Outros elos pessoais

21 julho 2008

Celeiro chinês em Moçambique?

Com o título "China e Moçambique apostam no Vale do Zambeze para fazer “celeiro” chinês, diz investigador", o Macauhub tem a seguinte notícia perturbadora: "Pequim, China, 21 Jul - Os governos da China e de Moçambique querem fazer da região moçambicana do Vale do Zambeze um centro de produção de arroz para o mercado chinês, que se deparará com aumentos de consumo e cada vez menos terra arável, afirma o investigador Loro Horta, especialista nas relações entre a China e os países africanos de língua portuguesa." Confira aqui. Obrigado ao Ricardo, meu correspondente em Paris, pelo envio da referência.
Pergunta: vamos lá, vamos lá, o que têem os leitores deste diário a dizer?

31 comentários:

  1. Pois é. Esperemos mais alguns anos e ver-se-á este país transformado em província chinesa.

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  2. Qual o problema amiga Sara? A gente sempre ganha umas (es) molinhas e se calhar mais um estádio de futebol e mais o Mulembwe a pedir depois a reabilitação da AR.Tenho dito.

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  3. Esse assunto é complicado para quem está de fora.
    Só posso dizer uma coisa,
    os chineses são socialistas para produzir e capitalistas para vender.... Dinheiro é dinheiro, e isso não tem magia nenhuma!

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  4. sem dúvida notícia perturbadora, por conter nas entrelinhas a tal "província chinesa", depósito de chineses que sobram no seu país, mas por outro lado, antes ver o vale do zambeze produtivo e engajado na produção de comida, do que improdutivo ou tornado numa vasta plantação de jatropha, tão ao gosto dos nossos amigos italianos, espanhóis, portugueses e outros afins

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  5. se o pais ganhar com isso, que se va em frente

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  6. Mudam-se os imperialistas, permanecem as marcas da exploração.

    Talvez agora a elite polícia, econômica e intelectual moçambicana tenha tempo de mitigar a desigualdade social e proporcionar aos moçambicanos melhores condições de vida. Economia aquecida e produção dinâmica é uma necessidade capitalista que se bem direcionada podem trazer benefícios a todos, mas a História nos mostra que infelizmente apenas alguns poucos de fato ganham.

    Espero que eu esteja errado!!!

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  7. Este assunto 'e preocupante o avanaco chines esta cada vez mais perspicaz primeiro foi a madeira, na semana passada falava-se de marfim e agora sao as terras arraveis...Mas afinal o que se passa com n'os africanos?'e de prever que as populacoes ao longo do vale sejam mao de obra barata e pior interditas de praticar at'e a agricultura para o seu auto sustento mas enfim...

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  8. As populações do vale de Zambeze não serão mão de obra barata, porque já o são, e selo-ão enquanto o governo, quase nada fazer para cumprir seus deveres de proteção, seja lá que investimento for, seja lá a cor do dinheiro, bem dizem alguns o capim é que sofre.

    Quanto aos chineses, é muita poeira junta quando uma nova potência emerge, e esta potência sempre procura ocupar o lugar deixadao por alguém, dizem os físicos dois corpos não ocupam o mesmo lugar. O problema não é dos chineses, mas de como o governo Moç. consegue se equilibrar no jogo das relações internacionais que é de sobrevivência competição e sobrevivência. São tudo interesses, mas e nós moçambicanos como conseguimos fazer valer nossos interesses? Estou a pedir mais um estádio? vale pouco, uma universidade teria sido melhor. estádio é circo, mas de certesa os Chines não serão pão no zambezi, pois é arroz de exportação...

    Se os moçambicanos quizerem acabar com a fome podem... só precisa de lideraças esclarecidas, e não de slogans sem planos. jetropha, cana, deixa andar, revolução verde, autoestima, apóstolos da desgraça, biocombustíveis, enquanto sempre existiram camponeses em agumas partes de moçambique que sempre tiveram excedentes mesmo sem usar adubos e sem incentivos do governo, que também para lá nunca se preocupou em ter estradas melhores, celeiros e proteje-los contra os preços injustos de compra ao produtor.

