Outros elos pessoais

20 dezembro 2008

Anibalizar (6)

E termino esta curta série.
Há várias semanas que a nossa imprensa e os nossos articulistas se interrogam sobre a terceira fuga de Anibalzinho e sobre sombrios meandros de patronagem no interior da polícia.
Vamos lá ver uma coisa: por mais extra-homem que fosse o foragido, por mais que tivesse consultado um daqueles resolve-tudo da nossa praça curandeirística, só era possível fugir - nas circunstâncias em que se encontrava detido - caso alguém fizesse rodar o ovo de Colombo. Melhorando a ideia: nenhum ovo dá origem a um pinto se um calor local não lhe der um empurrão (palavras minhas para uma ideia de Mao Tse Tung). E os artífices da rotação que levou à fuga dos três mosqueteiros do crime não habitavam, necessariamente, uma cela.
Podemos considerar várias hipóteses cheias de banalidade:
1. Houve muito dinheiro envolvido na fuga.
2. Alguém não está interessado em que Anibalzinho fique na cadeia.
3. Anibalzinho pertence a uma malha criminal que se pretende reactivar e complementar com a ajuda de Samito e Todinho.
4. Algo de importante deve haver para que a fuga de Anibalzinho fosse acompanhada (e, eventualmente, disfarçada) de outros dois indivíduos com trajectórias criminais aparentemente diferentes.
5. Polícias estiveram envovidos na fuga.
Num certo sentido, não me parece haver móbil político directo à retaguarda da tripla fuga. A fuga parece ser produto de uma história tecnicamente criminal e de canais criminais de alta intensidade.
Mas, num outro sentido, a fuga de Anibalzinho pode ser, já e de forma consumada, o produto de um Estado gangrenado pelas malhas do crime e, nesse sentido, podemos ter aqui um móbil político directo. E o âmago da criminalidade politizada creio que habita por inteiro um texto do procurador-geral da República, Augusto Paulino, datado de 2003. Aí, Paulino procura mostrar que "o controlo dos centros nevrálgicos dos sistemas foi-se fazendo lenta e gradualmente, durante os anos da última guerra e da transição do regime de economnia centralmente planificada para o capitalismo".
(fim)

1 comentário:

  1. Como eu não podia deixar estar, li este Paper do PGR, datado de 2003, mas muito actual até hoje. Nao sei se interessou a muito e nem sei como fazê-los interessar, mas sendo um procurar que disse isto tudo, perguntariamos aos que dizem que em Mocambique não há corrupcão se ainda se mantêm.

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