Outros elos pessoais

01 junho 2009

Parricídio simbólico

O ano passado, enquanto bancada maioritária na Assembleia Municipal da Beira, a Renamo aprovou uma proposta destinada a dar o nome de André Matsangaíssa à rotunda 2314, no bairro da Munhava. A estátua foi inaugurada por Deviz Simango, presidente do município, numa altura em que as relações entre o partido e Deviz já não eram boas. Este ano, já com Deviz expulso da Renamo (mas continuando presidente do município) e sendo esta minoritária na Assembleia, o partido de André juntou-se quand même à Frelimo para anular a decisão de 2008 e destruir a estátua do seu suposto pater familias. Confrontados com um mesmo inimigo, dois inimigos unem-se. E assim, simbolicamente, a Renamo decide matar o seu pai putativo. Por quê? Porque a sopa tinha e tem uma mosca, a de Deviz.
Adenda 1: recorde as minhas séries com os títulos Praça André Matsangaíssa na Beira: o que significa? e O conflito na produção de heróis em Moçambique.
Adenda 2 às 19:15: constou-me que alguém da Renamo na Beira não André na estátua, mas indícios da família Simango. Alguém sabe algo sobre isso?
Adenda 3 às 23:17: afinal parece que a história é diferente daquela que acima contei: a Renamo opôs-se à decisão da bancada maioritária da Frelimo de "retirar a Praça Matsangaíssa", de acordo como o "Notícias" de amanhã, já online. O jornal acrescenta que Deviz Simango não vai respeitar a decisão da Frelimo.

13 comentários:

  1. Por mais que dure séculos que durar, anos que levar e dias por contar, André Matsangaissa é, foi e será eternamente o herói de muitos moçambicanos, vítimas de uma série de arbitrariedades e protagonismo político boçal imposta pela FRELIMO logo depois da independência nacional. Não reconhecer este facto é tentar escamotear a história do país. Tal não será possível se efectivar, porquanto o povo viver, e vive sempre, pois nunca morre, negará em querer silenciá-lo! Não se pode negar à Matsangaissa a liberdade que hoje temos de dizer o que nos vai à alma, pelo menos não há gente que fique mudo perante tamanha negação à moral, com excepção de poucos escassos anónimos que por este diário andam - e é legítimo, de termos um país que hoje somos. É um exercício nulo e frustrante tentar recusar a figura de Matsangaissa o título de herói nacional, ainda que a Frelimo hoje não reconheça este acto, tampouco sabemos quais na verdade os critérios usados para a elevação de herói em Moçambique, contudo, o país saberá em momento oportuno reconhecer os seus feitos. Eu, felizmente, não tenho como não reconhecer o contributo de Matsangaissa para que o galo em Moçambique cantasse de outra forma.

    Um abraço

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  2. Assino por baixo, Caro Viriato Dias.

    Subscrevo.

    "Não se pode parar o vento com as mãos".

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  3. Eh por isso que eu sempre digo que a Renamo eh um agente indiscreto da Frelimo ... de uma ou de outra maneira eles sempre ajudam a Frel

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  4. Acabei de receber uma informação de que o Ministério dos Transportes e Comunicação está a arder. Será verdade?

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  5.  Bem, a história dirá um dia quem, em função de CRITÉRIOS ajustados às particularidades de cada época (não podemos ver "ontem" com os olhos de hoje), foram os nossos Heróis:

    (i) Da resistencia inical à colonização;

    (ii) Da luta de libertação nacional;

    (iii) Da 1ª Républica (socialista);

    (iv) Da 2ª Républica (mercado).

     Hoje, sem conhecermos os CRITÉRIOS (como bem evidencia o Viriato) qualquer classificação é subjectiva, logo: "cada cabeça, sua sentença".

     Efectivamente, sem parâmetros definidos, da mesma forma que André Matsangaíssa é um Herói para o Viriato, admito, perfeitamente, que haja quem entenda que Matsangaíssa foi tão sómente um instrumento ao serviço de interesses externos (estou apenas a conjecturar).

     No fundo, vejo estas questiúnculas na AMBeira como uma forma da oposição ir desgastando as energias de Daviz, que, face à pouca visibilidade das segundas figuras do MDM, terá que se desdobrar entre o Município e um Partido de âmbito nacional: “muita areia para uma só carroça”.
    __

    PS: Vi na nossa TV uma acção de campanha de Dlakhama em Nacala, impressionante: 3 kms de gente ao longo da estrada, mobilizada, e um discurso bem musculado do líder da Renamo.