    Nas relações internacionais não existem amigos e nem inimigos eternos mas apenas interesses.
    Bem Bob Marley na Música Who de cap fit diz, teu pior inimigo pode vir a ser teu melhor inimigo e teu melhor amigo vir a ser teu pior inimigo.

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  9. Isso revela realmente falta de planos estrategicos para as nossas riquezas. Mocambique caminha com planos apresentados em cocktails e me pergunto: o que realmente os ditos ministros e os conselheiros fazem na verdade? Qual e o projecto para Mocambique? O que queremos ser na verdade? Acolhemos sem hesitacao os boeres zimbabweanos, falamos de jatrofa, biocombustiveis, etanol, revulucao verde, autoridade da funcao publica agora ministerio, apostolos de desgraca, austeridade etc. tudo feito de improviso.

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  10. Nunca ainda ninguém me disse qual é o problema de vender arroz para os chineses. E se fosse para vende-lo para Portugal estaria tudo bem?

    Alguns prefeririam ver as férteis terras do vale do Zambeze na situação actual de improdutivas. Para esses é melhor permanecerem assim do que pô-las a produzir e vender aos chineses.

    Creio que há racismo aqui, porque se fosse para vender para o ocidente ninguém reclamaria.

    Obed L. Khan

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  11. Seja lá quem for a comprar o arroz, o certo é que já há alguns a se posicionarem de forma firme para enfrentar a crise alimentar que se avizinha como os cineses. Para mim são sempre os interesses, uns não gostam de chineses outros não gostam de portugueses etc. Mas agora porque o Vale de zambeze está improdutivo? timidamente acho pensando em Hanlon, os nossos farmeiros se o são, têm quintas mas lá não vivem, para dizer que não é com esses farmeiros e chineses e portugues seja lá qual for a nacionalidade que se vai aproveitar o vale em benefício total para os moçambicanos. Os grandes investimentos já dizem muitos não irão acabar com a fome de moçambique- não esqueçamos a Mozal da Zona franca, a Sasol... è preciso engajar os moçambicanos e fazer o que os outros fazem incentivos aos camponeses, preços justos, e nem se precisa de falar de adubos.

    Tudo que vem de fora é bom não é?

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  12. São estes Khans que vendem a nossa terra, Chagas. Ainda nao os conhece? Tenho dito.

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  13. Jctivane e Sara resumem a mesma pessoa? Da mesma forma que me associa a um tal tembe, também posso pensar que são a mesma pessoa. Como alguém notou algures, não aparece a SARA sem o imitador de Idi Amim

    Obed L. Khan

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  14. Guantanamo (dentro de Cuba) alugada por Fulgêncio Baptista aos EUA ainda hoje pertencem de facto aos EUA. Malvinas na Argentina, pertencem aos Britânicos. Nenhum dos dois ocupantes tencionam devolver esses espaços. Moçambique ficou independente ou mudou de colono, porque os prazos e companhias na época colonial também geravam emprego.

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  15. Caro Obed L. Khan

    Até certo ponto concordo contigo. Porém sinto que não estamos a fazer analogia entre as terras em Mocambique com aquilo que está se passar no Zimbabwe. Fazemos?

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  16. Para mim o vale do Zambeze é a zona de interesse estratégico supremo para a sobrevivência de Moçambique como Estado em construção. Não apenas porque está lá a barragem HCB, reservas de carvão, mas também devido a suas vastas potencialidades agrícolas e florestais e outras. Não esquecer que as actividades desenvolvidas neste vale tem impacto no aumento ou diminuição da captura do camarão, uma das nossas maiores receitas. Pode-se dizer que é tão importante como o Suez é importante para o Egipto até ao ponto de Nasser o ter nacionalizado aproveitando-se das contradições da guerra fria. É também tão importante como o canal de Panamá. Mas isto de modo nenhum quer dizer que um bom negócio não possa lá ser feito com o envolvimento de parceiros externos, mas para mim só será interessante se implicar a transferência de tecnologia, desenvolvimento dos camponeses e preços justos ao camponês. Zambeze é importante. Militarmente é preciso não esquecer que a frente mais quente no conflito armado moçambicano foi no vale do Zambeze, porque motivos? Todo o colonialismo externo só é possível com a conivência do colonialismo interno, ou seja com a confluência dos interesses externos com os interesses da elite interna como bem Galtung enfatiza. Mas não quero dizer que os chineses vem para colonizar, só não percebo porque ainda a constituição continua a dizer que a agricultura é a base do desenvolvimento quando ainda se estende a mão(tou pedir) sempre para fora, mesmo na agricultura!

