Também é impressionante como a mulher surge em Inhassunge como a principal suspeita de feitiçaria, como o principal receptáculo do okhwiri (o terrível feitiço, digamos assim). Foi possível à equipa que dirijo recolher o testemunho de cinco mulheres que escaparam ao linchamento. Clique duas vezes com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
04 junho 2008
O que fazer a ladrões e feiticeiros: representações de alunos de Inhassunge (4)
Também é impressionante como a mulher surge em Inhassunge como a principal suspeita de feitiçaria, como o principal receptáculo do okhwiri (o terrível feitiço, digamos assim). Foi possível à equipa que dirijo recolher o testemunho de cinco mulheres que escaparam ao linchamento. Clique duas vezes com o lado esquerdo do rato sobre a imagem para a ampliar.
6 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
O Homem nao aprende. repetem-se sempre os mesmo erros
ResponderEliminarHá um par de perguntas desconfortáveis e perturbantes que não me têm saído da cabeça quando penso neste fenómeno e na forma como outros colegas exercem o nosso métier.
ResponderEliminarHoje, não consegui resistir mais a torná-las públicas, em http://antropocoiso.blogspot.com/2008/06/linchamentos-e-aprendizes-de-feiticeiro.html
Gostaria de saber a sua opinião.
Obrigado, Paulo, irei ler.
ResponderEliminar...quer dizer, a linguagem dessas criancas eh belicista!!! para ladrao e feiticeiro, so faca e fogo!!!, nada melhor!!
ResponderEliminarHa pano par as mangas dos psicologos...Repare-se ainda o trabalho que os professores de Portugues tem pela frente!! EpaH!
SJ
Inhassunge tem uma particularidade.
ResponderEliminarDificel acesso, castigado pelas bombas dos Migs da Força Aerea e ataques bárbaros dos Bas, terras pobres.
Inhassunge viveu sempre do palmar e alguma pesca.
Nos anos 90, chegou a ser agenda do Governo distrital:
Feitiçaria
Alcolismo.
São centenas de galões que circulam da alta zambézia para Inhassunge com bebidas tradicionais.
As pessosa não têm emprego e mesmo nos balcões do estado é dificel apanhar os funcionários sóbrios.
Parece piada mas é verdade: a segunda e sexta não se trabalha em Inhassunge.
Carlos Serra
ResponderEliminarTenho acompanhado,para efeitos da minha tese de Doutorado em Ética e Educação, o seu esforço em compreender sociologicamente os fatorese subjacentes aos linchamentos em Moçambique. Pena que não tenho tido acesso às informações computadas.
A linguagem, como o velho Gramsci falou uma vez, expressa uma determinada concepçõ de mundo. No caso dessas crianças, a sua linguagem expressa a sua visão do diferente, a sua concepção de mundo de valores que, além de belicista, como disse um colega atrás, também parece não levar em consideração a dignidade do ser humano.
Eu me pergunto: onde essas crianças ficaram sabendo a respeito da feitiçaria e os antidotos para a mesma: em casa, na escola, ou na rua? Serão esses os futuros guardiões da pólis que as nossas escolas estão a formar?
Sou obrigado a concordar com Scheler que ando afirma, na esteira de Dilthey, que a vivência é ponto de partida para a apreensão dos valores. Mas neste caso, os desvalores que, para a comunidade, quem sabe, são um valor: tirar a vida a um ser humano sob acusação de feitiçaria. Talvez seja a consequência da modernidade socialisa que combatia a superstição em nome do Homem Novo.
António Cipriano