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  6. bem, tambem concordo com viriato,

    lamentavel 'e o facto de nunca sairmos do destruir-destruir.

    faco votos para que em algum dia, no NOSSO PAIS se pense em construir.

    em relacao ao anonimo anterior, o unico aspecto que me deixa duvidas(no bom sentido) seria como defenir herois de "mercado"? quando nao existe ninguem que ate agora tenha de facto feito a diferenca no mercado, do ponto de vista positivo, claro.

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  7. Isso poe em causa o termo desejo do povo em democracia .se o mesmo povo desejou que assim fossse em menos de 2 anos mudou de ideias .

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  8. Para quem gosta de dividir os mocambicanos que exclua o comandante André Matsangaice de herói nacional. E são dessas coisas que dou o seu nome próprio: divisionismo escondido.

    O mesmo quero saber do porquê Urias Simango, Celina Simango, entre outros não são heróis. Porquê foram vítimas dos que estão no poder hoje?

    Será que estamos ter novas eleicões para Assembleia Municipal da Beira? Quem vai perder se isso acontecer?

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  9. Ao Anónimo que colocou questão de “Herói de Mercado”
    ___

    1ª Constituição: RPM (República POPULAR de Moçambique): 1975->1992 = Socialismo!

    2ª Constituição: RM (República de Moçambique): desde 1992-> até hoje: Estado de Direito; economia de mercado.
    ___

     Obviamente que em qualquer destes períodos houve, e no caso RM continuarão certamente a surgir, Heróis nos diferentes sectores da vida do país: económicos, sociais, artísticos, desportivos, etc.

     Heróis de mercado (RM): partilho da dificuldade duma definição. Porém, se me fosse pedida optaria por algo no género:

    A. Herói de mercado = ENTIDADE EMPREGADORA, que assegura um certo nº de empregos estáveis; paga salário e impostos a tempo e horas, e aplica uma parcela de seus lucros na melhoria das condições de seus trabalhadores ou da comunidade (responsabilidade social).

    ... Em substituição da definição que o Governo adoptou, que pode resumir-se da forma seguinte:

    B. Herói de mercado = TRABALHADOR que usufruindo salário de miséria, com condições de bem-estar degradantes para si e agregado familiar, consegue, dia após dia, reinventar formas de sobrevivência.

    >> Ao Reflectindo,

    Creio que Deviz e o MDM não ganham nada em dispersarem energias na exigência de reconhecimento de Urias e Celina Simango como Heróis.

    Hoje, Deviz e o MDM deveriam mostrar ao eleitorado que a sua primeira preocupação é a melhoria de vida do Povo, dos VIVOS!.

    “Amanhã”, quando resolvidos os problemas básicos dos vivos, haverá tempo para fazer justiça à memória dos mortos (familiares e estranhos).
    ___

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  10. boa, concordo que seria um principio de defenicao.e era capaz de apoia-lo na boa.

    e confesso que nao sabia que o governo tinha adoptado ja uma defenicao de heroi de mercado.

    esses trabalhadores que contra tudo e todos, decidem sobreviver, tambem sao herois, de sobrevivencia(nao de mercado).nao tem culpa da miseria que recebem, no entanto, trabalham.

    mas tudo bem, o governo tem das suas, apronta as vezes,ou quase sempre umas "criativas inversas".
    que consistem normalmente em dar titulos, defenicoes, premios,incentivos fiscais a "amigos" e os do seu interesse "individual".

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  11. Caro anónimo,

    Talvez o meu problema tenha sido da forma como coloquei os parágrafos. Criei um pouco de confusao.

    A questão de Urias Simango, Celina e demais como heróis, e notem, nacionais não diz nada a Daviz nem a dissolucao da Assembleia Municipal.

    A ideia de dissolucão aparece quando a Assembleia Municipal (maioria) entra em choque com o Presidente do Conselho Municipal, este com o direito de dissolve-la. A minha pergunta é se a bancada da Frelimo não está se arriscando porque ela conhece bem o Daviz e deve ser lembrar do caso do imobiliário.

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  12. Reflectindo,
    falaste do Urias e Celina Simango por serem pais do teu lider ou porque são os "únicos" possiveis herois que te ocorrem?

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  13. Caro "anónimo"

    1. Não sei se fez de propósito ao fazeres-te passar por anónimo, mas eu te identifiquei.

    2. Nao fui eu quem introduziu aqui Urias e Celina Simango. Repare na adenda 2, mas nem o Prof Serra foi quem o introduziu, senao um anónimo num outro post.

    3. Urias Simango foi o nr da Frente de Libertacao de Mocambique e Presidente do UDENAMO.

    4. Celina foi a primeira chefe do destacamento feminino.

    5. Tenho nos meus posts no Reflectindo, referenciado muitos dos que deram a sua vida pela pátria, mas marginalizados.

    6. Neste post escrevi Urias Simango, Celina entre outros. Acho estar bem claro aqui que não coloquei aqui a estes dois como os únicos.

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