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  17. Agradeço aos Chineses algumas coisas que li nestes comentários:

    - Também há colonialismo interno;
    - Interesses internos;
    - Colonos internos (Negros e outros);
    - Dinheiro é dinheiro, e isso não tem magia nenhuma!;
    - Mudam-se os imperialistas, permanecem as marcas da exploração;
    - Outras interessantes.

    É que eu sempre pensei que colonização e colonialismo eram coisas diferentes.
    Colono e colonialista, também, penso, serem coisas diferentes.

    O caminho faz-se caminhando.

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  18. Caros Umbhalane e Reflectindo
    As terras do vale do Zambeze estão improdutivas, hoje. Os factores que contribuiram para isso são dos mais diversos. Um deles tem a ver com mercado. Só se produz quando há um mercado consumidor. Os subsídios à agricultura na Europa e nos EUA fazem com que o nosso milho, o nosso arroz, a nossa batata, a nossa laranja não tenha espaço lá. Para piorar as coisas, durante anos, devido à desarticulação interna que teve que ver com os deslocamentos humanos da década 80 (refugiados e deslocados) vimo-nos obrigados a receber milho e outros produtos na forma de donativos. Isso, também desencentivou a produção nacional.

    A posição de Moçambique é a de que a actual crise dos alimentos pode ser uma oportunidade para nós. E isso é assim porquê? Porque os europeus e os americanos vão usar suas terras para produzir biodíseis e etanol. Isto significa que, como a terra e os recursos hídricos não são elásticos, eles vão ter que comprar comida de qualquer lado.

    Logo, nós nos perfilamos como prováveis fornecedores de comida para outros países com poder de compra. Passamos a ter mercado.

    Como eu disse acima, mercado é uma condição essencial para produzir. E para mim é indiferente que esse mercado seja chinês, europeu ou americano.

    Como país, teremos que encontrar formas de tirar vantagens e distribui-las pelos moçambicanos. Isso quer dizer que, para que Moçambique enriqueça, essa comida deve ser produzida pelo sector familiar. Este sector familiar deve ser potenciado e encorajado a produzir para o mercado. Isso implica adoptar novas tecnologias, incluindo sementes melhoradas, tracção animal e outras.

    O post de Carlos Serra não diz que os chineses vão transferir alguns milhões dos seus habitantes para o vale do Zambeze. Diz apenas que a China precisa do arroz que pode ser produzido naquele lugar. Onde está o colonialismo aqui? Ou mesmo uma possível colonização chinesa que, na perspectiva de Umbhalane parece não ser tão negativa como o colonialismo?

    O problema é que se tem querido promover uma chinofobia em Moçambique.

    Qualquer similitude com o Zimbabwe, caro Reflectindo, adveria apenas de qualquer eventualidade de se retirarem as terras ao sector familiar para produzir a tal comida. Isso aconteceria via mecanização ou via colonização chinesa ou de qualquer outra origem. Não creio que isso esteja no horizonte de Guebuza.

    Obed L. Khan

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  19. Meu caro Khan concordo com tudo que disse agora, mas quanto ao mercado para a comida sempre existiu. Repare no mapa global da fome, onde nele faz parte Moçambique como um dos que mais défice alimentar sofre; é mercado suficiente mesmo que a crise alimentar não se tivesse agudizado. Acho que primeiro temos de pensar em nós e depois nos outros, em Moçambique ainda se passa fome, repara quanto custa o saco de arroz. Se também formos apenas a pensar em exportar será aquela situação em que se verifica em alguns distritos da Zambézia onde os camponeses vendem toda a produção e ficam sem nada, depois passam fome.

    Para mim a crise mundial dos alimentos preocupa primeiro porque irá desestabilizar Moçambique em várias dimensões... Na verdade para mim a corrida não devia ser agora produzir para exportar comida( pelo menos algumas variedades) mas produzir para resistir a pressão externa, que irá pressionar as pessoas e leva-las ao desespero. Não esquecer a pressão dos combustíveis que paralelamente já existe. Whay men rebel? Como diz o titulo do livro de Ted Gurr.

