) financia com fundos próprios esses edifícios e depois passa a factura aos proprietários para a liquidação da mesma. Este tem a obrigação de saldar a divida gradualmente. Pode ser que a Câmara entenda oferecer a restauração mas são casos raros. O não reembolso do valor implica medidas judiciais (...) que leva até a perda do edifício/casa, etc. (2) A câmara intervém, intimando ao proprietário para a reparação da obra, pois entende que edifícios em ruína (históricos ou não) é um perigo para a vizinhança, esta que tem o direito a boa vista.

    Por outro lado, o Instituto de Gestão do Património Arqueológico (IGESPAR), também em Portugal, seguindo às recomendações da ICOMOS e da UNESCO, os edifícios antigos (não significa necessariamente históricos / património) podem ser restaurados atribuindo-lhes outras funções.

    Há casos de conventos que foram transformados em pousadas, em museus, etc...Portanto, estamos neste caso perante uma decisão justa da Edilidade de Maputo.

    Este é um assunto que estou a desenvolver em trabalho de tese de Património Cultural e Arte e espero publicar nos próximos meses em monografia.

    Quanto ao que diz respeito a Polana, há que saber de facto quem são os seus proprietários. Porque uma das decisões da UNESCO que está em prática na Inglaterra é que os vizinhos devem ter acesso aos planos, plantas, orçamento da obra, os proprietários, etc.. dos edifícios que são erguidos.

    É de facto uma boa questão que o professor coloca. Será que a edilidade facultou estes dados? Será que a vizinhança conhece os seus proprietários? Não sei!

    Um abraço

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  2. Ja agora, aqui nesta pagina podem ser vistos os paises mais e menos corruptos.

    http://servicios.prodigymsn.com/contenido/infografias/corrupcion_mundo/

    Cumprimentos,
    Manuel Francisco

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  3. Domingos Macucule18/11/09 5:33 da manhã

    Fascinante tema este caro Professor!

    Será a densificação, que se pretende agora controlada de acordo com a estratégia territorial - Plano de estrutura da cidade de Maputo aprovado a sensivelmente 1 ano?

    A cidade de Maputo já teve tempos piores de gestão urbanística onde para alem de ser casuística era feita por pessoas sem preparação, de a uns anos para cá, que se diga em abono da verdade concretamente com o Governo Comiche (contando com o apoio técnico de quadros vindos da UEM) iniciou-se um processo cujos resultados são de apreciar, apesar de os problemas continuarem mais salientes.

    Porem acho importante reter o seguinte:

    Primeiro: A questão dos edifícios históricos ou edifícios com historia exige uma grande sensibilidade para quem tem de tomar as decisões sobre a gestão urbano, sob o risco ou de cairmos em proteccionismos baratos que podem comprometer o desenvolvimento urbano ou destruirmos a memoria e a alma da cidade que esta nos seus edifícios simbólicos. Isto remete-nos a questão dos Pólos da Economia do Património (que quer dizer capitalização plena do património cultural urbano).

    Segundo: os condomínios nos arrabaldes (leia-se as zonas periféricas da cidade de cultivo e ambientalmente atractivas), utopias ou realidades o facto é que estamos a caminhar para uma cidade em condomínios residenciais fechados, e os efeitos sociais acho que já são visíveis (segregação sócio-espacial), os efeitos económicos e culturais parece que também estão a vista (zonas urbanas mono funcionais – mas parece que o PECMM98 prevê estratégias para tudo isto) … Nota não domino bem o Regime Jurídico dos Condomínios, mas parece que precisaria de ser reajustados para o contexto do novo conceito de condomínio que esta a surgir e integrado claro nas politicas urbanas.

    Terceiro: a questão do imobiliário que cada vez mais ganha terreno para a sua acção especulativa! Será a fragilidade do nosso mercado de solos urbanos? Eu não sei! Mas arrisco que a gestão fundiária esta aquém do que devia ser, disse uma vez um sábio Moçambicano e passo a citar a posse da terra pelo estado dá uma ilusão de poder sobre a terra e facilita atitudes de abuso consciente ou inconsciente do pode… fim de citação.

