Outros elos pessoais

15 junho 2009

O papão "nigeriano" que deixa vermes nas mulheres em Maputo (11)

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p. 6).
Vamos lá prosseguir um pouco mais esta série, esta espécie de arqueologia do rumor do bicho-papão-nigeriano.
Escreveu um dia Freud que o sonho é a realização de um desejo. Então, o rumor é o fusível do mal-estar social.
Sempre no campo das hipóteses, um quinto factor a ter em conta no boato aqui em causa é o que, com frequência, as pessoas chamam "dissolução dos costumes" ou "perda de valores". Neste campo, muito visível na nossa imprensa, as mulheres constituem uma preocupação fundamental, especialmente no que concerne à liberdade sexual. Os mais velhos, homens e mulheres, manifestam de forma aberta a sua inquietação com o destino moral das raparigas, com a gestão da sua sexualidade (foi este tipo de preocupação que, de uma certa maneira, esteve também à retaguarda do rumor de Orléans em França nos anos 60 do século passado, brilhantemente estudado por Edgar Morin).
Então, o bicho-papão-nigeriano é como que o agente promotor, como que o agente devasso, orgiástico - mas também a figura punitiva fantástica -, da dissolução dos valores e dos costumes: os vermes que é suposto ele espalhar nos órgãos sexuais das mulheres são ao mesmo tempo a causa e a consequência do anunciado desregramento moral, o mal e a punição, a metástase e a dor, o aviso e o futuro.
(continua)

9 comentários:

  1. La rumeur d'Orléans

    Au commencement il y avait, tout comme pour les "Protocoles", un auteur qui ne nourrissait que de bonnes intentions . Il s'agit d'un Anglais, Stephen Barlay, qui a publié en 1968 un ouvrage intitulé "Esclavage sexuel". Il y racontait entre autres, sans grande précision, une histoire qui se serait déroulée à Grenoble. Une jeune femme entre dans un magasin de mode, pendant que son époux l'attend à l'extérieur. Il attend longtemps, entre dans la boutique, pose des questions. On lui répond qu'on n'a vu aucune femme correspondant au signalement qu'il donne. Il s'en va tout droit à la police, qui finit par découvrir la malheureuse, droguée, dans la cave. Comme dans le roman de Joly qui a inspiré les "Protocoles des Sages de Sion", il n'est nulle part question de Juifs. Une traduction française de ce livre paraît en 1969, et l'épisode ci-dessus est reproduit, avec encore moins de précisions, par le magazine populaire Noir et Blanc le 6 mai 1969.

    C'est dans les jours qui suivent que s'installe, dans la ville d'Orléans (suivie plus tard par Chalons-sur-Saône et bien d'autres) la célèbre rumeur. Elle incriminait pas moins de six magasins de vêtements, tous tenus par des Juifs. On ajoutait que les victimes, vingt-six exactement, avaient été emmenées, droguées, jusqu'à la Loire où un sous-marin les emportait à jamais.

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  2. Isso, obrigado. Uma obra-prima (um clássico trans-Orléans)de pesquisa e narração que devíamos ler e que sempre me influenciou muito. Foi graças a Michel Wieviorka que, há uns bons atrás, corri Paris à procura do livro, que finalmente encontrei. O meu "Cólera e catarse" está influenciado pela obra de Morin.

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  3. entao o quinto factor, sao VALORES.

    esses valores...

    ...valores humanitarios
    ...valores sociais
    ...valores eticos
    ...valores religiosos
    ...valores morais
    ...valores....

    nao ensinamos na escola...nao aplicamos no dia a dia...nem sabemos o que sao...nunca os tivemos...

    ...ate chegamos a punir a quem tenha valores para alem de monetarios...

    'e louco! 'e lunatico!...'e assim chamado quem tem valores, nao 'e??

    ...e agora...como saimos desta?

    ....se so reconhencemos como valores... aos valores monetarios.

    triste....

    a maior taxa de prevalencia do HIV 'e no sul do pais!

    cruzem os dados, verificarao que no sul,nao existem valores, e no centro e norte os valores ainda sao VALORES!embora em degradacao pela influencia do sul e pobresa estrema.

    podera ser a causa da diferenca da prevalencia do HIV!

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  4. A prevalencia ja foi mais alta no centro, onde andavam os VALORES no centro nessa altura?

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  5. investiga, vais encontrar!

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  6. sera muito interessante avaliar aspectos politico-economico-sociais norte/centro/sul ,crusando-os com VALORES, em 2 tempos:

    1- periodo de maior prevalencia HIV centro.

    2- periodo de maior prevalencia HIV sul.

    constatacoes poderao ser surpreendentes.

    porque o CENTRO antes tinha maior prevalencia que o SUL? e agora 'e o contrario.

    afinal o que foi que aconteceu para o SUL disparar em prevalencia e o centro NAO?

    quais foram os aspectos que influenciaram este crescimento brutal de prevalencia HIV no SUL?

    porque os mesmos aspectos nao influenciaram na mesma medida, no CENTRO e NORTE?

    e a SADC? interferiu? como? positiva ou negativamente? para Mocambique e/ou outros membros da SADC?

    recorde-se que a RSA ja estudou isso. do ponto de vista deles.

    35% gaza
    34% maputo
    29% maputo cidade

    fazemos o que?

    esperamos pelo governo para as repostas? exigimos as respostas do governo?

    aqui incompetencia nao vai funcionar, vai morrer muita gente, isto 'e HIV, nao 'e brincadeira.

    acordem!!!!!

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  7. Sabotagem dos Centristas e Nortistas... recambiaram os "niguerianos" para Sul.

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  8. minimizacao dum problema desta natureza pode ser CRIME tambem!

    nao estao a entender.

    nao vao entender.

    nao querem entender.

    os valores....

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  9. Numa primeira fase, no Centro (Manica e Sofala) e o Noroeste (TETE) dizia-se que o incremento dos casos de HIV/SIDA resultava de se tratar de corredores.

    Ora, os camionistas como os marinheiros tiveram desde sempre a "responsável" preocupação de fazer a manutenção de seus meios de transportes (e deles próprios) em cada "porto".

    Depois, com a crise no Zimbabwé, e o incremento de garimpo nessas Províncias, parece ter havido uma invasão de "trabalhadoras do sexo" com preços em função das preferências pelo natural ou "cascado". Não consta que tenha havido grande alteração a este cenário.

    Incremento no SUL, por um lado a vizinhança, onde os níveis de infecção são elevadíssimos; por outro, o vai e vem dos nossos compatriotas a trabalhar nos países vizinhos; finalmente, o apelo ao consumismo e comportamentos liberais.

    Provavelmente,a concentração /densidade populacional nos grandes centros Urbanos (Maputo e Matola) poderá contribuir para uma mais rápida expansão da doença.

    Concordo que a situação é SÉRIA. Com uma pirâmide etária como a nossa, onde predomina a juventude ... é realista prever que o apetite sexual tenda a não descrescer, logo...

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