Outros elos pessoais

01 agosto 2009

Por quê o anonimato generalizado?

Interrogo-me constantemente sobre o anonimato que as pessoas usam mesmo nas mais modestas e inofensivas posições assumidas na internet e, claro, neste blogue. Se a democracia é tão grande assim no nosso país - como defendem vários - , como se explica isso? No dia 31 do mês passado, em postagem de Fevereiro, o eng.°Noé Nhantumbo, meu antigo aluno dos anos 70, fez a mesma pergunta, mas referindo-se a "algumas pessoas". E acrescentou: "Ainda somos livres de ter opinião..." Ora, não são apenas algumas pessoas: são muitas pessoas. Na blogosfera moçambicana (para unicamente tomar essa como referência) é a regra imponente, seja através do anonimato tout court, seja através do anonimato-pseudónimo-máscara. Medo? De quê? Covardia? Pudor? Outros fenómenos? Hibridismo causal?

8 comentários:

  1. Aqui está um assunto sério, muito sério que o Professor Serra levanta. Não encontro, dentro da minha ginástica mental, uma só razão para que as pessoas recorram ao anonimato quando pretende debitar os seus conhecimentos em público. Ainda que os nomes expostos não sejam necessariamente verdadeiros, o que não acontece comigo, cujo nome é o mesmo que consta no B.I., justamente por não ter nada a temer e por ser dono de mim mesmo. Não me camuflo a alcunhas ou em anonimatos quando pretendo expor a minha modesta opinião, porque não estou a venda, nunca me vendi, jamais me prostituía a quem quer que seja a pessoa, partido ou sistema. O Viriato Dias é o único, não tem duas caras. É o mesmo que, em Tete, na década 1980, soltou um grande vagido na maternidade de Tete. Jamais teria outro nome e outra cara.

    Para os que usam o anonimato só tem uma coisa a esconder: têm o rabo preso. E bem dizia Samora Machel: gato é gato, há-de sempre procurar uma forma de abanar o seu rabo, e ai é que são elas!!! Um dos conselhos que o Professor José Hermano Saraiva me deu, em 2005, foi o seguinte: “o mais importante para ti, Viriato, não é apenas concluíres os estudos superiores, mas sim a busca permanecente da independência mental”. Ano depois, foi a vez do saudoso Dr. David Aloni, quem me dizia, repetidas vezes, o seguinte: “às vezes, na vida, Viriato, temos que engolir sapos para atingir um determinado objectivo, mas jamais podes te prostituir ou vergar perante um ignorante, isto NUNCA.”

    Para terminar, aos anónimos, pessoalmente não tenho nada contra eles. Continuem a expor as suas ideias, algumas até, confesso, são deveras produtivas, mas poucas credibilidades têm elas para servir de fonte, porquanto nesta sala há professores, alunos, investigadores, intelectuais, cidadão comum que queiram usar as frases, os ensinamentos para quem delas as necessitar. Finalmente, já no fim, dentro da minha ginástica literária, encontrei uma razão para os anónimos: SÓ SE ESCONDE AQUILO QUE SE TEME.

    Um grade abraço

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  2. Continuarei a interrogar-me sobre isso.

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  3. Caro Professor,

    1. No meu caso particular, a opção pelo anonimato, fundamenta-se nas convicções seguintes:

    A. Vejo no anonimato a melhor forma de democratizar as ideias: elas passam a ter o mesmo valor, independentemente da origem! Valem pela essência, e não pelas “eminências” que as veiculam.

    B. O anónimo não está preocupado com direitos de autor, com reconhecimento público; as suas ideias, se úteis, podem ser livremente utilizadas (fonte: anónimo); se inúteis, ignoradas. Não busca protagonismo!

     Contrariamente, as eminências, em regra, são ciosas dos direitos de paternidade, e, não raras vezes, na busca de protagonismo, puxam dos “galões” tentando “castrar” as ideias dos menos proeminentes.

    2. No meu entender, o importante é que: (i) com nome próprio; (ii) pseudónimo; ou, (iii) anónimo, saibamos exprimir as nossas ideias com civismo, respeito por pontos de vista diferentes.

     Creio que foi para salvaguardar este princípio, que o Professor optou pela validação prévia dos comentários antes da publicação.

    > E fá-lo, independentemente da proveniência desses comentários: nome próprio, pseudónimo ou anónimo.

    Um abraço
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  4. Esta é uma boa pergunta e concordo tanto com o Viriato como com o anónimo.

    Com o anonimato é possível manter um debate equilibrado (tu e eu)

    E, falando disto, não é difícil notar que alguns têm dificuldades de discutir um assunto sem preconceitos. Não são raras vezes que se nota que quando se conhece a pessoa, a origem, a cor da pele, o sexo, o local onde vive, o currículo profissional tem-se em conta, sobretudo quando já não argumentos.