    Fica sempre aquela sensação de não termos dito nada de especial.

    Phu nkarringana unga lori ntxumo

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  4. Já agora...

    Aproveitando o ponto terceiro da deixa de MACUCULE recebi isto recentemente (após a eleições):

    "terrenos para funcionários do Estado (adivinhem QUEM!!!)

    Sirvo-me desta para informar que há terrenos à “venda” ao preço simbólico de 5000mtn para uma área de 20x40m2 e 10.000mtn para uma área de 40x40m2 .

    Os interessados devem dirigir-se ao Comando Provincial da Matola Fomento com identificação ( BI, crachá) e respectivos valores em mão.

    Não compete a mim informa-los, más a conivência social e laboral faz com que a minha sensibilidade humana permita-me partilhar esta informação com os demais colegas embora um pouco atrasado.

    Local de localização dos terrenos : Molutoana"

    Sem comentários.

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  5. Oh Ricardo! Das duas ....três. Estas "ofertas de venda" ou são uma forma de agradecimento pós eleitoral ou......uma forma de compensar os baixos salários dos funcionários( de alguns...quero eu dizer)

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  6. Domingos Macucule18/11/09 8:12 da tarde

    Claro que não está enganado Professor!

    E são bons os exemplos que nos traz, o hotel Polana nos últimos anos tem beneficiado de uma serie de obras de ampliação e renovação, que deixam muito a desejar no que tange aos princípios de conservação dos edifícios históricos.

    O Prédio Pott, grande exemplar da arquitectura vitoriana, dá pena o seu estado, alguém que não sei o nome escreveu - Prédio Pott a agonia de um símbolo, fim de citação In Moçambique para todos.

    A situação do prédio Pott bem como de grande parte do património cultural edificado nas nossas cidades, nomeadamente, o centro histórico, a vila Algarve, a ilha de Moçambique entre outros, deve-se em parte a fraca coordenaçao entre as supostas instituições ou entidades depositárias ou gestoras do nosso património cultural.

    Parece que não se sabe ao certo quem faz o que com o nosso património:
    Por um lado:
    • A Direcção Nacional do Património Cultural que por sinal é o guardiã - Ministério da Educação e Cultura
    • A APIE muitas das vezes é o depositário de grande parte destes imóveis – Ministério das Obras Publica e Habitação
    • As câmaras municipais são as gestoras em exercício destes.
    • Os particulares que são os utentes.
    • Agora temos o Instituto Nacional do Património Cultural (não sei em que pé esta e o que pretende ser e fazer)
    Anda-se para frente e para traz e nunca se avança.

    E na ilha de Moçambique (património mundial) a situação é ainda mais pior pois a desarticulação é a escala nacional e internacional, desde a Unesco, passando pelo IPAD, os japoneses os canadianos, etc, etc… tem também uma unidade de gestão da ilha.

    São muitas instituições, o que se calhar não é mau, mau é quando não há articulação nem coordenação nas suas acções.

    P.S1: o novo Plano de Estrutura da Cidade de Maputo traz uma inovação na abordagem do nosso património cultural, fruto de muito sensibilidade e criatividade dos que elaboraram o PECM, Grande parte dos bairros de Chamanculo Mafala Xipamanine foram classificados como património cultural a preservar. Isto é bom pois afinal de contas temos que ir para alem dos (pré)conceitos da Unesco ou do ICOMOS ou ICROM, etc,etc. para identificarmos e preservarmos o nosso património, afinal de contas nos é que temos que defender e ter orgulho do nosso património. E O Grande Chamanculo é sem dúvida exemplo disto um verdadeiro repositório da Poparte (arte popular), da criatividade e de parte significativa da história político e cultural do povo moçambicano – um verdadeiro museu vivo

    Atenção isto não significa que vai se deixar o bairro na situação que esta (proteccionismo fanático). Mas sim toda intervenção de requalificação urbana deverá ter presente o valor patrimonial da zona. Mais uma vez tenho que bater palmas para este plano estratégico.


