Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Estive a reler a série com o título em epígrafe e achei que faltava algo, que era necessário considerar mais um fenómeno, a saber:
O rumor do bicho-papão-nigeriano que espalha vermes comedores de fígado pelos órgãos sexuais das mulheres vítimas, aparece embutido numa viatura de luxo, negra, certamente com os vidros fumados, numa imagem que lembra muito, como já referi, o quadro presente no imaginário social no tocante ao tatá papá tatá mamã.
Esse fabuloso carro cujas características exactas ninguém conhece - mas que muitos de nós afirmarão conhecer -, é, afinal, em mais uma hipótese, uma alegoria para expressar o estatuto sinuoso, ambíguo, dos poderosos, para exprimir todos aqueles que constróem a sua riqueza com a desgraça dos pobres. A sua natureza de estrangeiro é exemplar pelo facto de remeter simbolicamente para o exterior a corrosão do tecido social interno. O rumor do bicho-papão-nigeriano é um indicador de desigualdades sociais. Os vermes que é suposto ele espalhar são os arautos da desgraça social.
E prontos, aqui fica o acréscimo, no próximo número, recoloco o trabalho com o qual tinha finalizado a série. Mas com um acréscimo, aguardem.
Estive a reler a série com o título em epígrafe e achei que faltava algo, que era necessário considerar mais um fenómeno, a saber:
O rumor do bicho-papão-nigeriano que espalha vermes comedores de fígado pelos órgãos sexuais das mulheres vítimas, aparece embutido numa viatura de luxo, negra, certamente com os vidros fumados, numa imagem que lembra muito, como já referi, o quadro presente no imaginário social no tocante ao tatá papá tatá mamã.
Esse fabuloso carro cujas características exactas ninguém conhece - mas que muitos de nós afirmarão conhecer -, é, afinal, em mais uma hipótese, uma alegoria para expressar o estatuto sinuoso, ambíguo, dos poderosos, para exprimir todos aqueles que constróem a sua riqueza com a desgraça dos pobres. A sua natureza de estrangeiro é exemplar pelo facto de remeter simbolicamente para o exterior a corrosão do tecido social interno. O rumor do bicho-papão-nigeriano é um indicador de desigualdades sociais. Os vermes que é suposto ele espalhar são os arautos da desgraça social.
E prontos, aqui fica o acréscimo, no próximo número, recoloco o trabalho com o qual tinha finalizado a série. Mas com um acréscimo, aguardem.
(continua)
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