Então, o que se passou no Zimbabwe (processo amplamente descrito e analisado neste diário) mostra claramente que um golpe de Estado pode ser produzido pela elite que controla o Estado, pode perfeitamente ser produzido de dentro para fora quando está em causa a reprodução dessa elite.
Confrontada com a perda de legimitidade (sempre é o povo quem a confere) demonstrada pelos resultados das parlamentares e da primeira volta da eleição presidencial de 29 de Março -umas e outra favoráveis à oposição - , a elite castrense da ZANU-PF transformou a segunda volta da eleição presidencial de 27 de Junho numa dupla operação: militar no terreno e fraudulenta nas urnas. A violência, a intimidação e a fraude foram a base da vitória rápida de Robert Mugabe, corolário de uma contagem de votos (recorde aqui e aqui).
Em sua ilegitimidade e em sua ilegalidade, o golpe de Estado interno tem apenas uma vocação: a de reassegurar o controlo do Estado por parte de um elite que perdeu a legitimidade popular, que perdeu a hegemonia directiva, que assenta unicamente na "virtude reguladora das armas", como diria Gramsci, que assenta unicamente na arbitrariedade.
Gostei da análise, mas ainda faltam comentários/análise sobre as reacções e posições da Frelimo, do Presidente Guebuza e do Jorge Rebelo.
ResponderEliminarHoje, sem falta, lá tentarei chegar....
ResponderEliminarTenciono fazer referência a esta postagem no meu blog. Não vou ter a pretensão de a dissecar. Circunscrever-me-ei a um pequeno comentário sobre Mugabe e o principio de Peter ancorado num populismo radicalizante
ResponderEliminarEu penso que há que vermos que para além do gosto de poder, Mugabe e os seus próximos devem estar a usar a presidência da república como um abrigo, uma trincheira segura para evitar um eventual julgamento pelo Tribunal Internacional. Não sabem eles o que lhes espera quando Mugabe estiver fora do poder?
ResponderEliminarÉ que o Tribunal internacional só prende e julga a quem está fora do poder. Fora de África foi assim mesmo com Slobodan Milošević e em África temos o caso Charles Taylor e porque não falarmos de Jean-Pierre Bemba.
Eu estou considerando este facto.
Estamos confrontados com um problema que, creio, vai agravar-se.
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