    P.S2: entre Julho e Agosto passado, No Museu Berardo - Centro Cultural de Belém, estava uma linda exposição das obras do Arquitecto Pancho Miranda Guedes em Maputo, não sei se a mesma vai escalar Maputo, bem merecíamos ver.


    Phu nkarringana unga lori ntxumo

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  7. Professor>
    Temos que deixar de brincar aos socialismos, porque agora estamos a falar de coisas sérias. Há muito dinheiro envolvido nestas coisas de terrenos na cidade de Maputo e noutras. Contudo, o Estado (?) não vê nem uma quinhenta, como soi dizer-se, enquanto a corrupção anda à solta, por ai.
    Por isso há que mudar a lei para incluir MAIS um tipo de propriedade na questão das terras: A propriedade PRIVADA (Sei que isto ainda é um tabu na nossa sociedade, mas esta chegando a hora de nos rendermos de vez ao capital). Assim, as compras e vendas pagarão impostos, pelo menos.
    Um abraço

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  8. Muito bem observado Anónimo, e a lei só ainda não foi mudada porque:

    1- Garante participações minimalistas "golden shares tric, trac" nos grandes projectos;

    2- Garante votos da população camponesa para quem estiver no poder;

    3- Mas também é um imenso pasto para muitos que andam por aí...a vigarizar nacionais e estrangeiros, com múltiplas operações de "compra/venda" de terrenos.

    e...

    Por mais incrível que pareça:

    4- É último vestígio que ainda nos lembra que Moçambique é um estado soberano.

    Agora esta de "pagar impostos...", deve ser a última da família SIMPSON, não é?!...

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  9. domingos macucule19/11/09 4:11 da tarde

    O exemplo que o ilustre RICARDO nos traz é muito bem elucidativo da questão fundiaria, e o comentário do caro Anónimo é de se concordar plenamente.

    Para países como o nosso não sou adepto de um fim deliberado do estado providência, mas concordo que este deve assumir outra postura perante as dinâmicas do mercado, sobretudo quando a questão é a escala local.

    Se analisarmos muito bem o Regulamento do solo Urbano veremos que na realidade existe uma propriedade privada abstracta, pois o título de propriedade do imóvel (e a noção de prédio urbano) significa propriedade fundiária, …o estado tem pouca terra nos grandes centros urbanos. A dificuldade do estado investir em urbanização (ate a chamada urbanização básica), deve-se portanto a ausência de um mecanismo de recuperação das mais valias resultantes dos investimentos que faz. E isto no final só beneficia a especulação e alimenta uma Expansão insustentável (ambiental, económica e socialmente) da cidade.

    Phu nkarringana unga lori ntxumo

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  10. Concerteza MACUCULE,

    Creio até que se deveria antes, tipificar claramente na Lei, o conceito de "RESERVA DO ESTADO" para se sustentar o estado providência e sossegar outros receios quanto à soberania nacional.

    Inclui-se aqui, regras duras relativamente ao uso e aproveitamento da terra por aqueles que a adquirem.

    Há casos de pessoas com largas extensões de terra, mas que dela não fazem nenhum aproveitamento visível. Normalmente, é para revenda em pequenas parcelas e especulação imobiliária, rodoviária ou ferroviária.
    Ora, aí justifica-se por exemplo, a expropriação da terra e sua transformação em "RESERVA DE ESTADO".

    As leis da "RESERVA DE ESTADO" deveriam ser simples, mas difíceis de alterar. Atrever-me-ia a sugerir: sujeitas à aprovação de uma maioria de 2/3 do Parlamento do dia.

    Porque, na verdade, toda a essência do Capital, reside na Terra. Por alguma razão Marx dedicou páginas do seu "Kapital" para demonstrá-lo.

    E os seus receios não eram infundados.

    Mas concordo que o ponto em que as coisas estão, pior não poderia estar.

    Pelo que dava tudo para saber o que é que a Direcção Nacional de Cadastro tem a dizer com respeito a isto. Porque, curiosamente, sendo este o organismo responsável pelo cadastro do território nacional, nunca o ouvi a pronunciar-se publicamente.

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