Outros elos pessoais

31 maio 2009

A delinquência académica

Permitam-me convidar-vos, caros leitores, a ler uma entrevista dada em 1978 (acontece muitas vezes que os temas mais antigos são os mais actuais) à Folha de São Paulo, com o título em epígrafe, pelo Professor Maurício Tragtenberg, sempre irreverente e sempre jovem: "A universidade está em crise e isso ocorre porque a sociedade está em crise. O tema é amplo, abrangendo a relação entre dominação e saber, a relação entre o intelectual e universidade como instituição ligada à dominação, ou seja, a universidade anti-povo. A universidade não é uma instituição neutra, é uma instituição de classe onde as contradições de classe aparecem. Para obscurecer esses fatores ela desenvolve uma ideologia, um saber neutro, cientifico, quer dizer, a neutralidade cultural e o mito de um saber “objetivo” acima das contradições sociais. Isso se acirrou a partir de 1964, quando a Universidade foi praticamente apartada da realidade, se encastelou. Nesse momento surgiu a figura do intelectual burocrata, do funcionário intelectual, que mais reproduz do que produz conhecimento próprio. Hoje a universidade forma a mão-de-obra destinada a manter nas fábricas o despotismo do capital. Nos institutos de pesquisa cria aqueles que deformam dados econômicos em detrimento dos assalariados. Nas escolas de Direito forma os aplicadores de legislação de exceção. Nas escolas de Medicina aqueles que irão convertê-la numa medicina do capital ou utiliza-la repressivamente contra os deserdados do sistema. Em suma, trata-se de um “complô de belas almas” recheadas de títulos acadêmicos, de doutorismo substituindo o bacharelismo, de uma nova pedantocracia, da produção de um serviço do saber."

2 comentários:

  1. estamos a presenciar.

    afinal o futuro chegou.

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  2. Tema bastante interessante este, mas também perplexo. Penso que um debate do género já devia vir à tona em Moçambique, dado que temos as universidades que temos, mas que as mesmas não tem sido actualmente oficinas de saberes, para mitigar a pobreza absoluta que nos fustiga. Tem sido, quanto a mim, locais de atribuição de diplomas. E tenho como provar isso, não há um plano educacional actual e inserido nos problemas também actuais do país, não há grandes laboratórios, enfim, há falta de condições para colocar a máquina a andar, não obstante ao facto de alguns docentes, de forma mais sabia e exemplar, tem estado dia e noite a tentar salvar a glória das suas batinas pedagógicas. Não acho que as universidades sejam para as classes de elite, mas para todos os moçambicanos desde que os mesmos tenham uma sede de aprender. E há sempre!!!

    Um abraço

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