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  20. Caro Chagas, o facto de eu desejar um jacto privado isso não me transforma em MERCADO desse jacto. O simples facto de eu NECESSITAR de alguma coisa isso não me transforma em MERCADO para essa coisa.

    MERCADO é a necessidade suportada pelo PODER DE COMPRA. O PODER DE COMPRA é que transforma a necessidade em PROCURA/DEMANDA.

    Apesar de haver fome em Moçambique não podemos, em termos estritamento económicos, dizer que há uma PROCURA/DEMANDA extensiva de alimentos no país. Isso porque as necessidades que os moçambicanos têm de comida não é suportada pelo poder de compra.

    OBED L. Khan

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  21. Caro Khan acho que em termos numéricos seria interessante verificar como os moçambicanos então a suportam a compra da comida importada mesmo a preços elevadas como agora. Claro que não digo que é um mercado de proporções astronómicas, mas a medida que se produzisse o mesmo iria crescer devido a aumento de renda de mais pessoas que pagariam impostos, gastariam, poupariam e investiriam fazendo por isso que o mercado crescesse. E reafirmo que é bom não desligar a economia de questões de segurança. Aliás os Estados estão sempre atentos a usar o proteccionismo sempre que se acham perigados pelo exterior.

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  22. Caro Obed L. Khan

    Concordo contigo na relacão que fazes entre a produtividade das terras e o mercado. Contudo, não tenho receio de afirmar que tudo ou o mercado agrícola e aí está o caso de comercializacão de castanha de caju em Mocambique regrediu logo nos finais de 1974. Aliás, o problema não foi apenas de Mocambique, mas do continente africano que a partir do início da década 70 conheceu um descrescimento mais grave na producão dos alimentos.

    Questiono a analogia entre as terras em Mocambique e no Zimbabwe, porque acho que Mugabe e seus conselheiros negam que nunca distribuirão a terra aos camponeses zimbabweanos o mesmo que não aconteceu em Mocambique.

    Para mim, até não tenho problemas que usemos as nossas terras férteis racionalmente porque só assim é que teremos que desenvolver, se criarão empregos e passaremos à mecanização da agricultura e se fortalecerá a nossa economia aumentando a exportação. Entretanto, parece que o passado criou problemas, pois os investidores têm receios em investir em projectos de longo prazo. Hoje todos os que investem querem lucros imediatos o que põe em risco o meio ambiente. Por exemplo, embora o facto de famílias chinesas (investidoras) não se transferirem para Moçambique tenha alguma vantagem, precisamos também de ver a desvantagem disto.

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  23. Caríssimo Obed L. Khan

    Por favor, convido-o a reler o meu comentário.

    Apenas agradeci, precisamente aos Chineses, o ter tido a oportunidade de verificar uma evolução de certos conceitos, ou pelo menos, a constatação de que certos fenómenos são mais comuns, transversais, do que parecem.

    Desculpar-me-á, mas não vejo como pode inferir que:

    “Ou mesmo uma possível colonização chinesa que, na perspectiva de Umbhalane parece não ser tão negativa como o colonialismo?”

    Leio-o sempre com atenção, e no sítio onde intervenho com mais intensidade, sempre defendi os Chineses, mormente os que bem conheci em Moçambique.

    De tal forma que corro sérios riscos de ser convidado a ir a Taiwan. (Nota de humor).

    Caríssimo Obed L. Khan

    Nasci no Luabo, margem direita do Rio Zambeze.
    Em idade de consciência adulta, foram cerca de 20 anos, apenas.

    Conheço, mas conheço mesmo, de viver, andar a pé nos campos e matos do interior do baixo Zambeze, algumas realidades, vivências das famílias do interior.

    Não sou coca-cola, nem menino de cidade.

    Do mato, mato mesmo. Profundo.

    Algumas terras do Vale do Zambeze estão improdutivas, hoje.
    E que já estiveram cultivadas!
    E não só no Vale do Zambeze!