    Mas também acho que o anonimato tem vários motivos para além dos acima citados. Há os que usam anonimato porque o que dizem aqui contradiz com o que fazem por qualquer razão, disciplina partidária, profissional por exemplo ou mesmo sem precisar de ser isso, é tabu dizer a verdade com todas as suas consequências. Sabe-se que há os que encerraram os seus blogs por mesmas razões.

    Portanto, não há dúvidas que no meio de tudo isto, há também o medo. É só ver, A comunidade Imensis era muito popular, mas desde que aquele site exigiu registo para participar dos debates quase que todos depareceram. Não terá sido por medo?

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  5. Caro Reflectindo

     As razões que citaste sobre o receio de alguns usarem a sua própria identidade, SÃO REAIS, mas, com a evolução da tecnologia estão ultrapassadas:

    > Como bem sabes, hoje, em poucos minutos qualquer “inominado/ anónimo” pode “baptizar-se” com quantas “graças” quiser; da mesma forma que qualquer “nominado/ pseudonominado/ heterodonominado”, pode mudar de “graça” em poucos minutos, nessas “tendas de milagres” chamadas contas: gmail; hotmail; yahoo; sapo, etc., sem exigência de dízimo ou qualquer outra compensação.

    Um abraço
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  6. O que pretende é simplesmente a honestidade. A mim e, suponho, ao professor não está em causa o direito das pessoas usarem alcunhas, pseudonimos, etc. Façam-o como quiserem, mas há que tomar em conta que se estamos ou pretendemos que a nossa democracia e o direito de expressão seja uma realidade no país, então há nada que esconder nada. Quem não deve não teme. Chamo à consciência das pessoas para que assumam os seus actos e não se escondem por detrás das coisas, como o desejo de querer esconder chifres com jornais.

    Um abraço

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  7. parece-me que o jogo esta a mudar.

    antes os graxistas apareciam a pedir que se mostrasse quem sao os que tem ideias opostas a deles. agora os graxistas querem manter anonimato tambem.antes era medo dos das ideias opostas, hoje parece vergonha dos graxistas.

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  8. Caro anónimo

    É verdade que quem quer ser anónimo pode continuar usando diferentes pseudonimos e com dezenas de e-mails. Não sei de facto o que fez com que muita gente bazasse do imensis, mas suspeito que tenha sido o medo de muitos serem identificados.

    Amigo Viriato,

    Eu entendo o que o Prof. Serra pergunta, mas não sei de certo o que ele pretende. Se ele pretender que as pessoas acabem com o anonimato, pseudónimos ou alcunhas, honestamente dizendo, discordo com ele, ao mesmo tempo que concordaria com ele se se tratar de pessoas bem colocadas na sociedade, como é o caso de professores universitários, ministros e outros membros do governo, deputados, líderes políticos, juizes-conselheiros do Supremo, CC, PGR, líderes religiosos etc. Estas individualidades viriam aqui satisfazer as nossas preocupacões e porque têm imunidade para além de prestígio elas não têm o que ter medo.

    Uma vez, numa reunião de professores cristãos com a igreja católica de Nacala-Porto, contou-nos o padre Dionísio Zimba (foi membro da primeira CNE) que em Monapo, impediu que militares pegassem adolescentes do seu carro para o serviço militar, pois que isso violava a lei do serviço militar obrigatório. Porém, o padre Dionísio aconselhou-nos que para casos identicos, usassemos métodos que não pusessem em causa a nossa vida. Ele como prelado, a sua acção tinha sido fácil, mas o mesmo não seria para qualquer que fosse. E eu podia testemunhar quando tempos antes defindi o meu irmão, travando uma batalha dura com seis homens armados, embora tenha me ajudado para tirar-me do anonimato perante aqueles armados. Quando estivessem no meu bairro, Bairro Triângulo, a caçar meninos para tropa, o comandante dizia: não passem na casa do professor.

    Tudo isto estou a contar devido ao uso do anonimato ou pseudónimos que penso proteger a muitos que duma ou doutra forma podem ser alvos do nosso Estado partidarizado. Mas num Estado partidarizado alvo pode ser uma pessoa difícil de pensar como a nossa concidadã Isabel Rupia.

    A propósito leram a entrevista de Manuel de Araújo ao Canal de Moçambique, publicada no Reflectindo sobre Moçambique, afirmando que deputados da Frelimo usam anonimato na Assembleia da República?

    Quanto ao tamanho da democracia, hehehehe, essa grandeza é exagerada ela é pequena ainda e crescerá quando tivermos instituicões democráticas. Vamos juntos fazê-la crescer.

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