Outros elos pessoais

25 fevereiro 2009

Poemas sociológicos ("Lágrima de preta" de António Gedeão)

Não é a primeira vez - nem será a última - que aqui coloco o que chamo poemas sociológicos (recorde aqui e aqui). Eis mais um, então, de uma beleza ímpar, um verdadeiro ariete contra o racismo, da autoria de Rómulo de Carvalho, professor, pedagogo, investigador e poeta com o pseudónimo de António Gedeão:
*
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
*
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
*
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
*
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
*
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
*
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
Adenda: oiça o poema cantado por Adriano Correia de Oliveira, aqui. Obrigado ao umBhalane pelo envio da referência.

4 comentários:

  1. E cantada pelo saudoso Adriano Correia de oliveira, diz cara com careta.

    http://www.youtube.com/watch?v=XdTlyyxgvmQ&feature=related

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  2. Muito obrigado pelo informe, vou já colocar a referência.

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  3. Sou preto

    Detesto ter uma cor
    Apenas para não ser preto
    vivo na foto a preto e branco
    para nunca mais ser preto...
    no colorido, já mais ! lá há racismo


    sou preto de carne e osso
    preto do Berço da humanidade
    preto do petróleo do delta de Níger
    e sou preto das minas de rand

    sou sim preto das praias de wimbe
    e jamais deixarei se ser preto dos diamantes angolanos
    sou sim preto ,um preto rico
    na ostentação da riqueza natural

    Sou preto ,
    Mas ai de quem me chamar - carvão.
    Arderei na ebulição
    do meu sangue coagulado em xibalo

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  4. Gostei do poema, muito bem! não sabia que havia tanto talento escondido em vulgares páginas da net!
    muito bem kimmanel!


    mas há um problema?! a nasci da mistura da lágrima clara sobre a pele escura! sou o quê ou quem sou!
    será a mistura perfeita de união e paz... ou algo que ficou por explicar! :)

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