    Mas o Vale do Zambeze, Moçambique, teve sempre, sempre, muitas terras improdutivas, mesmo no auge do seu desenvolvimento agrícola.

    Simplesmente, e felizmente porque Moçambique é imenso, tem muitos rios, e milhões de Km2 de boas e férteis terras.
    E pouca população para o território que ocupa.

    E está num patamar de capacidade tecnológica, e de conhecimentos inadequado para o propósito – exploração extensiva/industrial da terra.

    Que eu saiba, à escala nacional, e corrija-me por favor, em Moçambique nunca na realidade houve problemas de terra.

    Penso que sempre sobrou…

    Os problemas são outros, Caríssimo Obed L. Khan.

    Portugal, um dos países mais pobres da EU, recebe todos os dias, todos os dias, Sr. Obed Khan, VIA AÉREA, fruta do Brasil (mangas, papaias, etc), Venezuela, Equador (bananas), Senegal (mangas), e outros, RSA (uvas)...

    Os problemas são outros, Caríssimo Obed L. Khan.

    Quanto a muitas outras questões que a sua intervenção me suscita, o Sr. Chagas já respondeu em pleno a uma delas.

    Estou de acordo com muito do que diz.

    O problema é chegar lá, passar dos diagnósticos à prática.

    E aí os métodos são fundamentais.

    Ainda há um longo caminho que “Moçambique” tem de percorrer.

    Mas gostei imenso de trocar umas ideias consigo.

    Um abraço.

    umBhalane

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  24. Em Mocambique para entender as coisas e ser capaz de interrogá-la é preciso ser chiconhoca. Por exemplo a regressão da agricultura e sua comercializacão é algo para tal. Mas há boa literatura que desvenda as causas, pelo menos para aqueles que viveram na carne e osso.

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  25. Caro Umbhalane
    Pode crer que é também um imenso prazer debater consigo. Há pessoas que, mesmo quando discordamos delas, passamos a respeitar. E posso lhe garantir que este é o caso.

    Quanto à colonização e ao colonialismo. Há em Portugal uma colónia caboverdeana. Ou uma colónia angolana. Há, também, uma colónia moçambicana, embora em número mais modesto.

    Houve em Moçambique, no tempo colonial, uma laboriosa colónia chines, sobretudo na Beira.

    Quando o amigo Umbhalane estabeleceu distinção entre colonialismo e colonização julguei que estivesse a referir a isto.

    Eu próprio acho que colonização, na forma de uma comunidade específica se estabelecer em território alheio para, em paz, trabalhar, criar gado, ensinar novas tecnologias, aprender outras, integrar-se sem preconceitos, é uma coisa boa. Isto é, é uma coisa boa haver uma colónia moçambicana em Portugal

    Afirmaria até, sem embargo dos vários e conhecidos chinófobos, que seria desejável haver uma colónia chinesa em Moçambique. Da mesma forma que há uma colónia portuguesa, uma colónia paquistanesa, uma colónia indiana, para me referir apenas às mais influentes.

    Era a isso que me referia caro Umbhalane. Provavelmente interpretei mal a palavra "colonização" que escreveu acima. Julguei que fosse na perspectiva que apresento aqui.

    Obed L. Khan

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  26. Caros Chagas e Reflectindo
    Creio que todos concordamos que a economia é uma disciplina fascinante. Teria sido possível, no passado, ao nosso país substituir o trigo importado por trigo produzido, por exemplo, no vale do Zambeze?

    Possível até era! Mas seria necessário avaliar quanto é que os consumidores seriam obrigados a pagar pelo trigo do Zambeze. Ainda mais sem a ponte de Chimuara. Ou de Caia para os meus amigos sofalenses não se zangarem comigo.

    O trigo do Zambeze sairia caro porque, entre outras razões, o trigo importado já vinha pesadamente subsidiado. Para além de que era produzido em condições tecnológicas que induziam à eficiência. Portanto, nas condições que prevaleciam antes, era perfeitamente racional importar alimentos. Isto apesar das extensas áreas de terra improdutiva que o país possui.

