Outros elos pessoais

19 março 2008

Existe o zicoísmo? (5) (prossegue)

Cá estou de novo nesta série dedicada ao zicoísmo.
Tenho para mim que a pedra angular do zicoísmo é o corpo da mulher, não o corpo enquanto parte integrante de uma personalidade digamos que espiritualizada (mulher, mãe, esposa, algo que seja a mulher-tipo da vida real, digamos que a mulher das convenções), mas o corpo destacado, absolutizado, separado da mulher múltipla, emissor de sinais, o corpo erotizado, quase animalizado, evacuado dos códigos morais (lembro-me dos sinais corporais emitidos durante algum tempo pela Dama do Bling).
A sexualidade é uma coisa, uma coisa da nossa vida, uma coisa normal. Mas o erotismo é outra coisa, é a sublimação da sexualidade, a sua exposição em estado bruto, a um tempo desmagificada e re-apetecida, a sua forma tornada apetência, o corpo tornado objecto reconstituído pelas linhas do sexo-consumo. Na moderna indústria de consumo, o corpo é isso, rigorosamente isso, um objecto de consumo.
Ora, no zicoísmo - neste Moçambique maputizado da subversão de muitos padrões de sexo e moral -, esse corpo emissor de sinais, objectificado como artigo de consumo audio-vídeo, presta-se à reconstrução imediata, quase brutal, pela indiferenciação, primeiro enquanto qualquer corpo (qualquer corpo serve para o sexo, mesmo o das albinas na Maboazuda), depois enquanto corpo usado em qualquer posição sexual (com clímax canino, como na Nakudjula Hi Doggystile).
A produção consumista do corpo feminino, rudemente erotizado no zicoísmo (importará ainda saber por que se constitui como sistema), amplia a subversão de uma certa moral e de uma certa concepção do corpo.
Nota: a qualquer momento posso rever tudo isto. Já agora, vejam o penúltimo comentário de MM no anúncio inaugural desta série.

6 comentários:

  1. (Ora, no zicoísmo - neste Moçambique maputizado da subversão de muitos padrões de sexo e moral). Desculpe o atrevimento professor, a que padroes sexuais e morais refere-se? Fico com suspeita de o professor estar a trocar pornografia por erotismo, e a pornografia que cabe no sexo corpo consumo e nao o erotismo. Erotismo é o conjunto de expressões culturais e artísticas humanas referentes ao sexo. A palavra provém do latim ‘eroticus’ e este do grego ‘erotikós’, que se referia ao amor sensual e à poesia de amor. Pornografia é representação, por quaisquer meios, de cenas ou objetos obscenos DESTINADOS a serem apresentados a um público e também expôr práticas sexuais diversas, com o fim de instigar a libido do observador. O termo deriva do grego πόρνη (pórne), "prostituta", γραφή (grafé), representação. Quase sempre a pornografia assume caráter de atividade comercial, seja para os próprios modelos, seja para os empresários do sector. Wikipedia. Onde fica a musica do Zico porque apesar de poder ser conotavel com obscenidade ela nao a verbaliza, julgamos intencoes ou reconhecemos a nossa postura nessas intencoes? O video entao, sera que foi produzido com o proposito de ser difundido? Enquanto nao aparece esta resposta tenho que e apenas uma pratica sexual, que pedaco consideravel pratica, e nao pornografia.

    ResponderEliminar
  2. Muito obrigado pela informação. Mas ainda não acabei a série...

    ResponderEliminar
  3. Gosto muito dos teus comentários e explicações sobre este assunto. Um abraço da Suécia - Bosse

    ResponderEliminar
  4. Prof

    Li atentamente os 4 posts ate agora publicados e li os respectivos comentarios.

    Como muitos, penso que o comportamento do Zico (tambem prefico o C) reflete ao meio ao qual ele esta inserido.

    Tive o desprazer de ver atentamente (e audivelmente) o Video pornografico ao qual o Anonimo se refere, e pude notar que ha mais uma voz feminina, fora a do Zico, da moca e do "camera man".

    Ou seja, foi premeditado e propositado...

    Qual o objectivo da gravacao nao sei, e nem sei se era intensao do Zico tornar publico.

    Mas isso deixo que os restantes que por ca passarem me tentem explicar...

    LV

    ResponderEliminar
  5. Na continuidade da série, não irei abordar o vídeo, justamente porque ignoro o contexto em que nasceu. Obrigado Bosse.

    ResponderEliminar
  6. Se nos dedicassemos mais tentar fazer com que a boa música passasse nas radios moçambicanas talvez a música do Ziqo não tivesse tanta fama. Sempre que o Azagaia lança uma nova música e a Rádio do POVO não toca não vejo nem oiço tanto barulho, pelo contrário, fazem um discurso básico conformista e voltam para a sua busca diária de coisas para difamar.

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.