    Hoje já é possível e racional começar a pensar em substituir importação de alimentos e, inclusivamente exportar. O aumento dos preços está a tornar a nossa produção competitiva a nível nacional e internacional. Um dos motivos dos aumentos dos preços é o incremento do consumo que, por sua vez, provoca subida da demanda. Melhorias tecnológicas já não são suficientes para fazer face à demanda. Novas áreas de cultivo começam a ser requeridas. E onde é que estão essas novas áreas de cultivo? Na África subsariana e, mais especificamente, em Moçambique.

    Para aproveitar como deve ser a oportunidade que surge seria necessário conhecer muito bem os constrangimentos do passado. Uma das coisas que me parece importante reter é que as terras não ficaram improdutivas por burrice dos moçambicanos. Foi toda uma conjuntura económica e de mercado internacional que estava a ser adversa ao país

    Obed L. Khan

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  27. Caro Obd L. Khan

    "Uma das coisas que me parece importante reter é que as terras não ficaram improdutivas por burrice dos moçambicanos. Foi toda uma conjuntura económica e de mercado internacional que estava a ser adversa ao país"

    Concordo definitivamente consigo. Mas precisamos de aprofundar do que foi para evitar os problemas no futuro.

    Hoje pode haver mais e boas condicões para exportacão (transporte e comunicacão), mas é bem possível que isso seja aparente. Não tenho cá dados, embora saiba onde eu os possa encontrar. Mocambique já exportou muitíssimo mais que o que exporta hoje.

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  28. É sempre fascinante visitar a formula de especialização de David Ricardo conhecida por vantagens comparativas. Concordo com o facto de ter sido mais barato comprar importado do que produzir internamente. Mas não tenho os números do comércio e dos custos da produção interna do trigo. Mas é facto interessante que a subida do preço do trigo no mercado internacional, em Moçambique sempre causou mal estar, se bem que de forma mais subtil. Razão suficiente para ter-se pensado a mais tempo em contar com as próprias forças; faltou-nos futurologia. Porque bem vistas as coisas, nem sempre tudo que se faz têm a ver com custos económicos no sentido mais tradicional do termo, deixando o mercado fazer tudo, quando a segurança pode ser posta em causa.

    Os economistas são puros(alguns) em pensar numa economia em que o mercado dita tudo, mas na realidade não é isso que acontece. Felizmente no últimos tempos surgiu uma nova disciplina chamada Paz e Desenvolvimento em que não se dissocia a economia de questões de segurança, ou seja onde o humano não é apenas encarado no mercado, mas onde também o mercado é importante por permitir a liberdade de escolha entre outras vantagens. De qualquer modo pureza os economistas são os primeiros a pedir segurança para que seja possível fazer investimento num local.

    Estou de acordo acerca dos custos dos transportes a nível interno, Moçambique é um país extenso, que torna até difícil exercer o poder a partir do nível central sem custos elevados. Desse modo acredito que talvez fosse difícil transportar o trigo do vale do Zambeze por mar sem agravar nos custos finais ao consumidor. Mas não tenho a contabilidade disso, nunca vi um estudo sobre o empreendimento.

    Caro Khan, falas de questões tecnológicas para produção agrícola, é um tema interessante para debate, pois é e será um dos argumento para afastar os camponeses com agentes transformadores da agricultura em Moçambique. Como se apenas fosse possível fazer agricultura mecanizada, com agrotóxicos e sementes industrialmente melhoradas.

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  29. Caríssimo Obed L. Khan

    Posso garantir-lhe que o respeito é mútuo.
    Pela minha parte, muito obrigado.

    As suas alfinetadas, mesmo quando dolorosas, tinham sempre o cunho de um bom “enfermeiro”.
    Cumprimento-o por isso.

    O caminho faz-se caminhando.

    Foi precisamente a colónia Chinesa da Beira que eu bem conheci pelo seu labor, integração social, e sempre respeitei.
    Cidade onde estudei – Maristas, Pêro de Anaia e Instituto Engenharias (Mecânica, electrotecnia, civil e minas).

    Estamos de acordo com a laboriosa colónia Chinesa em Moçambique de então, mais numerosa.

    Mas havia também uma mais forte, e igualmente laboriosa.
    A colónia Portuguesa.

    Havendo colonialistas Portugueses, Ingleses, Belgas, Sul-Africanos, etc…
    Havia também colonos das mesmas nacionalidades, trabalhadores e honestos.
    É isso que tem que ser assumido.
    E não custa nada.
    É histórico.
    E ninguém consegue modificar o passado.

    O presente, sim. Condicionar o futuro, também.
    O passado, passou. Há que estuda-lo, compreende-lo, trabalha-lo.

    Plissar continuamente como um disco riscado, sempre na mesma faixa musical, creio não ser o caminho.

    Caro Obed.

    Gosto muito de ser claro.

    O meu Pai, que deixou os ossos em Moçambique, para onde foi com uma carta de chamada e uma cunha de um Sr. Bispo, em 1940, sempre trabalhou para a SSE (Sena Sugar Estates, Lda.) – Luabo, e antes em Mopeia e Caia.

    Foi sempre um empregado por conta de outrem, assalariado da SSE, de capitais maioritariamente Britânicos, como a maioria das chamadas companhias majestáticas (capitais estrangeiros).

    E como ele, havia umas largas centenas de operários nas fábricas de Luabo e Marromeu, e nos campos de cana sacarina das mesmas localidades.

    Eu escrevi OPERÁRIOS.

    E isso se repercutia por todo o Moçambique.
    E as classes esclarecidas de Moçambique sabem-no, e dizem-no em surdina.
    Com cautelas, mais abertamente no exterior.

    Quanto ao tema da terra, donde tudo deriva.
    Ainda ninguém contestou que nunca houve problemas de terras em Moçambique, no sentido lato.

    A economia rural, do campo/mato tem que ser muito bem entendida.
    Como “vivem”, subsistem as famílias, longe dos grandes centros urbanos?

    Fala-se do poder de compra.
    Posso assegurar-vos com profundo conhecimento de causa que, na minha região, em 1965 e até 1975, também nunca houve grande liquidez, capacidade de compra.

    Mas havia a permuta e canais de comercialização de produtos assegurados por uma miríade de pequenos, médios e grandes comerciantes.

    Os excedentes da produção familiar tinham saída, escoamento.
    E como o sangue no corpo humano, ou a seiva das árvores, o comércio fluía.
    Por venda, por troca.

    E o limite de produção era o da capacidade de trabalho, ou do querer dos camponeses.
    Produziam o que queriam, quanto queriam, como sabiam.

    Mexeram com esta estrutura centenária, com provas dadas.
    Em vez de a melhorar, destruíram-na com modelos importados da URSS/China – Aldeias Comunais/kolkhoses/sovkhoses.

    A história toda a gente já conhece.

    Mas també se desmantelou a agricultura empresarial (pequena, média e grande/industrial).

    Foi a era do desmantelamento e destruição do aparelho colonial.

    Recebido o poder político e militar, o caminho seria o de acrescentar valor ao existente, corrigir assimetrias,…afinal ninguém vive eternamente.

    Não. Preferiu-se destruir!

    Entretanto inibiu-se a criatividade, a iniciativa privada.

    O resultado, todos nós o conhecemos.

    Em Portugal passou-se o mesmo.
    Acordamos a tempo, graças ao influxo dos expulsos de Angola e Moçambique (os Retornados).

    A conversa já vai longa.

    Começar, recomeçar de novo é preciso.
    Lá onde está o Povo, a economia familiar, no mato.
    E pode haver preços intervencionados!

    Aí começa tudo, e não é impeditivo do restante.

    Afinal sem Sardinha não há Charéus, nem Garoupas, nem Tubarões.
    E tudo é preciso, especialmente a Sardinha.

    Um abraço

    umBhalane

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  30. Um abraço Umbhalane. Também conheci, para além dos colonialistas portugueses, uma laborioso e honesta colónia portuguesa durante a época colonial. Era muito jovem aquando da independência (12 anos não feitos) mas me lembro perfeitamente dessa colónia portuguesa. Infelizmente não se ajustou, talvez não por culpa própria, aos tempos novos da independência.

    A experiência marxista não explica toda a estagnação de África. Há países que viram essa miríade comercial que tão bem descreves desmoronar sem que tenham enveredado pela via marxista ou comunizante. Houve outros e poderosos factores Umbhalane.

    Um abraço fraterno

    Obed L. Khan

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